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terça-feira, 27 de setembro de 2011

2020 - Édipo matou a Esfinge

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3850 Data: 17 de setembro de 2011

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PASSATEMPO DA RAINHA

As adivinhações acompanham o homem desde remotas épocas.

Na Grécia antiga, as adivinhações a que foi submetido Édipo talvez sejam as mais conhecidas. Sem conhecer a sua origem, Édipo vai a Tebas, onde nasceu e encontra a cidade em rebuliço: o rei Laios fora morto e um monstro, a Esfinge, se estabelecera, com um enigma a ser decifrado. Como todos os que se submetiam à prova eram devorados, a rainha viúva, Jocasta, prometeu se casar com quem livrasse a cidade daquele monstro.

Édipo resolveu enfrentar a Esfinge, uma estranha criatura com corpo de leão, patas de boi, asas de águia e rosto humano. O enigma era este:

-“O que tem quatro patas de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?”

Édipo acertou as adivinhações, casou com Jocasta, que era sua mãe; antes, a caminho de Tebas, matara o pai, Laios, numa briga de trânsito, isto é, depois de um desentendimento num esbarrão de carros movidos por animais.

Num sábado, na casa do meu irmão (ainda não se pensava na existência do Sabadoido), eu formulei a adivinhação da Esfinge, mas de uma maneira mais simples:

-O que tem quatro patas quando nasce, duas, quando entra na idade adulta, e três quando se torna velho?

Meu sobrinho Daniel, que estava com uns 10 anos de idade, não pensou muito para responder:

-O homem.

-Esse menino já tem complexo de Édipo. - não perdi a piada.

Para ele não foi difícil acertar a parte das três pernas porque o seu avô andava de bengala desde que quebrara a perna numa queda.

Cultivam-se também muitas adivinhações no mundo oriental.

Nos textos apócrifos das “Mil e Uma Noites”, está a fábula de Turandot, que o compositor Giacomo Puccini imortalizou na sua última ópera.

A princesa Turandot, para se vingar do mal que uma antepassada sua sofrera, submetia todos os seus pretendentes a três perguntas que, caso não respondidas corretamente, significavam a morte. Mal comparando, ela era insaciável como a Esfinge de Tebas. Eis as perguntas de Turandot, que foram respondidas corretamente pelo Príncipe Desconhecido.

-O que nasce toda noite e morre a cada amanhecer?

-O que treme vermelho e quente como uma chama, mas não é fogo?

-O que é como gelo, mas arde?

As respostas são pela ordem: esperança, sangue e Turandot.

O Príncipe Desconhecido já tinha vencido, mas para não levar apenas uma princesa de gelo, propôs um enigma a ela:

-Qual é o meu nome?

Para que a sua identificação fosse descoberta, a princesa obrigou que ninguém dormisse em Pequim até que se descobrisse o verdadeiro nome do Príncipe Desconhecido.

Puccini compôs, então, “Nessun Dorma” - Ninguém durma”, que Pavarotti cantou mais de mil vezes sem superar a interpretação do tenor Jussi Bjorling.

Quando ele revela que se chama Calaf, Turandot já ardia e tudo termina bem para os dois.

O filósofo grego Aristóteles, mestre de Alexandre da Macedônia, atribuiu o fascínio exercido pelas adivinhações ao uso inteligente da metáfora nas perguntas e, também, à surpresa experimentada pelo desafiado quando lhe é revelada a resposta.

A pergunta se baseia nas semelhanças entre coisas, descrevendo um objeto como se fosse outro; a descrição de um objeto como se fosse uma pessoa é um recurso muito usado, também. Eis um bom exemplo:

-“Eu tenho um menino com um casaco branco; quanto maior ele é, menos ele cresce.”

No Hamlet de Shakespeare, há uma adivinhação:

-“Quem é que constrói mais solidamente do que o pedreiro, o carpinteiro e o construtor de navios?”

Como a pergunta ocorre na Cena I do Ato V e se dá entre dois coveiros, não é difícil decifrar. A questão anterior, a do menino do casaco branco, sim, é difícil: vela acesa é a resposta exata.

Mas escrevi os parágrafos acima para me reportar a umas edições do Biscoito Molhado de quatro, cinco anos atrás sobre o passatempo da rainha.

Tratava-se da Rainha Vitória, que gostava de decifrar enigmas e até mesmo de formulá-los. Tudo – é bom que se alerte os apressados – da maneira menos perigosa possível. Um dos passatempos que ela mais apreciava se constituía de indagações que, acertadas, formavam dois acrósticos que, por sua vez, solucionavam dois problemas. Parecia difícil, mas era bem fácil.

Na época, elaboramos alguns desses passatempos da rainha, e hoje resolvemos criar mais um.

QUESTÕES

1- Orixá que é filho de Iemanjá e irmão de Exu, com o qual de assemelha em agressividade e beligerância. Saravá!

2- Alojamento que se destinava à moradia dos escravos dos engenhos ou das fazendas.

3- País insular do Oceano Índico.

4- Palavra de origem tupi-guarani que significa pedra cor de rosa. Mudada uma letra, é o palácio que foi construído de 1851 a 1855 por um discípulo do arquiteto francês Auguste Grandjean de Montigny. Com a morte do seu proprietário, foi fechado para ser aberto para o festejo da vitória do Brasil na Guerra do Paraguai, em 1870. Adquirido no governo provisório de Deodoro da Fonseca, tornou-se sede do Ministério das Relações Exteriores.

5- Flagelo que atingiu o nordeste mais duramente em 1875/1877, e levou o imperador D. Pedro II a incentivar a migração de cearenses para a Amazônia, o que provocou o primeiro Ciclo da Borracha.

6- Doença causada por vermes parasitas muito comum no Brasil.

7- Família de banqueiros de origem alemã e israelita que se estabeleceu em Frankfurt, Londres e Paris, principalmente, e participou da Restauração e da Santa Aliança.

8- Quadro de Tarsila do Amaral cujo nome indígena significa “antropofagia”, que foi o movimento esteticamente mais radical do modernismo brasileiro.

9- Peça de Nélson Rodrigues que, encenada em 1943, deu início ao processo de modernização do teatro brasileiro.

10- A rainha nobre da Bíblia. Casou com o rei Assuero que não sabia que ela era hebreia. Inspirou um filme de Hollywood com Joan Collins e Richard Egan.

11- Capital do Paquistão

12- Arquipélago da Oceania, na Polinésia, ao sul do Equador.

Com a letra inicial de cada resposta correta, obtém-se o nome de um clássico da literatura universal que foi escrito no século XIX, e tornou-se, no fim do século XX, um famoso musical cuja montagem inspirou uma escola de samba do primeiro grupo do Rio de Janeiro, causando um grande impacto no carnaval.

Com a última letra de cada resposta correta, tem-se o nome de uma destacada personagem de um romance de Eça de Queirós.

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