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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

2311 - Night and Day

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4111                            Data:11  de janeiro  de 2013
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76ª VISITA À MINHA CASA

Parecia que a música do tempo chegava aos meus ouvidos. O dia e a noite soavam aparentemente com monotonia, mas repletos de sortilégio.
-Cole Porter. - identifiquei-o logo, pois já conhecia um pouco a sua alma pela sua música.
-Como você vê, depois de morto, devolveram-me a minha perna.
-Belíssima a sua música.
-A que escutamos... Sim, “Night and Day” fez muito sucesso.
-Acusam Tom Jobim de ter copiado a introdução do seu “Night and Day” quando compôs “O Samba de Uma Nota Só”. Alguns estudiosos discordam e afirmam que o modelo do Tom Jobim foi o Prelúdio nº 15, de Chopin.
-Aquele que também é chamado de “Prelúdio da Goteira, porque a inspiração veio a Chopin no momento em que ele, doente, deitado na cama, ouvia as gotas da chuva batendo na janela?
-Essa mesma.
-Tenho predileção por essa peça; toquei-a inúmeras vezes. Chopin ouvia o tempo escorrendo e o transpôs para o piano maravilhosamente.
-A sua formação na arte dos sons é sólida, poucos compositores a tiveram.
-Minha família era rica. Meu avô materno especulou com carvão e madeira amealhando uma fortuna. Meu pai era farmacêutico e, como o dinheiro fala mais alto, meu avô era quem dava as cartas na família.
-Você era muito ligado à sua mãe.
-Mamãe me iniciou no mundo da música. Aprendi a toca violino e piano, quando as crianças da minha idade jogavam beisebol. Com 10 anos, compus “The Bobolink Walz”, no seu idioma, algo coma “A Valsa do Papa-arroz”.
-Para mostrar o quanto você era precoce, a sua mãe diminuiu em dois anos a sua idade.
-Ela me julgava um Mozart. - disse com um sorriso triste na comissura dos lábios.
E prosseguiu:
-Meus pais me enviaram para uma escola de meninos ricos, em Massachussets, com o objetivo de eu desenvolver o meu talento de músico.  Depois, a pressão do meu avô, que me queria advogado, se fez presente e fui para a Universidade de Yale. Lá, eu lia mais partituras do que livros de direito; compus o hino do time e outras canções estudantis.
-Soube que algumas delas são cantadas até hoje na Universidade de Yale. - interferi.
-Também passei um ano em Harvard e me transferi para a Faculdade de Artes e Ciências. Ainda estudante, criei o meu primeiro show, “America First”, mas foi um fracasso, saiu de cartaz com 115 apresentações, somente.
-E quando você se mudou para Paris? - não contive a minha curiosidade.
-Os franceses entenderiam a minha obra melhor do que os americanos, esse foi o meu pensamento. Meu avô e minha mãe bancaram e eu saí por alguns anos dos Estados Unidos. Em Paris, conheci e me casei com Linda Lee Thomas, considerada por muitos a mulher mais bonita do mundo. Algo parecido aconteceu com o economista britânico Keynes.
-Linda Lee Thomas, uma divorciada endinheirada. - acrescentei.
-A minha companheira por 35 anos. - frisou com orgulho.
-Na capital da França, você vivia rodeado por amigos, em festas, animando-as como pianista e compositor.
 -Muitos deles não percebiam meu interesse pela música, acreditavam que eu não conduzia essa arte com seriedade e se surpreenderam quando, em 1923, escrevi a partitura do balé jazzístico “Within the Quotta”. Apesar de vivermos os frenéticos anos 20 de Paris, eu e Linda resolvemos voltar para a América.
-Chegou a sua hora de enfrentar a Broadway pela segunda vez. - afirmei.
-Na primeira vez, eu estava preparado, mas agora eu me sentia inteiramente seguro.
-Sim; desenvolvia-se o seu estilo único de autor de canções que eram uma mescla de humor, sensualidade e malícia.
-Comecei, ou recomecei, com o musical “Paris”, de 1928, em que se destacou a canção “Let's Do It”, Let's Fall in Love”.
-Foi gravada recentemente no Brasil pelo Chico Buarque e Elza Soares em dueto. - informei.
-Em 1930, criei a revista “The New Yorkers”, em que estava incluída a canção “Amor à Venda”, “Love For Sale”, que foi considerada sofisticada demais para ser tocada nas rádios. Depois, outros compositores seguiram o caminho que abri.
-E “Night and Day”, Cole Porter?
-Esta se encontra no meu show para o teatro “Gay Divorcee”, de 1932, com o Fred Astaire como dançarino.
-Os anos 30 foram o seu apogeu, afirmam os admiradores da sua criação.
-Trabalhei bastante nessa década para o teatro e o cinema. Hollywood me contratou e eu escrevi as partituras de “Born to Dance” e “Rosalie”. De “Born to Dance”, o público gostou mais das árias, digamos assim, “Easy to Love” e “I' ve Got You Under My Skin”.
-A sua esposa sempre o incentivou a compor?
-Sim, mas ela me deixou porque não suportava mais a minha inclinação por rapazes. Era o início do fim da minha boa vida. Sofri uma queda de um dos meus melhores cavalos e parti as duas pernas. Uma pesada cruz foi posta nas minhas costas desde então.
-Mas Linda voltou pra ajudá-lo nesse calvário.
-Ela era mais do que esposa, era minha amiga e minha enfermeira. Os médicos queriam amputar uma das minhas pernas, mas eu me coloquei contra e a Linda me apoiou com a minha mãe.
-Você sofria muitas dores, inevitavelmente.
-Eu afogava as dores nos copos de uísque.
-Ainda assim, suas canções compostas depois do acidente continuaram ótimas. Assisti, recentemente, um filme em que Marilyn Monroe canta e dança o seu “My Heart Belongs to Daddy”.
-Sim, houve alguns êxitos, mas depois de eu lançar dois musicais que fracassaram, os críticos afirmaram que a magia da minha música se foi.
-Eu imagino como era manter a inspiração para criar obras alegres, enquanto se é submetido a mais de trinta operações.
-Não, ninguém consegue imaginar.
-Então, você surpreende o mundo, em 1948, com o maior dos seus triunfos, o musical “Kiss me, Kate”, baseado na “Megera Domada”, de Shakespeare.
-Foram mais de mil apresentações. - animou-se.
-”So in Love”, desse musical, é uma das peças que mais me comove, principalmente na voz do soprano Kiri Te Kanawa. - revelei.
-Compus ainda outras obras para a Broadway e Hollywood, mas nada que se comparasse a “Kiss me Kate.”
-Mas o destino cruel o espreitava.
-Perdi a minha querida mãe em 1952 e, dois anos depois, a minha adorável Linda, que não suportou um enfisema insidioso. Em 1958, entreguei os pontos e permiti que amputassem a minha perna direita.
-A partir de então, não compôs nada?
-Nada. Vivi mais oito anos, em reclusão e morri em 1964, com 73 anos de idade. Fui enterrado na minha terra natal entre os túmulos da minha mãe e da minha esposa.
Sem dizer mais nada, foi-se, mas a introdução do “Night and Day” permaneceu soando.


















terça-feira, 29 de janeiro de 2013

2310 - escritores e críticos


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4110                         Data: 09  de janeiro  de 2013
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PRIMEIRO SABADOIDO DE 2013
PARTE III

Agripino Grieco continuou sendo assunto do Sabadoido.
-Eu lembro as homenagens prestadas a ele por ocasião dos seus 80 anos.
Depois de meu irmão me interromper para colocar mais um pouco de bebida no copo do Luca, prossegui:
-Creio que o suplemento literário do Diário de Notícias dedicou todas as suas páginas ao Agripino Grieco octogenário.
-Papai sempre comprou O Globo.
-Sim, Claudio, mas trazia todos os dias O Diário de Notícias quando lá trabalhou.
Feita essa ressalva, fui adiante:
-Nesse suplemento, Agripino Grieco diz que a obra-máxima da literatura era A Divina Comédia de Dante. Entre os brasileiros, afirmou que o melhor escritor era José de Alencar e o poeta maior, Castro Alves.
-Ele não gostava do Machado de Assis. A Rosa faz restrições ao pai, mas pensa igualzinho. - interveio o Luca, que emendou:
-Não creio que o Agripino Grieco lesse em inglês e francês como a Rosa.
-Em italiano, ele lia, pois a Itália era a segunda pátria dele. -manifestei-me.
Enquanto o Claudio tecia considerações sobre a ausência do Vagner, lembrei-me de uma caricatura, nesse suplemento do Diário de Notícias, que mostrava o túmulo de autor de Dom Camurro, com os dizeres “morto pela segunda vez”, com as críticas do pai da Rosa. Também me veio à mente o livro de mais de 500 páginas “Carcaças Gloriosas” em que ele desanca autores consagrados, eu o procurei nos sebões durante anos e nunca vi. Mantive-me, no entanto, calado para que o assunto não rendesse mais.
-Carlinhos, imagine que eu não conseguia lembrar o nome Capitu. - mostrou-se o Luca preocupado com seus lapsos de memória.
-Luca, veja a genialidade do escritor; ele transformou um nome sem graça, Capitolina, em Capitu, que é encantador. - ressaltei.
-Vai querer água? - indagou-me o Claudio.
-Já bebi lá dentro um copo, horas antes e agora vou me esvaziar um pouco.
Quando saí do banheiro, vi o Daniel, que rumava para sala e o chamei.
-Assisti a um vídeo do Dieckmann, há pouco, em que é mostrado um Jaguar, marca de carro, conduzindo um copo cheio d' água no capô sem derrubar uma gota.
-Carlão, certamente essa filmagem não foi feita no Brasil. As nossas ruas são tão esburacadas que cairiam a água, o copo, a copeira, o que estivesse no capô do carro.
-Concordo.
-Era Jaguar mesmo, Carlão? (*)
-Daniel, o Dieckmann é tão fixado no felino, que eu não consigo associá-lo a outra marca de carro. - falei já a caminho da garagem do Sabadoido.
Claudio e Luca falavam do Vicente, antigo morador da Rua Chaves Pinheiro que, durante um tempo, ajudou o Luca e o Vagner quando os dois trabalham numa loteria esportiva em sociedade.
-Claudiomiro, eu soube que o Vicente fugiu do colégio interno. Ele disse que, ao ver que obtivera êxito na fuga, ficou na maior felicidade. Chegando em casa, todos ficaram na maior alegria. Para vocês verem como era terrível o colégio interno.
-Colégio interno era como o SAM. - concordou o Claudio.
-O Carlinhos disse que o meu, em Jacarepaguá, são minhas  “Recordações da Casa dos Mortos”.
Como eu já assinalara que Nélson Rodrigues se reportara a esse livro de Dostoievsky, quando escreveu sobre o tempo que passou, tuberculoso, no “Sanatorinho”, fiquei calado.
-Há colégios internos bons.
-Sim, Claudiomiro, aqueles na Suíça, onde estudaram Jô Soares, os filhos dos ricos, mas os colégios dos pobres... - retrucou com veemência.
Depois de uma pausa para que as bebidas fossem bebericadas e para que eu recusasse mais uma vez um copo d' água, apesar do calor senegalesco (**), as lembranças do antigo Cachambi afloraram.
-Falam das peladas de terças e sextas no campo Cachambi, mas houve bons jogos entre solteiros e casados. - disse o Claudio, que era beque central do time de solteiros.
-O Vinui era o técnico dos solteiros. - afirmou o Luca, porém com uma inflexão interrogativa.
-Certa vez, depois de um frango do Bacalhau, o Vinui disse: “Ainda bem que ele vai casar.”
Mal terminei de falar, Luca riu.
-Carlinhos há umas frases que não podem ser esquecidas, essa é uma delas.
E acrescentou o Luca.
-Mas a melhor é a do Seu Amaury: “Então, estão bebendo verniz.”
Cabe aqui uma explicação. Meu pai se preocupava muito com meu irmão quando ele e unia ao Vinui, pois os dois se entupiam de cerveja. Numa ocasião, quando ele perguntou se o Claudio estava com o Vinui, eu respondi que sim, mas tentei tranquilizá-lo informando que não estavam num bar, e sim numa casa de móveis da Rua Honório. “Então, estão bebendo verniz.” - reagiu o meu pai.
Depois, eu e meu irmão especulamos sobre o ano em que nos mudamos para o Cachambi, eu dizia 1965, e ele 1966. Entramos, então, numa espécie de jogo de quebra-cabeça mnemônico, em que as peças eram os fatos, para chegarmos a uma conclusão: o ano exato. Nesse contexto, indaguei do Luca sobre o ano em que ele levou uma paulada na perna que redundou numa grande agitação na rua por volta da meia-noite.
-Eu estava na esquina da Suburbana com a Chaves Pinheiro, com o Magriça, esperando a Aurinha que tinha ido ao teatro. Surgiu, então, um estranho, com um pedaço grande de pau, e me pediu um cigarro, como eu dissesse que não tinha, ele vibrou uma paulada na minha perna, e eu e o Magriça corremos atrás dele pela rua.
-Eu ouvi a correria. - aparteei.
-Com um pequeno toque nas pernas do sujeito, ele caiu; então, o Magriça, que pegara uma pedra enorme, arremessou-a, mirando seu rosto, ainda bem que errou.
-Então, veio aquele discurso que eu imaginei ser do Seu Moura. - interferi de novo.
-O Seu Alvinho agarrou o cara pelos pulsos e gritou com ele por bastante tempo.
-Mas em que ano foi isso, Luca, pois, vendo da janela a confusão, o meu pai disse “Em que lugar eu vim me meter.”? - indaguei ansiosamente.
Como ele não soube determinar o ano, ficamos sem saber se nos metemos na Chaves Pinheiro em 1965 ou 1966. Cláudio, por sua vez, reportou-se a uma festa junina, que ocorreu logo que nos mudamos para lá, em que o Luca foi o padre e que só nossa irmã recebeu convite. Nosso amigo detalhou os casos da tal festa, mas não precisou o ano.
Assim, o primeiro Sabadoido de 2013 chegou ao fim sem que soubéssemos de fato o ano em que nós fomos para a Rua Chaves Pinheiro.

(*) esse mistério já foi desvendado: trata-se de um Sunbeam Rapier Series III, de 1959.

(*) já ficou provado que o Rio de Janeiro é mais quente que o Senegal. A comparação, entretanto, arraigou-se no populacho.


2309 - o império do Imperial

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4109                                         Data: 08  de janeiro de 2013
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O PRIMEIRO SABADOIDO DE 2013
PARTE II

Falava-se do Carlos Imperial.
-Carlos Imperial se queixava porque atribuíam a Nélson Rodrigues uma frase que era dele.
-Sá a vaia consagra. - completou o Claudio as palavras do Luca.
Recordei-me de o Carlos Imperial sendo apupado pela plateia e curvando-se em agradecimento como se ouvisse uma ovação. Era a época da febre dos festivais nacionais e internacionais da canção popular, quando artistas do estofo de Henry Mancini, Astor Piazzola, Antônio Carlos Jobim, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, entre outros, receberam furiosas vaias. Carlos Imperial, sempre esperto, procurou, a meu ver, ficar na companhia dessa elite. Quanto a Nélson Rodrigues, depois da consagradora estreia do “Vestido de Noiva” no Teatro Municipal, apresentou as peças que ele mesmo denominava de “teatro desagradável” e o público, não entendendo, o apupava ferozmente, e ele reagiu com algumas considerações sobre as gritarias da plateia, por isso tenho dúvidas se a frase não é mesmo sua.
-E o Carlos Imperial compôs boas músicas. - continuou o Luca.
-Ele foi até parceiro do Ataulfo Alves. - disse meu irmão.
-Qual foi mesmo a música que eles compuseram?...- puxei pela memória.
-”Você passa e eu acho graça.”.
Depois de citar o nome do samba, Claudio trauteou um trecho acompanhado pelo Luca:
-... E agora, você passa, eu acho graça,
Nesta vida tudo passa, e você passou pra mim.”
-O Carlos Imperial combinava brigas com outros compositores, como Juca Chaves e Erasmo Carlos, para que os holofotes ficassem sobre eles.
-Lembro-me da “Praça.” - interrompi o Luca que, por sua vez, me interrompeu.
-Uma boa música.
Retomei a palavra:
-Ele compôs sozinho “A Praça”, mas inventou um sujeito que aparecia na mídia afirmando que a composição era dele. Recordo-me que o Sérgio Porto tinha um programa na televisão e levou os dois, é claro que ele sabia que aquilo era uma patranha do Carlos Imperial e brincou com o assunto.
-Carlos Imperial teve importância na nossa música popular e merecia mais citações.
Ouvimos o Luca, mas, infelizmente, nem um de nós três se lembrou do programa animado por Blota Júnior, no final dos anos 60, “Esta Noite se Improvisa”, em que Carlos Imperial exibia um conhecimento enciclopédico de música popular, derrotando, algumas vezes, Caetano Veloso e Chico Buarque. Saiu-me, sim, do local da minha memória empoeirada parte de uma entrevista que ele concedera, e a narrei.
-Perguntaram, certa vez a ele, quem era o Carlos Primeiro entre Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Carlos Imperial.  Ele mostrou traquejo de político, pois conseguiu coroar os três. Disse que, como cantor, Roberto Carlos era o Carlos Primeiro; sobre o Erasmo Carlos ser o Carlos Primeiro, não me recordo quais as razões que apresentou. E arrematou dizendo que, como os dois foram lançados por ele, Carlos Imperial era o Carlos Primeiro.
-A nota dez retumbante, dita no resultado das escolas de samba, que o filho do Aérton Perlingeiro imita, foi criada pelo Carlos Imperial. - disse o Luca.
-Até candidato a prefeito do Rio de Janeiro ele foi.
-Pois é, Claudio, o vice foi o Claudio Polila, aquela figura folclórica que dizia que viu o General Newton Cruz matando o jornalista Alexandre Baumgarten. - manifestei-me.
Ainda falamos da experiência do Carlos Imperial nos concursos de fantasia do Teatro Municipal, citando o seu desfile como “Libélula Deslumbrada” e passamos para outro tema.
-Quando saio com a Glória, levo sempre a Kiara.
-A Kiarinha. - referiu-se carinhosamente a Gina, que se aproximava, à neta do Luca.
-Eu disse para ela, que dormia quando fomos ver a glicose do Carlinhos lá em casa, que o Daniel também veio.
-Mas eu não fui. - disse meu sobrinho, que acompanhava a mãe.
-Eu falei, Daniel, para ela reclamar porque não a acordei.
-As crianças adoram o Daniel. - comentei.
-A Kiara é uma boa menina também. - registrou a Gina.
-E a Rosa Grieco ainda diz que você confiscou a neta? - provoquei.
-Ela pensa...
-Essa questão de educar é muito complicada, eu li uma vasta literatura sobre o assunto, mas sei que, na prática, é difícil... - acrescentou ele.
-E tem de ter preparo físico para acompanhar a energia das crianças. - disse o Claudio.
Nesse instante, a Gina interferiu:
-O Eduardo Paes deu um trato no busto do pai da Rosa. Tiraram as sujeiras, a careca do Agripino Grieco até brilha.
-Eu me coloquei à disposição da Rosa para levá-la de carro até a praça que homenageia o pai dela.
-E então?
-Rosa não demonstra o menor interesse de ir lá. - disse ele.
Claudio, que saíra, retornou com dois copos de bebida, o que quebrou o fluxo da conversa. Gina saiu, e eu indaguei do Luca sobre o seu primeiro contato com a Rosa.
-Apontaram-me uma senhora e disseram que era filha do Agripino Grieco. Interessei-me logo em conhecê-la.
Logo veio à minha mente um caso que ocorreu em 1970, quando ele me conduzia com o meu pai a um médico da Rua Dias da Cruz. Ao subir o viaduto Castro Alves, Luca comentou que aquele viaduto se chamaria Agripino Grieco, mas este recusou a homenagem afirmando que ninguém passaria por cima dele enquanto fosse vivo.
Luca não quis saber do que passava pela minha cabeça e prosseguiu:
-Aproximei-me dela e falei do Agripino Grieco. Ela não enalteceu o pai. Disse-lhe, então, que gostava de ler. “Posso até lhe dar uns livros”. - falou-me ela.
-Até eu, que não conheço pessoalmente a Rosa, ganhei vários livros dela; livros de Natal, livros de aniversário, livros de desaniversários (os dias em que nós não fazemos anos, segundo Lewis Carol). - manifestei-me.
-Eu tenho de reconhecer que o meu relacionamento com a Rosa Grieco me enriqueceu muito intelectualmente.
E concluiu:
-Ela não só dá livros como recortes de jornais que valem a pena ler.
-A vida da Rosa é a leitura. - afirmei.
-Eu creio que ela leu mais do que o pai.
-Sim, Luca, o Agripino Grieco tinha ainda de dedicar um tempo à escrita. - frisei, enquanto o Claudio sorvia um gole de uísque.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

2308 - o Jaguar lancetado

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4108                   Data: 06  de janeiro  de 2013
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PRIMEIRO SABADOIDO DE 2013

Daniel abriu o portão da casa para mim com o seu comportamento travesso que, entra ano e sai ano, não muda, felizmente. Na cozinha, encontrava-se seu pai. Abanquei-me e desabafei.
-Ontem, por volta da uma hora da tarde, um representante da Claro me telefonou?
-O que ele queria? - abaixou o Claudio o jornal que lia num gesto de atenção.
-Disse que constava um débito meu com a Claro. Não sei se ele ia continuar pois o atropelei com minhas palavras. “Que débito é esse? Como vocês podem cobrar por um serviço que não foi realizado?... Vocês querem enfiar a mão no meu bolso?...”
-Você gritava?
-Quase isso, embora meu temperamento seja avesso a vozes elevadas.
E prossegui:
-Ele então me interrompeu para dizer que não era ele que metia a mão no meu bolso que eu, com esse débito, seria prejudicado.
-Quer seu nome no Serasa. - interveio o Cláudio.
-Reagi com fúria: “Que prejudicado?!... Não tenho nada com a Claro, vou ser prejudicado em quê?” E veio a voz dele: “Então fale com o ...” Atropelei-o de novo: “Eu não falo com ninguém.” E bati o telefone na sua cara.
Com a tranquilidade de observador, meu irmão me perguntou se eu assinara um contrato com a Claro.
-Claúdio, apenas houve um telefonema da empresa, em que um sujeito veio com um canto de sereia em que exaltava a rapidez da internet deles. Eu, que estava irritado com a Velox da Oi, que mais parecia uma tartaruga, mostrei-me interessado. Ele, então, me pediu nome, endereço. Depois disso, eu fui examinar meu contrato com a Oi e vi não diferenciava do que eu encontraria na Claro: prometem uma potência, mas, na prática, só cumprem com um percentual, que é previsto no contrato. Não quis trocar seis por meia dúzia, e não me interessei mais pela proposta.
-Eles enviaram Modem, alguma coisa?
-Nada! Eles me enviaram cartas de cobrança, ignorei-as. Depois, vieram inúmeras cartas de débito e de ameaças de nome no SERASA, que joguei no lixo. Eles sumiram uns oito meses e, agora, vieram com esse telefonema.
-Você disse o seu CPF para eles?
-Costumo não passar meu CPF pelo telefone, mas não tenho muita certeza.
Meu irmão contou, então, uma história que eu desconhecia.
-Por ter morrido, o papai não pôde pagar uma tarifa bancária de 29 reais. Sabe o que fizeram?...Colocaram o nome dele no serviço de proteção ao crédito?... Logo o papai, que era um modelo de honestidade. Paguei aquela porra, porque isso pode atrapalhar futuramente, quando você precisa de certos papéis.
São as engrenagens que ignoram o ser humano, previsto por Kafka. - pensei, mas disse outra coisa.
-Cláudio, eu entrego 200 reais a essa operadora de telefonia, outro consumidor também entrega e assim vai; no fim, essas empresas se tornam ainda mais milionárias e de maneira ilícita.
-Se colocarem seu nome no SERASA, nós entramos com uma ação por perdas e danos. Veja, no computador, se o seu CPF consta como devedor.
-Cláudio, eles estão blefando.
-Não custa nada ver; o Daniel lhe mostra.
-Vamos lá, no computador, Carlão, ver se você é mesmo caloteiro. - não perdeu meu sobrinho a piada.
Não perdi mais de um minuto com aquilo e passei para o Facebook, que eu não acessava desde o dia 29 de dezembro, enquanto isso, Daniel rumou para a sala em busca de outra tela, a da televisão.
Quanta coisa boa e quanta coisa péssima surgiu diante de mim nas páginas do Facebook. Há alguns amigos virtuais que se ajustam a uma frase do barão de Itararé, aquela que diz “de onde nada se espera é que não sai nada mesmo”, pretendi eliminar esses “amigos”, mas esqueci os comandos que o Daniel me ensinara. Não o chamei, porque ele revia pela enésima vez as gravações em DVD dos gols do Fluminense no campeonato brasileiro.
-Daniel não nega que é neto do velho Amaury que, quando o tricolor das Laranjeiras ganhava, ouvia as gravações dos gols até na rádio Vera Cruz.
Saí do Facebook e passei para o meu provedor em busca de um filme do Dieckmann que não consegui acessar em casa e no trabalho.
Decididamente, o cineasta da Rua Triunfo (mais uma razão para ele se considerar triunfante) retomou o tom professoral das reuniões matinais das segundas-feiras, quando era coordenador-geral de Transportes Marítimos do Departamento de Marinha Mercante. Mas passemos ao vídeo.
As imagens atuais, enxertadas com as barbeiragens de Hollywood, eram exibidas enquanto Dieckmann atuava como narrador. Ele dizia como se deve fazer uma curva com um Jaguar (*), enquanto se via um carro patinando. “Não procure, com o seu Jaguar, a quadratura da curva, nem encurvar um quadrado.” – ensinou, com afetação de professor de geometria. Em seguida, afirmou que o bom motorista é aquele que conduz o seu Jaguar a 50 km/h com um copo cheio d' água no capô sem derramar uma gota sequer. Assiste-se então a um carro dessa marca sendo conduzido por um bom tempo com um copo repleto de um liquido no capô sem que uma gota fosse derramada. Não sei se o motorista era o Rubens Barrichello, pois o nome do chofer não aparece nos créditos.
Trocando em miúdos: Dieckmann ensina como manobrar “seu Jaguar” de maneira segura e eficiente. Se ele não tivesse ideia fixa no felino automotivo, o seu filme poderia servir para o Fernando Pedrosa, nosso amigo comum que assessora o deputado Hugo Leal, usar para a campanha de educação no trânsito.
Cotação: bonequinho bebendo a água do copo do capô do Jaguar.
A voz da Gina convergiu minha atenção; ela voltava do supermercado. Aguardei que descansasse um pouco e depois fui até ela.
-Trouxe de novo o medidor de glicose para que você me ensine a usá-lo.
-Eu penso que aprendi na semana passada. - disse ela um tanto titubeante.
-O Carlinhos quer levar as agulhadas do Luca. - gozou meu irmão, que soube dos furos que ele me dera no Sabadoido passado.
-Com a caneta lancetadora, a picada é quase imperceptível. - acalmei-me.
Pois foi justamente com esse dispositivo que minha cunhada se atrapalhou. Quando eu já me imaginava sendo de novo furado pelo Luca, ela acertou-se com a lanceta e tudo correu bem.

(*) o mencionado tom professoral deve ter se perdido com o passar dos tempos. Este Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO entrou em contato com o mencionado Dieckmann, que atribuiu a baixa percepção automobilística do redator às lancetadas frequentes que leva, certamente nem sempre tão bem sucedidas como a descrita no texto de hoje. O carro que entorta na curva é um MG Magnette ZB.
Quanto ao pequeno conversível azul claro que leva um copo de água colorida (Dieckmann alerta que jamais aconselharia alguém beber aquilo) nem de longe lembra qualquer modelo Jaguar; trata-se de um Sunbeam Rapier Series II – não confundir com os eletrodomésticos Sunbeam.
O Distribuidor comenta que, como professor, o Dieckmann é um ótimo colecionador de carros antigos e só. Revendo o filme, informa que o único Jaguar de tamanho real em movimento (**) que aparece é um XK 140 FHC, numa cena bem humorada em que o dono de um Bubble-Car vermelhinho passa no exame, tira o L de aprendiz e pega o Jaguar, mostrando que um aprendiz é aprovado com um carro e pode dirigir qualquer coisa, no caso, um carro inteiramente incompatível com o teste realizado.
Agora, caro(a) leitor(a) reflita: se o Distribuidor pode avaliar os automóveis antigos com precisão, com ajuda do Google, por que o redator não se esforça um pouquinho?
Links:

Carro preto:
https://www.google.com.br/images?q=1953+mg+magnette+zb&hl=pt-PT&gbv=2&gs_l=heirloom-hp.1.8.0i19l10.3524.8650.0.13196.7.7.0.0.0.0.208.1189.0j6j1.7.0...0.0...1c.1.ipaHoSpKhZY&oq=1953+mg+magnette+zb


(**) Aparece um modelo vermelho de XK 120 FHC aos dois minutos e trinta segundos. E logo na primeira fotografia, o Jaguar verde do Dieckmann, um XK-120 OTS, segundo o Google.
Comentando isso com o Dieckmann, ele, claro, rebarbou: em 1950, ano do XK em pauta, só havia o modelo Roadster (OTS é Open Two Seater, termo para os americanos) e, portanto, não havia necessidade de botar quaisquer letrinhas a mais. O carro era vendido como XK-120 e pronto.
Eita!



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

2306 - o ataque aéreo ao Piratini

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4107                   Data: 05  de janeiro  de 2013
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FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS

Se é arte, não é para todos; e, se é para todos, não é arte.
Com esta frase, o compositor Arnold Schoenberg nega a arte popular. Ele foi, inegavelmente, um compositor que deixou a sua marca na história da música ao descobrir e desenvolver a técnica dodecafônica.
Não foi só Stravinsky a inovar no século XX com dissonâncias e (como denominou Claude Debussy) ritmos selvagens, Schoenberg também revolucionou a música do século passado e o próprio Stravinsky recorreu ao dodecafonismo em algumas das suas composições.
As plateias acostumadas com o universo musical que foi ampliado e transcendido por Bach, estranhou e continua estranhando esses doze tons de Schoenberg (já o estranhamento com a música de Stravinsky não durou muito tempo depois da arruaça que houve, em 1913, quando da estreia de A Sagração da Primavera.
Além do criador do dodecafonismo, Alban Berg e Anton Webern exploraram esse método de composição, na mesma época e muitos musicólogos consideram Alban Berg o mais inspirado dos três.
Por que a arte teria de ser apenas para uma elite? Claude Debussy, já citado aqui, cogitou de compor apenas para um grupo seleto, mas as grandes plateias se impuseram, queriam ouvir a sua música; compositores de jazz e músicos populares, como Antonio Carlo Jobim, foram influenciados pela criação de Debussy.
A nosso ver, metade da frase de Arnold Schoenberg está errada, a outra, sim, está correta: “... se é para todos, não é arte.”


Apenas acredito nas histórias cujas testemunhas estivessem dispostas a deixar-se degolar.
Esta frase de Pascal veio a calhar no momento em que termino de ler “1961 O Golpe Derrotado” de Flávio Tavares. Colocando Che Guevara acima de todos, o escritor se pôs ao lado do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, desde a primeira hora, quando os resistentes ao golpe, que impediria a posse do vice-presidente João Goulart,  formavam um exército  Brancaleone.
Mas logo Brizola confiscaria a Rádio Guaíba e, através dela, com o seu discurso inflamante, trouxe o povo gaúcho para o seu lado, para o que denominava Campanha da Legalidade.
O III Exército, o mais numeroso em soldados, comandado pelo General Machado Lopes, após marchas e contramarchas, aderiu ao governador.
Flávio Tavares se reporta a um depoimento dado a um jornalista pelo escritor Osvaldo França Júnior que, na época, tinha 23 anos de idade e era tenente-aviador. Disse ele, que pertencia a um esquadrão de caças a jato que recebera a ordem de pulverizar o Palácio Piratini com Brizola, familiares e seus defensores. Essa missão cabia a dezesseis pilotos num jato britânico, chamado na FAB de F-8 (*), que carregaria bombas de 250 libras e quinze foguetes; cada avião transportaria quatro bombas.  Indagado se obedeceria tal ordem, Osvaldo França Júnior, que seria cassado em 1965, respondeu que sim, que seguia cegamente a disciplina militar.
O bombardeio foi abortado porque alguns sargentos esvaziaram os pneus dos dezesseis caças a jato, retiraram os petardos e sumiram com as bombas de inflar pneus.
Este é um caso, mas houve outros que concorriam para uma guerra civil sangrenta no Brasil.
Reportando-nos à frase de Pascal, Flávio Tavares, sem a menor dúvida, era uma testemunha que se deixaria degolar, acredito nas mais de duzentas páginas que redigiu sobre esse momento dramático da história do Brasil, mas quanto à sua análise sobre os fatos, a conversa é outra.
João Goulart, ainda no exterior, é receptivo à costura política levada à frente por Tancredo Neves, o que significaria a sua posse na Presidência da República sob o regime parlamentarista.
João Goulart analisou o momento presente em que teria de evitar um derramamento se sangue de proporções inimagináveis entre brasileiros. É possível também que tenha previsto que logo obteria os poderes de presidente, o que aconteceu.
Flávio Tavares, com os outros radicais que formaram a Campanha da Legalidade, demonstra a sua frustração, a sua decepção, porque João Goulart, chegando ao Rio Grande do Sul, vindo do Uruguai, não discursou ao povo; porque ele aceitou o acordo dos políticos de Brasília.
Ele escreveu o seu livro com a mente votada para 1964, ou seja, já sabendo que a oportunidade que houve para o Brasil se tornar uma imensa Cuba foi em 1961. Vade Retro.
Cabe aqui contar um almoço que eu tive com um amigo que participou do governo do presidente João Goulart. Talvez assustado com os meus elogios exagerados à oratória do Carlos Lacerda e ao seu desempenho administrativo como governador do Estado da Guanabara, fez-me um pedido antes de nos despedirmos, que eu não falasse mal do João Goulart, que não escrevesse críticas contra ele. Prometi que não o faria e ele me abraçou.
Era uma promessa fácil de cumprir. João Goulart demonstrou, na vida pública, que a sua generosidade sempre ficou acima da sua ambição pelo poder. Quanto ao seu cunhado... 

Louis Antoine Henri de Bourbon-Condé, o duque d' Enghien, foi o último descendente da antiga e poderosa casa de Condé.
Como era tradição da Casa de Condé, entrou para a carreira militar em 1788 com dezesseis anos.
Com a Revolução Francesa, ele, como muitos da alta nobreza, saíram do país. Ele se incorporou à Armée des Emigrés (Exército dos Emigrados), que se formou no além-Reno, em território dos principados alemães, sob o comando do seu avô Louis Joseph de Bourbon. Como oficial da cavalaria, o duque d' Enghien participou de uma tentativa malograda de invasão da França.
Em 1801, esse exército foi dissolvido por imposição do Tratado de Lunéville.  Ele se instalou, então, em Ettenheim, nas margens do Reno, no Grão-Ducado de Baden.
Em 1803, Napoleão Bonaparte foi sabedor que um atentado contra a sua vida estava sendo tramado. Resolvido a aplicar uma punição exemplar nos conspiradores, acionou o temível Joseph Fouché, ministro que comandava as polícias francesas. Ele juntou uma força de três brigadas de gendarmes e 300 soldados da Companhia de Dragões; cruzaram secretamente o Reno, penetrando em território alemão e raptaram o duque d' Enghien, levando-o para Vincenes.
Apesar das súplicas de Joséphine Bonaparte e da Madame de Rémusat, para poupar a vida do jovem aristocrata, Napoleão permaneceu inabalável: o representante de uma das mais ilustres  famílias da França  tinha de ser executado. Depois de ouvir a sentença de morte às 4 horas da manhã, o último dos  Condé foi fuzilado meia hora depois.
Ao saber desse acontecimento, Talleyrand pronunciou uma frase que se tornou célebre.
Aquilo foi mais do que um crime, foi um erro.
A repercussão do fuzilamento nas relações externas do Império foram, evidentemente, péssimas.
Recuando alguns séculos, quando a França e a Inglaterra eram figadais inimigas numa guerra que durou 116 anos, chegaremos a Joana d' Arc. Os ingleses, condenando-a a morrer queimada, deram uma santa à França. Aqui também se aplica a frase de Talleyrand.

(*) O jato inglês chamado F-8 era o Gloster Meteor, o primeiro caça a jato inglês. Os alemães, na II Guerra Mundial, estavam à frente dos aliados e botaram nos céus dois ou três tipos de aviões a jato em quantidades razoáveis. O mais famoso foi o Messerschmitt Me-262 e como o Gloster Meteor ficara operacional antes do fim da guerra, muita gente queria ver um combate entre eles. Os ingleses deixaram os americanos, com seus P-51 Mustang movidos a hélice e motor a explosão, enfrentando os Me-262 e não encararam a fera.
Isto foi sábio, pois o Meteor não ficou exposto a um possível vexame, a guerra terminou do mesmo jeito e os ingleses venderam centenas de Gloster Meteor, logo após a guerra, antes dos americanos colocarem seus primeiros caças a jato no mercado. Entre os compradores estavam forças aéreas sul-americanas, tipo argentina, brasileira, ávidas por estarem no primeiro time da aviação.
Não dá para saber se o Gloster Meteor teria sido um bom avião. Entrou na Guerra da Coréia (1950), mas foi logo retirado de cena, pois não era páreo para os Mig-15 que parecem ter sido copiados de um projeto alemão não fabricado, o Focke-Wulf 183. Tudo leva a crer que no suposto bombardeio poderiam ter algum êxito, já que não haveria oposição aérea, porém nada que pudesse efetivamente ser considerado pulverização, pois ataque aéreo com 16 aviões no meio de uma cidade, só faz barulho. Por falar nisso...

Aqui no Brasil, os Gloster Meteor fizeram inúmeras exibições, várias assistidas pelo Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO. Uma delas foi relatada após uma partida single na máquina do tempo habitualmente tripulada por Elio e Biscoito. O barulho dos seus motores a jato puro jamais será esquecido.

Seguem algumas informações da Wikipédia e se alguém quiser ver como os Gloster Meteor eram bonitos, basta clicar em

ou em http://www.acervojeanmanzon.com.br/ - escolher VIDEOS e o filme  A GRANDE MISSÃO DA FAB. Como tudo do Jean Manzon, excepcionalmente bem fotografado e sucinto.

(The swept-wing MiG-15 quickly proved superior to the first-generation, straight-wing jets of western air forces such as the F-80 and British Gloster Meteor, as well as piston-engined P-51 Mustangs and Vought F4U Corsairs
Military operators
  • Argentine Air Force ordered 100 F.4s in May 1947, comprising 50 ex-RAF aircraft and 50 newly built.[43] Deliveries started in July that year,[67] the Meteor remaining in service until 1970, when the last examples were replaced by Dassault Mirage IIIs.[47]
  • Belgian Air Force received 40 aircraft of F.4 variant, 43 of T.7 variant, 240 of F.8 variant and 24 aircraft of NF.11 variant.
  • Brazilian Air Force received 62 aircraft in F.8 and TF.7 variants.
  • 2°/1°GAvCa
  • 1°/1°GAvCa
  • 1°/14°GAv
  • Royal Canadian Air Force — from 1945 to 1950, one Meteor III and Meteor T.7 were used for tests and evaluation by the RCAF.
  • Royal Danish Air Force20 F.4/F.8, 20× NF.11 and 6× T.7 in service from 1949 to 1962, replaced by 30 Hunter Mk 51 since 1956.
  • Luftwaffe – Meteor TT.20 target towing aircraft.