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terça-feira, 20 de setembro de 2011

2013 - uma craca à deriva

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3843 7 de setembro de 2011

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CARTAS DE LEITORES

-O redator do Biscoito Molhado que, recentemente, enalteceu o talento de Augusto Aníbal Sardinha, o Garoto, acha que sua composição “Gente Humilde” merecia a letra que lhe puseram, muitos anos depois de sua morte? - Gilmar

BM: Sem dúvida alguma, a letra divulgou a música requintada de Garoto, mas os versos são piegas. O derradeiro, então, é de uma pieguice extrema. Acredito no que li, ou seja, que Chico Buarque entrou nessa letra com duas ou três palavras apenas, porque Vinícius de Moraes o queria como parceiro. De todas as letras escritas somente por Chico Buarque, não conheço uma que enverede pela pieguice. O patético disso tudo é que, por várias vezes, escutei no programa da Rádio Roquete Pinto essa música do Garoto, em ritmo de choro, mas atribuída inteiramente a Chico Buarque.

-Quando você recebeu Moacyr Scliar em sua casa, não houve referências a escritores que praticam a Literatura, isso se considerarmos as páginas do Paulo Coelho como temas de autoajuda. - Djalma.

BM: Terei de reler sobre a visita do premiado escritor para confirmar sua observação. Mas ele se referiu, que me lembre, a Rubem Fonseca, a Dalton Trevisan e a Luís Fernando Veríssimo. Disse, em outras palavras, que Rubem Fonseca não fala (*), no Brasil, mas que em encontros internacionais de escritores fica à vontade e até tagarela. Quanto a Dalton Trevisan, é um mudo empedernido. Eu diria que é calado como uma estátua, nem com ordem de Michelangelo ele falaria. Quanto a Luís Fernando Veríssimo, disse: às vezes fala, às vezes, não. E Moacyr Scliar resumiu: o que os escritores têm a dizer está em seus textos, por isso são tão calados.

Aqui entre nós, caro leitor, Moacyr Scliar, no programa “Sempre um papo”, da TV Câmara, falou por cerca de trinta minutos, sem uma pergunta da plateia que deflagrasse sua oratória. Acredito que sua experiência de professor de alunos educados o levava a esses longos e didáticos discursos.

E o que os seus pares disseram dele? Bem, Luís Fernando Veríssimo o chamou, pessoalmente, de vergonha da classe dos escritores, porque não bebia.

-Como surgiu a loura burra? - Hideraldo Luiz

BM: Marie Curie, Clara Schumann, Elizabeth I, Catarina da Rússia, Jane Austen, Madame Pompadour, Mary Shelley, algumas dessas mulheres eram louras e tinham cérebros privilegiados.

Mas as suspeitas sobre a inteligência das louras se iniciaram com os papéis vividos por Marilyn Monroe, no cinema, além de com ela própria, na vida real. O débito de atenção de que sofria levava os diretores de seus filmes ao desespero. Billy Wilder, que a dirigiu em “Quanto mais Quente Melhor”, alertou Tony Curtis e Jack Lemmon: “- Acertem sempre, porque será a cena que Marylin conseguir acertar que eu considerarei.” Laurence Olivier, que a dirigiu em “O Príncipe e a Corista”, além de atuar com ela, escreveu que ficou anos sem rever o filme, para não relembrar os problemas causados pela desatenção dela nas filmagens.

Seria Marilyn Monroe burra? Agora mesmo, o diretor dinamarquês Lars Von Trier, do elogiadíssimo filme Melancolia, que foi expulso do Festival de Cannes deste ano porque levaram a sério aquela sua piada, de péssimo gosto, como ele mesmo reconheceu - “ - Entendo Hitler...” - justificou-se, tempos depois, com uma frase da Marilyn Monroe: “ - Se você não aguenta o meu pior, não merece o meu melhor”.

O belo filme que ele levou para Cannes, a piada de péssimo gosto que foi tomada a sério, todo esse imbroglio ficou resumido nessa frase.

Mudando de mulher para homem e de loura para mulato, Garrincha, que era tido por burro, ao ver o técnico do seu time cogitar sobre mil jogadas táticas, fez uma pergunta que, até hoje, é repetida por renomados intelectuais: “ -Já combinaram com o lado adversário?!...”

Considero apenas o lado humorístico desse estereótipo das louras, como faz a louríssima atriz Goldie Hawn. Disse ela que, juntamente com outras mulheres de cabelos dourados, saíram em passeata de protesto, até o Central Park, contra a difamação de suas inteligências, mas se perderam no caminho.

-Na visita que o economista Mário Henrique Simonsen fez ao redator do seu O Biscoito Molhado, não foi citado o mestre dele, o austríaco Friedrich von Hayek. - José Ely de Miranda

BM: Quem, na verdade, ficava de pé, respeitosamente, ao citar o autor de “O Caminho da Servidão”, o pai do neoliberalismo, era Eugênio Gudin, e não Simonsen. Ele também não era seguidor do monetarismo de Milton Friedman, que estabelecia que os agentes econômicos tomavam como principal informação para a formação de expectativas a emissão dos agregados monetários.

Apesar de o seu tio Eugênio Gudin considerar Keynes o “amigo da onça do capitalismo”, Simonsen era, no fundo, keynesiano.

Recentemente, o economista Paulo Nogueira recorreu a Friedrich von Hayek, que cunhou a expressão “mercadores de ideias de segunda mão” -gente que não formula nada e, sim, repete teses alheias, em geral berrando – para se referir a Paulo Francis, Arnaldo Jabor e Diogo Mainardi, na defesa do direitismo. Eles não são, segundo Paulo Nogueira, criativos, como Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen.

-Depois de ler a edição do BM sobre “O Caminho de Darwin”, gostaria de saber mais alguns detalhes sobre essa viagem, no navio Beagle? - Orlando

BM: Charles Darwin chegou em casa, no dia 29 de agosto de 1831, uma segunda-feira e encontrou um envelope encorpado, com a marca postal de “Londres”, esperando por ele. Abriu e encontrou algumas cartas. Leu-as e se deparou com a notícia de que uma viagem ao redor do mundo lhe estava sendo oferecida.

Sobre a embarcação que o levaria, eis o que escreveram os biógrafos Adrian Desmond e James Moore, antes de sua partida:

“...O Beagle era um brigue de dez canhões, com onze anos de idade e em franca decomposição. Estava sendo completamente reconstituído, como barca de três mastros, no estaleiro da Marinha inglesa. FitzRoy, o comandante, estava supervisionando o trabalho e nenhuma despesa era poupada, mesmo que tivesse de afundar a mão no próprio bolso. O navio tinha agora um novo convés superior, com claraboias, casco de cobre reforçado (**) e todas as tecnologias mais recentes: um leme especialmente projetado, um fogão de cozinha prateado, pára-raios avançados e canhões de bronze, em vez de ferro, para evitar interferências nas bússolas. Charles Darwin subiu ao navio para encontrar com os oficiais, um “conjunto ativo e determinado de jovens camaradas”, segundo ele. O que o fez estremecer foi o tamanho do Beagle – apenas vinte e sete metros de comprimento e sete metros e meio de largura, a meia-nau. Tinha apenas duas cabinas e eram minúsculas. A cabina de popa, atrás da roda do leme, media três por três metros e meio. E Charles, com seus um metro e oitenta de altura, tinha de se inclinar para ali entrar. Ela possuía uma vasta mesa de mapas marítimos, com três pequenas cadeiras, e o mastro da mezena passava através dela. A cabina do capitão ficava abaixo do convés, sob a roda do leme e era ainda menor. Havia luxuosos móveis de mogno por toda parte, mas aquilo não representava consolo algum. Aposentos pequenos, sim, porém Charles nunca os imaginara tão pequenos. Seu ânimo naufragou.”

Voltaremos ao assunto. casco de cobre reforçado

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO garante: o redator daqui também só abre a boca para comer.

(**) Em vez de casco de cobre reforçado, seria mais adequado se referir a casco com revestimento de cobre. Os navios de madeira eram alvo de ataques por inúmeros insetos, larvas e microorganismos especialmente nas águas quentes dos Trópicos. Então se revestia o casco com placas finas de cobre, que são impenetráveis para as populares brocas e venenosas o suficiente, para evitar a incrustação por cracas, mexilhões e outros seres destruidores.

1) Os cascos de embarcações podem abrigar comunidades incrustantes que são geralmente caracterizadas por espécies que possuem hábito escavador, se os cascos forem construídos com madeira, estágio bentônico séssil ou incrustante e mobilidade dos adultos ou estágios larvais, que permitem a dispersão. Os organismos incrustantes mais freqüentemente encontrados nos cascos são cirripédios, bivalves, hidrozoários, anêmonas, briozoários, esponjas, tunicados e algas, além de organismos errantes associados , como gastrópodes, isópodos, anfípodas e caranguejos, entre outros.

2) Craca é o nome comum para os crustáceos marinhos sésseis de vários gêneros, da classe cirripedia. Estes animais quando adultos têm o exoesqueleto calcificado composto por várias placas que definem uma forma cónica. As cracas escolhem normalmente substratos rochosos, mas podem fixar-se também a fundos de barcos (onde causam estragos) ou a outros animais (por exemplo baleias). Por serem animais que formam colônias (durante a fase natante de larva), a sua reprodução é constante. Cerca de 97% das espécies conhecidas são hermafroditas.

Uso culinário

Algumas espécies de cracas são utilizadas na alimentação humana, servindo de base à confecção de entradas ou entrando na composição de pratos de marisco. Entre as espécies mais utilizadas está a Megabalanus azoricus, uma craca de grandes dimensões que deve o seu nome específico ao ter sido originalmente descrita com base em espécimes colhidos no arquipélago dos Açores, onde é utilizada na alimentação humana, sendo consumida cozida em água do mar. Posteriormente foi identificada noutros locais como, por exemplo, nos arquipélagos da Madeira e de Cabo Verde.

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