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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

2682 - agosto do ditador



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4932                                      Data:  26  de  agosto de 2014
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MEMÓRIAS DE AGOSTO NO RÁDIO

O “muitíssimo bom dia, senhores ouvintes” era aguardado por todos, o que nos surpreendeu foi o Jonas Vieira estar travestido de Homem-Calendário no lugar do Sérgio Fortes:
-Hoje, 24 de agosto, é uma data significativa; aliás, este mês tem muitas datas significativas: morte de Carmem Miranda, de Orlando Silva...
E ele disse o porquê da data ser tão significativa assim.
-No dia 24 de agosto de 1954, suicidou-se Getúlio Vargas no Palácio da República, antes, Palácio do Catete.
 E não pulou para outro dia e ano, como costuma o Sérgio Fortes fazer.
-Getúlio surpreendeu o país com um tiro no peito. Ele veio com a Revolução de 30, implantou uma ditadura de 1937 a 1945. Um grande nome, inteligentíssimo, muito culto. Foi responsável por uma ditadura terrível; Filinto Muller era o homem da segurança, e Cecil Borer, o executante. Foi criado o DOPS, Departamento de Ordem Política e Social, e Cecil Borer era o delegado todo poderoso do DOPS.
Nesse instante, nós, do Biscoito Molhado, tivemos a certeza da ausência do Sérgio Fortes, pois ele, certamente, faria um aparte para frisar que o Doutor Fernando Borer, que é uma joia de pessoa, queridíssimo, nada tem a ver com ele, caso seja seu parente. Por outro lado, nós, que somos botafoguenses, nutrimos também rancor pelo irmão do torturador porque ele vendeu a sede do Botafogo em 1977 e o nosso clube foi rebaixado, embora tenha passado de General Severiano para Marechal Hermes. Quanto ao fato de Getúlio Vargas ser cultíssimo, a Rosa nos contou que, muitas vezes, o presidente mandava um carro do Palácio do Catete até a Rua Aristides Caire, 86, para apanhar o seu pai, o crítico Agripino Grieco e trazê-lo até ele e, juntos, conversarem sobre literatura, principalmente.
Mas a palavra está com o Jonas Vieira:
-Getúlio teve um lado altamente positivo, as leis trabalhistas, por exemplo, e outro, sinistro, com prisões e torturas na ditadura.
-Bom dia, Simon Khoury.
Com essa saudação, acreditávamos que estava virada a página do calendário, mas Simon Khoury insistiu no assunto com uma pergunta instigante:
-Será que ele só conseguiu fazer as coisas boas porque não tinha ninguém para atrapalhar?
Antes de seguirmos com a resposta do titular do programa Rádio Memória, vamos fazer um modesto adendo com o objetivo de trazer fatos históricos que devem ser considerados. Em primeiro lugar, temos de abordar esses acontecimentos na época em que eles ocorreram. Em 1935, os comunistas tentaram tomar o poder, em pouco tempo, 1938, precisamente, os integralistas, influenciados pelas ações de Hitler e Mussolini, realizaram um levante (putsch) de madrugada, buscando matar Getúlio Vargas, no Palácio Guanabara e ele foi salvo com a chegada a tempo da Polícia Especial e o Exército. Resumindo: no meio de tantas paixões incontroláveis, não havia como governar o Brasil democraticamente.
Havia muita gente atrapalhando, como disse o Simon Khoury. Mas passemos para a resposta do Jonas Vieira.
-É provável, Simon, mas eu não vejo por esse lado. Getúlio Vargas se impôs. Ele tinha o prazer pelo poder. Era muito vaidoso. Atraiu para o seu governo homens da grandeza do Carlos Drummond de Andrade...
Villa Lobos, lembramos.
E foi incisivo nesse momento da sua resposta:
-Sou democrata; infelizmente, o Brasil não tem uma ditadura completa, como os grandes países, isso, por causa do Getúlio.
-Por causa do Getúlio, meu caro Jonas Vieira?... Pedimos vênia para discordar. A República surgiu de um golpe militar. O primeiro ditador do Brasil foi o Marechal Floriano Peixoto que, pelo menos, teve mérito de não se perpetuar no poder, saiu no término do mandato, como fariam os militares do golpe de 64. Mesmo depois de morto, o florianismo assombrava o Brasil, ou seja, a tomada do poder pelos militares. A revolta da vacina de 1904, por exemplo, foi um pretexto para a derrubada do presidente Rodrigues Alves, golpe abortado pela intervenção do Marechal Hermes.
Culparíamos o presidente Getúlio Vargas se ele tivesse encontrado, quando chegou à Capital Federal, um país econômica e politicamente em boa situação, tranquilo, mas não havia nada disso. A Grande Depressão de 1929 derrubou a cotação do preço do café e, com ele, caía o sustentáculo da República Velha. Getúlio Vargas aqui chegou, em 1930, liderando um governo revolucionário, ditador ele veio a ser por 8 anos (1937 a 1945).
Com a vitória dos aliados na Segunda Grande Guerra, o vento da democracia soprou, não nos países comunistas, evidentemente, e não cabia mais ditadura no Brasil. Getúlio Vargas saiu e retornou, democraticamente, em 1950. Exatamente 50 anos, depois, em 1954, o florianismo reviveu e os militares, sob o pretexto de um atentado em que o presidente nada teve a ver com a sua execução, tentaram retomar o poder: o suicídio de 24 de agosto de 1954 de Getúlio Vargas  frustrou esse pretensão.
Quanto às leis trabalhistas, as estatizações e outras medidas getulistas se foram corretas, na época, hoje, muitas estão obsoletas, afinal, tanto a economia quanto a política não são ciências exatas.
-Dia 24 de agosto de 2014, o grande músico David Ganc veio ao Rádio Memória. - anunciou o Simon Khoury.
E com essa intervenção pertinente do filho da pioneira da introdução da Rádio FM no Brasil, Anna Khoury, os ouvintes se prepararam para ouvir boa música.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

2681 - Correios e Telégrafos



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4931                                       Data:  24  de  agosto de 2014
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A CAMPANHA ELEITORAL NO SABADOIDO

Sempre vítima das gozações do Daniel, resolvi ser seu “algoz”.
-Segui a sua instrução de devolver o DVD com a postagem de encomenda na agência do Shopping Nova América e eles me disseram que ali não se fazia isso, que me instruíram erradamente.
-Qual foi o maluco que disse isso? Aquela agência não é franqueada, eles têm de receber a devolução. - indignou-se.
-Brincadeira, Daniel; eles receberam e já foi para São Paulo.
-Ah, bom.
Por coincidência, ele festejava os dez anos da sua entrada nos Correios, mesmo trabalhando há algum tempo na Casa da Moeda.
-Entrei para lá em 2004, não é, Gininha? - voltou-se para a sua mãe, ao lado, no sofá de alvenaria da cozinha.
-Copacabana. - transbordou de orgulho ao citar o bairro da agência em que o filho entrou pela primeira vez no mercado de trabalho.
Cláudio, que se impusera, porque a mãe pretendia que ele fosse para uma agência mais próxima de casa, a tudo assistia sem reviver os arrufos do passado para não estragar a festa.
-Vou colocar as fotos que tenho do pessoal desde 2004 no Facebook.
-Os seus dez anos serão, assim, lembrados por todos. - manifestei-me.
-Daqui a pouco, farei isso, antes, vou dirigir.
No entanto, permaneceu sentado.
-Daniel, por que você não vai lá na pracinha?... Como é época de campanha eleitoral, colocaram, no chamado ringue de patinação, diversos aparelhos de ginástica.
-O que tem lá, Carlão?
-O Simulador de Caminhada, o Esqui em que você tem de puxar as alavancas para mover as pernas, o Remo, e outros de musculação e de equilíbrio.
-Fica lá um instrutor para orientar sobre o uso correto desses aparelhos? - dirigiu-se a mim o Claudio.
Antes de responder, notei o sorriso de descrença da Gina.
-Com esses aparelhos, colocaram um cartaz com os dizeres: “dê preferência às pessoas de terceira idade” entretanto, o que se vê mesmo lá são crianças que conseguem transformar aquilo tudo em brinquedo. O Simulador de Caminhada, por exemplo, virou balanço, pois elas colocam os traseiros em vez dos pés.
-Mas, Carlão, nem você se exercita lá?... Deixou ser transformado em playground?
-Claro que me exercito, mas ainda estou me entrosando com aquelas máquinas; não quero exagerar e, depois, sofrer com dores musculares.
Depois, voltei-me para a Gina:
-E o braço?... Tirou o restante do gesso?
-Arranquei por conta própria; deixei apenas enfaixado.
Ela se antecipou mostrando os movimentos das duas mãos.
-Eu não consigo realizar com a mão do pulso quebrado este movimento de quase 360 graus. -  dizia enquanto fazia comparações práticas com a mão não lesionada.
-E os dedos?
-Embora haja, ainda, algum inchaço, eu mexo normalmente. - acentuou o que dizia abrindo e fechando os dedos sem muita dificuldade.
-Creio que os dedos são os mais importantes, afinal, com o movimento de pinça, o uso de polegar opositor, o homem deslanchou intelectualmente em relação aos outros primatas. - comentei.
-Vou dirigir.
Dessa vez, o Daniel foi mais incisivo, pois se levantou e saiu da cozinha. Gina se retirou, também, mas não demoraria a retornar. Fiquei, então, com o Claudio, que já havia lido o jornal.
-Claudio, bem faz você que quer distância de computador. O Facebook, no dia do enterro do Eduardo Campos, estava insuportável.
-No domingo passado. - fez o adendo.
-Se a Marina Silva aparecia com a expressão sofrida, escreviam que ela queria tomar o papel da verdadeira viúva, se aparecesse sorrindo, diziam que ela não possui porte algum para presidir o Brasil.
-Não se pode mais sorrir num enterro? - indagou.
-Era paulada em cima dela da extrema direita e da extrema esquerda. Todos salivando ódio.
-Ela é a presa a ser abatida.
-Apesar de que a presa, mesmo, não tem de ser a Marina Silva.
-Mas é isso mesmo, Carlinhos: a extrema direita e esquerda pensam a mesma coisa.
-O Brasil é um país esquizofrênico: o PT abomina os ditadores militares, mas adora uma estatização. O General Geisel, por exemplo, criou cerca de 70 estatais no governo dele.
-E o Geisel agia como se fosse o dono da Petrobras. - lembrou.
-A Petrobras era um feudo do General Geisel, como, hoje, é do PT. A grande diferença é que, com ele, a empresa não foi pilhada por corruptos. - frisei.
Meu irmão aludiu de novo à campanha eleitoral:
-O Eduardo Campos, na verdade, se preparava para a eleição de 2018; quando seria, então, um candidato muito forte, por isso, não incomodava muito os adversários.
-Quem pegar a desarrumação deixada pela Dilma “Duchefe” vai precisar de uns dois anos, pelo menos, para consertar o Brasil. Quem se tornar presidente em 2018, terá, então, uma tarefa menos árdua.
-Se a Dilma for reeleita cai por terra tudo isto que você falou, Carlinhos.
-Voltando ao Facebook, Claudio; no enterro do Eduardo Campos, fizeramselfies com o esquife ao fundo.  Coisa de malucos.
-Esse negócio de selfies virou moda desde o enterro do Nelson Mandela com a participação do Barack Obama.
-Sim, Claudio, mas não havia caixão por perto e a morte do Mandala já era esperada há mais de um ano, não houve o impacto de uma tragédia.
-Eu ouvi no rádio um comentarista bradando contra os degenerados da Internet.
-Alguns deles estavam bem atuantes nesse domingo do enterro do Eduardo Campos. - assinalei.
-O Globo de hoje se refere a um mal entendido no Facebook com o Chico Buarque; ele recebeu elogios porque não ia votar na Dilma, e críticas porque votaria nela. Na verdade, ele ainda não declarou o seu voto.
-Claudio, o Millor Fernandes afirmou que o Chico Buarque faz da ideologia um investimento, por isso os dois brigaram com cusparada, voos de garrafa e outras baixarias.
E prossegui:
-Como um excelente investidor, além de compositor, ele aguarda o momento exato para agir. Lembra-se da campanha eleitoral de 2010?... O momento exato foi o centenário da sua mãe. Lá, ele se entendeu com o Lula e a Dilma. A irmã do Chico se tornou ministra; o pai dele, nome de petroleiro; a mãe se tornaria, mais tarde, nome de hospital, e o seu livro ganharia o Prêmio Jabuti.
-E ele fez a parte dele – interrompeu-me o Claudio, - discursou no Teatro Casa Grande, com a presença da classe artística, louvando a Dilma.
-E o Caetano Veloso, Carlinhos?
-Essa recente entrevista de página inteira no Caderno B do Globo deu munição para os seus críticos. Caetano usou um estilo “esfumaçado”, ou seja, no meio da sua verborragia, joga uma fumaça e o leitor não consegue ver o que ele quer, realmente, mostrar.
-Ele não quer mostrar nada, Carlinhos. - atalhou a Gina, de bom humor, juntando-se a nós de novo.