O BISCOITO MOLHADO
Edição 5307 FM
Data: 28 de junho de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO:XXXIV
EU,
O RÁDIO E O ROUXINOL ALEMÃO
Sou “cria” do rádio, onde comecei a trabalhar nos já
distantes anos de 1940, na então única emissora cearense, pertencente à poderosa cadeia dos Diários
Associados. De operador de som, trabalho que era limitado a ligar o microfone
para o locutor, e pôr discos de 78rpm, feitos de cera, uma gravação de cada
lado para tocar, quando lidei com os clássicos, o jazz e o popular da época. Em
pouco tempo estava no setor de produção, logo adaptei-me à rotina de escrever
programas e notícias, achei que já estava no ponto, decidi viajar de mala e
cuia para o Rio de Janeiro, enfrentar a selva onde muitos sonhadores pretendiam
disputar uma vaga, acertei no alvo. Fiz teste para a Rádio Nacional, a maior
emissora da América Latina só comparável com a BBC de Londres. Os melhores
artistas, os melhores programas, os melhores redatores, os melhores boletins de
notícias, aprendi com quem sabia. Cheguei ao topo, fui editor de notícias e,
mais do que tudo, editor do mais famoso noticioso do Brasil, o Repórter Esso.
Com a vinda da TV e, em seguida, com o golpe militar de 64, a emissora sofreu o
impacto da modernidade. Já conhecido profissionalmente trabalhei em outras
emissoras, no Globo e em outros
jornais. Posso dizer com orgulho, atravessei os pântanos, as florestas,
tropecei em pedras, saí ileso. Tudo foi feito com orgulho, ética, muita dedicação e muito prazer. Amei a minha profissão.
Outra grande vantagem foi tomar conhecimento com o mundo
maravilhoso da música erudita. As sinfonias e concertos, as grandes orquestras,
os grandes intérpretes. Hoje, lamentavelmente, com o advento da televisão, o
rádio entrou em decadência. Salvam-se umas duas emissoras dedicadas
exclusivamente a notícias - a Roquete Pinto, pela sua boa programação popular e
outra, a rádio MEC, de programação clássica excepcional. No mais, uma lástima.
Uma pobreza intelectual de dar pena, músicas de péssima qualidade, uma
verdadeira agressão ao bom gosto do ouvinte.
Por acaso,
voltei a ouvir na MEC, no último fim de semana o excelente programa Sarau,
muito bem dirigido, muito bem apresentado por excelente narradora. O Programa
foi dedicado a uma das melhores cantoras clássicas do mundo: Erna Sack, que me
fez lembra os velhos tempos do meu início. Sobre Erna Sack, fui à pesquisa, eis
o que encontrei:
O ROUXINOL ALEMÃO
Desde muito cedo, Luise Weber, nascida na Alemanha em 1898,
foi considerada um fenômeno, pela bela voz, quando cantava no coral da igreja,
onde ficou entre os 9 e os 16 anos. Até que começou a cantar em teatros,
atuando em pequenos papéis, quando, aos 30 anos, surgiram suas primeiras
oportunidades, ao ser ouvida pela esposa do famoso maestro Bruno Walter, então
diretor musical da Ópera Estadual
de Berlim, que insistiu com o marido que a ouvisse.
A partir dessa época, transformou-se numa das mais
espetaculares cantoras clássicas de todos os tempos. Foi soprano, mezzo
soprano, contralto, até que se decidiu por soprano coloratura. Era um
verdadeiro fenômeno vocal, seu limite atingia alcançar as notas mais agudas,
fato que ocasionava problema para os estúdios de gravação, de vez que os
equipamentos da época não tinham condições de gravar as notas alcançadas.
Luise iniciou uma série de turnês pela Europa, quando foi
ouvida pelo empresário teatral Hermann Sack, que a tomou sob sua proteção,
pagando suas aulas de canto com os melhores professores de Berlim e de Praga,
tornando-se, também, seu marido. E Luise adotou o nome de Erna Sack, com que
foi conhecida mundialmente.
Em 1937, cantou pela primeira vez no Carnegie Hall de Nova
York, atuando ao lado do famoso tenor Richard Tauber. Na Inglaterra,
apresentou-se numa audição particular para o rei George
V. Já famosa, além de óperas, fez grande sucesso ao realizar recitais cantando
canções populares clássicas, como as valsas de Strauss e operetas de Franz
Lehar.
Com a II Guerra Mundial, teve problemas, de vez que seu
marido, judeu, esteve preso em um campo de concentração nazista, porém teve
sorte, conseguiu escapar da morte. Após o conflito, reiniciou seus recitais
mundo afora, atuando novamente nos Estados Unidos e na América Latina, em
teatros de Buenos Aires, do Chile, do Uruguai e do Brasil, onde esteve em 1948
com o marido, e ganhou a cidadania brasileira. Os dados da pesquisa são omissos
quanto a esse detalhe, não indicando em que condições se desenvolveu tal fato.
Erna Sack fez diversos filmes de cinema na Alemanha e suas
inúmeras gravações musicais, ainda hoje, depois de passar por renovados
processos técnicos, são tocadas nas rádios de todo o mundo. É anunciada como ”O
rouxinol alemão”, uma verdadeira diva do belcanto. Morreu em 1972.