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sexta-feira, 31 de julho de 2015

2907 - pisando em falso


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5157                            Data:  28de julho de 2015

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SABADOIDO

2ª PARTE

 

-Mal comparando, pessoas, para mim, são como balanços, só me afasto daquelas em que o passivo é maior do que o ativo.

-Mas Carlão, o passivo não tem de ser igual ao ativo?

-Daniel, isso em contabilidade; eu estou usando uma licença poética. Então, vá lá: eu só evito as pessoas com passivo a descoberto.

-Estive anteontem, com o Luca, que me entregou um mimo da Rosa: uma réplica do mais conhecido quadro do Édouard Manet, em que ela escreveu “Piquenique na Praça Manet”. É aquele que, mal traduzido, chamam de “Almoço na Relva”.

-A Rosa deveria escrever “Piquenique no Sangue e Areia.”

-Gina, não tem relva lá, na Praça Manet, agora o campo é de carpete.

-Então, Carlão, “Piquenique no carpete”, de Mané.

-Bem, Daniel, é o título que melhor espelha a realidade de hoje. - concordei.

-A igreja, na missa do Vagner, estava lotada. - reclamou meu irmão.

-O Luca, quando estive com ele, se encontrou, na missa, depois de décadas, com o Rogério. Pelo que o Luca me contou, o Rogério continua com aqueles gestos espalhafatosos, falando alto e sem tomar fôlego mesmo na igreja.

-Eu nem consegui ver o Rogério de tanta gente. - lamentou o Cláudio.

-Daniel, se você conhecer o Rogério, ele certamente não escapará do seu vasto repertório de imitações.

-Cumééééééééééérça. - imitou meu sobrinho o Luca, que chamava, às vezes, o Vagner de Cumercindo ou Cumerça. 

-Sua mãe, agora, que deu presença de vida, está mais calma?- perguntou-me a Gina.

-Ela já vinha se torturando com isso há mais de um mês.

-Vinha torturando todo o mundo. - rezingou meu irmão.

-Foi uma operação de guerra levá-la à Caixa Econômica do Norte Shopping. - exagerei.

-Eu cheguei lá mais cedo e peguei logo a senha, enquanto o Lopo, a Suzete e a Verônica levavam a mãe de carro até lá para se encontrarem comigo.

-Levaram de carro e, dentro do Norte Shopping, de cadeira de rodas, que franqueiam durante quatro horas. - acrescentei.

-Por que você não foi também, Carlinhos?

-Gina, bem que a Verônica insistiu que eu fosse. Fiquei em casa e atendi vários telefonemas de felicitações pelos 89 anos da mamãe.

-Ela não voltou logo? - quis saber meu sobrinho que, naquele dia, trabalhava.

-Nada, Daniel, soube que se empolgou, depois de muito tempo sem ir à rua, que ficou horas no Shopping; comprou DVD nas Lojas Americanas, comeu torta na Praça da Alimentação, só não bebeu chope com o Lopo e a Suzete.

-E a Verônica, também não bebeu? - quis ele saber da prima.

-A Verônica ia dirigir. - expliquei.

-E você velho, não participou da festa?

-Daniel, eu já havia feito a minha parte; não podia demorar lá. Também tinha de suspender o pedido ao DNIT de uma assistente social ir até a casa da mãe para constatar a presença de vida.

Às palavras do Claudio, seguiram-se as da Gina:

-Eu, depois de muita luta no telefone, consegui falar com o DNIT, e eles garantiram que, era líquido e certo que, antes de três meses no mínimo, após o aniversário dela, o salário não seria cortado e que um assistente social iria lá, só não sabiam precisar quando. Mas a Dona Vivi, mesmo assim, continuou estressada.

-Gina, de tanto ver, na televisão e ler nos jornais, a falta de dinheiro no governo, o grande medo da mamãe era que a Dilma embolsasse a sua pensão se ela demorasse mais de um dia sem dar presença de vida. - justifiquei.

-Todo cuidado é pouco. - comentou meu sobrinho.

Retomei a palavra.

-O Luciano, marido da Verônica, me disse que a bolsa de estudos da UFF, que ele ganharia, foi cortada. Informou-me também que conhecidos seus, que receberam as chamadas bolsas sanduíche, para estudar no exterior, estão apavorados com os cortes nas verbas e que, aqueles, com menos de dois anos de bolsa, são os que mais sofrem na carne.

-Carlão, que negócio é esse de bolsas sanduíche? É para comer?

-Com a bolsa sanduíche, metade do gasto de um estudante brasileiro é paga pelo governo brasileiro e a outra metade pela instituição de ensino do exterior. Como o nosso governo cortou a verba, esse estudante tem de se virar com 50% apenas.

-É a Pátria Educadora da nossa presidenta. - manifestou-se a Gina.

-Ela á uma mescla de prepotência com incompetência.

Mudei de assunto com uma pergunta dirigida ao meu sobrinho.

-Daniel, assistiu aos jogos do Pan Americano?

-Pouca coisa.

-O que me chamou a atenção, além das disputas, é claro, foi o comentarista de atletismo do Sport TV.

-Por que, Carlão, ele não dominava o métier?

-Ele dizia os tempos de vários atletas que estavam competindo ou não, estivessem em atividade ou não.

-Muitas vezes, eles estão consultando revistas, e, como nós, tele-espectadores, não estamos vendo, julgamos que eles são detentores de uma mente enciclopédica.

-O que você está dizendo, Gina, me faz recordar uma partida de tênis comentada pelo Thomas Koch e o Álvaro José. Este se mostrava muito mais conhecedor do esporte do que aquele que foi um dos maiores tenistas brasileiros. Houve uma hora que o Thomas Koch não aguentou e disse: “Você está dizendo tudo isso com revistas nas mãos.”

-O Álvaro José era da equipe do Luciano do Vale na TV Bandeirantes. - lembrou o Claudio.

-Continuando o que eu dizia, esse comentarista conhecia muito de atletismo, mas torcia demais e, com isso, falava asneira.

-Exemplos, Carlão.

-A Juliana dos Santos ganhou medalha de ouro na corrida de 5 000 metros, maravilhoso, mas ele não disse, como eu soube pelos jornais, que o tempo foi muito fraco.

-Você critica o cara por isso? - cobrou-me o Claudio.

-Até então, tudo bem. No dia em que ela correu os 3000 metros com barreiras, esse comentarista informou que Juliana dos Santos, participava dessa prova pela primeira vez. Bem, as atletas começam a correr e a saltar, e ele diz que o ritmo estava muito lento. Como continuava assim, com duas americanas ponteando, disse que a Juliana estava cozinhando o galo, que seria servido para ela no prato. Achei estranho, porque a Juliana dos Santos era estreante para ter uma estratégia de atleta experiente. O locutor, então, pergunta a ele se o recorde do Pan Americano da prova seria quebrado. Ele garantiu que não, por causa da lentidão das atletas.

-Como terminou isso, Carlão? - impacientou-se o Daniel.

-A Juliana pisou em falso quando saltou uma barreira e caiu, saindo da corrida. Duas americanas já haviam disparado na frente, seguidas de longe por uma canadense e, assim, terminou a corrida. O recorde do Pan Americano foi quebrado.

-Eles não entendem nada. - alfinetou a Gina.

 Pouco depois, ela e o Daniel se aprontaram para sair. Fui com eles, de carona até onde ocorreu o piquenique de Manet, segundo a piada da Rosa.

  

 

 

 

 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

2906 - o choque de Tesla


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5156                               Data:  27 de julho de 2015

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SABADOIDO

1ª PARTE

 

-Eu peguei a correspondência na caixa dos correios e lá estava um envelope com a imagem da Nossa Senhora de Fátima, e vi que a destinatária, a minha mãe, era chamada de dizimista.

-Qual é o espanto, Carlinhos? - interveio a Gina – a Igreja Católica também cobra dízimo, não são só os evangélicos.

-Na missa de sétimo dia do Vagner, passaram com uma sacola enorme para recolher dinheiro da gente. - manifestou-se o Claudio.

-As pessoas alardeiam mais os dízimos pagos pelos evangélicos.

E lembrei um vídeo que foi divulgado pela TV Globo em que aparece o bispo Macedo incitando os pastores a tirar o dinheiro dos fiéis.

-O lema do bispo Macedo era: “Ou dá ou desce”. Está lá no vídeo.

-Carlinhos, a Globo vislumbrou que ele se tornaria um concorrente, com um canal de televisão e tratou de desmoralizá-lo.

E prosseguiu meu irmão.

-A Globo faz tudo para quebrar os concorrentes e ficar sozinha no mercado. Lançaram o “Extra” para acabar com “O Dia”, mas não conseguiram.

Quando ele exemplificou com a derrocada do Jornal do Brasil, eu discordei.

-Claudio, eu trabalhei lá; o Jornal do Brasil se afundou quando investiu naquelas instalações suntuosas da Avenida Brasil 500. Antes, o Nascimento Brito, genro da Condessa Pereira Carneiro, comprou a Tribuna da Imprensa por um valor exagerado.

O espírito polemista do Claudio não arrefeceu:

-Mas o Jornal do Brasil sempre quis um canal de televisão e não conseguiu; o dedo da Globo deve estar aí.

-Bem, eu estranhei que os católicos tratassem seus seguidores de dizimistas. - voltei à correspondência remetida à minha mãe.

-Eles cobram, Carlinhos. - insistiu a Gina.

-Uma vez o bispo Macedo foi preso.

-Quando? - estranhou a minha cunhada, que é eleitora do Marcelo Crivela, mas não vai além disso, religiosamente falando.

-Foi sim, mas não me lembro do ano. Ele até escreveu um livro.

-Que livro, Claudio? - indagou a Gina com ceticismo na voz.

-Mein Kampf . - respondeu inesperadamente o Daniel que, até então, estava absorvido pela tela do seu celular.

Eu, que nesse exato momento, engolia um pouco da água no copo que me fora servido pela Gina, quase engasguei.

-Poxa, Daniel, deixa-me engolir a água para, depois, fazer as suas piadas.

-Carlão, se eu fosse esperar por você, eu perderia o “timing” da piada.

Transcorridos alguns minutos, anunciei que ia urinar. Se eu não me referir às minhas idas ao banheiro, a Rosa Grieco, que me chama de “Fontana dei Quattro Fiumi”, por causa dos meus esguichos, não acreditaria na veracidade deste Sabadoido, Quando retornei do banheiro, a minha cunhada falava de uma tal de Vilma.

-O marido dela tinha tanto medo de ser eletrocutado, que tomava banho de chuveiro elétrico com os tamancos nos pés.

Agora, era a vez de o Daniel rir de causar abalos sísmicos na barriga.

-Eu me lembro que o pai usava tamancos, mas nunca tomou banho com eles.- entrei no espírito de descontração.

-Eu não me esqueço dos seus tamancos por causa de uma tamancada que ele me deu nas costas e que a Tia Esmeralda, quando era nossa vizinha, tratou.

-E eu me lembro, porque você varejou um sobre mim e quebrou meu dente.- acrescentei.

-Esses tamancos não vão adiantar nada numa descarga elétrica. - afirmou meu irmão.

-Cláudio, por que as aves não morrem quando pousam nos fios de alta tensão?

Era uma pergunta retórica, pois a própria Gina respondeu.

-Porque o circuito não se fecha nelas; a eletricidade passa (*). O fio terra é seguro porque leva o escoamento da descarga elétrica para a terra, fazendo que ele passe pela gente como pelas aves.

Claudio recordou, então, uma tragédia ocorrida com dois trabalhadores da Light que mexiam na fiação da Avenida Suburbana esquina com a Rua Chaves Pinheiro.

-Eu estava com a Rosângela quando os dois foram eletrocutados. Ela passou mal, mas não era para menos.

-Eu estava em casa quando ouvi o estrondo, saí para ver e vi um deles grudado no poste, pegando fogo. O cheiro era de churrasco. As botas deles caíram. O outro ainda foi lançado ao chão, onde morreu. - foi a vez de a Gina narrar a cena dantesca que testemunhou.

-A borracha é melhor isolante. - manifestou-se o Daniel lembrando os pneus do seu carro nas horas dos raios dos temporais.

-Seria mais seguro se ele tomasse banho com sandálias de borracha. - disse a Gina.

-Hoje, há um circuito que desliga automaticamente quando os trabalhadores vão lidar com fios de alta tensão. - disse meu irmão.

-Esses dois morreram como condenados à cadeira elétrica. Vocês devem saber que foi Thomas Edison que inventou a cadeira elétrica.

-Inventou a lâmpada e outras coisas. - seguiram-se as palavras do Daniel às minhas.

-Edison estava mais interessado no dinheiro que ganharia com os inventos elaborados pela equipe dele. Ele era mais empresário do que inventor. - comentei.

-É uma tese.

-Quando a lâmpada foi inventada, a ambição dele era iluminar Nova York e, depois, o mundo, com usinas de eletricidade. O problema é que seria usado a corrente contínua, o que aumentaria os custos, pois seriam necessárias muitas dessas usinas para chegar às lâmpadas. Então, Westinghouse, outro empresário, comprou a ideia de Nikola Tesla sobre a corrente alternada, que seria bem mais econômica.

Em seguida, tentei discorrer sobre as duas correntes elétricas, mas minhas palavras saíram titubeantes e meu irmão me gozou.

-Claudio, eu não domino esse matéria. Resumindo: Edison, para mostrar o perigo que representava a corrente alternada, inventou a cadeira elétrica e eletrocutou elefantes.

-Eletrocutou elefantes?

-Daniel, há documentários que mostram essa maldade e eu vi.

-Tudo por dinheiro. - criticou a Gina.

-Quando Nikola Tesla mostrou a energia alternada passando por ele, como passa pelos passarinhos, o Westinghouse ganhou a guerra das correntes, iluminou Nova York, todo o país e o mundo. - concluí.

-Carlão, quem entende muito de energia elétrica é a Dilma Rousseff.

-Falando nela, vamos desligar a luz que a conta está cada vez mais cara. - ralhou meu irmão.

 

(*) Um amigo do Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO informa que se uma ave pousar com uma perna (membro posterior) em cada um dos fios de transmissão de energia não isolados, ela morrerá, seja um deles fio terra, ou não. Como os pássaros, que estão vivos, pousam em apenas um dos fios, não há diferença de potencial elétrico entre cada perna e não passa nenhuma corrente pelo corpo. Qualquer um de nós, se voasse, poderia se dependurar em um fio e nada aconteceria. Mas não poderia esbarrar em mais nada. Se Nikola Tesla se dependurou assim, sobreviveu, mas não foi encontrado nenhum registro a respeito desse teste.

 

 

 

 

 

2905 - o Dia da Moeda


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5155                      Data:  26 de julho de 2015

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O HOMEM-CALENDÁRIO NO DIA DOS AVÓS

 

-Serginho, o que aconteceu no dia 26 de julho?

-Primeiramente, vamos falar do sucesso do evento na ABI sobre o centenário do Orlando Silva.

-Sim, o meu livro “Orlando Silva – 100 anos – O Cantor das Multidões” está à venda na livraria Arlequim do Paço Imperial.

-Em 1139, Afonso portucalense é aclamado rei de Portugal e proclama a independência em relação a Leão. Nada a ver com o leão do imposto de renda, Jonas.

-Este é feroz com os assalariados, mas um gatinho de madame para os ... deixa pra lá.

-Em 1469, Guerra das Rosas – Batalha de Edgecote Moor: Warwick derrota o exército de Eduardo IV de Inglaterra. Jonas, muita gente morreu nesta guerra.

-Imagina se fosse Guerra dos Espinhos, Sérgio.

-Em 1581, através da União de Utrecht, a Espanha se declara formalmente independente da Holanda. Jonas, poucos anos depois, a Invencível Armada espanhola seria derrotada pelos ingleses.

-O pessoal já estava perdendo o respeito pela Espanha.

-Em 1605, os protestantes franceses realizam uma assembleia em Chatelherault, desafiando o Rei Henrique IV. Jonas, Ele também era protestante, mas, para subir ao trono da França, foi obrigado a se converter ao catolicismo;

-Sim, Sérgio, ele disse “Paris vale uma missa” e se tornou católico.

-Em 1791, nasce Franz Xavier Wolfgang Mozart, compositor austríaco, filho de Wolfgang Amadeus Mozart. Foi bom compositor.

-Em 1856, nasce George Bernard Shaw, escritor e dramaturgo irlandês, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1925.

-Gênio. - acentuou o Jonas Vieira.

-A propósito, uma vez anunciaram o falecimento dele e Bernard Shaw disse que essas notícias sobre a sua morte eram exageradas.

Simon Khoury aproveitou para contar um diálogo que teria se travado entre ele e Isadora Duncan: “Já imaginou um filho nosso com a minha beleza e a sua inteligência?”, e Bernard Shaw respondeu à dançarina: “Já imaginou se ele nasce com a sua inteligência e a minha beleza.”

-Em 1875, nasce Carl Gustav Jung, psicólogo suíço. Ele foi discípulo de Freud, rompeu com o mestre e criou uma vertente no estudo da mente humana.

-Em 1882, estreia Parsifal, a última ópera de Wagner. Jonas, Wagner não só compunha a música como escrevia o libreto. Há wagnerianos tão fanáticos, que aceitam com relutância que Goethe foi melhor poeta, e Beethoven, melhor músico do que ele.

-Em 1889, morre Tobias Barreto, escritor Brasileiro.

-Em 1895, nasce Cassiano Ricardo, poeta e jornalista.

-Em 1908, é criado o FBI. Também, nesse ano, realiza-se a primeira prova automobilística da América do Sul no Circuito de Itapecerica em São Paulo. Jonas, o pessoal das baratinhas já acelerava em 1908.

-Em 1916, nasce Sylvio Pirillo.

-Grande Sylvio Pirillo. - falou alto o coração rubro-negro do Jonas Vieira.

-Jonas, ele nasceu em Porto alegre, jogou no Internacional de 1936 a 1939, quando veio para o Flamengo com a missão dramática, terrível, impossível de substituir Leônidas da Silva.

-Grande Leônidas da Silva.

-Ele o substituiu com galhardia e foi tricampeão em 42, 43 e 44. Em 1941, bateu o recorde de artilheiro do campeonato carioca, que permanece até hoje, com 39 gols.

-Caramba! - encantou-se o Jonas Vieira.

-Leônidas da Silva, que era até então o recordista, tinha feito 30. Em 1948, ele foi para o Botafogo onde jogou até 1952. Como treinador, Sylvio Pirillo teve vários destaques, campeão disso, daquilo, e foi o primeiro treinador a convocar Pelé.

-Olha só; tinha olho clínico.

-Clínico ou cínico, mas já era alguma coisa. - acrescentou o Sérgio Fortes.

-Em 1920, nascia o economista Celso Furtado.

Foi muito melhor escrevendo livros do que atuando na área econômica.

-Em 1922, nasce Blake Edwards, que é amigo do Simon Khoury.

-Fez a “Pantera Cor de Rosa”.- quebrou seu silêncio.

-Ele fez um monte de filmes bons, Simon: “Victor ou Vitória” é um deles.

-Em 1928, nasce Stanley Kubrick, também cineasta.

Um dos poucos cineastas fora de série.

-Em 1930, o governador paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi assassinado, aos 52 anos, numa padaria. A sua morte foi o estopim para o golpe de estado liderado por Getúlio Vargas. E precipitou a vinda do meu avô para o Rio de Janeiro. O meu avô era importante na política local, quando a casa dele apareceu cheia de buracos de bala, disse: “Vou para a Nascimento Silva, Ipanema”. E eu estou aqui.

-Está por conta disso. - confirmou o Jonas Vieira.

-Em 1931, nasce Telê Santana. Uma bela figura humana;

-Em 1942, o bombardeio do navio brasileiro Tamandaré por um submarino alemão faz o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial.

-Há controvérsias. - flertou o Jonas Vieira com a Teoria da Conspiração.

 

-Vou aguardar a resenha do Carlos Nascimento do Biscoito Molhado para saber mais sobre esse navio.

Passada a bola (no bom sentido) para este periódico, o seu Departamento de Pesquisas foi acionado.

Construído entre 1918 e 1919, nos estaleiros da American Shipbuilding Shipping Corporation, ele pertencia à empresa Moore McComarck Co., quando foi comprado pelo Lloyd Brasileiro em 1940. Foi torpedeado dois anos depois pelo U-66 ao largo de Trinidad e Tobago, nos limites entre o Mar Caribe e o Oceano Atlântico, causando a morte de 4 dos 52 tripulantes. Antes, 12 navios mercantes brasileiros haviam sido bombardeados.

-Em 1943, nasce Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones. Muito conhecido também, nestes últimos anos, por ser um grande pé frio.

-Em 1944, morre o jurista Clóvis Beviláqua.  Eu tenho uma história sensacional com ele. Meu pai era aluno de Direito da Faculdade do Catete e, numa prova final, estava ele, muito bom aluno, com um primo que era um matusquela completo, que não sabia nada, não entendia nada. Todo o mundo colava loucamente na prova e o professor não estava nem aí. A fonte que todos tinham de consultar era o livro “Comentários do Código Civil”, de Clóvis Beviláqua”. A certo altura, esse primo do meu pai disse assim:”Paulinho, Paulinho, como é a terceira e a quarta questões?”. O meu velho, inteiramente impaciente, disse para ele: “Consulte o Clóvis”. Resposta do primo: “Onde ele está sentado?”.

Esse fato despertou a memória do Jonas Vieiras, que aludiu ao que parece ser uma anedota, embora ele garanta que não, que é caso verídico. Talvez seja, pois tudo é possível neste vasto Brasil. Um advogado, em Fortaleza, (estado de grandes humoristas) perguntou a uma coleguinha do lado, na sala de aula, como se escreve “passo”, Resposta: “Depende; se for passo de andar, com dois “s”, se for paço municipal, com “c” e cedilha”. Diz ele: “É “passo” de avoar”.

-Ainda nesta linha de provas...

E Sérgio Fortes contou uma das versões do aluno que define Direito para o professor, sendo a mais conhecida esta:

-Direito é um círculo onde os cidadãos exercem as suas necessidades.”

-Isso não é Direito, é penico.” - reagiu o professor.

Com tantos episódios humorísticos passando debaixo do seu nariz, Simon Khoury não ficou indiferente e se manifestou.

-Um Presidente da República pediu a sua secretária para fazer um cheque de seiscentos para se livrar de um chato. “Chefe, como se escreve seiscentos?”. E ele: “Ah, Deus do céu! Faça, então, dois de trezentos”.

-Em 1953, primeira tentativa do grupo revolucionário cubano de depor Fulgêncio Batista. A tentativa foi falha, resultando na prisão e exílio de Fidel Castro e Raul Castro.

-A tomada do poder ainda era um blip distante na tela. - comentou o Jonas Vieira.

-O Marcus Ribas está explicando que blip é um pequeno ponto de luz que representa um objeto no radar.

Depois dessa explicação, Sérgio Fortes prosseguiu com o calendário.

-Esta eu coloquei aqui... - mostrou o Homem-Calendário pouca convicção com a data que se seguiria -. Em 1964, nasce Sandra Bullock, atriz de cinema que está na crista da onda.

-Em 1995, falecimento de Laurindo de Almeida, violonista e compositor.

-Em 2009, do ator Sérgio Viotti.

-Vão lançar um livro dele agora. - informou o Simon.

-Que legal! - vibrou o seu xará.

-Jonas, hoje é Dia dos Avôs e das Avós. Eu sou um neoavô; está aí o Tom, fazendo 4 meses; ele é ruivo, conhecido nos lugares mais incertos como “Cenoura”.

Voltou-se, agora, para o Simon Khoury:

-É o Dia do Moedeiro, o Simon sabe o que é?

-De moenda?... gozou o Simon Khoury.

-Quem sabe tem muita grana, vamos perguntar ao Marcus Ribas.

Nós, ouvintes, nunca escutamos a voz do Peter, mas a do Marcus Ribas, sim.

-Moedeiro é quem faz moeda. - esclareceu.

O Homem-Calendário retomou a palavra.

-É o Dia de Santana, mãe de Maria, e de São Joaquim, por isso é Dia dos Avós.

Meu sobrinho, que viera aqui em casa, visitar a avó, me informou que Santana é a padroeira da Casa da Moeda, onde trabalha e lá, no dia 26 de julho, é feriado.

E o Rádio Memória prosseguiu com o Simon Khoury encarregado da parte musical.

 

terça-feira, 28 de julho de 2015

2904 - Tubarões e suas variações


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5154                          Data:  24 de julho de 2015

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205ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

 

-Tudo bem? - fiz a pergunta-saudação ao entrar no táxi do ponto da Domingo de Magalhães.

-Tudo, meu amado.

Não era a primeira vez que ele me tratava assim, mas estranhei; ou melhor, senti o choque cultural; muitos nordestinos vão ao extremo: fúria fora de controle de um lado e afabilidade excessiva, dengo de outro.

-Rua Modigliani. - informei.

-Eu sei.

 Depois de uma pequena pausa, em que percorreu uns 100 metros, puxou conversa.

-O amado tem visto o Pan no Canadá?

-Assisti até agora a algumas disputas.

-Viu, então, atletas brasileiros fazendo continência no pódio.

-Tanto na televisão como nos jornais, eu tenho visto.

-Não acha que isso soa como um pedido aos militares para tomarem o poder?

-Não.

-Mas a roubalheira é muito grande; tem de sair essa gente toda que está arrasando a gente. - manifestou-se.

-Esse gesto dos nossos atletas significa um reconhecimento à ajuda que eles receberam das forças armadas para participar e vencer nesse Pan-Americano em Toronto.

-É isso mesmo?

-Aqui, no Rio de Janeiro, os atletas ficaram sem o Estádio Célio de Barros para treinar, também sem a pista de atletismo do Engenhão. Então, o Exército e a Marinha cederam alojamentos, espaço para eles treinarem. Há uma parceria entre os ministérios da Defesa e o do Esporte.

-Por que não há verba? Porque roubam tudo. - indignou-se.

-Quero ver como serão os Jogos Olímpicos do ano que vem. - expressei o meu ceticismo na entonação da voz.

-O amado não pensa que só os militares darão jeito nessa corrupção toda dos políticos?

-Quando o Marechal Castelo Branco deixou o poder, ele disse que encontrara impasses, mas que deixava opções.  De fato, os impasses eram muitos. No governo Juscelino Kubitscheck, se criou, em três anos, uma cidade para ser Capital Federal; nem os Estados Unidos aguentariam tantos gastos. Depois, veio o maluco do Jânio Quadros que renunciou e o país ficou sem rumo; com o João Goulart, degringolou de vez. O presidente Castelo Branco começou a pôr o Brasil nos trilhos, criou o Banco Central, o BNH, o FGTS, outorgou a Constituição de 1967, que, apesar de dar muito poder ao executivo, era boa naquele contexto.

-Então, o que estão esperando agora. - animou-se.

-Como disse o General Leônidas Pires Gonçalves, aquele que o Tancredo Neves escolheu para ser o ministro do Exército na transição da ditadura para a democracia...

-O que ele disse? - não conteve a curiosidade.

-Ele disse que a miserável condição humana faz com que as pessoas queiram o poder. Castelo Branco quis entregar o governo a um civil, não pôde, No ano seguinte, 1968, baixaram o AI 5, que decretou a ditadura sem disfarces. Antes, Castelo Branco morreu num desastre aeronáutico muito suspeito.

-Mas como está, não pode ficar.

-O Joaquim Barbosa e o Sérgio Moro mostram como se deve fazer. Faltam as punições exemplares. Vamos ver daqui para frente.

-Chegamos, amado.

Obrigado.

 

O 017 é a antítese do “Meu Amado”: grunhe uma saudação e, mesmo quando se mostra alegre, há vestígios de irritabilidade na sua alegria.

-Como vai? - perguntei, enquanto me entendia com o cinto de segurança do banco do carona.

-Bem. - respondeu com a voz quase inaudível.

Mas ele gosta de falar.

-Você viu o tubarão que quase pegou um surfista australiano numa dessas praias da África do Sul?

-Sim; ele escapou porque o tubarão estava, na verdade, perseguindo um cardume.

Você viu o filme “Tubarão”?

-Depois de muitos anos eu, finalmente, assisti a essa fita do Spielberg.

-Aquilo que era tubarão; abocanhava até pedaço de barco. Se fosse um tubarão como aquele, engolia esse surfista com prancha e tudo.

-O do filme era enorme, tinha, sei lá, quinze metros; esse, do torneio de surf da África do Sul era filhote e de outra espécie.

-Devia ser filhote mesmo, se não, esse cara da Austrália seria comido vivo.

-Um especialista falou sobre esse caso, na Rádio CBN; disse que ele não come mamífero, só peixe.

-Vai nessa. - expressou a sua descrença.

-Eu só coloco o dedão do pé na água e volto para a minha barraca na areia, isso se não passou, antes, um arrastão e levou tudo.

-Quando eu era rapaz vivia na praia, depois, quando meus pais se mudaram para a zona norte e eu tive de trabalhar, acabou tudo. - disse ele com amargura.

-Eu estava brincando; não sei o que é praia há décadas, com exceção de uma a que fui, numa horinha de lazer, em Angra dos Reis. Não me arrisquei por causa dos tubarões e sim, pelos coliformes fecais que eram quase visíveis.

-Você se lembra quando o Zagalo disse: “Vocês tem de me engolir”?

-Claro; ele ficou vermelho como a camisa do América, o primeiro clube da carreira dele. Pensei que fosse enfartar. - respondi.

-Quero ver ele falar isso perto de um tubarão. Se um tubarão engolir o Zagalo vai se sentir satisfeito.

Rindo com a própria piada, deixou-me na Rua Modigliani.

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

2903 - a pequena biblioteca


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5153                  Data:  23 de julho de 2015

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121ª VISITA À MINHA CASA

 

-Tudo bem?- Perguntei ao Jorge Luís Borges quando me deparei com ele na sala da minha casa.

-Sim, principalmente porque, com a minha morte, recobrei a visão.

-Sempre que o seu nome chega até mim, eu logo me lembro de que a sua acuidade visual se esvaía paulatinamente até ir-se de vez.

-Os poetas, como os cegos, podem ver no escuro.

-Certamente, a qualidade das suas obras durou até a sua morte em 1986, a dois meses de você completar 87 anos de idade.

Notei, então, que os seus olhos percorriam toda a sala e pareciam varar as paredes.

-Procura alguma coisa, Borges?

-A biblioteca.

-A minha biblioteca tem tantos livros quanto à Biblioteca de Alexandria depois do incêndio.

-Aquele incêndio foi o ato mais criminoso da história.

-A biblioteca mais próxima daqui, que poderia agradá-lo, era a do pai de uma amiga minha, a Rosa Grieco; 45 mil livros, porém, foi desfeita depois da morte dele.

-Você deveria romper a amizade com essa moça.

-Ela não teve a mínima culpa e sim seus irmãos e suas irmãs, sendo uma delas denominada pela Rosa de irmã-cupim. Eles estavam mais interessados na pecúnia. Rosa conservaria todos os livros e acrescentaria outros; pois completou, em 2015, 80 anos de leitura, começou aos 4.

-Quanto a enxergar no escuro, não havia problemas, por eu ser poeta, e, como leitor, sempre houve pessoas que liam para mim.

-O bibliófilo e escritor Umberto Eco o homenageou no seu romance “Em Nome da Rosa” com um personagem.  Este se chama Jorge de Burgo e era cego, além de venerar a biblioteca da igreja, de que era guardião, naquele cenário medieval.

-Ele se inspirou no meu conto “A Biblioteca de Babel”, que continha todos os livros do mundo.

-É verdade que Jorge de Burgos é um dos vilões da história. Não sei se você tomou isso como homenagem.

-Sim, a citação é válida. Soube que o Umberto Eco foi eleito por uma revista dos Estados Unidos o segundo maior intelectual do mundo, perdendo para Noam Chomsky.

-Este é americano.

-Como é o paraíso, Jorge Luís Borges? Você havia escrito que sempre imaginou o paraíso como uma espécie de livraria.

-E é, se fosse o que muitos imaginam, anjos tocando harpa, seria um tédio infernal.

-Confirmar-se-ia aquela frase do Mark Twain: “Prefiro o inferno pelas companhias e o paraíso pelo clima.”

-Como o paraíso é igual a uma livraria, o Mark Twain está sempre contente lá em cima, até parou de inventar aquelas estrovengas que o levaram à falência quando vivo, salvou-o a literatura, que era a sua verdadeira vocação.

-Tinha de haver livros mesmo no paraíso, não é, Borges?

Nesse instante, a sua expressão se tornou reflexiva.

-Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões do seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões da sua vista; telefone é extensão da sua voz; depois, temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

-Borges, apesar de você ter nascido em Buenos Aires e vivido parte da sua infância na Argentina, você aprendeu a ler em inglês e depois, sim, em castelhano?

-Sim; a minha avó materna era inglesa e éramos muito unidos. Com sete anos, escrevi um resumo da literatura grega no idioma de Shakespeare. Um ano antes, eu já havia dito ao meu pai que seria escritor.

-Você foi bem precoce.

-Com oito anos, escrevi meu primeiro conto, “La Visera Fatal”, baseado num episódio de “Dom Quixote”, de Cervantes, livro que me fascinou durante toda a minha vida. Aos nove anos, verti do inglês para o castelhano “O Príncipe Feliz”, de Oscar Wilde.

-Quando você foi estudar na Suíça?

-Em 1914, quando vieram os indícios de uma cegueira irreversível. Fomos todos para a Europa e, em Genebra, eu fiz o bacharelado de 1914 a 1918, período da 1ª Grande Guerra Mundial.

-A cegueira se manifestou tão cedo. - murmurei penalizado.

-Uma resenha de três livros espanhóis, para um jornal de Genebra, foi a minha primeira publicação. Eu já escrevia também em francês.

-E depois de formado?

-Fomos para a Espanha, em 1919 e lá, me ocupei em escrever poemas e manifestos.

-Quando voltou para a Argentina?

-Em 1921, quando Buenos Aires vivia a efervescência dos anos 20. Escrevi o meu primeiro livro de poema “Fervor em Buenos Aires”, publicado em 1923 e segui escrevendo.

A crítica diz que você criou um novo tipo de regionalismo ao acrescentar uma visão metafísica.

-Durante um tempo foi assim, depois, senti-me mais realizado como autor especulando sobre a narrativa fantástica.

-Em 1937, você foi nomeado diretor da Biblioteca Pública Nacional.

-Foi meu primeiro e único emprego. Fiquei lá durante nove anos.

-Por que saiu se estava tão próximo de dezenas, centenas de milhares de livro?

-Porque não me agradava a tendência da Argentina pelo fascismo. As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade, mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia.

-E o amor?

-Conheci, primeiramente, Estela Canto. Eu idealizava as mulheres, elas eram Dulcineias para mim. Porém, Estela era moderna e liberada para a época, quando a pedi em casamento, ela me respondeu que não poderíamos casar sem antes dormir juntos. Senti-me chocado e desapareci.

-Ela também escrevia?

-Escreveu um livro de memórias “Borges à Contraluz”. Mas esse caso eu contei na minha autobiografia.

-Você se casou muito tarde.

-Em 1967, com 68 anos de idade, eu me casei com uma amiga de infância, Elsa Astete. O casamento durou três anos, quando fugi de casa sem coragem de declarar o rompimento da nossa união.

-Mas houve um segundo casamento?

-Quando eu estava com 82 anos de idade, eu me casei com uma ex-aluna de origem nipônica, chamava-se Kodama. Ela lia e redigia o que eu ditava. Era, acima de tudo, a minha secretária. Herdou os meus direitos autorais quando morri. Muito justo.

-Antes, quem lia e redigia o que você ditava?

-Com 50 anos, eu já havia perdido parcialmente a visão. Quando a cegueira se tornou completa, mamãe redigiu o que eu ditava e leu para mim. Ela faleceu em 1975, quando eu contava 76 anos de idade.

-Você não se desesperava ao extremo?

-Em 1983, no meu relato “Agosto 25, 1983”, publicado no jornal “La Nación”, anunciei a data do meu suicídio. Quando me cobraram o suicídio, eu respondi que a covardia me deteve.

Procurei descontraí-lo.

-Você escreveu letras para tangos e milongas comparáveis, em primor, aos seus poemas.

-Coloquei letra até num tango de Astor Piazzolla.

-Que compunha tangos sofisticados para o gosto popular. - acrescentei.

-O gosto popular colocou aquela desgraça do Perón no poder.

-Como você sempre se sentiu, Borges?

-Embora eu escrevesse muito, eu me sentia mais leitor do que escritor. Bem, hora de ir-me.

-Mas temos tanto a falar das suas obras literárias.

Partiu, deixando-me com a sensação de que ficaria mais tempo se eu tivesse uma biblioteca comparável a do Agripino Grieco.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

2902 - é só por hoje


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5152                      Data:  22 de julho de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

-O redator do Biscoito Molhado é favorável à militarização nas escolas? Pedro Amorim

BM: Meu caro Pedro Amorim, no Visconde de Cairu, nas aulas de Educação Física, aprendi a seguir a voz de comando do professor: “Marcha! Direita Volver! Esquerda Volver! Meia Volta Volver! Alto! Descansar!” E ainda portávamos sobre o peito do nosso uniforme uma plaqueta com o nosso nome, turma e série como nos quartéis.

Antes, no curso primário, com todas a turmas enfileiradas no pátio da Escola Manoel Bomfim, cantávamos todas as sextas-feiras o Hino Nacional Brasileiro, nos outros dias, a “Canção do Soldado”. No dia 19 de novembro, entoávamos o belo Hino da Bandeira.

Esses dois educandários não eram exceções, quase todos eram assim, ensinavam noções de disciplina militar.

Há pouco mais de um ano, Almino Afonso, que foi ministro do Trabalho do governo João Goulart, afirmou no programa “Roda Viva” que o militar pode aceitar até o comunismo, mas a quebra de hierarquia, nunca.

É isso: nas escolas, aprendíamos a seguir a hierarquia, a nos subordinar aos professores, aos inspetores e aos diretores.  Depois, tudo mudou. Xingar os professores, agredi-los fisicamente, como ocorre hoje, era impensável ma minha época de estudante.

Meia volta volver!

 

-Lendo um dos exemplares do Biscoito Molhado que me foi enviado pelo Dieckmann, mais precisamente aquele em que o Sérgio Fortes personifica o Homem-Calendário do Rádio Memória, foi citada a frase de Isaac Newton, que tentarei, aqui, reproduzir de memória: “Se vi ao longe, é porque estava sobre ombros de gigantes.” E o Jonas Vieira acrescentou que nenhum homem é uma ilha. Concordo com tudo, por maior que fosse a genialidade de Isaac Newton, não era falsa modéstia, era a pura realidade. Romeu

BM: Certamente que sim. Se Beethoven compôs obras tão extraordinárias foi porque esteve nos ombros de Bach, Haydn e Mozart além de outros gigantes. Quanto ao comentário do Jonas Vieira, trata-se de uma citação do poeta metafísico inglês Jpjn Donne, que viveu de 1572 a 1631, que vale reproduzir:

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.”

Ernest Hemingway pinçou um trecho deste pensamento para ser o título de um dos seus romances mais destacados.

Meu caro, Romeu, vou fazer uma confissão: quando Michael Schumacher sofreu aquele terrível acidente na estação de esqui em Meribel, na França, eu preparei essa reflexão de John  Donne para postar no Facebook junto com o retrato do piloto de mais títulos na Fórmula 1, mas nada de ele morrer. A minha intenção era que a cultura fosse propagada, que mais pessoas conhecessem essas palavras do poeta, apesar de as minhas postagens de maior público serem aquelas em que aparecem crianças e cachorros.

 Meses e meses foram passando e o Schumacher resistindo. Quando morreu o candidato a presidente da República, Eduardo Campos, num acidente de avião e houve toda aquela comoção, substituí o Schumacher por ele e fiz a postagem. Alguns curtiram, dois ou três fizeram comentários, enfim houve um relativo sucesso. 

 

 -A música popular brasileira de que o Biscoito Molhado tanta fala, quando resenha o programa Rádio Memória da Rádio Roquette Pinto, por que o redator mostra nítida preferência pelo Pixinguinha? Russo.

BM: Veja bem: além de todas as realizações do Pixinguinha no universo musical, o seu gênio desabrochou muito cedo. Ele nasceu em 23 de abril de 1893 e, em 1911, ou seja, com 18 anos de idade, já era diretor de orquestra do Rancho Paladinos Japoneses. Em 1917, compôs “Carinhoso”, a canção emblemática da MPB; nesse mesmo ano, a valsa “Rosa”. O choro “Um a Zero” celebrou a vitória do Brasil sobre o Uruguai, na final do Sul Americano de 1919, após duas prorrogações, ou seja, composta aos 26 anos de idade. Não há como ficar indiferente ao seu talento.

 

-Achei muito interessante os comentários do Sérgio Fortes e do Jonas Vieira, repercutidos neste periódico, sobre a animação do Frank Sinatra, com 50 anos, em casar-se com a Mia Farrow, com 30, em 1966, quando o Viagra ainda não existia. Carreiro

BM: Mais interessante ainda foi Charles Chaplin, com 72 anos de idade ser tornar pai. Quanto ao casamento citado na sua carta, não durou muito, Frank Sinatra pediu o divórcio quando ela filmava “O Bebê de Rosemary”, se não me engano. Mas permaneceram ligados, tanto que o filho dela, Ronan, quando era casada com o Woody Allen, tem, na verdade, como pai, Frank Sinatra. Pai e filho são tão parecidos que não houve necessidade de exame de DNA. Os dois só não se parecem na voz; ainda assim, o timbre do Ronan, quando fala, está mais para Frank Sinatra do que para Woody Allen.

  

-Naquelas considerações que foram feitas sobre a Batalha de Guadalete, quando as forças muçulmanas de Tárique derrotaram os visigodos do Rei Rodrigo, que resultou no domínio da Península Ibérica por quase sete séculos, não foi apenas Alhambra e a tolerância religiosa que ficaram dos árabes. Hércules.

BM: Evidentemente que não, se fôssemos nos deter sobre a influência deles, que também se refletiu sobre nós, como colônia de Portugal, várias páginas seriam necessárias.

Uma dessas influências que não assinalamos, quando tratamos desse domínio, mas aproveitamos, agora, a oportunidade, foi a cor da pele dos portugueses, espanhóis e brasileiros: morena.

Moreno – dizem os etimologistas – vem de mouro (muçulmano, sarraceno, natural da antiga Mauritânia (África ocidental). O mouro tem a pele da cor do trigo maduro. Ou, então, do espanhol “moreno”, escuro, de cor parda, derivado de “MORO”, do Latim “MAURUS”, “escuro”.

A cidade do Porto apresenta ainda hoje no listel das suas armas o nome de “Invicta”, porque resistiu o que pôde à invasão moura.

Hoje, quando vemos um português muito branco, ele geralmente é natural do Porto.

-É só por hoje.