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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

2006 - ponto 3 G

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3836 Data: 28 de agosto de 2011

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FAX, MARX E TÁXI

Entrei no táxi do Botafoguense.

-Rapaz, assaltaram o Zagalo. - requentou ele uma notícia de uma semana atrás, motivado pelo fato de o desportista ser ligado ao seu time de coração.

-Ele contou que disse para os assaltantes: ”Eu sou o Zagalo”, e eles retrucaram: “E daí?...”

-Vai ver que eram flamenguistas. - concluiu com uma gargalhada.

-Zagalo começou no América, apareceu no Flamengo e se destacou no Botafogo a partir de 1958, mas integrou aquele famoso ataque rubro-negro: Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagalo. - lembrei.

-Mas os flamenguistas não leem nem a história do clube deles.

-Deveriam saber, pelo menos, que o Zagalo era o técnico do Flamengo, quando o sérvio Pet bateu aquela falta no final do jogo contra o Vasco e meteu a bola no gol, o que representou o título do campeonato carioca. - argumentei.

-Na verdade, os assaltantes não respeitam ninguém.

-Só respeitaram o Pixinguinha. - lembrei.

-Pixinguinha?!...- mostrou-se, com seu jeito bonachão, confuso com a passagem do futebol para a música.

-Conta o Hermínio Belo de Carvalho que, certa vez, uns meliantes abordaram o Pixinguinha. Quando souberam de quem se tratava, pediram desculpas, fizeram reverências, só faltaram escoltar o Pixinguinha até em casa para que ele não se machucasse no caminho.

-Quando foi isso?

-Acredito que na década de 50.

-Na década de 50 tudo era diferente; até o América Futebol Clube tinha uma torcida grande. - frisou.

O diálogo no táxi do 014 também merece ser reproduzido.

-Já faz alguns meses... - disse, quando o vi depois que abri a porta.

-Os nossos horários estão desencontrados. - constatou.

-Pelo que depender do governo, vão continuar desencontrados, pois a obra no nosso andar segue com o freio de mão puxado.

-Mas vocês ficaram onde, depois do incêndio?

-Ficamos no terceiro andar do mesmo prédio, amontoados. Eu vou lá, pego a minha papelada, levo para a casa e trabalho no meu computador que, apesar de lento, está à minha disposição.

-Isso resolve?

-Não resolve totalmente, porque tem de haver uma comunicação nossa com os usuários, principalmente as empresas de navegação. Na maioria das vezes, usamos os nossos próprios celulares.

-Nem o fax do terceiro andar funciona?... Ou não existe?...

-Antes do fogo, recorríamos mais aos e-mails do que aos fax.

-O incêndio, pelo que o senhor falou, foi na sexta-feira santa, nós já estamos no fim de agosto...

-Falta dinheiro. Fui a Macaé, a trabalho, no dia 15, retornei dia 19 e não recebi as diárias até hoje.

-Isso por causa do Lula, que gastou à vontade. - concluiu, indignado.

-E ele ainda se assanha no poder. Quer agora colocar o ministro Fernando Haddad, na prefeitura de São Paulo.

-Eu ouvi no rádio do carro. Lula pretende minar a candidatura da Marta Suplicy, porque, segundo ele, São Paulo quer cara nova. - manifestou-se.

-Diz o José Simão que, sendo assim, a prefeita de São Paulo deve ser a Marta Suplicy, pois ela sempre está com uma cara nova por semana, tantas são as plásticas.

No dia subsequente, peguei o táxi do Gaguinho.

-Nesta hora, pouco mais de meio-dia, o metrô está uma beleza, não é?

-Sim, mas na ida, às sete horas da manhã, é um teste para a nossa capacidade física e mental. - rezinguei.

-É até perda de tempo entrar no metrô, nessa hora, de roupa passada a ferro, porque em um minuto a pessoa já está toda amarrotada. - pilheriou.

Na volta do trabalho, salto na estação de Maria da Graça, mas na ida, rumo para a estação de Del Castilho, porque estou com disposição para andar.

-Os colegas, que começam mais cedo, o veem descendo a rua Van Gogh.

-Hoje, umas 6h45, encontrei uma autêntica barreira para embarcar num dos cinco vagões do trem do metrô. Na estação seguinte, Maria da Graça, saltaram uns três passageiros e entraram outros tantos. Um deles forçava a entrada e não conseguia entrar...

-Não estava forçando muito. - concluiu com pertinência o Gaguinho.

-Vira-se o tal passageiro para mim e diz: “ali tem lugar”. Repliquei em voz baixa: “então, vá para lá”.

Gaguinho riu, e eu prossegui:

-Com as minhas palavras, ele percebeu que entrava num metrô, na hora do rush e não num táxi, e se enfiou no meio dos passageiros até se encaixar no tal espaço vazio que ele vislumbrou. Lá, fez um comentário desdenhoso sobre mim: “É brasileiro”.

-E você? - acendeu-se a curiosidade do Gaguinho.

-Eu nada disse, porque sou brasileiro, mesmo. Ele, não sei se era inglês, alemão, russo, cipriota. A certeza que eu tive é de que falava o nosso idioma sem nenhum sotaque.

-Essa é boa. - reagiu o Gaguinho.

-Se saio para ir onde ele indicou, eu, na prática, teria guardado lugar para ele.

-Ele queria mamão com açúcar.

-Se eu o obedecesse, teria de me apoiar nos demais passageiros. Ele, como era alto, colocou a mão no teto e se firmou, aguentando as sacudidelas do trem.

-Você não disse mais nada para ele?

-Não, porque a coisa poderia se transformar em discussão, o que seria um contrassenso, pois todos nós, ali, comprimidos uns nos outros, éramos vítimas. Nossa fúria deveria se voltar contra os políticos que administram tão mal.

-Cadê os trens chineses do metrô?- perguntou.

-Depois que a China abraçou o capitalismo selvagem, com o uso da mão de obra escrava, ou quase isso, produz numa escala alucinante. Trens para de metrô para o Rio de Janeiro importar não faltam. - assinalei.

-Os chineses largaram Marx, não foi?

-As ideias de Marx nunca foram adotadas. Os adeptos se transformam em fanáticos para desvirtuar tudo. Marx ainda viveu para dizer que não era marxista.

Quando me calei, o Gaguinho já parava o carro na Rua Modigliani.

Terminei a semana de quatro idas ao trabalho no táxi do Bob Esponja. Essa corrida, apesar da curta duração, poderia se chamar de “O monólogo do tagarela doido”.

-Com o amigo chegando cedo, eu deduzo que ainda não aprontaram o andar do prédio do seu trabalho.

-A Dilma contém as despesas.

-O Lula gastou muito, sem falar no dinheiro que é desviado pela corrupção. O amigo deve ter lido que o tranco que a presidente deu nos corruptos do Ministério dos Transportes melhorou as contas públicas. Deu um superávit bem acima do esperado. Mas como vocês se arranjam no trabalho?

-Sem a rede da computação, temos de usar o Velox...

-Horrível, horrível, você ter de plugar esses dispositivos 3G, isto só serve para quem se desloca com seu notebook. Quem trabalha num lugar fixo, seja em casa, ou no trabalho, deve usar um Virtua, por exemplo.

-O problema é o ponto, aqui, em Del Castilho.

-Olha: eu não tenho do que me queixar do ponto de Del Castilho. Por volta das seis horas da manhã, vou para a Rua Van Gogh e sempre consigo um passageiro pelo rádio.

Como o Bob Esponja confundiu o ponto da internet com o de táxi, resolvi não falar mais nada. Eu o ouviria até chegar ao segundo poste da Rua Modigliani.

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