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quarta-feira, 31 de agosto de 2022
3132 - Gafes no Oscar (cont 3130)
terça-feira, 30 de agosto de 2022
3131 - Oscar Wilde (R)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2246 Data: 20 de Janeiro de 2005
OSCAR WILDE
Oscar Wilde não surgiu no mundo da cultura por geração espontânea – sua mãe, Jane Francesca Wilde, brilhava nos salões, entre os intelectuais, pelo seu talento na conversação e escrevera versos de irlandesa patriota com o pseudônimo de Speranza. Quanto ao pai, não se dedicara às letras, mas foi cirurgião-oculista (o termo é este) da rainha Vitória e sua carreira foi prejudicada pelos escândalos amorosos em que se envolveu.
O Filme “Wilde” de 1997, com Stephen Fry, homossexual assumido, no papel do escritor, soube dar a justa relevância à mãe do personagem principal, tanto que colocaram a atriz Vanessa Redgrave para viver o papel dela. Não me recordo de alusão alguma à Senhora Francesca Wilde no filme de 1960, que, aliás, perdi no cinema e acabei assistindo na televisão.
O filme sobre Oscar Wilde – refiro-me ao mais recente – inicia-se e deixa o espectador mais apressado em dúvida: o escritor viveu na era vitoriana ou no faroeste dos mais rápidos no gatilho? Tal pergunta surge porque logo nos primeiros planos do filme Oscar Wilde/Stephen Fry é visto no meio dos mocinhos e bandidos do bravio estado do Colorado. O ano era 1882 e Oscar Wilde, que tinha 28 anos, fora aos Estados Unidos, a convite, para proferir uma série de palestras - nelas, contraporia a beleza da arte aos horrores da sociedade industrial, que, aliás, inspirou os melhores romances de Charles Dickens.
De volta a Londres, contou que, antes de uma das suas palestras, enforcaram dois homens:
- “... Veio, então, a minha palestra. Senti-me a sobremesa, depois que serviram a carne”. - Oscar Wilde não era rápido no gatilho, mas era rápido na língua.
Vai a Paris, fica pouco tempo por lá, o suficiente para esquecer a confrontação entre arte e indústria, e volta para Londres. Casa-se com Constance Lloyd, filha de um advogado de Dublin, mulher inteligente e culta que podia sustentar uma conversação de horas com ele. Em 1885 nasce o primeiro filho do casal, Cyril e, no ano seguinte, nasce o segundo filho, Vyvyan.
Oscar Wilde, que se destacara como latinista e helenista, quando aluno do Trinity College de Dublin, aparece, na pele do ator Stephen Fry, meio perdido: a vida de marido com esposa e filhos num lar vitoriano não o satisfaz. Aproxima-se, então, de rapazes, supostamente de programa, e ao ser abordado por um deles, foge mais por timidez do que por vontade.
As suas tendências homossexuais o acompanhavam desde a época de estudante, mas só na faixa dos trinta anos, depois de casado e com filhos, deixa-se seduzir por Robert Ross, um hóspede canadense. Conhecera o chamado vício grego e não mostra intenção de abandoná-lo.
Em 1891, lança a sua obra mais famosa, O Retrato de Dorian Gray, ganha muito dinheiro e sempre é visto na companhia de rapazes.
No ano seguinte, é apresentado a Lord Alfred Douglas, um jovem estudante de Oxford, apelidado de Bosie. Mal comparando, ele foi para Oscar Wilde o que Francesca da Rimini foi para Paolo, e vice-versa, ou seja, tal relacionamento acabou no inferno dantesco.
Tanto o filme de 1960 quando o de 1997 mostram um “Bosie” caprichoso ao extremo, choramingas, mas sem os trejeitos de maricas; John Neville é, aliás, muito elogiado neste papel, sempre que o filme, que teve Robert Morley no papel título, é criticado.
Muito mais indignado do que a esposa de Oscar Wilde com o par formado entre o escritor e o seu “pupilo”, ficou o pai do rapaz, o Marquês de Queensberry, que investe, então, contra eles. Num dia de fevereiro de 1895, não encontrando o amante do filho, depois de procurá-lo, faz-lhe chegar à mão um cartão: “A Oscar Wilde, afetado sodomita”.
Bosie, levado por repentes nervosos, aconselha Oscar Wilde a processar, por calúnia, o seu pai. É um mau conselho e Robert Moss mostra a Oscar Wilde o quanto é temerário levar o homossexualismo aos tribunais. Tais ponderações, que antecederam a decisão de Oscar Wilde de processar o Marquês de Queensberry no cinema, não vieram apenas de Robert Moss. Muitos outros amigos de Oscar Wilde pediram para que ele rasgasse o cartão do “sogro”, e esquecesse o processo. Sabiam eles, mas parece que Oscar Wilde não, que a polícia Londrina vigiava e fichava todos os suspeitos de homossexualismo; nada fazia contra eles que, até então, eram tolerados. Diz-se que, na época, quarenta mil pessoas eram vigiadas, só em Londres, pela Scotland Yard, e a maioria delas era homossexual. Seria arriscado desafiar as convenções da sociedade vitoriana, ainda mais com um processo em cima de um inimigo poderoso.
O próprio Bernard Shaw – fato não muito divulgado – tentou levar Oscar Wilde para o caminho da razão; advertiu-o que a sua derrota no processo também significaria um retrocesso na cena artística: o moralismo vitoriano recrudesceria, a censura se faria presente, sem contar a perda da liberdade relativa em que os homossexuais viviam, até então.
Com ouvidos apenas para as palavras do amante, Oscar Wilde foi em frente e processou o Marquês de Queensberry. Nós acreditamos que também o seu amor pelas gambiarras, a sua atração por um público pronto a aplaudir as suas tiradas inteligentes, mesmo sendo um público de tribunal, o levaram a esse princípio do fim.
Como fora previsto pelos amigos mais lúcidos, Oscar Wilde de acusador passou a réu e os detalhes da sua vida dupla, colhidos pela polícia, apareceram.
Foi condenado por práticas homossexuais a dois anos de cadeia. Seus livros logo desaparecem das livrarias e as suas peças são retiradas de cartaz. Seus bens são leiloados para pagar as custas do processo e seus filhos são tirados da sua tutela.
O filme, que mostrara até o julgamento as madeixas fartas do ator Stephen Fry, caracterizando como dândi o requintado Oscar Wilde, mostra seus cabelos cortados, talvez por causa dos piolhos, dele já prisioneiro, comendo, então, num prato de metal ordinário. Muitas décadas depois foi reabilitado e um livro escrito por um dos seus dois filhos contribuiu para isso.
Essa fita de 1997 termina com um pensamento do escritor: “Neste mundo há somente duas tragédias; uma é não conseguir o que se quer, a outra é consegui-lo”.
Nós preferimos outro pensamento de Oscar Wilde para encerrar estas páginas:
- “Que sorte tem os atores! Cabe a eles escolher se querem participar de uma tragédia ou de uma comédia, se querem sofrer ou regozijar-se, rir ou derramar lágrimas; isto não acontece na vida real. Quase todos os homens e mulheres são forçados a desempenhar papéis pelos quais não têm a menor propensão. O mundo é um palco, mas os papéis foram mal distribuídos.”
quinta-feira, 25 de agosto de 2022
3130 - Prêmio de consolação (R)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2242 Data: 14 de Janeiro de 2005
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AS GAFES NO OSCAR
Depois das gafes dos filmes, propriamente ditas, passemos para as gafes cometidas nas entregas do Oscar. Nós não somos muito inclinados a assistir a essas premiações de Hollywood, por isso a relação da maioria das gafes por nós aqui apontadas foram retiradas de jornais. Vimos alguns Oscar no tempo em que a Bibi Ferreira fazia a tradução simultânea (uma lástima, segundo os caçadores de gafes interlinguístiscas). E depois, paramos de ver a denominada festa máxima do cinema.
Depois de uns anos sem a nossa presença diante da televisão, voltamos a nossa atenção para a entrega das estatuetas, porque a mesma não seria transmitida pela TV Globo, e sim pela TV Record. Era o ano da premiação da Lista de Schindler. Nossa vã esperança de melhora na programação logo se dissipou com os comentários de uma idéia do locutor Boris Casoy:
- “É ótimo que filmes como a ‘Lista de Schindler’ apareçam nesse momento em que os neonazistas colocam a cabeça de fora na Europa”.
Só faltava o “Isso é uma vergonha” para arrematar a fala do locutor. Em determinado momento da festa de Hollywood, surge no palco a Deborah Kerr – estava ela diferente daquela Deborah Kerr que foi beijada pelo Burt Lancaster no filme “A um passo da eternidade” em pelo menos oitenta mil calorias. Foi quando o Boris Casoy resolveu esquecer a “séria ameaça dos neonazistas” na Europa para interromper um comentário do Rubens Ewald Filho:
- “Ela ainda guarda a beleza dos tempos passados”.
- “Bem, Boris, a beleza dela agora...” - não ficava bem para o comentarista de cinema convidado pela TV Record discordar do anfitrião, mas as nuances na voz do Rubens Ewald Filho disseram tudo.
No ano seguinte, as Organizações Globo resolveram pegar de volta a transmissão do Oscar. Bem, sem o Boris Casoy, a transmissão só poderia melhorar e nós insistimos em ver mais uma vez a premiação máxima do cinema. Era o ano do filme do Walter Moreira Salles, “Central do Brasil”, concorrer como o melhor estrangeiro. Também houve uma espécie de comoção nacional quando indicaram a Fernanda Montenegro para disputar o Oscar de melhor atriz com talentos internacionais, como Meryl Streep e Cate Blanchett.
Bem, não tínhamos Boris Casoy, mas tínhamos Arnaldo Jabor entre a festa em Los Angeles e os espectadores no Brasil. Com o clima de favoritismo criado para o filme italiano “A Vida é Bela”, que se tornou praticamente em vitória certa quando Hollywood convidou a Sofia Loren para entregar o prêmio de melhor filme estrangeiro, Arnaldo Jabor perdeu o senso de medidas. Antes da premiação, já na sua crônica do Globo, arrasou o filme de Roberto Benigni, que transformara, segundo as suas palavras, um campo de concentração nazista em parque temático. Na transmissão, propriamente dita, a bílis do torcedor fanático e frustrado do Central do Brasil, transbordava. Em dado momento da festa, Robin Williams foi focalizado pelas câmaras americanas com um sorriso de satisfação pela vida que Arnaldo Jabor, certamente ofendido com tanta felicidade, retrucou com azedume na voz:
- “Esse aí não passa de um canastrão...”
- “Caramba, e ainda não anunciaram ‘A Vida é Bela’ como ganhadora do Oscar...” - imaginaram, certamente, o Roberto Machado e o Rubens Ewald Filho, aqueles que se encontravam mais próximos da fera que salivava ódio, nessa reportagem da TV Globo.
Para encurtar essa história que todos se recordam, sem a menor dúvida, no dia seguinte, a atuação do Arnaldo Jabor era mais comentada na cidade do que a dos próprios artistas que receberam o Oscar, ou o perderam injustamente. Ele, o Arnaldo Jabor roubara o espetáculo.
- “Rapaz, você viu ontem, na entrega do Oscar, o Arnaldo Rancor?...” - perguntavam uns.
- “Você viu o Amargo Jabor?...” - perguntavam outros.
- “Amargo Rancor...” - resumiu em duas palavras o irmão de uma colega nossa de trabalho a noite em que se premiou ‘A Vida é Bela’ em vez do ‘Central do Brasil’.
Tudo bem que o Roberto Benigni guarda umas semelhanças com o paspalhão do Didi Mocó, mas “A Vida é Bela” até que é um filme razoável.
O momento da festa de Hollywood em que o Arnaldo Jabor deveria manifestar-se, no nosso entender, ele calou-se para sempre, foi quando a Gwyneth Paltrow no seu discurso de melhor atriz, no filme “Shakespeare Apaixonado”, reverenciou Meryl Streep usando as outras concorrentes para isso:
- “Você, que é a melhor de todas nós...”
Ora, sabia ela por acaso o que já fez a Fernanda Montenegro em matéria de representação?... Bem que o Rubens Ewald Filho já vinha, com ironia, chamando a Gwyneth Paltrow de “branquinha aguada...”
Bem, como diz o ditado popular “Em festa de jacu, inhambu não entra”. O fato de os inhambus brasileiros entrarem na festa do Oscar de 1999, já foi uma façanha; querer, depois de tanto, ainda sair com o prêmio, só na cabeça do Arnaldo Rancor...ou Amargo Jabor...
sábado, 6 de agosto de 2022
3129 - D O Namorado
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 1551 Data: 09 de agosto de2022
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