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quarta-feira, 31 de agosto de 2022
3132 - Gafes no Oscar (cont 3130)
terça-feira, 30 de agosto de 2022
3131 - Oscar Wilde (R)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2246 Data: 20 de Janeiro de 2005
OSCAR WILDE
Oscar Wilde não surgiu no mundo da cultura por geração espontânea – sua mãe, Jane Francesca Wilde, brilhava nos salões, entre os intelectuais, pelo seu talento na conversação e escrevera versos de irlandesa patriota com o pseudônimo de Speranza. Quanto ao pai, não se dedicara às letras, mas foi cirurgião-oculista (o termo é este) da rainha Vitória e sua carreira foi prejudicada pelos escândalos amorosos em que se envolveu.
O Filme “Wilde” de 1997, com Stephen Fry, homossexual assumido, no papel do escritor, soube dar a justa relevância à mãe do personagem principal, tanto que colocaram a atriz Vanessa Redgrave para viver o papel dela. Não me recordo de alusão alguma à Senhora Francesca Wilde no filme de 1960, que, aliás, perdi no cinema e acabei assistindo na televisão.
O filme sobre Oscar Wilde – refiro-me ao mais recente – inicia-se e deixa o espectador mais apressado em dúvida: o escritor viveu na era vitoriana ou no faroeste dos mais rápidos no gatilho? Tal pergunta surge porque logo nos primeiros planos do filme Oscar Wilde/Stephen Fry é visto no meio dos mocinhos e bandidos do bravio estado do Colorado. O ano era 1882 e Oscar Wilde, que tinha 28 anos, fora aos Estados Unidos, a convite, para proferir uma série de palestras - nelas, contraporia a beleza da arte aos horrores da sociedade industrial, que, aliás, inspirou os melhores romances de Charles Dickens.
De volta a Londres, contou que, antes de uma das suas palestras, enforcaram dois homens:
- “... Veio, então, a minha palestra. Senti-me a sobremesa, depois que serviram a carne”. - Oscar Wilde não era rápido no gatilho, mas era rápido na língua.
Vai a Paris, fica pouco tempo por lá, o suficiente para esquecer a confrontação entre arte e indústria, e volta para Londres. Casa-se com Constance Lloyd, filha de um advogado de Dublin, mulher inteligente e culta que podia sustentar uma conversação de horas com ele. Em 1885 nasce o primeiro filho do casal, Cyril e, no ano seguinte, nasce o segundo filho, Vyvyan.
Oscar Wilde, que se destacara como latinista e helenista, quando aluno do Trinity College de Dublin, aparece, na pele do ator Stephen Fry, meio perdido: a vida de marido com esposa e filhos num lar vitoriano não o satisfaz. Aproxima-se, então, de rapazes, supostamente de programa, e ao ser abordado por um deles, foge mais por timidez do que por vontade.
As suas tendências homossexuais o acompanhavam desde a época de estudante, mas só na faixa dos trinta anos, depois de casado e com filhos, deixa-se seduzir por Robert Ross, um hóspede canadense. Conhecera o chamado vício grego e não mostra intenção de abandoná-lo.
Em 1891, lança a sua obra mais famosa, O Retrato de Dorian Gray, ganha muito dinheiro e sempre é visto na companhia de rapazes.
No ano seguinte, é apresentado a Lord Alfred Douglas, um jovem estudante de Oxford, apelidado de Bosie. Mal comparando, ele foi para Oscar Wilde o que Francesca da Rimini foi para Paolo, e vice-versa, ou seja, tal relacionamento acabou no inferno dantesco.
Tanto o filme de 1960 quando o de 1997 mostram um “Bosie” caprichoso ao extremo, choramingas, mas sem os trejeitos de maricas; John Neville é, aliás, muito elogiado neste papel, sempre que o filme, que teve Robert Morley no papel título, é criticado.
Muito mais indignado do que a esposa de Oscar Wilde com o par formado entre o escritor e o seu “pupilo”, ficou o pai do rapaz, o Marquês de Queensberry, que investe, então, contra eles. Num dia de fevereiro de 1895, não encontrando o amante do filho, depois de procurá-lo, faz-lhe chegar à mão um cartão: “A Oscar Wilde, afetado sodomita”.
Bosie, levado por repentes nervosos, aconselha Oscar Wilde a processar, por calúnia, o seu pai. É um mau conselho e Robert Moss mostra a Oscar Wilde o quanto é temerário levar o homossexualismo aos tribunais. Tais ponderações, que antecederam a decisão de Oscar Wilde de processar o Marquês de Queensberry no cinema, não vieram apenas de Robert Moss. Muitos outros amigos de Oscar Wilde pediram para que ele rasgasse o cartão do “sogro”, e esquecesse o processo. Sabiam eles, mas parece que Oscar Wilde não, que a polícia Londrina vigiava e fichava todos os suspeitos de homossexualismo; nada fazia contra eles que, até então, eram tolerados. Diz-se que, na época, quarenta mil pessoas eram vigiadas, só em Londres, pela Scotland Yard, e a maioria delas era homossexual. Seria arriscado desafiar as convenções da sociedade vitoriana, ainda mais com um processo em cima de um inimigo poderoso.
O próprio Bernard Shaw – fato não muito divulgado – tentou levar Oscar Wilde para o caminho da razão; advertiu-o que a sua derrota no processo também significaria um retrocesso na cena artística: o moralismo vitoriano recrudesceria, a censura se faria presente, sem contar a perda da liberdade relativa em que os homossexuais viviam, até então.
Com ouvidos apenas para as palavras do amante, Oscar Wilde foi em frente e processou o Marquês de Queensberry. Nós acreditamos que também o seu amor pelas gambiarras, a sua atração por um público pronto a aplaudir as suas tiradas inteligentes, mesmo sendo um público de tribunal, o levaram a esse princípio do fim.
Como fora previsto pelos amigos mais lúcidos, Oscar Wilde de acusador passou a réu e os detalhes da sua vida dupla, colhidos pela polícia, apareceram.
Foi condenado por práticas homossexuais a dois anos de cadeia. Seus livros logo desaparecem das livrarias e as suas peças são retiradas de cartaz. Seus bens são leiloados para pagar as custas do processo e seus filhos são tirados da sua tutela.
O filme, que mostrara até o julgamento as madeixas fartas do ator Stephen Fry, caracterizando como dândi o requintado Oscar Wilde, mostra seus cabelos cortados, talvez por causa dos piolhos, dele já prisioneiro, comendo, então, num prato de metal ordinário. Muitas décadas depois foi reabilitado e um livro escrito por um dos seus dois filhos contribuiu para isso.
Essa fita de 1997 termina com um pensamento do escritor: “Neste mundo há somente duas tragédias; uma é não conseguir o que se quer, a outra é consegui-lo”.
Nós preferimos outro pensamento de Oscar Wilde para encerrar estas páginas:
- “Que sorte tem os atores! Cabe a eles escolher se querem participar de uma tragédia ou de uma comédia, se querem sofrer ou regozijar-se, rir ou derramar lágrimas; isto não acontece na vida real. Quase todos os homens e mulheres são forçados a desempenhar papéis pelos quais não têm a menor propensão. O mundo é um palco, mas os papéis foram mal distribuídos.”
quinta-feira, 25 de agosto de 2022
3130 - Prêmio de consolação (R)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2242 Data: 14 de Janeiro de 2005
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AS GAFES NO OSCAR
Depois das gafes dos filmes, propriamente ditas, passemos para as gafes cometidas nas entregas do Oscar. Nós não somos muito inclinados a assistir a essas premiações de Hollywood, por isso a relação da maioria das gafes por nós aqui apontadas foram retiradas de jornais. Vimos alguns Oscar no tempo em que a Bibi Ferreira fazia a tradução simultânea (uma lástima, segundo os caçadores de gafes interlinguístiscas). E depois, paramos de ver a denominada festa máxima do cinema.
Depois de uns anos sem a nossa presença diante da televisão, voltamos a nossa atenção para a entrega das estatuetas, porque a mesma não seria transmitida pela TV Globo, e sim pela TV Record. Era o ano da premiação da Lista de Schindler. Nossa vã esperança de melhora na programação logo se dissipou com os comentários de uma idéia do locutor Boris Casoy:
- “É ótimo que filmes como a ‘Lista de Schindler’ apareçam nesse momento em que os neonazistas colocam a cabeça de fora na Europa”.
Só faltava o “Isso é uma vergonha” para arrematar a fala do locutor. Em determinado momento da festa de Hollywood, surge no palco a Deborah Kerr – estava ela diferente daquela Deborah Kerr que foi beijada pelo Burt Lancaster no filme “A um passo da eternidade” em pelo menos oitenta mil calorias. Foi quando o Boris Casoy resolveu esquecer a “séria ameaça dos neonazistas” na Europa para interromper um comentário do Rubens Ewald Filho:
- “Ela ainda guarda a beleza dos tempos passados”.
- “Bem, Boris, a beleza dela agora...” - não ficava bem para o comentarista de cinema convidado pela TV Record discordar do anfitrião, mas as nuances na voz do Rubens Ewald Filho disseram tudo.
No ano seguinte, as Organizações Globo resolveram pegar de volta a transmissão do Oscar. Bem, sem o Boris Casoy, a transmissão só poderia melhorar e nós insistimos em ver mais uma vez a premiação máxima do cinema. Era o ano do filme do Walter Moreira Salles, “Central do Brasil”, concorrer como o melhor estrangeiro. Também houve uma espécie de comoção nacional quando indicaram a Fernanda Montenegro para disputar o Oscar de melhor atriz com talentos internacionais, como Meryl Streep e Cate Blanchett.
Bem, não tínhamos Boris Casoy, mas tínhamos Arnaldo Jabor entre a festa em Los Angeles e os espectadores no Brasil. Com o clima de favoritismo criado para o filme italiano “A Vida é Bela”, que se tornou praticamente em vitória certa quando Hollywood convidou a Sofia Loren para entregar o prêmio de melhor filme estrangeiro, Arnaldo Jabor perdeu o senso de medidas. Antes da premiação, já na sua crônica do Globo, arrasou o filme de Roberto Benigni, que transformara, segundo as suas palavras, um campo de concentração nazista em parque temático. Na transmissão, propriamente dita, a bílis do torcedor fanático e frustrado do Central do Brasil, transbordava. Em dado momento da festa, Robin Williams foi focalizado pelas câmaras americanas com um sorriso de satisfação pela vida que Arnaldo Jabor, certamente ofendido com tanta felicidade, retrucou com azedume na voz:
- “Esse aí não passa de um canastrão...”
- “Caramba, e ainda não anunciaram ‘A Vida é Bela’ como ganhadora do Oscar...” - imaginaram, certamente, o Roberto Machado e o Rubens Ewald Filho, aqueles que se encontravam mais próximos da fera que salivava ódio, nessa reportagem da TV Globo.
Para encurtar essa história que todos se recordam, sem a menor dúvida, no dia seguinte, a atuação do Arnaldo Jabor era mais comentada na cidade do que a dos próprios artistas que receberam o Oscar, ou o perderam injustamente. Ele, o Arnaldo Jabor roubara o espetáculo.
- “Rapaz, você viu ontem, na entrega do Oscar, o Arnaldo Rancor?...” - perguntavam uns.
- “Você viu o Amargo Jabor?...” - perguntavam outros.
- “Amargo Rancor...” - resumiu em duas palavras o irmão de uma colega nossa de trabalho a noite em que se premiou ‘A Vida é Bela’ em vez do ‘Central do Brasil’.
Tudo bem que o Roberto Benigni guarda umas semelhanças com o paspalhão do Didi Mocó, mas “A Vida é Bela” até que é um filme razoável.
O momento da festa de Hollywood em que o Arnaldo Jabor deveria manifestar-se, no nosso entender, ele calou-se para sempre, foi quando a Gwyneth Paltrow no seu discurso de melhor atriz, no filme “Shakespeare Apaixonado”, reverenciou Meryl Streep usando as outras concorrentes para isso:
- “Você, que é a melhor de todas nós...”
Ora, sabia ela por acaso o que já fez a Fernanda Montenegro em matéria de representação?... Bem que o Rubens Ewald Filho já vinha, com ironia, chamando a Gwyneth Paltrow de “branquinha aguada...”
Bem, como diz o ditado popular “Em festa de jacu, inhambu não entra”. O fato de os inhambus brasileiros entrarem na festa do Oscar de 1999, já foi uma façanha; querer, depois de tanto, ainda sair com o prêmio, só na cabeça do Arnaldo Rancor...ou Amargo Jabor...
sábado, 6 de agosto de 2022
3129 - D O Namorado
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 1551 Data: 09 de agosto de2022
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quarta-feira, 27 de julho de 2022
3128 - Médicos x Roosevelt e Churchill (Reedição)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2227 Data: 23 de dezembro de2004
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ROOSEVELT E CHURCHILL DÃO TRABALHO AOS MÉDICOS
Enquanto William Randolph Hearst recorria a todos os meios legais e ilegais para evitar que o filme Cidadão Kane chegasse às telas, pedia auxílio financeiro ao governo Roosevelt para manter o seu império jornalístico, ora combalido. O auxílio foi negado e William Randolph Hearst, que considerava Roosevelt um comunista que acabaria levando os Estados Unidos à guerra contra a Alemanha e não contra a Rússia, ameaçou publicar fotos de aleijado do presidente em todos os seus jornais espalhados pelo país. A recusa foi mantida, quem cuidaria agora das bazófias do magnata decadente seria Orson Welles.
Franklin Delano Roosevelt evitou todas as maneiras possíveis e impossíveis que o povo o visse como inválido. Com o envolvimento dos Estados Unidos na guerra, e a aparição dos primeiros soldados americanos mutilados, o presidente já se deixava fotografar na cadeira de rodas.
No ano de 1944, a sobrecarga emocional com a guerra trazia-lhe sérios males físicos; tornara-se um hipertenso à beira do derrame cerebral. Outro fator que o aproximava da morte era o fumo, embora os médicos da época, incluindo os seus, não atentassem muito para isso tal era a campanha pró-fumo das grandes empresas tabagistas. Lembramos que, quando fora acometido pela poliomielite aos 39 anos, deitou-se na maca que o levaria ao hospital com o seu cachorro nos braços e uma piteira fumegante na boca.
Em 1944, pouco antes das eleições presidenciais americanas, o médico de Franklin Delano Roosevelt diagnosticara hipertensão aguda e insuficiência cardíaca congestiva. Ele não resistiria a um quarto mandato, mas Roosevelt recusava-se a deixar o seu posto de comandante em chefe.
No dia 25 de março desse ano, o doutor Bruenn só concebia uma maneira de salvar a vida de Roosevelt: livrá-lo das tensões mentais e das influências emocionais. O médico esboçou as medidas a serem tomadas, mas logo percebeu que entrara no terreno da ficção.
Enquanto isso, em Londres, o grande aliado de Roosevelt, Winston Churchill, também dava problemas aos médicos. Aproximava-se dos 70 anos e nenhum médico poderia prever que chegaria aos noventa, como chegou. Tinha de cortar os coquetéis de papaia com uísque diluído que bebia “all day long”, porém, diante das recomendações médicas, era rebelde:
- “A bebida é minha criada, não minha senhora”.- retrucava.
Os charutos, mesmo os puríssimos havanas, não possuíam o encanto hollywoodiano dos cigarros, e por isso foram também vetados pelos médicos de Churchill, que permaneceu rebelde e com o charuto na boca.
Um ano antes, isto é, em 28 de novembro de 1943, depois de reunir-se com Roosevelt e Stalin, em Teerã, pegou pneumonia e ficou entre a vida e a morte. Declarou, depois, que foi salvo pela sulfa e pelo conhaque, mas a história diz que deve a vida ao médico que descobrira a penicilina. Reza a lenda que seria essa a segunda vez que a mesma pessoa o salvava da morte, pois, quando garoto, afundando-se numa piscina, foi socorrido pelo filho do jardineiro, o Alexandre Fleming. Churchill, em “Minha Mocidade”, escreve os acontecimentos de outra maneira. Com dez anos de idade, brincava com outras crianças na propriedade de uma tia, em Bournemouth. Era uma brincadeira de pegar no meio de pinheirais “que desciam por ondulações arenosas terminadas em penhascos, às lisas e duras praias do Canal da Mancha”. Cercado pelos perseguidores, o pequeno Churchill anteviu uma maneira de escapulir. “Meu raciocínio era certo, mas os dados dos problemas estavam errados. Levei três dias sem sentido e fiquei de cama mais de três meses. Caí de 29 pés de altura num terreno duro, embora certamente os galhos atenuassem a minha queda.” Carlos Lacerda, o tradutor da “Minha Mocidade”, escreveu 29 pés; é isso aí: Churchill caiu de uma altura próxima de 9 metros e meio. Além de não cair na piscina, Alexandre Fleming tinha três anos de idade na época.
No início dos anos 30, Churchill seria atropelado por um carro em Nova York, ou seja, sempre deu trabalho aos médicos; em 1944 não era diferente. Vivia irritadíssimo com as bombas V1 que já mataram 3 mil civis ingleses e feriram 8 mil, e brigava com os seus generais que não concordavam com a sua retaliação: lançar gás venenoso contra os civis alemães.
Roosevelt, muitos quilos mais magro, assustou o povo americano pela sua aparência mórbida quando apareceu na televisão para anunciar a sua intenção de candidatar-se ao cargo presidencial pela quarta vez. Não pretendia mesmo deixar os seus soldados no meio da guerra, e não suportava a idéia de imaginar Thomas Dewey, o candidato republicano, no seu lugar.
A campanha eleitoral foi amarga; Thomas Dewey reconheceu a derrota pelo rádio, mas não enviou o telegrama tradicional de felicitações ao adversário vitorioso.
- “Eu sempre o achei um filho da puta”.- reagiu Roosevelt, enquanto empurravam a sua cadeira de rodas para o seu quarto, em Springwood.
Poucos meses antes dessa eleição, mais precisamente 20 de julho de 1944, houvera o atentado contra a vida de Hitler, encabeçado por generais alemães; mas, por ironia, quem mais estivera perto da morte nesse dia foi Franklin Delano Roosevelt. O presidente foi encontrado no chão, em São Diego, pelo filho James, depois de observar um exercício de desembarque de tropas nas praias da Califórnia. Sofrera um acidente vascular cerebral de pequena intensidade. Recuperou-se e ordenou segredo ao filho, nem o seu médico poderia saber do ataque. James Roosevelt disse mais tarde que poderia desobedecer ao pai, mas nunca ao comandante em chefe.
Hitler, como todos sabemos, sobreviveu ao atentado com mais de cem farpas da madeira de carvalho da mesa e das cadeiras, que foram para os ares, encravadas pelo seu corpo. Os generais envolvidos foram fuzilados, Rommel foi obrigado a cometer suicídio e os demais conspiradores, por ordem de Hitler, foram enforcados com cordas de piano e pendurados em ganchos de açougue. Essas execuções foram filmadas e enviadas a Hitler. Segundo o jornalista Paulo Francis, esses filmes, que de vez em quando Hitler assistia, eram o seu Tom e Jerry.
Roosevelt já perdera a voz enérgica dos discursos no Congresso em que dizia que a guerra era contra bandidos, mas ainda se mantinha no seu posto nos primeiros meses de 1945.
terça-feira, 26 de julho de 2022
3127 - Jogando com Napoleão (reedição)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 2224 Data: 20 de dezembro de2004
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sexta-feira, 22 de julho de 2022
3126 - D Doze é bom, treze é demais
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 1551D Data: 23 de julho de 2022
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terça-feira, 19 de julho de 2022
3125 - Matarazzo (Reedição)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 360 Data: 12 de dezembro de 2004
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OS MATARAZZO E ASSIS CHATEAUBRIAND
A comparação entre o maior empresário do Segundo Império, Barão de Mauá, e o maior da República Velha, Francesco Matarazzo, era inevitável. Em dado momento, o entrevistador não se conteve, interrompeu o entrevistado e fez a comparação. Ronaldo Costa Couto concordou inteiramente.
- “O Barão de Mauá é agora mais reconhecido pelo excelente livro do Jorge Caldeira, mas o Conde Francesco Matarazzo está mais esquecido ainda...”.
A força empreendedora dos dois empresários era inigualável ou só comparável entre si, mas há diferenças entre os gigantes: o Barão de Mauá era bem mais aristocrático do que o Conde Francesco Matarazzo. O conde, no início da construção do seu império, sacrificou porcos com facão, derreteu banhas e foi açougueiro do açougue em que era dono. Teve o cérebro do empresário, sem perder os músculos do operário. Chegava às sete horas no escritório e só não chegava às cinco horas da manhã, porque a esposa, Filomena, protestava com a gesticulação própria das italianas. Não podemos afirmar com certeza absoluta que os treze filhos do casal sejam provas do poder de convencimento da Filomena... Desses treze filhos, nove nasceram no Brasil, e quatro na Itália.
Ronaldo Costa Couto, comentando a intervenção do Roberto D' Ávila com o Barão de Mauá, inseriu a figura do Assis Chateaubriand, que também o impressionava:
- “... Décimo segundo filho de um casal de Umbuzeiro, interior da Paraíba, que construiu um império jornalístico, Roberto. Impressionante também”.
Em 1920, Assis Chateaubriand, escrevendo no Jornal do Brasil, ainda sonhava com o seu primeiro jornal. Morre Ermelino Matarazzo e Assis Chateaubriand capricha tanto no obituário que redigiu, que o telefone da redação do Jornal do Brasil toca: era o Conde Francesco Matarazzo, que pretendia conhecê-lo. Um encontro entre os dois é então marcado. Conhecem-se, Chateaubriand o saúda, e recebe, em seguida, os agradecimentos pelas palavras elogiosas que dedicara ao seu filho morto. Na despedida, o Conde Matarazzo lhe estende a ponta do paletó e pede que Assis Chateaubriand raspe os dedos nessa ponta de paletó. Diante do espanto do jornalista paraibano, o Conde Matarazzo lhe explica que se trata de uma tradição da Calábria:
- “Fazendo isto, a minha sorte passará para você”.
Não sabemos se o Ronaldo Costa Couto narra esta passagem na sua obra sobre os Matarazzo, mas Fernando Morais a narrou no “Chatô, o Rei do Brasil”.
Os modos aristocráticos, diríamos mais, e o refinamento, chegam aos Matarazzo do Brasil com o sobrinho do conde, o Ciccilo. Ele, como já foi assinalado, tinha uma inclinação irresistível pelas artes e a cultivou sem esmorecimento enquanto viveu.
- “Baby Pignatari, o Francesco Matarazzo Pignatari, foi o maior amigo de Assis Chateaubriand, mas Ciccilo também foi seu grande amigo”.- enfatizou o Ronaldo Costa Couto na entrevista.
A sorte do paletó do Conde passara para Chateaubriand e este já era o proprietário da mais poderosa rede de comunicações da América Latina quando criou, em 1947, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), associado ao galerista italiano Pietro Maria Bardi. No ano seguinte, o Museu de Arte Moderna era criado por Francisco Matarazzo Sobrinho e, ao contrário do MASP, contou desde o início com a representação de todas as áreas das artes e da cultura, que traçaram o perfil e a política de aquisição e de formação do seu acervo. Ciccilo Matarazzo financiou de seu próprio bolso a compra das obras para a coleção do Museu e fomentou seu posterior crescimento com o “Prêmio Aquisição” promovido pelas futuras bienais. Os estatutos do Museu previam a criação de comissões de cinema, arquitetura, folclore, fotografia, gráfica, música, pintura e escultura. Sua sede foi instalada numa sede do edifício dos Diários Associados, na rua 7 de abril, cedida por Assis Chateaubriand.
O endereço do MASP prova que o historiador não exagerou, na entrevista, sobre a amizade entre Ciccilo e Chatô. Outra prova dessa amizade foi a Esplanada do Trianon – o espaço cedido por Assis Chateaubriand para a I Bienal promovida por Ciccilo Matarazzo.
É a autora do livro “Bienal, 50 Anos”, Rosa Artigas que conta:
- “O êxito da I Bienal, apesar de toda a improvisação, mostrou a capacidade de realização de Ciccilo e da equipe do MAM. Ainda sob o impacto do sucesso, já se programava a II Bienal, que viria acontecer no final de 1953, abrindo as comemorações do IV Centenário de São Paulo, sob o comando de Ciccilo Matarazzo, como presidente da Comissão organizadora dos festejos. O local escolhido foi a área do Ibirapuera, na época uma várzea distante e sem nenhuma infra-estrutura urbana”.
“Oscar Niemeyer foi convidado a projetar o conjunto de edificações. Considerando suas dimensões, o Parque, seus edifícios e os jardins de Burle Marx foram construídos em tempo recorde. Dos sete prédios – entre pavilhões e centros de cultura propostos – foram edificados o Pavilhão das Indústrias dos estados e o Pavilhão das Nações, ligados por uma elegante marquise”.
“Considerada uma das mais importantes Bienais, esta 2ª edição reuniu obras dos mais importantes artistas modernos e, como destaque maior, 51 telas, de todas as fases de Picasso, entre as quais Guernica, que, por vontade do pintor, tinha o MoMA como depositário enquanto a Espanha estivesse sob a ditadura franquista. Até então, a grande tela nunca havia deixado Nova York.”
“Em novembro de 1953, a II Bienal começou a ser montada ocupando o Pavilhão das Nações, onde ficaram expostas as representações dos países da Europa e do Oriente, e o Pavilhão dos Estados que recebeu a Mostra Internacional de Agricultura. Eram, no conjunto, 24 000 m2 de exposição. Em 12 de dezembro a mostra foi inaugurada com a representação de 33 países e 3 374 obras”.
“Em 1957, a IV Bienal de São Paulo passou a ocupar definitivamente sua atual sede no Parque Ibirapuera, o Pavilhão Ciccilo Matarazzo”.
Se Ciccilo Matarazzo era um mecenas, era o maior do Brasil, sem a menor dúvida. Assis Chateaubriand, para muitos autores, era um mecenas entre aspas. Esperto, sempre, percebeu, com o fim da Segunda Grande Guerra, o momento de adquirir grandes pinturas de empresários europeus empobrecidos. Adquiriu-as, então, de todo jeito, principalmente com o dinheiro alheio. Resumia a sua filosofia numa frase:
- “Crédito é melhor do que dinheiro; dinheiro acaba, mas crédito a gente sempre estica”.
Assis Chateaubriand foi amigo de Ciccilo, repetimos, mas Chiquinho Matarazzo, que substituíra o grande Francesco à frente do império, o odiava.
- “Na briga entre os dois, a terra tremeu”.- afirmou Ronaldo Costa Couto, enquanto Roberto D' Ávila sorria.
quinta-feira, 14 de julho de 2022
3124 - Molas Garfield (Reedição)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 346 Data: 12 de dezembro de 2004
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- “Nossa! Vêm por aí mais vinte edições para falar de outro presidente dos Estados Unidos!” - já imagino alguns assinantes exclamando de mãos na cabeça.
Acontece que chegou uma carta no Departamento de Divulgação do Biscoito Molhado indagando se é mesmo verdade que as molas de um colchão contribuíram para morte de um presidente dos Estados Unidos.
Prometemos tirar essa dúvida com apenas esta edição. Dito isto, vamos em frente.
Tudo começou em 2 de julho de 1881, numa estação da estrada de ferro de Washington, quando o presidente eleito pelo Partido Republicano, James Garfield, foi alvejado pelo disparo do revólver de um advogado. Esse advogado, chamado Charles Guiteau, alegou a promessa de um emprego específico feita pelo presidente e não cumprida, como o motivo do seu gesto tresloucado. Verdade ou não, os estudiosos afirmam que esse atentado contribuiu para a aprovação, dois anos depois, da primeira lei abrangente do serviço civil, a Lei Pendleton.
Concluirá, talvez, um ou outro leitor:
- “Nos Estados Unidos tudo é motivo para se matar o presidente; até não entrar pela janela no serviço público”.
O presidente não morreu no dia em que recebeu esse tiro, nem nesse mês, nem no mês seguinte. James Garfield possuía a pele escarmentada de quem lutara na Guerra da Secessão e de quem exercera sucessivos postos militares na Brigada de Middle Creek. Antes, graduara-se no Williams College de Massachusetts para se tornar professor de línguas clássicas no Eclectic Institute, em Ohio. Lá, conheceu a sua futura esposa, a estudante Lucretia Rudolph, com quem teve sete filhos mesmo com uma Guerra Civil no meio do casamento.
Depois da guerra, James Garfield seguiu a carreia política, elegendo-se senador por Ohio. Indicado pelo seu partido nas eleições presidenciais de 1880 derrotou por uma quantidade mínima de votos o canditado democrata, General Winfield Scott Hancock. Empossado em 1881, a sua popularidade cresceu, pois atacou de imediato a corrupção política. E, como vimos, com pouco mais de sete meses no cargo, recebeu um tiro disparado por um advogado.
A bala se alojara no tórax, mas não se sabia o local com precisão. Se penetrara em algum órgão, fazia-se necessária a cirurgia, se não, podia-se aguardar a recuperação do paciente. A localização exata da bala era, portanto, fundamental. Nessa época, recorria-se à sondagem manual no corpo, o que contribuiu para inúmeras mortes por infecção de pessoas baleadas. O Raio-X só seria descoberto quatorze anos depois do atentado à vida do presidente James Garfield. Cabem aqui algumas palavras sobre a descoberta, por acaso, dessa preciosidade para a vida humana.
Na tarde de 8 de novembro de 1895, o físico Wilhelm Conrad Roentgen, reitor da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, fazia pesquisas no laboratório da sua casa com o tubo de raios catódicos inventado pelo inglês William Crookes, quando reparou num brilho muito estranho. Enfurnou-se durante seis semanas no seu laboratório para estudar esse brilho estranho, que era uma radiação, que atravessava livros, folhas de alumínio e outras barreiras que ele interpunha entre o tubo e uma placa de material fluorescente. Finalmente, no dia 22 de dezembro, chamou a sua esposa e cobaia, Bertha. Chamou-a e fez, durante 15 minutos, a radiação atravessar a sua mão atingindo, do outro lado, uma chapa fotográfica. Revelada a chapa, viu as sombras dos ossos da mão da sua mulher – era a primeira radiografia da história. Via-se o invisível. Fascinado, mas ainda confuso, Roentgen chamou os raios da sua descoberta de “X”, que é o símbolo da ciência para designar o desconhecido.
Seis dias depois de radiografar a mão da esposa, Roentgen apresentou o seu achado na Universidade de Wurzburg. O fato chegou à imprensa e ver o próprio esqueleto passou a ser o sonho de consumo de todos os alemães. Já no ano seguinte, 1896, os médicos adotavam o Raio-X.
Porém em 1902, nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Jersey, um grupo de deputados, defensores da moralidade e dos bons costumes, tentou proibir o Raio-X sob a alegação de que essa radiação permitia a qualquer um ver os corpos nus de quem passasse pelas ruas.
Mas é hora de voltarmos ao agonizante presidente James Garfield.
Existisse o Raio-X já em 1881 e o projétil no tórax do presidente seria visto, apesar dos moralistas americanos; como não existia, o drama se intensificava.
Nos dois meses de padecimento do presidente James Garfield– de 2 de julho a 19 de setembro de 1881, quando faleceu – a cobertura jornalística foi considerada impressionante e selvagem. Curandeiros, pajés, charlatões, rezadores, inventores, ficcionistas, médicos e aproveitadores em geral apresentaram mil palpites para salvar a vida do presidente. As redações dos jornais recebiam um volume inacreditável de cartas dessa gente; e muitas delas eram publicadas. No meio de todo o corre-corre para salvar o presidente, um cidadão de Baltimore, chamado Simon Newcomb, declarou ao jornal Washington National Intelligencer, que fazia experiência de eletricidade em bobinas. Ressaltou que um desses solenóides, conduzindo corrente, quando próximo a um pedaço de metal, produzia um zumbido tênue, quase inaudível, e que, afastando a bobina do metal, o zumbido sumia. Em Boston, Graham Bell lera a matéria, e concluiu que o telefone, seu recente invento, poderia ampliar esse zumbido e localizar com precisão a bala no tórax do presidente. Telegrafou então, para Newcomb e, em seguida, partiu para Baltimore.
Deram os dois então início aos trabalhos: montaram um aparelho que consistia de duas bobinas de fio encapado, uma bateria, um interruptor e o telefone. Uma das bobinas ficava na ponta de uma varinha, que agia como detector. Quando aproximavam um diminuto metal do implemento, o telefone de Graham Bell acusava logo com um claríssimo zunido. Constataram também a sensibilidade do detector: 12 centímetros. Não tinha erro.
Testaram o aparelho com balas deflagradas e não deflagradas escondidas na boca, nas axilas e nas virilhas deles mesmos, e tudo deu certo. Foram, em seguida, para um hospital de veteranos da Guerra Civil, onde muitos tinham balas encravadas em diferentes partes do corpo, e novo sucesso. Aprovado o invento, a missão agora era salvar o presidente.
No dia 20 de julho, dezoito dias depois do atentado, portanto, Graham Bell, seu assistente e Newcomb se encontravam junto ao leito de James Garfield. O enfermo, já vulnerável, com a expressão assustada, temia ser eletrocutado pelo invento, enquanto acompanhava com os olhos esbugalhados o percurso da varinha milagrosa. Algo, no entanto, dava errado: o zumbido no telefone se avolumava independente da parte do corpo do presidente próxima ao detector. Tentaram eles outras vezes mais, até a exaustão, e sempre dava errado. Foram, então, convidados a retirarem-se do quarto do presidente.
Os invejosos aproveitaram para tachar Graham Bell de incompetente, de um charlatão em busca de publicidade. Recusando-se a aceitar aquele aparelho como uma geringonça, Graham Bell o desmontou todo, para depois remontá-lo, certificando-se de qualquer mau-contacto. Voltou às experiências com veteranos de guerra com balas pelo corpo e novo sucesso.
Depois de muitas dificuldades, conseguiu convencer as autoridades da Casa Branca a deixá-lo tentar novamente. No dia 31 de julho, Graham Bell, Tainer, seu assistente, e Newcomb estavam de novo próximo ao leito do presidente que, de novo, temia que a sua morte fosse antecipada por um choque elétrico. Novo fracasso. Bastava aproximar a varinha do presidente e o aparelho zumbia loucamente. Foram os cientistas quase que expulsos da Casa Branca. O fracasso agora era definitivo. Cinqüenta dias depois dessa tentativa, terminava o sofrimento do presidente James Garfield. Morria no dia 19 de setembro.
Muito tempo se passou até que alguém se desse conta do motivo de o aparelho de Graham Bell e Simon Newcomb só desatinar com o presidente dos Estados Unidos: a Casa Branca fora um dos primeiros lugares do mundo a usar um produto novíssimo para o conforto das pessoas: o colchão de mola.
segunda-feira, 11 de julho de 2022
3123 - Objetos Bizarros (Reedição)
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O BISCOITO MOLHADO
Edição 285 Data: 14 de setembro de 2004
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