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segunda-feira, 30 de junho de 2014

2641 - coisa de mafioso


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4891                          Data:  24  de  junho de 2014
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A FESTA DA COPA NO SABADOIDO
PARTE II


-Há pessoas que conseguem ficar seis horas diante da televisão assistindo a jogo de futebol. Eu não consigo. - afirmou o Luca enfaticamente.
-Seis horas?...
-Sim, Carlinhos; jogo a uma hora, às três e às cinco da tarde. É verdade que você está trabalhando...
-Não há problema; no meu trabalho, ficam duas televisões ligadas nessas horas. Mas já tomei uma decisão: escolho apenas uma partida para ver por dia.
-Eu assisto a todas.
-A todas, Claudiomiro?
-Luca, o nível está muito bom nesta Copa do Mundo. Depois dela, nós teremos do voltar àquele futebol pobre do campeonato brasileiro. Tenho que aproveitar. - justificou-se.
-É verdade. - concordou.
-As estatísticas mostram que, até agora, a seleção brasileira é uma das melhores em tirar bola dos adversários e uma das que mais erram passes. - manifestei-me.
-Eu li esses dados na coluna do Fernando Calazans. - disse meu irmão.
-Ou seja, o futebol brasileiro perdeu as suas características; deixou de jogar a bola de pé em pé e a recorrer a tackles para desarmar os adversários como os europeus.
-Recorrer a carrinhos, você quer dizer? - perguntou-me o Claudio incomodado com o termo inglês.
-Vá lá, carrinhos. Tackles é mais usual no Rugby, mas como as regras do nosso futebol saíram do Rugby...
-Esse futebol de bola de pé em pé, dos nossos jogadores de antigamente, é jogado pelo escrete espanhol e eles estão indo para casa mais cedo.- interveio o Luca.
-Não sei, Luca... Falam que houve uma negociação por baixo dos panos com a FIFA para eles perderem para a Holanda e o Chile. Não sei. - demonstrou hesitação meu irmão.
-Que os espanhóis levaram gols com erros infantis contra a Holanda, todo mundo viu.- afirmou o Luca.
-Na Copa de 98, na França, na decisão com o escrete da casa, o Ronaldo Fenômeno teve aquela convulsão depois do almoço que, até hoje, não foi esclarecida. Na Copa seguinte, o Brasil foi ajudado pela arbitragem no jogo contra a Turquia e a Bélgica.
-Mas tinha time para ganhar o título. - intervim.
-Eu não discuto isso. - reagiu.
-Há quem jure que já está tudo acertado antes; a Espanha sai hoje, mas abocanha a Copa em 2018. - manifestou-se o Luca.
-Eu sou cartesiano como o Fernando Henrique Cardoso, com uma diferença. Ele diz que é cartesiano com pitadas de candomblé...
-Candomblê, ele pronuncia em francês. - lembrou-me o Claudio.
Prossegui:
-Eu sou cartesiano sem pitada alguma. Sigo o princípio da dúvida sistemática enunciado por Descartes; não aceito a veracidade de nada sem que ela seja demonstrada. Assim, não vou me precipitar em afirmar o que há nos bastidores escuros da Copa do Mundo.
-Mas que os dois últimos presidentes da FIFA são mafiosos, Carlinhos, não restam dúvidas.
-Não restam dúvidas, Luca.- não desconcordei.
-Não sei por que o Lula não tentou a presidência da FIFA. - provocou o Claudio.
-Certamente que ele pensou no caso, Claudiomiro. - disse o Luca.
-Lembram que falaram de ele ser presidente da Petrobras depois de passar a faixa para a Dilma? - perguntei aos dois.
-Já pilharam muito a Petrobras. Ele ganharia menos dinheiro lá. - frisou meu irmão.
-Lula trouxe esta Copa para cá para ser deificado pelo povo, mas o tiro saiu pela culatra. Se ele colocar as fuças de fora em quaisquer desses estádios da Copa do Mundo receberá uma vaia monumental.
-E dirá que foi vaiado pela elite branca. - seguiram-se as palavras do Claudio às minhas.
-Os preços do ingresso estão fora do orçamento dos pobres. - disse o Luca.
Tomei a palavra.
-O Lula é corintiano e espertalhão, todos sabem disso. Ele, então, mexeu os pauzinhos para que fosse construído, finalmente, um estádio para o Corinthians que, como cereja do bolo, receberia a partida inaugural da Copa do Mundo de 2014. E o que aconteceu? Entrou dinheiro público para custear as obras, ou seja, palmeirense, são paulino, flamenguista, botafoguense, gremista, etc tiveram de pagar o estádio do Corinthians. Para culminar a lambança, oito operários morreram devido à pressa de encerrar a construção antes da Copa.
-E lá a Dilma recebeu a vaia da elite branca. - disse o Luca com um sorriso zombeteiro.
-Era para o ego do Lula inflar ao máximo na primeira partida, Brasil e Croácia, mas a inflação foi outra.- comentei.
-Houve, antes da Copa, futebol no Itaquerão com preços populares e, ainda assim, Lula não se arriscou a aparecer. - lembrou o Claudio, enquanto se levantava da cadeira para pegar dois copos de caipiroska.
-E a Rosa, Luca?
-Não a tenho visto como antes; pego as cartas delas na banca do Édison; trouxe algumas para você. - disse, enquanto me passava um envelope.
Passei rapidamente a vista por uma dessas cartas e me surpreendi:
-Ela escreveu aqui que, em 2015, completa 80 anos de leitura.
-Não se esqueça de que ela já lia com 80 anos de idade.
-É verdade. O cérebro da Rosa deveria ser doado para estudo; para se saber o alcance da leitura para o aprimoramento da memória.- frisei.
 -Ela leu mais do que o pai, o Agripino Grieco, que teve uma biblioteca de uns 50 mil livros. - comentou.
-Lembrei-me do Kenneth Cooper escrevendo sobre um militar que superou um problema cardíaco congênito com exercícios aeróbicos, eles transformaram suas artérias estreitas como ruelas em autênticas avenidas. A leitura é como um exercício neuróbico que aumenta incrivelmente as possibilidades da memorização.
-E ela não tem computador em casa, o Google não está à mão. - interrompeu-me o Luca.
-E mesmo que tivesse, não precisaria muito do Google. - assinalei.
Nesse instante, o Claudio veio com as bebidas e, com ele, o meu sobrinho.
-Daniel, a Kiarinha me mostrou as suas fotos no Facebook.
-Luca, lá na FIFA Fan Fest, eu estava endiabrado.
-Eu lhe vi abraçado com duas holandesas.
-Não se meta com minhas holandesas!
-Não, Daniel, são suas.
-Você viu, Luca, que as duas estavam com copos avantajados de cerveja?- interveio meu irmão.
-Vi, Claudiomiro; holandesas são jovens e bebem, ao que parece, como gente grande.
-Qual era a cerveja, Daniel?
-Só sei que não era Skol. - respondeu em tom de pilhéria.
-O Souzinha é que gosta desse mijo de gato.- reportou-se meu irmão a um cunhado do Luca.
Rumores vindo do lado de fora anunciaram a chegada da Gina das compras.


sábado, 28 de junho de 2014

2639 - o pingue-pongue e o padrão FIFA


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4889                                Data:  21  de  junho de 2014
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SABADOIDO DA COZINHA À COPA

-A Rua Chaves Pinheiro ainda parece que sofreu um bombardeamento. - disse o Luca quando o Claudio lhe franqueou o portão para mais um Sabadoido.
-Hiroshima foi restaurada em menos tempo. - exagerei.
Quando já estávamos acomodados nas nossas cadeiras, meu irmão lhe perguntou sobre as partidas de tênis de mesa de que tem participado.
-Muitas dores, Claudiomiro. A Glória reclama dos meus gemidos, mas eu não resisto quando vejo uma raquete.
-E o Gordo?
-Ele tem mais de 200 quilos e joga muito. Confessou-me que, no dia seguinte aos jogos, tem até dificuldade de calçar os sapatos tantos são os incômodos musculares.
-Os atletas só se tornam grandes quando aprendem a conviver com a dor. - afirmou o Cláudio com expressão jocosa.
-O Gordo cisma de me chamar de Seu Luís, mesmo eu lhe pedindo para me chamar de Luca. A garotada que aparece para jogar só me trata de senhor. - indignou-se.
-Um meu colega de trabalho me revelou que uma moça se ergueu do banco do metrô para lhe ceder o lugar. Ele ficou arrasado, quase necessitou de tratamento psicológico. - manifestei-me.
-Como eu só ando com o meu carro, não passo por esse problema. - disse-nos o Luca.
-Esse meu amigo dirigia olhares libidinosos para essa moça, mas ela os interpretou como súplica de um idoso louco para sentar-se. Essa é a minha interpretação.
-Talvez, Carlinhos, ela tivesse notado a sua intenção e, sutilmente, o chamou de velho, dando-lhe o lugar. - interpretou esse gesto, por sua vez, o Luca.
-Esse negócio de ceder o lugar em transporte público é mais sério do que parece. Porque a negra Rosa Parks se recusou a se levantar para um branco se sentar, num ônibus em Alabama, foi presa.  Esse caso foi um dos estopins que deflagrou o Movimento dos Direitos Civis liderados por Martin Luther King.
Depois de o Luca concordar com a cabeça, acrescentei:
-Lembro até o número desse ônibus: 2857.
-Belo milhar, Carlinhos. - empolgou-se o Luca.
-Eu não cedia meu lugar para idosos porque, geralmente, eles se sentiam ofendidos. Agora, que passei dos 60, não me preocupo mais com isso. - disse meu irmão com a expressão de quem fez uma piada autodepreciativa.
-Sempre que me dirijo ao restaurante da Rua do Rosário, onde almoço, o meu ego fica inflado, mas só meu ego.
-Não entendi, Carlinhos. - disse-me o Luca.
-Para chegar lá mais rápido, corto caminho por uma galeria da Rua do Ouvidor. Mal entro nessa galeria, recebo, sempre, papeizinhos de propaganda de mulheres seminuas dignas de capa da Playboy.
-Propaganda de rendez-vous?
-De casa de saliência, Luca. - aditou meu irmão.
-Amasso esses papeizinhos e varejo na lixeira mais próxima por tratar-se de propaganda enganosa.
-Não olha antes nem o endereço, Carlinhos?
-Depois de eu menear negativamente a cabeça, os dois lembraram o Vagner, ainda ausente, que não dispensava nem carne de terceira.
E prossegui:
-Certo dia, um rapaz, ao me entregar esses papeizinhos, apontou o elevador comunicando-me que era no sétimo andar.
-Carlinhos, você deveria ter ido. - criticou-me o maroto do meu irmão.
Em seguida, soergueu-se da cadeira e comunicou ao Luca que era hora de trazer os copos de caipiroska.
Mas essa sessão do Sabadoido se iniciou, de fato, uma hora antes, na cozinha da casa.
-Daniel, como você se esqueceu de computar o resultado do jogo da Rússia contra a Coreia do Sul?... Um cara lá do meu trabalho, que não viu os três pontos computados no bolão, falou em recorrer ao STJD. Olha que ele é torcedor do Fluminense.
-Esqueci, Carlão; mas por que você mesmo não atualizou o resultado no bolão?
-Eu não tenho o Excel no meu computador de casa.
-O pessoal goza o Fluminense com o tapetão, mas, com isso, o escritório de advocacia do Mário Bittencourt deve estar concorridíssimo. - interveio a Gina.
-Se a Espanha tivesse o Mário Bittencourt, ganharia os pontos do Chile, porque um jogador estava com o número 20 na camisa e o número 19 no calção.
-Certamente. - concordaram todos comigo dentro do espírito de brincadeira.
-Na transmissão da TV Globo, apenas o Roger notou essa discrepância; nem o comentarista de arbitragem havia reparado.
Com a expressão defensiva, meu irmão se manifestou:
-Vocês podem não acreditar, mas antes do Roger eu tinha visto isso.
-Então, você viu. Eu quase sempre sei quando uma pessoa quer se sobressair com mentiras e finjo que acredito. - disse-lhe.
-Carlão, a Espanha não estaria arrumando as malas com o nosso advogado.
-E tem mais, Daniel, se o Vinícius de Moraes fosse espanhol, o hino da Espanha teria letra. - garanti.
-E a invasão da sala de imprensa do Maracanã pelos chilenos, Carlão?
-Foi a elite branca do Chile que invadiu. - não deixei a piada escapar.
-A maioria desses torcedores da América Latina veio assistir à Copa com pouco dinheiro. - disse meu irmão.
-Eu imagino a sujeirada que eles estão espalhando pelo caminho.
-Se todos fossem como os torcedores japoneses, Gina, mas não são. - disse-lhe.
-O Centro da cidade deve estar bem agitado, Carlão.
-Daniel, uma colega minha que pega táxi de lotada para a zona oeste, no Largo de São Francisco, me informou que, na partida Brasil e México, toda a fila foi assaltada às duas horas da tarde. Ela escapou porque os servidores públicos foram liberados ao meio-dia e meia.
-E você, Carlão?
-Saí às 11h da manhã, porque registrei minha entrada no ponto eletrônico às 6h 10min.
-Muito barulho por lá?
-Muitas cornetadas, mas suportáveis. O que tenho percebido, tanto lá como cá, são os poucos foguetórios. Graças a Deus, pois pior do que tudo são esses morteiros, cabeças de negro, malvinas...
E prossegui:
-A Copa do Mundo proporciona fatos inusitados. Um rapaz, de pouco mais de 30 anos, na porta do metrô, assoviava a “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso.
-Nem tudo está perdido, Carlinhos. - observou meu irmão.
-Nesse jogo contra o México, eu me surpreendi no caminho para a estação da Carioca do metrô porque a feira de livros deu lugar ao comércio de mil badulaques verde-amarelo. 
-É a Copa do Mundo, Carlão.
-Já se vestiu para sair comigo, Daniel?- cobrou-lhe a mãe.
-E já arrumei o meu carro, que está padrão FIFA.
-Falando nisso, um ambulante, da Rua do Ouvidor, escreveu  no tambor de bebidas dele: “suquinho padrão FIFA.
-Vamos, Daniel.
Mal os dois saíram da cozinha rumo ao portão da rua, Luca ligou do celular avisando que chegava para mais uma sessão do Sabadoido.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

2636 - batina justa


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4886                               Data:  14  de  junho de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-”Furiosa, Carlos, era conhecida como Furiosa, acho que isso diz tudo. À frente, um carneirinho uniformizado.
Tinham, todos os integrantes da banda, conduzidos por um Sargento, a minha inveja, por saberem música e saberem fazê-la.” Elio Fischberg.
BM: Essa carta, ou melhor, mensagem eletrônica, do nosso remetente advém de uma pergunta da redação deste periódico motivada pela ida do maestro da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, Antônio Henrique Seixas, ao programa Rádio Memória. As gravações que foram tocadas, na ocasião, remexeram a nossa memória e trouxeram à tona as bandas escolares.
Citei a do colégio em que cursei o ginasial, que eu esperava que participasse do programa “Lira do Xopotó”, na Rádio Nacional”. A memória tem o condão de verdejar até as cores cinzentas do passado, e, provavelmente, a minha fértil imaginação está valorizando a banda do Visconde de Cairu. Então, quis saber, através do Elio, como era a do Colégio Militar, o que explica a mensagem acima reproduzida. Era a “Furiosa”, segundo ele. Será que diante de tanta “fúria”, ele se amansava como um “carneirinho”?
Quanto à inveja dos músicos, eu também sentia, embora nunca me atrevesse a soprar flautim, bombardino, tuba e muito menos a tocar tambor. Pura timidez.
Napoleão Bonaparte, musicalmente falando, gostava mesmo era das bandas, não de orquestras sinfônicas. Disseram alguns dos seus biógrafos que era uma estopada para ele ter de ir a um concerto, que não perdia o ar de enfado nem quando Paganini fazia pirotecnias alucinantes no violino. Ao ir a um concerto, certa vez, reclamou da demora da Josefina para se aprontar, dizendo-lhe que ela levava mais tempo para se vestir do que o compositor levou em criar a sinfonia que ouviriam, naquela noite, no teatro. Puro mau humor de quem queria mesmo era se deliciar com marchas militares executadas por uma boa banda.

-”Solidarizo-me com o redator do Biscoito Molhado nas suas queixas contra o barulho neste período de Copa do Mundo. Apenas as vaias aos políticos que fizeram por merecê-las soam como música aos meus ouvidos.” F.D.R.
BM: O remetente dessa carta preferiu se ocultar atrás de uma rubrica ou acrônimo; se ele não for o Fernando Dias Ramos, é o Franklin Delano Roosevelt.
Bem antes de soar o apito do juiz, dando início ao primeiro jogo desta Copa do Mundo, Brasil x Croácia, a barulheira já provocava danos nos nossos tímpanos. Falando nisso, o apito do juiz de futebol alcança 30 mil hertz, comparável ao dos guardas de trânsito, mas não o daqueles que apitam na Avenida Rio Branco, agora com mão nos dois sentidos, que deve atingir os 50 mil hertz.
Sim, a cidade do Rio de Janeiro, embora não seja a Capital Federal há mais de cinquenta anos, continua a ressoar por todo o país, não como um tambor, como teria dito Getúlio Vargas, mas como todos os instrumentos de uma orquestra infernal.
E eu imagino o poeta latino Marco Valério Marcial, viveu de 40 a 102 d.C., que declarou: “Não posso dormir porque tenho Roma nos pés da cama.” Ele não deve ter ficado ensurdecido como nós ficamos agora.
Os atuais governantes brasileiros, que também conseguem transformar, nos nossos ouvidos, vaias em belas melodias, tentaram impingir, mancomunados com o músico Carlinhos Brown, uma geringonça, denominada caxirola, como o instrumento oficial da Copa do Mundo no Brasil, e ela substituiria a vuvuzela da África do Sul.  Estava tudo acertado, a fabricação seria em escala industrial, entraria dinheiro a rodo nos bolsos de uns poucos, mas se esqueceram de combinar, antes, com os torcedores. As primeiras caxirolas a chegarem às mãos dos torcedores foram transformadas em objetos de agressão, que poderiam ser artefatos de guerra entre torcidas;  a polícia interveio para proibi-las nos estádios de futebol.
Grande prejuízo para uns poucos...
Veio, em seu lugar, a pedhuá, um apito que mal chega aos 3 mil hertz, mesmo que o torcedor sopre com a intensidade do Lobo Mau quando pretende derrubar a casa dos Três Porquinhos.
Como o pedhuá não faz muito estardalhaço e não serve para ferir um torcedor da Argentina ou de outro país que se coloque no nosso caminho para o hexa, não teve a aceitação popular que merecia. As cornetadas, como a música funk, para o nosso desespero, prevalecem absolutas.
Resta-nos o consolo de a vuvuzela da África do Sul não ter virado moda no Brasil.
Nem tudo está perdido.

-O que pensa o redator do Biscoito Molhado sobre a ruidosa vaia, seguida de xingamentos, a presidente Dilma Rousseff”? - Zé da Silva.
BM: Eu penso que o filósofo, escritor e matemático alemão, Georg Christoph Lichtenberg, que viveu no século XVIII, estava  inteiramente certo ao dizer: “Quando os que comandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito.”

Sobre o Biscoito Molhado que cita o escritor Ubaldo Ribeiro, que escreveu que Santo Antônio ficou numa “batina justa” pelo fato de os torcedores brasileiros mais fanáticos o evocarem, quando ele, como português, tem de atender à torcida de Portugal, nesta Copa do Mundo, eu proponho a sua substituição pelo Padre José de Anchieta, que já é, praticamente, santo. Francisco.
BM: Caro Francisco, José de Anchieta também ficará numa “batina justa”, pois é espanhol, nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias que, diga-se de passagem, nada tem a ver com as aves canoras e sim com os cães.

-”Li a ata de reunião de uma sessão de um Sabadoido em que o irmão do redator do Biscoito Molhado faz alusão às histórias do Ferreira Gullar com os gatos, que não foram narradas pelo poeta no dia em que ele foi ao programa dominical “Rádio Memória”. Ney Sérgio.
BM: Deparando-me com o nome Sérgio, ressurgiu na minha mente o Sérgio Britto, cujo programa “Arte”, na extinta TV Educativa, eu via todos os sábados.
Num desses programas, Sérgio Britto leu uma carta da Nise da Silveira. Ele não a tratou como a pioneira da psicologia Junguiana no Brasil, e sim como gatófila. E eram os gatos os assuntos dessa carta. Sérgio Britto, ao lè-la, com a sua percepção de grande artista, salientou as seguintes palavras dela: “os gatos e gatas são seres muito sensíveis”.
Repercuti isso para o meu irmão, que não assistira a tal programa, e ele concordou, imediatamente, citando casos que provam a afirmação da gatófila Nise da Silveira.
 Um desses casos aconteceu recentemente, dois anos atrás, precisamente. As duas gatas do seu vizinho, provavelmente aborrecidas com o batuque dos atabaques das sessões de umbanda que ele promovia em sua casa, mudaram-se, nessas horas de religiosidade, para a casa do meu irmão. No início, era assim, mas, com o passar do tempo, as gatas iam para lá mesmo que não houvesse evocações a Ogum, Oxóssim, Iansã e quaisquer outras entidades.
Irritada, porque as gatas se instalaram definitivamente na saua casa, minha cunhada enfiou as duas bichanas num carro e as levou para a SUIPA de Benfica.
Mais tarde, arrependida, trouxe elas de volta. Elas chegaram, porém, como uma misteriosa e fatal doença.
Disse-me, meu irmão, que, nos últimos dias vividos pelas duas gatas, elas jamais puseram as patinhas na sua casa.
-Sim, Carlinhos, os gatos e as gatas são muito sensíveis, como escreveu a Nise da Silveira.