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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4108 Data: 06 de janeiro
de 2013
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PRIMEIRO SABADOIDO DE 2013
Daniel abriu o portão da casa para mim
com o seu comportamento travesso que, entra ano e sai ano, não muda,
felizmente. Na cozinha, encontrava-se seu pai. Abanquei-me e desabafei.
-Ontem, por volta da uma hora da tarde,
um representante da Claro me telefonou?
-O que ele queria? - abaixou o Claudio o
jornal que lia num gesto de atenção.
-Disse que constava um débito meu com a
Claro. Não sei se ele ia continuar pois o atropelei com minhas palavras. “Que
débito é esse? Como vocês podem cobrar por um serviço que não foi realizado?...
Vocês querem enfiar a mão no meu bolso?...”
-Você gritava?
-Quase isso, embora meu temperamento
seja avesso a vozes elevadas.
E prossegui:
-Ele então me interrompeu para dizer que
não era ele que metia a mão no meu bolso que eu, com esse débito, seria
prejudicado.
-Quer seu nome no Serasa. - interveio o
Cláudio.
-Reagi com fúria: “Que prejudicado?!...
Não tenho nada com a Claro, vou ser prejudicado em quê?” E veio a voz dele:
“Então fale com o ...” Atropelei-o de novo: “Eu não falo com ninguém.” E bati o
telefone na sua cara.
Com a tranquilidade de observador, meu
irmão me perguntou se eu assinara um contrato com a Claro.
-Claúdio, apenas houve um telefonema da
empresa, em que um sujeito veio com um canto de sereia em que exaltava a
rapidez da internet deles. Eu, que estava irritado com a Velox da Oi, que mais
parecia uma tartaruga, mostrei-me interessado. Ele, então, me pediu nome,
endereço. Depois disso, eu fui examinar meu contrato com a Oi e vi não
diferenciava do que eu encontraria na Claro: prometem uma potência, mas, na
prática, só cumprem com um percentual, que é previsto no contrato. Não quis
trocar seis por meia dúzia, e não me interessei mais pela proposta.
-Eles enviaram Modem, alguma
coisa?
-Nada! Eles me enviaram cartas de
cobrança, ignorei-as. Depois, vieram inúmeras cartas de débito e de ameaças de
nome no SERASA, que joguei no lixo. Eles sumiram uns oito meses e, agora,
vieram com esse telefonema.
-Você disse o seu CPF para eles?
-Costumo não passar meu CPF pelo
telefone, mas não tenho muita certeza.
Meu irmão contou, então, uma história
que eu desconhecia.
-Por ter morrido, o papai não pôde pagar
uma tarifa bancária de 29 reais. Sabe o que fizeram?...Colocaram o nome dele no
serviço de proteção ao crédito?... Logo o papai, que era um modelo de
honestidade. Paguei aquela porra, porque isso pode atrapalhar futuramente,
quando você precisa de certos papéis.
São as engrenagens que ignoram o ser
humano, previsto por Kafka. - pensei, mas disse outra coisa.
-Cláudio, eu entrego 200 reais a essa
operadora de telefonia, outro consumidor também entrega e assim vai; no fim,
essas empresas se tornam ainda mais milionárias e de maneira ilícita.
-Se colocarem seu nome no SERASA, nós
entramos com uma ação por perdas e danos. Veja, no computador, se o seu CPF
consta como devedor.
-Cláudio, eles estão blefando.
-Não custa nada ver; o Daniel lhe
mostra.
-Vamos lá, no computador, Carlão, ver se
você é mesmo caloteiro. - não perdeu meu sobrinho a piada.
Não perdi mais de um minuto com aquilo e
passei para o Facebook, que eu não acessava desde o dia 29 de dezembro,
enquanto isso, Daniel rumou para a sala em busca de outra tela, a da televisão.
Quanta coisa boa e quanta coisa péssima
surgiu diante de mim nas páginas do Facebook. Há alguns amigos virtuais que se
ajustam a uma frase do barão de Itararé, aquela que diz “de onde nada se espera
é que não sai nada mesmo”, pretendi eliminar esses “amigos”, mas esqueci os
comandos que o Daniel me ensinara. Não o chamei, porque ele revia pela enésima
vez as gravações em DVD dos gols do Fluminense no campeonato brasileiro.
-Daniel não nega que é neto do velho
Amaury que, quando o tricolor das Laranjeiras ganhava, ouvia as gravações dos
gols até na rádio Vera Cruz.
Saí do Facebook e passei para o meu
provedor em busca de um filme do Dieckmann que não consegui acessar em casa e
no trabalho.
Decididamente, o cineasta da Rua Triunfo
(mais uma razão para ele se considerar triunfante) retomou o tom professoral
das reuniões matinais das segundas-feiras, quando era coordenador-geral de
Transportes Marítimos do Departamento de Marinha Mercante. Mas passemos ao
vídeo.
As imagens atuais, enxertadas com as
barbeiragens de Hollywood, eram exibidas enquanto Dieckmann atuava como
narrador. Ele dizia como se deve fazer uma curva com um Jaguar (*), enquanto se
via um carro patinando. “Não procure, com o seu Jaguar, a quadratura da curva,
nem encurvar um quadrado.” – ensinou, com afetação de professor de geometria.
Em seguida, afirmou que o bom motorista é aquele que conduz o seu Jaguar a 50 km/h com um copo cheio
d' água no capô sem derramar uma gota sequer. Assiste-se então a um carro dessa
marca sendo conduzido por um bom tempo com um copo repleto de um liquido no
capô sem que uma gota fosse derramada. Não sei se o motorista era o Rubens Barrichello,
pois o nome do chofer não aparece nos créditos.
Trocando em miúdos: Dieckmann ensina
como manobrar “seu Jaguar” de maneira segura e eficiente. Se ele não tivesse
ideia fixa no felino automotivo, o seu filme poderia servir para o Fernando
Pedrosa, nosso amigo comum que assessora o deputado Hugo Leal, usar para a
campanha de educação no trânsito.
Cotação: bonequinho bebendo a água do
copo do capô do Jaguar.
A voz da Gina convergiu minha atenção;
ela voltava do supermercado. Aguardei que descansasse um pouco e depois fui até
ela.
-Trouxe de novo o medidor de glicose
para que você me ensine a usá-lo.
-Eu penso que aprendi na semana passada.
- disse ela um tanto titubeante.
-O Carlinhos quer levar as agulhadas do Luca.
- gozou meu irmão, que soube dos furos que ele me dera no Sabadoido passado.
-Com a caneta lancetadora, a picada é
quase imperceptível. - acalmei-me.
Pois foi justamente com esse dispositivo
que minha cunhada se atrapalhou. Quando eu já me imaginava sendo de novo furado
pelo Luca, ela acertou-se com a lanceta e tudo correu bem.
(*) o
mencionado tom professoral deve ter se perdido com o passar dos tempos. Este
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO entrou em contato com o mencionado
Dieckmann, que atribuiu a baixa percepção automobilística do redator às
lancetadas frequentes que leva, certamente nem sempre tão bem sucedidas como a
descrita no texto de hoje. O carro que entorta na curva é um MG Magnette ZB.
Quanto ao
pequeno conversível azul claro que leva um copo de água colorida (Dieckmann
alerta que jamais aconselharia alguém beber aquilo) nem de longe lembra
qualquer modelo Jaguar; trata-se de um Sunbeam Rapier Series II – não confundir
com os eletrodomésticos Sunbeam.
O
Distribuidor comenta que, como professor, o Dieckmann é um ótimo colecionador
de carros antigos e só. Revendo o filme, informa que o único Jaguar de tamanho
real em movimento (**) que aparece é um XK 140 FHC, numa cena bem humorada em
que o dono de um Bubble-Car vermelhinho passa no exame, tira o L de aprendiz e
pega o Jaguar, mostrando que um aprendiz é aprovado com um carro e pode dirigir
qualquer coisa, no caso, um carro inteiramente incompatível com o teste
realizado.
Agora,
caro(a) leitor(a) reflita: se o Distribuidor pode avaliar os automóveis antigos
com precisão, com ajuda do Google, por que o redator não se esforça um
pouquinho?
Links:
Filme - http://vimeo.com/55456356
Carro preto:
https://www.google.com.br/images?q=1953+mg+magnette+zb&hl=pt-PT&gbv=2&gs_l=heirloom-hp.1.8.0i19l10.3524.8650.0.13196.7.7.0.0.0.0.208.1189.0j6j1.7.0...0.0...1c.1.ipaHoSpKhZY&oq=1953+mg+magnette+zb
Carro azul: http://en.wikipedia.org/wiki/Sunbeam_Rapier
(**) Aparece
um modelo vermelho de XK 120 FHC aos dois minutos e trinta segundos. E logo na
primeira fotografia, o Jaguar verde do Dieckmann, um XK-120 OTS, segundo o
Google.
Comentando
isso com o Dieckmann, ele, claro, rebarbou: em 1950, ano do XK em pauta, só
havia o modelo Roadster (OTS é Open Two Seater, termo para os americanos) e,
portanto, não havia necessidade de botar quaisquer letrinhas a mais. O carro
era vendido como XK-120 e pronto.
Eita!
Esse Distribuidor não entende nada de Sunbeam Rapier. Chamou de Series II um evidente exemplar do Series III, de 1959 em diante, que é facilmente reconhecível pelos 4 frisos na grase e parabrisas maior. Com ajudantes desse quilate, não é admirar que a Distribuição anda patinando. E ainda diz que falou comigo.
ResponderExcluirRoberto Dieckmann
Prezado Roberto Dieckmann,
ResponderExcluirA pressa em distribuir a edição não permitiu que eu visse a matéria sobre o Sunbeam Rapier em sua íntegra. Isso confirma que a pressa é inimiga da perfeição e que o baixo salário que o redator impõe a seus vassalos ainda piora a situação.
Efetivamente o automóvel azul-claro é um Sunbeam Rapier Series III e em nome do seu O BISCOITO MOLHADO, eu agradeço muito a sua inestimável colaboração,
O Distribuidor