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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

2304 - é tudo verdade


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4105                   Data: 03 de janeiro  de 2013
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FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS VI

Segue a frase do insigne pianista brasileiro Nélson Freire:
As pessoas andam tossindo muito nos concertos; para o artista, o silêncio é até melhor do que as palavras.
Os compositores, principalmente os românticos, substituíam, algumas vezes, uma nota musical pelo silêncio, pois este expressa, em certos momentos, uma carga emocional maior. Li isso de um musicólogo que escrevia no Globo, na década de 60 e entesourei na minha mente.
È irritante quando se escuta, por exemplo, uma ópera, uma sinfonia ou um concerto e se ouvem tosses; pior, ainda, é claro, se estamos na plateia. A tosse é contagiosa, basta um tossir e logo temos uma sinfonia de Beethoven, de um lado e uma de tosse, de outro. É insuportável e não se trata aqui de intolerância. Chopin tocou em concertos, tuberculoso e nunca se soube que ele, ou outro instrumentista tísico, tenha interrompido sua apresentação para tossir. Não falo dos maestros, pois eles, geralmente, gozam de boa saúde, passando dos 80 anos de idade.
Já contei neste periódico que assisti a uma Madame Butterfly no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a Leila Guimarães e o Eduardo Álvares como protagonistas. Tratava-se de uma récita beneficente, a bilheteria estava destinada às vítimas das enchentes em Santa Catarina. O teatro estava lotado e uma senhora, a uns dois bancos de mim, não parava de tossir. A Madame Butterfly sendo enganada pelo tenente Pinkerton e ela tossindo. A Madame Butterfly, já com um filho, sofrendo porque o tenente Pinkerton não retornava e a mulher tossindo. Parecia que ela saíra do “Sanatorinho”, das memórias do Nélson Rodrigues, direto para o Teatro Municipal. Quando os acordes de Puccini anunciaram a proximidade da grande ária do soprano, Un bel dí vedremo, um senhor repreendeu a tossigosa com tamanha veemência que ela não tossiu durante a ária nem no restante da ópera. Aquela reprimenda foi mais eficiente do que qualquer xarope.

C.P. Scott dirigiu, durante 60 anos, The Guardian, jornal liberal da Grã-Bretanha. Ele cunhou uma frase significativa:
O comentário é livre, mas os fatos são sagrados.
Mais de uma vez eu assisti ao czar da economia brasileira no governo Figueiredo, Delfim Neto, justificando as medidas desenvolvimentistas que ele tomou quando o mundo sofria, em 1979, uma crise econômica com o segundo choque da majoração do preço do petróleo e entrava em recessão. Segundo Delfim Netto, se não agisse como agiu, o país estaria, hoje, numa situação pior, com taxas de crescimento niveladas a de países subdesenvolvidos. Porém o fato inabalável, sagrado (como disse C.P. Scott) é que o Brasil quebrou fragorosamente em 1982 com o Delfim no comando.
E o Sarney justificando o Plano Cruzado?... Afirma ele, que graças ao plano que foi engendrado no seu governo, os brasileiros tiveram noção de cidadania o que os preparou para um futuro mais promissor. O fato inexorável é que Sarney, ao deixar a presidência da República, a inflação era de 3% ao dia, e estava em moratória.

No clássico do cinema, O Homem que Matou o Facínora, de John Ford. O personagem do ator James Stewart, agora um destacado político em Washington, retorna à cidade do faroeste americano, Shinbone, para revelar, na redação do jornal local, que quem matou o facínora Liberty Valance, não foi ele, e sim Ringo, o pistoleiro vivido por John Wayne, que intuiu que a sua época de mestre no gatilho chegava ao fim. Procurava, assim, corrigir um erro histórico (*), pois a fama de ter vencido em duelo o facínora o catapultou para o mundo político.
O redator e editor do Shinbone News o escuta com atenção e conclui:
“Quando o mito supera a realidade, publica-se o mito.”
Isso não significa que o fato foi desrespeitado. Trata-se de uma frase cinematográfica. A plateia, o que importa, saiu do cinema sabendo quem, de fato, matou Liberty Valance.


O povo não sabe votar.
Eis uma frase do Pelé que, infelizmente, carrega uma grande dose de verdade, mas que foi dita num momento inteiramente inoportuno, na ditadura militar.
Ademar de Barros, mesmo dizendo que roubava, mas fazia, era eleito. Maluf, que roubava tanto que nem precisava de justificativa para inaugurar suas obras em que grassava a roubalheira, era eleito e reeleito, Assim, aconteceu com Fernando Collor de Mello, José Sarney, Renan Calheiros e outros que, caso a justiça fosse menos cega, estariam na cadeia.
Temos agora o Lula que, mesmo afundado até o último fio do cabelo em malfeitos, deixa os analistas políticos indecisos na hora de afirmar que a sua carreira política está encerrada. São muitos os populares que lhe são gratos, pois Lula, aproveitando a economia estabilizada pelo governo anterior e o chorrilho de compras das mercadorias brasileiras pelos chineses, promoveu um grande avanço da classe D para a classe C. É verdade também que nunca os banqueiros, com os juros altos e os empreiteiros ganharam tanto dinheiro. Caso se candidate à presidência da República, em 2014, com banqueiros e empreiteiros abrindo os cofres para a sua campanha e com eleitores receptivos às falcatruas, o Brasil corre o risco de vê-lo de novo com a faixa presidencial.
Mas não é um “privilégio” do brasileiro votar mal, os americanos também o fazem. Elegeram Jimmy Carter em 1976, a inflação chegou aos dois dígitos; mas não foi só isso: os diplomatas americanos foram sequestrados no Irã. Resultado, em 1980, ele não foi reeleito. O americano votou mal, mas depois corrigiu o erro.
Concluímos que é até compreensível que o eleitorado vote mal, o problema nosso é que não corrigimos o erro. O maior investimento em educação  seria um avanço, mas qual o político que quer tirar a venda dos olhos das massas populares?

Eles  me aplaudem porque me entendem, e o aplaudem porque ninguém o entende.
 A frase acima foi dita por Charles Chaplin a Einstein, quando os dois passavam e foram ovacionados pelo público.
A mímica, a pantomima, a comicidade e mesmo a poesia do Carlito eram entendidas por todos, e a Teoria da Relatividade? O próprio Einstein confessou que depois de os matemáticos tentarem, através de fórmulas, explicar a sua Teoria, ele não a entendeu mais.
Importa que ali estava um gênio consagrado por outros cientistas, portanto a função dos ignorantes, como nós,  é aplaudi-lo. Quando um povo não aplaude um gênio é preocupante.

(*) Erro histórico por erro histórico: o Senador Stoddard (James Stewart) voltou a Shinbone para o funeral de Tom Doniphon (John Wayne). Foi entrevistado e procurou corrigir o erro histórico, pois, realmente, quem matara Liberty Valance (Lee Marvin) tinha sido Tom Doniphon, só que este estava escondido, enquanto o Senador estava na rua com um revólver na mão, na frente do bandido Valance e tendo sido desafiado por este. O tiro do Senador e de Doniphon foi ao mesmo tempo, de modo que todos pensaram que foi um tiro só, embora o Senador estivesse de revólver e o Doniphon com uma Winchester. Sob uma ótica mais rigorosa, Liberty Valance foi vítima de uma emboscada, ainda que, politicamente correta. Esse Ringo do texto do seu O BISCOITO MOLHADO devia estar em outro filme.



                                                                                           

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