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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4090 Data: 14 de dezembro de
2012
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FRASES ORIGINAIS
E COMENTÁRIOS
Sobre um lobista que apareceu com um
projeto para ser executado pelo governo, Mario Henrique Simonsen, quando
ministro do Planejamento do presidente Figueiredo, deu a seguinte ordem:
Deem-lhe a comissão e esqueçam o
projeto.
Não sei se a frase é exatamente esta,
mas o sentido, sim. Duvido também que o lobista tenha saído com os 10% no
bolso, mas que o ministro foi espirituoso não resta a menor dívida.
O Brasil estaria hoje bem melhor se vários projetos
não saíssem do papel e apenas fosse paga a comissão. Seria um lucro de
90%. É verdade que há lobista
ganancioso, hoje em dia, que pede mais de 10%.
Talleyrand foi uma das maiores, se não,
a maior raposa da política que já existiu. Sabia como ninguém para onde o vento
soprava e, muitas vezes, contribuiu para direcionar o vento. Houve rupturas
sangrentas na França, com a Revolução Francesa e suas consequências, mas Talleyrand
sempre participava do poder.
Foi nomeado ministro das Relações
Exteriores (1797-1799), contribuiu para o golpe de Estado de 18 de Brumário (*),
unindo-se a Napoleão. Tornou-se grão-camarista e príncipe de Benevento por
nomeação de Napoleão I.
Com a queda do Imperador, com a qual
contribuiu, Talleyrand se tornou chefe do governo provisório até a volta ao
poder de Luís XVIII. Este o nomeou
ministro das Relações Exteriores e plenipotenciário francês no Congresso de
Viena, que decidiria o destino dos países da Europa, em 1815. A missão de
Talleyrand era dificílima, pois defenderia um país derrotado, que corria o
risco de perder grande parte do seu território. Mas a astúcia do diplomata
francês se fez presente e, ele, no Congresso de Viena, dividiu os Aliados, o
que permitiu que a França voltasse a ser de novo uma nação soberana.
Sabendo que a volta de Napoleão da ilha
de Elba ao poder na França nada mais era que um espasmo que antecipa o fim,
aguardou os acontecimentos e, depois de Waterloo, Talleyrand se tornou outra
vez chefe do governo. Com o retorno do rei, retornou ao cargo de grão-camarista
e foi nomeado par de França. Ao final da
Restauração, passou para a oposição liberal e foi um dos autores do
estabelecimento da Monarquia de Julho. Luís Felipe o nomeou embaixador em
Londres (1830 a
1834).
Terminada essa resenha biográfica,
passemos para uma das suas muitas frases, antes uma explicação:
Corria pela França que Talleyrand
aceitava propinas nos cargos que exercia e que, certa vez, pediram-lhe um
favor, com a oferta de “x”, em dinheiro e a garantia de sigilo absoluto. Disse
Talleyrand:
Dê-me o dobro e pode contar para todo o mundo.
A frase que se segue é praticamente uma
anedota, e portuguesa; os brasileiros não são as vítimas, não é uma reação às
nossas piadas. Eu a ouvi no canal estatal de lá e ironizava as constantes
viagens de Mário Soares, que liderou Portugal por um bom tempo.
Deus está em todos os lugares, e Mário Soares já
esteve.
O mineiro só é solidário no câncer.
Há quem afirme que essa frase é do
Nélson Rodrigues e que ele a atribuiu, maliciosamente, ao Otto Lara Resende. O
meu pensamento também foi esse, porém, depois de ler trechos da biografia do
grande intelectual mineiro, não tive dúvidas que a frase era mesmo dele, pois
sofreu com as reações intempestivas dos religiosos moralistas da sua terra
natal. Nélson Rodrigues a repetiu obsessivamente na sua obra “Bonitinha, mas
ordinária”; de tão citada, a peça de teatro recebeu o título: “Otto Lara Resende
ou Bonitinha, mas ordinária.”
O poeta Carlos Drummond de Andrade interpretou aquilo
tudo como deboche e insuflou o seu conterrâneo a reagir; Otto respondeu que, no
quinto ato, daria um tiro no Nélson.
Não tem pão, comam brioches.
Eis uma frase atribuída à Rainha Maria Antonieta, que
açulou ainda mais a ira dos revoltosos franceses e, que, na verdade, é da
autoria do filósofo do iluminismo, Jean-Jacques Rousseau. Aqui, imprimiram a
lenda.
Falando nisso, temos de citar a frase do
redator do jornal “Shinbone News“, quando soube pelo senador que não fora este,
e sim o pistoleiro Ringo quem matara o facínora, no filme clássico de John
Ford:
Aqui é o oeste; quando a lenda supera o fato,
imprime-se a lenda.
Balzac tem uma obra caudalosa. Já foi
dito que tantos foram seus personagens, que rivalizava com o registro público.
O pai de realismo, na leitura, não foi um Mozart, pelo contrário, seu talento
despontou quase que na idade em
que Mozart morreu; com 31 anos, quando criou o romance “A
Pele de Onagro”. Faleceu cedo, mal atingindo os 50, criando a sua formidável
obra em apenas vinte anos, e publicou 95 livros, um espanto até para um
escritor macróbio. Ele descreveu a
ascensão da burguesia com a perda de poder político e econômico da monarquia.
Não foi sem razão que Marx e Engels eram leitores das obras de Balzac e
revelaram que nelas aprenderam muito sobre a distribuição do dinheiro,
Disse Balzac:
Oito dias de férias! Poderia ter escrito mais um
livro.
Balzac colocou numa frase o métoto
cartesiano da dúvida sistemática, ou seja, não tomar nada como verdade
absoluta. O pensamento do grande filósofo e matemático francês não se encontra
só na Filosofia, também se aplica na Administração de Empresas, quando
estudamos essa matéria. A frase que se segue, de Balzac, resume o que
escrevemos toscamente e, acredito, que ao proferi-la ele nem pensava em
Descartes.
A chave de todas as ciências é inegavelmente o ponto
de interrogação.
Balzac não se constrangia nos locais em
que estivesse. Conheceu a princesa polonesa Heveline Hanska, que se apaixonara
por ele sem vê-lo, mas lendo-o. Trocaram inúmeras cartas até que Balzac
realizou uma penosa viagem até a Ucrânia para conhecerem-se; na época, ela
ainda era casada. Mais tarde, viúva, os dois contraíram núpcias.
Disse Balzac:
Esse privilégio de sentir-me em casa em qualquer lugar
pertence apenas aos reis, às prostitutas e aos ladrões.
Esta frase de Balzac nos remete a uma
personalidade da música que estava, porém mais enamorado de si do que de
qualquer outra pessoa, o maestro Herbert von Karajan. Ao pegar um táxi em
Londres, onde acabara de chegar, respondeu ao taxista que lhe perguntara para
onde iria:
A qualquer lugar, em todos os lugares eu sou esperado.
(*) 18 de Brumário de IV é uma data,
correspondente a 9 de novembro de 1799 no nosso calendário, o Gregoriano. Cabe
transcrever uma explicação a respeito, obtida na Wikipédia:
O golpe de
Estado de 18 de Brumário (do calendário revolucionário francês,
9 de novembro
de 1799)
iniciou a ditadura napoleônica na França.
Os admiradores de Napoleão criaram um jornal em Paris que divulgava a
imagem de um general patriota, invencível e adorado por seus soldados. Nacionalismo,
glórias militares, ideal de igualdade: essas ideias fascinavam os franceses.
Quando os idealizadores do
golpe derrubaram o Diretório e criaram o Consulado, estabelecendo um novo
governo na França, o jovem general Napoleão Bonaparte assumiu o cargo de
primeiro-cônsul em meio a uma crise generalizada.
Foi acolhido com entusiasmo
pela burguesia, que aspirava à paz, à ordem interna e à retomada normal das
atividades. Os conspiradores do golpe não temiam o general Bonaparte, escolhido
para liderar o movimento, pois acreditavam que acabariam por reduzir sua
importância.
A burguesia
e os políticos astutos do Diretório perceberam que o
general Bonaparte era o homem certo para consolidar o novo regime.
Propuseram-lhe que utilizasse a força do exército para assumir o governo. Assim
foi feito. Numa ação eficaz, apesar de tumultuada, Napoleão fechou a Assembléia
do Diretório. Foi o golpe que ocorreu no dia 18 do mês de brumário
do ano IV, que no calendário gregoriano em uso na atualidade é 9 de novembro de
1799. Durante essa época, a burguesia consolidaria seu poder econômico.
O Golpe do 18 de Brumário
marcou o início do Consulado, que foi quando a burguesia,
como meio de terminar a revolução, que já durava dez anos (de 1789 a 1799), concentrou o
poder na mão de três cônsules: Napoleão Bonaparte, Roger Ducos,
e Emmanuel Joseph Sieyès.
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