Total de visualizações de página

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

2290 - fraseado imortal


----------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4090                     Data: 14 de dezembro de 2012
--------------------------------------------------------------

FRASES ORIGINAIS  E COMENTÁRIOS

Sobre um lobista que apareceu com um projeto para ser executado pelo governo, Mario Henrique Simonsen, quando ministro do Planejamento do presidente Figueiredo, deu a seguinte ordem:
Deem-lhe a comissão e esqueçam o projeto.
Não sei se a frase é exatamente esta, mas o sentido, sim. Duvido também que o lobista tenha saído com os 10% no bolso, mas que o ministro foi espirituoso não resta a menor dívida.
O Brasil estaria hoje bem melhor se vários projetos não saíssem do papel e apenas fosse paga a comissão. Seria um lucro de 90%.  É verdade que há lobista ganancioso, hoje em dia, que pede mais de 10%.


Talleyrand foi uma das maiores, se não, a maior raposa da política que já existiu. Sabia como ninguém para onde o vento soprava e, muitas vezes, contribuiu para direcionar o vento. Houve rupturas sangrentas na França, com a Revolução Francesa e suas consequências, mas Talleyrand sempre participava do poder.
Foi nomeado ministro das Relações Exteriores (1797-1799), contribuiu para o golpe de Estado de 18 de Brumário (*), unindo-se a Napoleão. Tornou-se grão-camarista e príncipe de Benevento por nomeação de Napoleão I.
Com a queda do Imperador, com a qual contribuiu, Talleyrand se tornou chefe do governo provisório até a volta ao poder de Luís XVIII.  Este o nomeou ministro das Relações Exteriores e plenipotenciário francês no Congresso de Viena, que decidiria o destino dos países da Europa, em 1815. A missão de Talleyrand era dificílima, pois defenderia um país derrotado, que corria o risco de perder grande parte do seu território. Mas a astúcia do diplomata francês se fez presente e, ele, no Congresso de Viena, dividiu os Aliados, o que permitiu que a França voltasse a ser de novo uma nação soberana.
Sabendo que a volta de Napoleão da ilha de Elba ao poder na França nada mais era que um espasmo que antecipa o fim, aguardou os acontecimentos e, depois de Waterloo, Talleyrand se tornou outra vez chefe do governo. Com o retorno do rei, retornou ao cargo de grão-camarista e foi nomeado par de França.  Ao final da Restauração, passou para a oposição liberal e foi um dos autores do estabelecimento da Monarquia de Julho. Luís Felipe o nomeou embaixador em Londres (1830 a 1834).
Terminada essa resenha biográfica, passemos para uma das suas muitas frases, antes uma explicação:
Corria pela França que Talleyrand aceitava propinas nos cargos que exercia e que, certa vez, pediram-lhe um favor, com a oferta de “x”, em dinheiro e a garantia de sigilo absoluto. Disse Talleyrand:
Dê-me o dobro e pode contar para todo o mundo.


A frase que se segue é praticamente uma anedota, e portuguesa; os brasileiros não são as vítimas, não é uma reação às nossas piadas. Eu a ouvi no canal estatal de lá e ironizava as constantes viagens de Mário Soares, que liderou Portugal por um bom tempo.
Deus está em todos os lugares, e Mário Soares já esteve.


O mineiro só é solidário no câncer.
Há quem afirme que essa frase é do Nélson Rodrigues e que ele a atribuiu, maliciosamente, ao Otto Lara Resende. O meu pensamento também foi esse, porém, depois de ler trechos da biografia do grande intelectual mineiro, não tive dúvidas que a frase era mesmo dele, pois sofreu com as reações intempestivas dos religiosos moralistas da sua terra natal. Nélson Rodrigues a repetiu obsessivamente na sua obra “Bonitinha, mas ordinária”; de tão citada, a peça de teatro recebeu o título: “Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária.”
O poeta Carlos Drummond de Andrade interpretou aquilo tudo como deboche e insuflou o seu conterrâneo a reagir; Otto respondeu que, no quinto ato, daria um tiro no Nélson.


Não tem pão, comam brioches.
Eis uma frase atribuída à Rainha Maria Antonieta, que açulou ainda mais a ira dos revoltosos franceses e, que, na verdade, é da autoria do filósofo do iluminismo, Jean-Jacques Rousseau. Aqui, imprimiram a lenda.


Falando nisso, temos de citar a frase do redator do jornal “Shinbone News“, quando soube pelo senador que não fora este, e sim o pistoleiro Ringo quem matara o facínora, no filme clássico de John Ford:
Aqui é o oeste; quando a lenda supera o fato, imprime-se a lenda.


Balzac tem uma obra caudalosa. Já foi dito que tantos foram seus personagens, que rivalizava com o registro público. O pai de realismo, na leitura, não foi um Mozart, pelo contrário, seu talento despontou quase que na idade em que Mozart morreu; com 31 anos, quando criou o romance “A Pele de Onagro”. Faleceu cedo, mal atingindo os 50, criando a sua formidável obra em apenas vinte anos, e publicou 95 livros, um espanto até para um escritor macróbio.  Ele descreveu a ascensão da burguesia com a perda de poder político e econômico da monarquia. Não foi sem razão que Marx e Engels eram leitores das obras de Balzac e revelaram que nelas aprenderam muito sobre a distribuição do dinheiro,
Disse Balzac:
Oito dias de férias! Poderia ter escrito mais um livro.

Balzac colocou numa frase o métoto cartesiano da dúvida sistemática, ou seja, não tomar nada como verdade absoluta. O pensamento do grande filósofo e matemático francês não se encontra só na Filosofia, também se aplica na Administração de Empresas, quando estudamos essa matéria. A frase que se segue, de Balzac, resume o que escrevemos toscamente e, acredito, que ao proferi-la ele nem pensava em Descartes.
A chave de todas as ciências é inegavelmente o ponto de interrogação.


Balzac não se constrangia nos locais em que estivesse. Conheceu a princesa polonesa Heveline Hanska, que se apaixonara por ele sem vê-lo, mas lendo-o. Trocaram inúmeras cartas até que Balzac realizou uma penosa viagem até a Ucrânia para conhecerem-se; na época, ela ainda era casada. Mais tarde, viúva, os dois contraíram núpcias.
Disse Balzac:
Esse privilégio de sentir-me em casa em qualquer lugar pertence apenas aos reis, às prostitutas e aos ladrões.


Esta frase de Balzac nos remete a uma personalidade da música que estava, porém mais enamorado de si do que de qualquer outra pessoa, o maestro Herbert von Karajan. Ao pegar um táxi em Londres, onde acabara de chegar, respondeu ao taxista que lhe perguntara para onde iria:
A qualquer lugar, em todos os lugares eu sou esperado.


 (*) 18 de Brumário de IV é uma data, correspondente a 9 de novembro de 1799 no nosso calendário, o Gregoriano. Cabe transcrever uma explicação a respeito, obtida na Wikipédia:

O golpe de Estado de 18 de Brumário (do calendário revolucionário francês, 9 de novembro de 1799) iniciou a ditadura napoleônica na França. Os admiradores de Napoleão criaram um jornal em Paris que divulgava a imagem de um general patriota, invencível e adorado por seus soldados. Nacionalismo, glórias militares, ideal de igualdade: essas ideias fascinavam os franceses.
Quando os idealizadores do golpe derrubaram o Diretório e criaram o Consulado, estabelecendo um novo governo na França, o jovem general Napoleão Bonaparte assumiu o cargo de primeiro-cônsul em meio a uma crise generalizada.
Foi acolhido com entusiasmo pela burguesia, que aspirava à paz, à ordem interna e à retomada normal das atividades. Os conspiradores do golpe não temiam o general Bonaparte, escolhido para liderar o movimento, pois acreditavam que acabariam por reduzir sua importância.
A burguesia e os políticos astutos do Diretório perceberam que o general Bonaparte era o homem certo para consolidar o novo regime. Propuseram-lhe que utilizasse a força do exército para assumir o governo. Assim foi feito. Numa ação eficaz, apesar de tumultuada, Napoleão fechou a Assembléia do Diretório. Foi o golpe que ocorreu no dia 18 do mês de brumário do ano IV, que no calendário gregoriano em uso na atualidade é 9 de novembro de 1799. Durante essa época, a burguesia consolidaria seu poder econômico.
O Golpe do 18 de Brumário marcou o início do Consulado, que foi quando a burguesia, como meio de terminar a revolução, que já durava dez anos (de 1789 a 1799), concentrou o poder na mão de três cônsules: Napoleão Bonaparte, Roger Ducos, e Emmanuel Joseph Sieyès.



Nenhum comentário:

Postar um comentário