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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4099 Data: 26 de dezembro de 2012
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FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS
PARTE V
Aquele que deseja construir torres
altas deverá permanecer longo tempo nas fundações.
A frase acima é de Anton Bruckner, um
compositor austríaco, com suas obras até hoje no repertório das orquestras, que
nasceu em Ansfelden, em 1824 e faleceu em Viena, 1896.
Como muitas das suas criações são
monumentos sinfônicos, disse o que se lê acima em negrito.
O que foi dito por ele extrapola a
música. Vejam como se dá a germinação do bambu chinês. Ele leva cinco anos para
despontar no solo; seu desenvolvimento é subterrâneo longe dos olhos humanos,
e, nesse tempo, a sua raiz se torna portentosa. No quinto ano, o bambu aparece
e cresce com a rapidez que uma árvore não alcança, e chega aos vinte e cinco
metros. Sendo uma gramínea, o bambu
chinês alcança os 18
metros em 60 dias, enquanto as espécies arbóreas demoram
60 anos.
Ouro verde para os chineses, há milênios
é utilizado nas construções de habitações pela sua consistência invencível.
Essa força veio dos cinco anos em que se formou sem aparecer.
Já encontramos textos que recorrem à comparação
com essa gramínea, como o se segue resumido por nós:
“Na maioria das vezes, nós dedicamos
tempo, esforço, amor e nada aparece, mas o tempo não é perdido, pois é o tempo
em que o crescimento está sendo nutrido que, às vezes, demanda alguns anos. Contudo,
valerá a pena, pois o crescimento será vertiginoso.”
Evidentemente que a educação, os anos em
que nos formamos intelectualmente, cabe nesse contexto.
Reportando-nos à política, podemos ter a
certeza de que os políticos pensam nas próximas eleições e os estadistas nas
gerações futuras.
Enfim, tudo acima pode ser resumido numa
frase do poeta que nasceu em Praga e escreveu em alemão, Rainer Maria Rilke:
Tudo quando é velocidade não será mais do que passado,
porque só aquilo que demora nos inicia.
Para descontrair, aqui vai uma das
centenas de frases espirituosas de Groucho Marx:
Eu bebo para fazer as outras pessoas
interessantes.
Bem, isso pode acontecer com Groucho
Marx e com poucas pessoas que tomam as suas talagadas de bebida alcoólica, ou
seja, esses são a exceção, não a regra, pois os bêbados são incômodos e para
aturá-los só se estivermos bêbados também.
Mas há bêbados interessantes; no campo
ficcional, temos o personagem de Harry Myers, o homem rico do filme Luzes da
Cidade, que, quando bêbado, trata o vagabundo do Charles Chaplin, com todas
as regalias possíveis, mas, sóbrio, o escorraça como um cão pulguento. Bertolt
Brecht gostou tanto dessa figura contraditória, que solicitou a permissão de
Charles Chaplin para caracterizar um
personagem parecido na peça que escrevia, O Senhor Putila e seu criado Matti.
No caso, deu-se o avesso do que escreveu Groucho Marx,
pois o interessante era o bêbado.
Bem chegou a hora de voltarmos ao grande
escritor e humorista americano Mark Twain.
Em certas ocasiões, o palavrão é um
alívio inatingível pela oração.
Algumas décadas atrás, levava-se surra
dos pais, caso se proferisse um palavrão. Havia exagero no castigo, mas o
palavrão era valorizado.
O dramaturgo Nélson Rodrigues também era
maldito porque seus personagens diziam palavrões que, no entanto, eram poucos,
pois eles diziam nas ocasiões certas. Vem-me à mente o Seu Noronha, da peça “Os
Sete Gatinhos”, pai de cinco moças, quando é chamado de contínuo. Humilhado ao
extremo pela sua profissão, reage com um retumbante palavrão nas fuças do ofensor.
Para o personagem rodriguiano, foi um alívio inatingível pela oração; os
espectadores percebem logo.
Atualmente, banalizaram o palavrão, foi transformado,
em muitas falas, em
vírgula. Vêem-se pais e filhos se tratando por palavras de
baixo calão sem nenhuma intenção ofensiva e com total falta de respeito.
Infelizmente, o palavrão perdeu a sua carga emotiva, deixou de ser o alívio
inatingível de que falava Mark Twain.
A primeira qualidade do estilo é a
clareza.
Essa frase dita por Aristóteles há 2000
anos continua verdadeira até hoje, como muitos pensamentos desse filósofo. Não foi à toa que a figura mais proeminente
do pensamento cristão medieval, São Tomás de Aquino, conciliou a filosofia de
Aristóteles com o cristianismo.
Muitos autores redigem um cipoal de
ideias que, para alguns, é a fuga da superficialidade, mas, muitas vezes, não
passa de afetação de intelectual, que não sabe direito o que pensa e joga o que
não entende no papel. Não será o pobre leitor que o entenderá.
No cinema, principalmente, na década de
60, houve uma miríade de filmes em que ninguém entendia nada; ainda assim,
aplaudiam; pura pose intelectual.
Clareza, bem entendido, não é superficialidade.
Na dúvida, diga a verdade.
O
conselho acima foi dado por uma das personalidades mais lúcidas do século
XVIII, Voltaire.
Se se vai mentir, tem-se de ser
convicto. Nélson Rodrigues narra o caso de uma adúltera que, pega em flagrante
pelo marido, negou com uma veemência tão impressionante, que o próprio amante
ficou em dúvida se tinha feito sexo com ela.
Há o caso do Botafogo de Futebol e
Regatas que, depois de 20 anos sem ser campeão, no campeonato carioca,
1968-1988, chegou à decisão do título de 1989 contra o Flamengo. O primeiro
tempo terminou 0x0 e, no intervalo, o ponta-direita do Botafogo, Maurício, se
dirigiu ao técnico com desalento, sofria de uma forte gripe e não tinha
condições de voltar para o segundo tempo. O técnico Valdir Espinosa foi
peremptório, disse que de jeito nenhum o tiraria do jogo, pois sonhara que o
gol do título tinha sido marcado por ele. Maurício voltou para o segundo tempo
e o gol que tirou o clube do jejum de 20 anos foi marcado por ele. No
vestiário, Maurício procurou o Valdir Espinosa dizendo que o seu sonho se
realizara.
-Que sonho?!... Eu não sonhei nada, não.
Mas essa é uma das poucas ocasiões em que a mentira é
bem vinda. (*)
Errar é humano: mais humano ainda é
atribuir o erro aos outros.
O excelente contista, teatrólogo e
figura humana, o russo Anton Tchekhov, cunhou essa frase.
Como mais acima enveredamos pelo
futebol, vamos continuar com ele por momentos.
Havia um técnico, cujo exemplo foi
seguido por outros, que seguia a seguinte diretriz no término das partidas: eu
ganhei, nós empatamos, eles perderam.
Na política, é bem mais comum atribuir a
autoria dos seus erros aos outros.
Antes de encerrar por hoje, alerto que
os erros deste texto foram cometidos pelos revisores. (**)
(*) De onde
se conclui que o título também não aconteceu e, se acontecesse, seria uma obra de
ficção.
(**) Com
esses salários?
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