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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

2299 - juro que é bambu

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4099                    Data: 26  de dezembro de 2012
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FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS
PARTE V

Aquele que deseja construir torres altas deverá permanecer longo tempo nas fundações.
A frase acima é de Anton Bruckner, um compositor austríaco, com suas obras até hoje no repertório das orquestras, que nasceu em Ansfelden, em 1824 e faleceu em Viena, 1896.
Como muitas das suas criações são monumentos sinfônicos, disse o que se lê acima em negrito.
O que foi dito por ele extrapola a música. Vejam como se dá a germinação do bambu chinês. Ele leva cinco anos para despontar no solo; seu desenvolvimento é subterrâneo longe dos olhos humanos, e, nesse tempo, a sua raiz se torna portentosa. No quinto ano, o bambu aparece e cresce com a rapidez que uma árvore não alcança, e chega aos vinte e cinco metros.  Sendo uma gramínea, o bambu chinês alcança os 18 metros em 60 dias, enquanto as espécies arbóreas demoram 60 anos.
Ouro verde para os chineses, há milênios é utilizado nas construções de habitações pela sua consistência invencível. Essa força veio dos cinco anos em que se formou sem aparecer.
Já encontramos textos que recorrem à comparação com essa gramínea, como o se segue resumido por nós:
“Na maioria das vezes, nós dedicamos tempo, esforço, amor e nada aparece, mas o tempo não é perdido, pois é o tempo em que o crescimento está sendo nutrido que, às vezes, demanda alguns anos. Contudo, valerá a pena, pois o crescimento será vertiginoso.”
Evidentemente que a educação, os anos em que nos formamos intelectualmente, cabe nesse contexto.
Reportando-nos à política, podemos ter a certeza de que os políticos pensam nas próximas eleições e os estadistas nas gerações futuras.
Enfim, tudo acima pode ser resumido numa frase do poeta que nasceu em Praga e escreveu em alemão, Rainer Maria Rilke:
Tudo quando é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia.


Para descontrair, aqui vai uma das centenas de frases espirituosas de Groucho Marx:
Eu bebo para fazer as outras pessoas interessantes.
Bem, isso pode acontecer com Groucho Marx e com poucas pessoas que tomam as suas talagadas de bebida alcoólica, ou seja, esses são a exceção, não a regra, pois os bêbados são incômodos e para aturá-los só se estivermos bêbados também.
Mas há bêbados interessantes; no campo ficcional, temos o personagem de Harry Myers, o homem rico do filme Luzes da Cidade, que, quando bêbado, trata o vagabundo do Charles Chaplin, com todas as regalias possíveis, mas, sóbrio, o escorraça como um cão pulguento. Bertolt Brecht gostou tanto dessa figura contraditória, que solicitou a permissão de Charles Chaplin para caracterizar  um personagem parecido na peça que escrevia, O Senhor Putila e seu criado Matti.
No caso, deu-se o avesso do que escreveu Groucho Marx, pois o interessante era o bêbado.


Bem chegou a hora de voltarmos ao grande escritor e humorista americano Mark Twain.
Em certas ocasiões, o palavrão é um alívio inatingível pela oração.
Algumas décadas atrás, levava-se surra dos pais, caso se proferisse um palavrão. Havia exagero no castigo, mas o palavrão era valorizado.
O dramaturgo Nélson Rodrigues também era maldito porque seus personagens diziam palavrões que, no entanto, eram poucos, pois eles diziam nas ocasiões certas. Vem-me à mente o Seu Noronha, da peça “Os Sete Gatinhos”, pai de cinco moças, quando é chamado de contínuo. Humilhado ao extremo pela sua profissão, reage com um retumbante palavrão nas fuças do ofensor. Para o personagem rodriguiano, foi um alívio inatingível pela oração; os espectadores percebem logo.
Atualmente, banalizaram o palavrão, foi transformado, em muitas falas, em vírgula. Vêem-se pais e filhos se tratando por palavras de baixo calão sem nenhuma intenção ofensiva e com total falta de respeito. Infelizmente, o palavrão perdeu a sua carga emotiva, deixou de ser o alívio inatingível de que falava Mark Twain.


A primeira qualidade do estilo é a clareza.
Essa frase dita por Aristóteles há 2000 anos continua verdadeira até hoje, como muitos pensamentos desse filósofo.  Não foi à toa que a figura mais proeminente do pensamento cristão medieval, São Tomás de Aquino, conciliou a filosofia de Aristóteles com o cristianismo.
Muitos autores redigem um cipoal de ideias que, para alguns, é a fuga da superficialidade, mas, muitas vezes, não passa de afetação de intelectual, que não sabe direito o que pensa e joga o que não entende no papel. Não será o pobre leitor que o entenderá.
No cinema, principalmente, na década de 60, houve uma miríade de filmes em que ninguém entendia nada; ainda assim, aplaudiam; pura pose intelectual.
Clareza, bem entendido, não é superficialidade.


Na dúvida, diga a verdade.
 O conselho acima foi dado por uma das personalidades mais lúcidas do século XVIII, Voltaire.
Se se vai mentir, tem-se de ser convicto. Nélson Rodrigues narra o caso de uma adúltera que, pega em flagrante pelo marido, negou com uma veemência tão impressionante, que o próprio amante ficou em dúvida se tinha feito sexo com ela.
Há o caso do Botafogo de Futebol e Regatas que, depois de 20 anos sem ser campeão, no campeonato carioca, 1968-1988, chegou à decisão do título de 1989 contra o Flamengo. O primeiro tempo terminou 0x0 e, no intervalo, o ponta-direita do Botafogo, Maurício, se dirigiu ao técnico com desalento, sofria de uma forte gripe e não tinha condições de voltar para o segundo tempo. O técnico Valdir Espinosa foi peremptório, disse que de jeito nenhum o tiraria do jogo, pois sonhara que o gol do título tinha sido marcado por ele. Maurício voltou para o segundo tempo e o gol que tirou o clube do jejum de 20 anos foi marcado por ele. No vestiário, Maurício procurou o Valdir Espinosa dizendo que o seu sonho se realizara.
-Que sonho?!... Eu não sonhei nada, não.
Mas essa é uma das poucas ocasiões em que a mentira é bem vinda. (*)


Errar é humano: mais humano ainda é atribuir o erro aos outros.
O excelente contista, teatrólogo e figura humana, o russo Anton Tchekhov, cunhou essa frase.
Como mais acima enveredamos pelo futebol, vamos continuar com ele por momentos.
Havia um técnico, cujo exemplo foi seguido por outros, que seguia a seguinte diretriz no término das partidas: eu ganhei, nós empatamos, eles perderam.
Na política, é bem mais comum atribuir a autoria dos seus erros aos outros.
Antes de encerrar por hoje, alerto que os erros deste texto foram cometidos pelos revisores. (**)

(*) De onde se conclui que o título também não aconteceu e, se acontecesse, seria uma obra de ficção.
(**) Com esses salários?

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