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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

2291 - e por falar em quadrilha

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4091                     Data: 15 de dezembro de 2012
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CONVERSAS NO TÁXI nº 152

Depois das saudações de praxe trocadas com o 009, ele disse em tom de alívio.
-Chegamos às festas de fim de ano.
-Não gosto dessa época.
-Não gosta? - abismou-se.
Olhei para o taxímetro, que marcava bandeira 2 e prossegui:
-O Natal é bom para as crianças da classe A, B e C.
-As mais pobres também recebem presentes ofertados pelas instituições de caridades e as pessoas generosas. - contrapôs.
-Eu coopero com os colegas de trabalho que não são sovinas para o Natal de orfanato e como chegam as fotografias dos petizes recebendo os presentes, eu me animo. Muitos, porém, ficam esquecidos.
-Isso é verdade. - concordou.
-Eu guardo ótimas recordações do Natal do tempo em que eu acreditava no Papai Noel; isso foi até uns 12 anos de idade, antes de entrar para o ginásio.
-Você levou tanto tempo assim acreditando em Papai Noel? - reagiu inteiramente surpreendido.
-Ainda hoje, há muitos adultos, mesmo formados em universidades, que acreditam no barbudo.
Não sei se ele me entendeu, e segui adiante.
-A festa se desvirtuou. Saí, certa vez, para caminhar no dia 25 de dezembro e, quando estava na Rua José Bonifácio, passei por uma casa, com uma mulher de bermuda no portão, onde se realizava uma festa. Nesse momento, um carro deu uma marcha a ré de uns cinquenta metros e saltaram três sujeitos. O que seguia na frente deu uma estalante bofetada na cara da  mulher de bermuda, dois entraram e o terceiro fez cobertura com um trabuco na mão. Eu, que caminhava, passei a correr, pelo menos, não ouvi tiro algum.
-A violência não para nem no Natal. - comentou.
-Quanto ao dia 31 de dezembro, aquela obrigação de você se mostrar alegre até meia-noite... Todos, para cumprir essa imposição do dia da virada de ano, recorrem ao álcool.
-As crianças são só felicidade. - retrucou.
-Para a meninada tudo está bom. Eu, aliás, não tenho reminiscências da passagem do ano quando pequeno. Adolescente sim, eu me recordo. Eu me juntava com amigos para beber e comer nas casas vizinhas, à meia-noite, cada um ia para a sua casa proteger seus cachorros que sofriam com o foguetório.
-Os cachorros têm uma audição cinco vezes maior do que a nossa. - disse ele.
Ouvi e falei:
-Dois anos atrás, um sujeito enfiou o carro na quadra de futebol de salão da Praça Manet e ligou o aparelho de som a todo o volume com o repertório funk. Logo, os vadios e as vadias apareceram e aquele inferno que incomodou todo o conjunto do IAPC durou até o amanhecer. 
Quando o táxi chegou ao seu destino, despedimos-nos com votos de Feliz Natal e boa passagem de ano, caso não nos víssemos até lá.

No táxi 045, eu afivelava o cinto de segurança quanto o taxista  perguntou:
-Modigliani?
-Sim.
-Lá, as ruas receberam nomes de pintores?
-Sim; Modigliani, Braque, Sisley, Vlamink, Utrillo, Corot, Van Gogh, Rodin, Manet, que deu nome à pracinha.
-Todos pintores.
-Não, corrigi; Rodin era escultor.
-Do outro lado da Avenida Suburbana, onde está outra parte do conjunto do IAPC, as homenagens aos pintores continuam: Cézanne, Degas, Almeida Júnior, Rouault...
-Almeida Júnior não tem nome de pintor.
-Mas foi um dos brasileiros que mais se destacaram nessa arte, no Brasil.
-Sim. - mostrou interesse.
-O diabo é que todo o mundo pronuncia os nomes errados. Não falam “Gogã” e sim, “gaujin”; não falam “Renoar” e sim, renoir. Certa vez, antes do amanhecer, quando eu caminhava, um cidadão parou a camionete e me perguntou se eu conhecia a rua “Coróte”, respondi que não, e cinco minutos depois, percebi que era a Rua Corot (Corrô) que ele procurava.
-Antes era mais simples: Rua 1, Rua 2...- interrompeu-me.
-Eu sei pronunciar razoavelmente os nomes, porque estudei francês nos bons tempos do Visconde de Cairu.
-E inglês?
-Sim, nós estudávamos as duas línguas, mas hoje o francês, que era considerada a língua culta, enquanto o inglês era a língua comercial, foi posto de lado. Estuda-se o Espanhol.
-Modigliani; chegamos. - anunciou.

O táxi do dia subsequente era do 151, o mais politizado entre os seus pares, pelo menos o único que envereda pela política.
-E essa Rosemary, amante do Lula?
-Segundo o jornalista Elio Gaspari, apenas foram monógamos os seguintes presidentes: Eurico Gaspar Dutra, Castelo Branco e Ernesto Geisel.
-O Fernando Henrique teve até filho com uma amante da TV Globo.
-Provou-se, mais tarde, que o filho não era dele, no entanto, ele prossegue pagando a universidade do “filho” nos Estados Unidos.
-Mas essa Rosemary estourou como uma bomba. Não que eu acreditasse que o Lula fosse santinho, sempre teve cara de safado. Certa vez, vi uma fotografia dele com o grupo do “Tchan” e ficava evidente o olhar dele de guloso para a bunda da Carla Perez.-manifestou-se.
-Logo que essa Operação Porto Seguro veio à tona, o jornalista Jorge Bastos Moreno publicou, no Globo, a reportagem que fizera com a amante do General Figueiredo, quando presidente da República. Ela disse que o Figueiredo lhe aconselhou o máximo de discrição, pois se soubessem que era sua amante, ela seria bajulada ao extremo, pois os bajuladores tentariam conseguir na cama o que eles não conseguem nos despachos na sala presidencial.
-Mas o nível da amante do Figueiredo era bem superior ao dessa Rosemary,
-Sem a menor dúvida, era outro padrão. Ela até se separou do marido para se casar com o Figueiredo, mas ele, que recebeu, antes desse romance, o fora da Dona Dulce, não admitiu um segundo casamento, porque era militar, tinha de seguir os padrões que o “seu paizinho” no céu, lhe ditara. Isso contado por ela que, depois disso, nunca mais o viu.
-Mais todos os presidentes tiveram  amantes que foram discretas, até mesmo a Virgínia Lane; elas nunca obtiveram cargos públicos. A Virgínia Lane continuou nos teatros de revista, trabalhou na televisão e não passou disso. Mas essa Rosemary do Lula participava de uma quadrilha como chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, ou seja, pertinho do homem depois que ele deixou Brasília.- manifestou-se.
-Misturavam o público com o privado, aliás, Lula sempre fez essa mistura.
Quando eu disse essas palavras, era hora de dar por encerrada a conversa, pois chegamos ao fim da corrida.

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