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quarta-feira, 25 de abril de 2012

2135 - A Kombi do América

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3935                                          Data: 21 de abril de 2012
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SABADOIDO DO GRAMADO AO PALCO
PARTE II

-É impressionante o número de obras que o Oscar Niemeyer tem espalhadas pelo mundo. - admirou-se o Cláudio.
-Niemeyer encolhe com a idade. - enveredou a Gina pelo humor negro.
Meu irmão permaneceu sério nas suas observações sobre o arquiteto.
-Pode-se citar construções do Niemeyer em grandes cidades.
-Ele fez o sambódromo com aquele “M” do Mc Donald’s. - pilheriou minha cunhada.
-Esculhambaram  o Brizola, por causa da ideia do sambódromo, mas todo o mundo imitou.
-Apenas São Paulo imitou. - devolveu a Gina.
-A Rosinha Garotinho mandou construir um sambódromo em Campos. - manifestei-me.
-Não falem mal da Garotinha porque ela é tricolor. - brincou meu irmão.
 -O que não dá para engolir é o comunismo do Oscar Niemeyer, ele até afirmava que o Gorbachev era agente da CIA porque mudou as coisas na União Soviética. - comentei.
-Ele pertence ao esquerdismo festivo; há muito artista por aí que só gosta do bom e do melhor e que se diz socialista.
O Cláudio foi aparteado pelo Luca.
-Esses artistas não exploram ninguém, diferentemente de muitos empresários...
-Muitos empresários estão gerando empregos.
-Sim, concordou comigo.
-Eu sei que não moraria numa casa construída pelo Oscar Niemeyer. - insistiu minha cunhada na sua aversão pela sua arquitetura.
-Você, Gina, talvez pense igual ao Otto Lara Resende, que dizia preferir morar defronte a uma obra do seu conterrâneo para admirá-la, não mais do que isso. - lembrei.
-Nem assim. - mostrou-se ela ainda mais cáustica.
-Eu não gosto da arte arquitetônica de Gaudi, em Barcelona; parece que vejo um cenário de filme de enredo estrambótico. - entrei também no clima de critica.
-Gaudi, aquele que constrói prédios derretidos?...
-Quem viu o premiado filme do Arnaldo Jabor “Eu sei que vou te amar”, com a Fernanda Torres e o Thales Pan Chacon, se recorda, certamente, da casa dos dois, com rampas e outras modernices, pois foi criada pelo Niemeyer.
-Por isso, a relação do casal não deu certo. - não perdeu a piada a Gina.
Luca tirou um recorte de jornal de um envelope, era um artigo do Ruy Castro.
-Alguém sabe quem foi campeão carioca em 1913?- sabatinou.
-O hino do América diz: “campeão de 13, 16 e 22.”
-Carlinhos não deixou quicar. - elogiou.
-Escreveu o Ruy Castro... - prosseguiu.
-Ele já voltou?... quis saber, pois sofrera de fortes espasmos, que causaram fratura de um  dos seus ombros, enquanto assistia ao desfile de escolas de samba pela televisão.
Luca confirmou e foi em frente.
-Ele escreveu que, num jogo do América em 1913, o jogador Belford Duarte colocou a mão na bola dentro da área e, para o desespero dos americanos Lamartine Babo, Oscarito e Sílvio Caldas, denunciou a sua falta e fez questão que o pênalti fosse cobrado.
Villa Lobos, Paulo Fortes e Max Nunes. - mais três ilustres torcedores.
-Por isso, existe o troféu Belford Duarte para os jogadores que nunca foram expulsos dos gramados. - esclareceu meu irmão.
-Existiu o prêmio, pois não se fala mais nele.
-Lembra-se, Carlinhos, do Moisés que afirmava que zagueiro que se preza não ganha o Belford Duarte.
-Ele disse isso depois que entrou com um pedido para receber o troféu e chamou a atenção, assim, para a impunidade que existia, pois ele foi um dos beques mais carniceiros que já jogou. Passou, então, a ser expulso de algumas partidas.
Enquanto transcorria essa conversa paralela entre mim e o Cláudio, Luca reproduzia trechos da mencionada carta.
-Alguém viu a entrevista da Bárbara Heliodora no Sem Censura da Leda Nagle?
-Dos que davam quorum para a sessão do Sabadoido, só eu não vi.
-Ela não só é filha do Marcos Carneiro de Mendonça como tinha parentesco com Eugênio Gudin.
-Além, Luca, de ela ser filha da Ana Amélia Carneiro de Mendonça,  tradutora do primeiro Hamlet que li.
-A Bárbara Heliodora é a maior shakespeariana do Brasil.
-Ela deve estar com 85 anos. - calculei.
-89 anos. - frisou o Luca.
-A Bárbara Heliodora com aquele cabelo penteado para trás, aquele buço que já se transformou em bigode, era um homem autêntico. - mostrou-se a Gina ainda mais demolidora na sua irreverência.
-Com a idade, aumenta o hormônio masculino nas mulheres.
-Não é assim, não. - desgostou da minha observação.
-A Bárbara Heliodora, com 89 anos de idade, e a Leda Nagle pergunta se ela joga tênis?- indignou-se o Luca.
-A Leda Nagle, uma vez ou outra, vem com cada pergunta... - disse a Gina.
-E ela tem momentos em que age com grosseria. - acrescentou o Cláudio.
-Em determinado momento da entrevista, ela se refere à cozinha com a Bárbara Heliodora, que nada entendeu. Ficou, então, uma cozinha solta no ar, durante um tempo. Descobriu-se depois que a mãe do Wilson Simonal trabalhou na cozinha da casa da Bárbara Heliodora. - falou o Luca.
Cláudio se reportou a crônica em que Cora Ronai narrou o pavor que o Millor Fernandes tinha de baratas e ratos, o que levou o Luca a se opor peremptoriamente contra um texto que se deteve em assuntos menores. Pouco depois, ele se referia a tabela de preços elaborada pelo octogenário escritor Victor Hugo, para apreciar as partes íntimas das criadas e prostitutas. Nada, porém, que o igualasse ao tarado do FMI, Dominique Strauss Khan.
Gina já havia se retirado para dentro de casa.
 Luca, que havia esquecido no sábado passado de trazer uma fotografia do meu tempo de curso primário, trouxe duas. Lá estava eu, pequerrucho e baixinho, nas turmas do terceiro e quarto anos.
Eu era quase tão mulatinho quanto o Fernando Henrique Cardoso. - pensei sem me manifestar. Numa foto, estava a Dona Arlete, na outra, a Dona Eunice. A professora do curso de admissão, já mencionada num sabadoido, foi a Dona Dulce, e a do primeiro ano, a Dona Teresa. Ficou um elo perdido para mim, em termo de professoras, aquela que foi do meu segundo ano. 
 Os retratos foram temas de reminiscências pós-sabadoido.
 Sem buracos na memória, minha irmã e também colega de turma, se reconheceu nos instantâneos (o que não aconteceu comigo), quando os mostrei, e ainda indicou mais colegas.
-Esta é a Lúcia Goulart?
-Uma de quem o Luca tanto fala, que morou na Rua Chaves Pinheiro? - perguntei.
-Sim; este é o Albino, que morreu afogado na Barra da Tijuca.
-O papai leu a notícia no jornal, e os comentários dele foram os mais trágicos possíveis.
-Isso mesmo, Carlinhos; depois desse afogamento, só nos permitiram tomar banho de baldinho nas nossas idas às praias.


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