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terça-feira, 17 de abril de 2012

2130 - computadores na mão

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3930 Edição 2130

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DA FERRARI AO AO FUSQUINHA PASSANDO PELO JAGUAR NO SABADOIDO

-Carlão, você tem uma Ferrari nas mãos e não acelera. - estas foram as palavras do meu sobrinho quando descobriu que o meu celular tinha possibilidades que eu desconhecia.

-Daniel, você acessou a internet e isso implica em mais tarifas para o Carlinhos pagar.- chamou-lhe a atenção a Gina.

-É verdade. - reagiu, enquanto digitava umas teclas do meu celular para deixá-lo apenas em stand by para uma possível chamada.

-Não quero, Daniel, ficar mais dependente do computador do que estou.

-E pelo que eu vi, rapidamente, Carlão, o seu provedor teria de ser o hotmail.

-Já me basta o Yahoo, - expressei-me enfastiado eletronicamente.

-Eu não tenho aberto meus e-mails há algum tempo. - manifestou-se a Gina.

O meu sobrinho franqueou, então, o seu computador para mim. No seu quarto, meu cybercafé, procurei, como de costume, colocar em dia as minha caixa de correspondências. Pulei as mensagens eletrônicas de um colega de trabalho que decora as páginas econômicas dos jornais e, em seguida, as reproduz, brilhando com a luz alheia. Quando entra na minha sala, num momento de muita tarefa para mim, quase o enxoto.

-Sobre o tsunami monetário que a Dilma tratou na viagem aos Estados Unidos...

-Prefiro ler isso com calma na coluna da Miriam Leitão. - digo asperamente.

-Este crescimento da China pode ser uma bolha...

-Já li o artigo do Paul Krugman – escoiceio.

Sem esmorecer, envia-me mensagens eletrônicas sobre os assuntos que não conseguiu transmitir verbalmente.

Aqui estão uns e-mails de uma amiga sobre o comportamento da presidente Dilma Rousseff. Não, abrirei se tempo sobrar, pois ela nivela a criatura ao criador. Não, o “monstro”, para o nosso bem, é bem melhor do que o Dr. Frankenstein. Lula, para obter votos no legislativo e horário na televisão, na campanha eleitoral, aliou-se aos “300 picaretas” que ele, outrora, denominou. A presidente, pelo menos, já varreu sete ministros aliados para a lixeira.

-Onde estão os vídeos do Dieckmann? - perguntei-me.

Saí em busca do último lançamento da Triumpho 30 Produções até que me deparei com o título “Nem na Inglaterra”.

Outra indagação me veio à mente?

-O que o Dieckmann estará dizendo que tem aqui, no Brasil, e não tem na terra da rainha que, este ano, comemora 60 anos de reinado?...Se não for comida, é automóvel.

Era automóvel. O nosso cineasta filmou uma mostra de carros da marca Jaguar da época em que o sábado ainda não endoidecera, muito antes, aliás, década de 50. O filme em questão se inicia com outro felino: um Puma, no estacionamento. Para resumir, pois a reunião do Sabadoido, na garagem do fusquinha da Gina já se iniciou há horas, aqui vai a cotação da fita: bonequinho com um aparelho auditivo, pois há passagens da locução que não são compreendidas pelos espectadores.

-Esqueci, Carlinhos?- lamentou o Luca quando me aproximei para reforçar o quorum.

E acrescentou:

-Não trouxe mais um retrato seu, da escola, que está com a Candinha (sua cunhada). Você era pequenininho.

-Durante meu tempo de curso primário, sempre estive entre os tampinhas das turmas que participei.

-Na semana que vem, trago a fotografia, e você vai se identificar.

Caramba, se eu não me reconheci em 1959, não conseguirei nos anos anteriores. - previ.

Em seguida, Luca sacou de um envelope uma crônica do Ruy Castro sobre o tempo futebolístico do Pelé e do Messi.

-Na época do Pelé, a bola era de couro e, quando chutada, ouvia-se um som que se assemelhava ao derradeiro mugido do boi. - disse o nosso amigo com o mencionado texto debaixo dos olhos.

-Ademais, quando encharcada pela chuva, a bola de couro dobrava de peso. - interrompeu-o o meu irmão de maneira veemente.

E tal era a sua veemência, que prosseguiu com a bola:

-Hoje, a pelota é feita de um material especial e o peso, mesmo encharcada, não se altera muito. Antigamente, a bola além de pesar muito, o que dificultava o toque nela, não se desgrudava, com facilidade, das pedrinhas, assim, quando a cabeceávamos, nossa testa sofria.

-É verdade, Claudiomiro.- aquiesceu o Luca.

Como o meu irmão integrou algumas equipes do Cachambi e também de empresas, como a do Laboratórios Wanda, falava com um conhecimento de causa maior do que a do Ruy Castro, o que fez o Luca parar, por momentos, com o texto que lia.

-O suor, para não falar da chuva, tornava a camisa, no nosso tempo, mais pesada. Atualmente, as fibras que constituem as camisas dos jogadores anulam esse problema.

Sem tomar fôlego, foi em frente:

-A chuteira dos jogadores de hoje são personalizadas, nos dias passados, nós tínhamos de cuidar dos tamanhos das travas...

-Havia uns beques carniceiros que até poliam as pontas das chuteiras, com lima para lanhar as canelas dos adversários. - aditei.

Luca voltou ao Ruy Castro e reproduziu mais ou menos isso:

-Podemos afirmar que Messi é um boa vida.

-Discordo; o Messi apanha como um boi ladrão e dificilmente cai. - protestou o Cláudio.

-Esse tal de Ruy Castro estava indo tão bem... - ironizou a Gina, reportando-se ao professor Raimundo, personagem do Chico Anísio, recentemente falecido.

-Eu sou inteiramente contra essas comparações excludentes. - falei sem convicção de ser ouvido, pois os decibéis da sessão do Sabadoido subiram por alguns segundos.

-Hoje, não se consegue chegar mais ao Pedrinho, porque ele ficou numa esfera inatingível: é general. - reportou-se o Luca a um morador da Rua Chaves Pinheiro, de origem japonesa, cuja presença sumiu das minhas vistas desde 1960.

E se voltou para o Vagner:

-Quais eram os nomes dos dois cachorros do Pedrinho?

-Luca, eu não confundo mais Goiabada, nome do cavalo do Moleque Saci, com Marmelada. - intrometi-me.

O assunto mudou para os anos em que poucas pessoas possuíam telefones.

-O Sirley, quando o chamavam pelo telefone lá de casa, aparecia, mas tão constrangido. - reportou-se ao Luca a outro militar da rua.

-Eu, nos primeiros anos de faculdade, recorria ao telefone do Seu Alvinho (sogro do Luca) para me comunicar com meus colegas de classe.- lembrei.

-E as pessoas, que tinham telefone, prestavam esse favor com a maior boa vontade.- declarou o Luca.

-Talvez, porque a casa da Gina era uma das poucas, nos anos 60, onde havia telefone instalado, ela não ironizou a afirmação do nosso amigo.

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