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terça-feira, 24 de abril de 2012

2134 - futeboladas


O BISCOITO MOLHADO
Edição 3934                                   Data:  19 de abril de 2012
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SABADOIDO DO GRAMADO  AO PALCO

 Minha intenção era das melhores quando saquei de um envelope uma mídia de DVD.
-Daniel, trago-lhe um filme que gravei ontem sobre os 100 anos do Santos Futebol Clube.
A reação de desdém da Gina foi imediata, até então, tudo normal, mas o Daniel repetiu as palavras e expressão da mãe.
-O Santos?!... Não é lá grandes coisas...
Daniel, é um filme que cobre o centenário do Santos, relembra o título de 1935, com Araken, passa pela equipe que começou a ser formada em 1955, com Pepe, Zito e se detém na era Pelé por milhares de fotogramas.
-Aguentar o Pelé falando não dá. - manifestou-se o Cláudio que minutos antes, criticava, com razão, a entrevista que o Édson Arantes do Nascimento concedera dias atrás.
-Cláudio, não é o Pelé falando de si próprio e sim do Santos Futebol Clube. - esclareci.
Sem mostrar entusiasmo, Daniel pegou o disco da minha mão estendida.
-Depois que o Muricy Ramalho trocou o Fluminense pelo Santos, menosprezando nosso clube, quero ver a caveira do time dele. - disse a Gina apoiada pelo filho.
-Mas isso é passageiro. - argumentei pensando nos 100 anos.
-Passageiro nada, Carlinhos. - insistiu ela.
Contra-ataquei citando passagens da história do futebol protagonizada pelo Santos, mas só o Cláudio se entusiasmou um pouco.  Meu sobrinho, que se interessa pelos jogadores e times de destaque do passado, surpreendeu-me com o seu silêncio.
-Daniel, o apaixonado por um clube vai ter momentos de felicidade e depressão, pois o futebol é um perde e ganha, mas quem olha esse esporte porque o admira, certamente gostará de ver os campeonatos paulistas levantados pelo Santos e os dois títulos mundiais conquistados contra o Milan e o Benfica, que estão neste filme. - chamei-lhe atenção.
-Cometeram um erro quando consideraram aqueles títulos passados, da Taça Brasil, como do campeonato brasileiro, aumentando consideravelmente as vitórias do Santos. - criticou.
-Discordo, Gina, pois assim ficou retratado que, nos últimos 60 anos, não houve clube no Brasil mais vitorioso do que o Santos.
-Foi um erro.- repetiu.
-Gina, o Botafogo em 1961/1962 foi bicampeão carioca, venceu o torneio Rio-São Paulo, derrotou o Santos completo, ou seja, com o Pelé, por 3 a 0. O Brasil se tornou campeão do mundo com cinco titulares do Botafogo, a saber: Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagalo, feito esse que só foi igualado agora pelo Barcelona que deu mais da metade do time para a seleção campeã de 2010.
-E daí?
-E daí que, nesse período que eu citei, o Botafogo teve o maior time do mundo. Se o Botafogo tivesse uma torcida como a Fla-Imprensa, esse feito estaria repercutindo por toda a eternidade.
Os presentes não me olharam como um torcedor exaltado e, por isso, a conversa fluiu dentro do diapasão da racionalidade.
 -Daniel, quando você tiver tempo, assista a esse filme, você verá lances no gramado que até hoje não se repetiram. - reincidi na minha sugestão.
-A seleção húngara era quase o time inteiro do Budapest Honvéd.
-Sim, Cláudio, a legendária seleção húngara de 1954 era composta por quase todo o elenco do Budapest Honvéd, mas não venceu a Copa do Mundo.
-Sabe-se hoje que o time da Alemanha se dopou.- interveio o Cláudio.
-Falam que intrometeram a política na Copa de 54, que interessava a vitória alemã para reerguer o moral do povo depois da destruição da Segunda Grande Guerra. Documentários mostram gente andando pelos telhados das casas para saudar o escrete na volta para a Alemanha. Quanto ao jogo final, os alemães venciam por 3 a 2 quando Puskas empatou, o que daria o título aos húngaros, mas o juiz marcou impedimento só visto por ele. - tagarelei.
Depois que o tema futebol esfriou, Daniel liberou o cybercafé, e eu cliquei, por desatenção, um e-mail que eu já vira dias atrás. Nele, aparecem Garotinho, mulher e filha juntos com César Maia e filho. A política desmoraliza tudo, principalmente a amizade, que transforma em sinônimo de interesse – pensei.
Na fotografia, a beleza da Clarisse Garotinho se destacava. Ela, ultimamente, protagoniza com a Cidinha Campos as cenas de baixaria da Câmara Legislativa Estadual. Uma xinga a outra de filha de malfeitores, e a réplica vem com o ressurgimento da história em que a vereadora tentou dar fim à própria vida. “Suicidinha Campos” - grita a Clarisse, e aquela que não suportou a rejeição do Carlos Manga (“manga não, manga é um perigo, quem provou quase morreu) reagiu com um elenco de nomes de suicidas que vão de Sócrates a Tchaikovsky. Suicidinha Campos esqueceu, porém, de dizer que nenhum desses nomes citados constou da lista de propinas do bicheiro Castor de Andrade. Aliás, por que a filha do Garotinho não envereda por esse lado em vez de se fixar num amor contrariado por uma fruta indigesta? Bem, talvez seja arriscado tocar em listas, muitas delas pululariam, e a baixaria da Câmara dos Deputados se tornaria ainda mais abissal.
Da desativada garagem do fusquinha da Gina, as vozes da sessão do Sabadoido chegavam até mim, embora ninguém estivesse fora da modulação. Antes de rumar para lá, acessei umas mensagens eletrônicas do Dieckmann; nelas ele agendava encontros e mais encontros de Jaguar.
-Dieckmann vai provocar um desequilíbrio ecológico. - previ.
Presentes na sessão do Sabadoido estavam os “suspeitos de sempre”, com exceção do Vagner. Lá, Daniel se referia à polpuda participação dos funcionários no lucro da Casa da Moeda, porque ele tinha pouco tempo de casa não avolumou os bolsos.
-Eu não podia chegar agora e sentar na janela. - conformou-se.
-O que eu mais sinto falta do Unibanco, além das partidas de pingue-pongue, era a participação nos lucros. - afirmou o Luca.
-E aquele adversário que o fez suar para você vencer.
-Pois é, Carlinhos; ele exigia muito de mim, sentia-me muito bem jogando com ele, mas não ele apareceu mais.
-O John McEnroe lamentou a saída do Bjorn Borg das quadras, disse na ocasião que, sem um adversário à altura, a qualidade do jogo dele caiu muito.
-É verdade, Carlinhos, nós precisamos de grandes adversários para exigir o nosso melhor. Esse amigo da Carolina (sua filha) tem um braço que, pela grossura, é minha perna. Ele dá aulas de capoeira, joga muito bem pingue-pongue. Apareceu algumas vezes, mas agora sumiu...
Fez-se uma pausa, e o Claudio passou a falar do Oscar Niemeyer com apartes irônicos da Gina.




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