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quinta-feira, 1 de março de 2012

2104 - Morris Albert Mamute Oxford

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3904 Data: 20 de fevereiro de 2012

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MAMUTE NO SABADOIDO

PARTE I

Encerrada a partida de futebol, o repórter perguntou ao Jacozinho:

-O que você achou do jogo?

-Eu não achei nada, mas o Mirandinha achou uma medalha.

Pois é, na minha atividade aeróbica de sábado, antes do carnaval, se um repórter me perguntasse o que achei da minha caminhada, eu responderia prontamente:

-Um celular.

Era o segundo que eu achava desde que esses aparelhinhos inoportunos chegaram até nós, através das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.

Vi o objeto sobre um banco, quando mal comecei a caminhar, às 5 horas da manhã e o coloquei no bolso do calção, com a ideia de resolver o seu destino na reunião do Sabadoido, como fizera da outra vez. O diabo é que dez minutos depois, ele tocou no meu bolso. Não atendi o chamado.

Três horas depois, eu estava na cozinha da casa do Cláudio conversando com o meu sobrinho sobre o objeto achado, enquanto meu irmão se ocupava em alimentar de alpiste as rolinhas.

-Deixe-me ver.

Com o celular na mão, Daniel premiu diversas teclas e apresentou o seu relatório.

-Ele pertence ao Mamute, que eu pensei que estivesse extinto...Mamute escreveu uma mensagem para quem encontrou este celular. “Ligue para ..... que será bem recompensado.” Anote o número Carlão, porque a bateria está acabando.

-A Gina faz compras?

-Sim.

Ele citou os oito algarismos e eu os anotei na margem de uma página do Globo.

-Eu penso, Daniel, em deixar este troço no trailer da Fofoca da Madrugada...

-E se eles não devolverem?

Depois dessa pergunta incisiva, Daniel rumou para o teclado, no seu quarto. Nesse ínterim, o celular tocou um “funk” horroroso. Depois de sessenta segundos, bisaram. Meu sobrinho retornou.

-Daniel, tocou duas vezes uma música de traficante de drogas e eu não atendi.

-Isso é música de traficante. - concordou o Daniel quando o Mamute telefonou mais uma vez.

Depois de uns quinze minutos, Cláudio voltou para a cozinha, e eu, então, lhe falei do meu achado.

-Deixe-me ver. - disse como o filho, vinte minutos antes, e agiu como ele.

-Na agenda do Mamute, só tem nome de mulheres.

-Então, ele não é traficante, talvez seja cafetão.

-Achei, dia desses, o celular de uma dona, liguei para ela, que veio buscar.

-Eu tenho o nº do telefone que o Daniel me deu.

-Como você vai telefonar para o Mamute se o telefone está aqui?- perguntou sem atinar que desconsiderava a inteligência do filho.

E acrescentou:

-Espere que ele telefone e fale que venha aqui buscar.

-Posso dar o endereço daqui?

-Por que não?

Com a chegada da Gina do Supermercado, estávamos os quatro reunidos em volta do celular do Mamute.

-O nº do telefone que eu peguei é o que o Mamute deu para entrar em contato com ele. - enfatizou o Daniel.

-Vou, então, ligar para ele. - disse o Cláudio.

-Fale para ele vir buscar em frente ao motel Cartago. - sugeriu a Gina.

Cláudio falou com a mãe do Mamute, moradora do Jacaré, que, a princípio, mostrou-se nervosa. Meu irmão a acalmou e ela disse que o filho dormia, mas logo que acordasse iria até a Avenida Suburbana, defronte ao motel Cartago, pegar o que perdera.

-Não se esqueça, Cláudio, que ele dará uma polpuda recompensa. - brinquei, depois de passar o celular para ele.

Como o Daniel havia franqueado o seu computador, fui colocar em dia a minha correspondência eletrônica.

Uma hora depois, soube que o Mamute se encontrou com meu irmão. Era um garoto, que não se cansou de agradecer pela devolução do seu aparelhinho.

-E a recompensa? - perguntei.

-Mamute deve ter considerado o Cláudio um Eike Batista, porque nem tocou no assunto. - respondeu a Gina por ele.

No computador, eu me deparo com mais um filme da Triumpho 30 Produções. Disseram que os loucos tomaram conta do hospício quando Charles Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith criaram a United Arts; algo parecido, guardadas as devidas proporções, aconteceu com a Triumpho 30 Produções.

O filme “Morris Oxford” do Dieckmann guarda semelhanças com o “Gran Torino” de Clint Eastwood – não é plágio porque o cineasta de Santa Teresa não encontrou coreanos para atuar, ninguém queria largar a pastelaria.

Palavras impressas na tela preparam o espírito do espectador: “Gustavo Tostes ressuscita um Morris Oxford trazendo peças do Uruguai. Lá, é confundido com terroristas por causa da dobradiça da mala.”

O filme, de pouco mais de dois minutos, quase a mesma duração da música “Calhambeque”, do Roberto Carlos, agrada, apesar da cor verde-abacate (*) do carro. Na direção, Dieckmann não bate, embora engate inúmeras marchas a ré. Dieckmann, aliás, parecia o Charles Chaplin: atuou, dirigiu (o filme e o carro), só não compôs a trilha sonora. Aliás, o solo de violão da Mônica é uma festa para os ouvidos. Falando na música do filme, quem é a Mônica? O diretor deve mostrá-la e não escondê-la, ou estará querendo aparecer mais do que todo o mundo, inclusive o próprio Morris Oxford? (**)

Estava eu abstraído nesses pensamentos, quando a voz sonora do Luca me trouxe à realidade. Tenho de me apressar aqui, se não, terei de recorrer ao meu computador cuja banda larga é mais lenta do que o Flecha, a tartaruga do Itamar Franco. Porém, a Kiara e o Daniel já adentravam a minha Lan House.

-Oi, Carlinhos.

-Tudo bem, Kiara.

-Tudo. Soube que você achou um celular.

-É o celular do Mamute, Kiara. E eu que pensava que o Mamute estivesse extinto.

-Está extinto há décadas. - afirmou ela.

-Você viu “Era do Gelo”?

-Kiara viu todos os desenhos, Carlão. - respondeu o Daniel por ela.

-Falta uma coisinha aqui, e eu largo o computador.

-Não tem pressa, Carlinhos.

-Daqui a pouco, a Kiara vai dizer que existe um esquema no Sabadoido: os adultos conversam e as crianças brincam no computador. - disse meu sobrinho entremeando sua fala com risadas.

-Eu não reclamo; meu avô acha ruim.

-Pronto, Kiara, o computador é todo seu.

E me dirigi para mais uma sessão do Sabadoido.

(*) A cor tem um nome bastante austero: Pastel Green. Parece que nada tem a ver com as pastelarias coreanas e sim com os tons pastéis, como explica a nossa colega: A expressão "tom pastel", que se refere a cores suaves, está relacionada não a algum pigmento que possa ter a massa recheada vendida em feiras livres, mas a um tipo de lápis de cor usado para realizar pinturas a seco sobre tela, chamado "pastel". Thaís Nicoleti, colunista da Folha e da Folha Online, explica que é a suavidade do pastel, usado para pintar retratos e paisagens, que torna o termo um adjetivo, no caso, sinônimo de suave.

(**) Mônica, de Sérgio Chiavezzoli, tocada pelo autor. A ele deve ser interessada a dúvida sobre a Mônica. Quanto à excessiva exposição do diretor, diga-se em sua defesa, nada é mais chapliniano. É só mais um louco com a chave do hospício.

Uma descrição sobre o talento do Sérgio Chiavezzoli pode ser verificada em http://www.batucadasbrasileiras.org.br/equipe.html

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