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terça-feira, 20 de março de 2012

2115 - Marlene e Emilinha, pela ordem

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3915 Data: 15 de março de 2012

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GRITOS E SUSSURROS NO SABADOIDO

PARTE II

Eu tencionava sair do cybercafé do Daniel e ir para o cyberconhaque do Cláudio e do Luca, ou seja, para a sessão do Sabadoido depois que a minha presença foi reclamada,porém surgiu no monitor de vídeo um esclarecimento do Elio Fischberg sobre uma celeuma que surgiu no meu trabalho. Explico-me.

Muitos dos meus colegas são opiniáticos: engenheiros entendem de tecnalidades jurídicas, advogados, de cálculo estrutural, e psicólogos entendem de tudo. Então ,espocou uma questão; diziam uns “entendidos” que não bastava a certidão do Estado para isentar uma empresa de responsabilidade fiscal, que se fazia também necessária a certidão da Procuradoria Geral do Estado. Pensei, então no Elio, e na sua bagagem de ex-revisor do biscoito Molhado, e resolvi consultá-lo. Eis, mais ou menos, um trecho da sua resposta:

-A Procuradoria do Estado não tem competência administrativa para isso, não é ela que certifica que determinada empresa é, por sua natureza, isenta de tributos. Sua finalidade é dar assistência jurídica, judicial e extrajudicial ao Estado, não certifica, por ele, estado, que empresas não tem o dever de recolher tributos.

Pronto, depois dessas palavras do “meu amigo Elio” (como diz o Luca), não só os opiniáticos, como os lunáticos sossegarão. Falando em lunáticos/lunáticas, alguns já se aposentaram.

Fui surpreendido com a presença da irmã da Gina, que veio me saudar.

-Eu ia lá fora.- justifiquei-me.

-Tubo bem, Carlinhos?

-Tudo.

E indagou pelos parentes mais próximos a mim antes de sair não só do quarto, como da casa.

Fiquei mais dez minutos diante do computador antes de rumar para mais uma sessão do Sabadoido.

Mal pisei o chão do quintal e ouvi a voz do Luca que lia um artigo de Hélio Schwartsman sobre a polêmica suscitada pelo Ministério Público Federal de Belo Horizonte, que ajuizou uma ação civil pública contra o dicionário “Houaiss” por causa das “expressões preconceituosas” contra os ciganos. Afirmando o cronista da Folha de São Paulo que as línguas, no fundo, são verdadeiros catálogos de preconceitos, citou vários exemplos, que o Luca reproduzia com a sua voz privilegiada de barítono, como beócio, capadócio, vândalo, lapônio, ladino, safardana, maltês, eslavo...

-E galego?- interrompi a leitura.

Senti falta do galego, palavra que eu, garoto atrevido, sempre trazia na ponta da língua quando queria ofender um vizinho espanhol.

Quando Hélio Schwartsman definiu “cretino” como aquele que padece de hipotireoidismo, aparteei de novo:

-Cretino é uma palavra que se origina de Cristo.

No dia seguinte, domingo, no Globo, o artigo do João Ubaldo Ribeiro me daria razão. Sim, o Ministério Público Federal de Belo Horizonte provocou, pelo menos, uma coisa boa: forneceu assunto para todo o mundo falar.

Quanto aos ciganos, propriamente dito, lembro-me de alguns, quando menino, que apareciam no Cachambi nas suas vestimentas características. Minha mãe, nessas ocasiões, segurando-me pela mão me alertava:

-”Ciganos pegam crianças para fazer sabão”.

Poucos anos depois, disseram-me que a carrocinha pegava os cachorros e transformavam em sabão. Surgiu, inevitavelmente, uma dúvida no meu espírito infanto-juvenil: éramos nós, crianças, que virávamos sabões, pegos pelos ciganos, ou os vira-latas, pegos pela carrocinha?

Se apareceram ciganos na minha infância, certamente surgiram, também, em Santa Teresa, na década de 50. Eis um bom tema para o cineasta Dieckmann, que se encontra em crise de criatividade, filmar: “Os Ciganos de Santa Teresa”, ou “Como Escapei de Virar Sabão”.

Luca largou, por momentos, os recortes da Folha de São Paulo e reportou-se à exibição teatral a que assistira na noite anterior: “Emilinha e Marlene”.

-Antes de você prosseguir, aviso que sou Emilinha.

-Eu também sou Emilinha.

-E eu, também.

Seguiram-me o Cláudio e o Vagner na predileção daquela que foi exaltada numa canção do Miguel Gustavo, na voz do Carequinha.

-Também sou. - garantiu o Luca.

-Quando me preparei para o concurso do Visconde de Cairu, na rua Rocha Pita, em 1960, estudei com a sobrinha da Emilinha Borba, que era bonita e simpática.- expus minhas razões.

-O Orlando Silva morou por ali, na Rua Rocha Pita.- informou meu irmão, que prosseguiu:

-Até o homenagearam, por lá, com um busto e a praça de nome Orlando e Silva.

-Roubaram a cabeça do Orlando Silva.- interveio o Vagner.

-Roubam a cabeça do Orlando Silva com a mesma frequência com que roubam os óculos do Carlos Drummond de Andrade.- pensei sem nada dizer.

Nesse ínterim, Luca relembrava as marchinhas que ouviu durante as duas horas e meia de teatro.

-Você recomendaria “Emilinha e Marlene” ao Elio Fischberg? - inquiri com seriedade na voz.

-Sem susto .- foi peremptório.

O Elio Fischberg me parece Emilinha, e o Dieckmann, Marlene. - imaginei sem me manifestar.

-Saí para ir ao banheiro, e me deparei com o Daniel, que retomara seu lugar no computador.

-Ensinando ainda o Facebook à Gina?

-Ela já sabe.

-Soube, Daniel, que a preferência dos internautas do mundo todo é pelo Twitter, o Facebook está em terceiro lugar.

-No Twitter, nós temos de escrever muito pouco.- criticou.

-O precursor do Twitter é César que, quando comandou as tropas romanas na Batalha de Zela, escreveu: “Vim, vi e venci.”

Ao retornar à sessão do Sabadoido, o assunto era o mesmo.

Luca entoou um velho sucesso melodioso, apesar do ritmo sacolejante, que identifiquei como baião.

-”Que nem jiló”; é do Luís Gonzaga.- reconheceu o meu irmão na sua discoteca interior.

Muito bonito.- concordaram todos.

-A Marlene gravou Chico Buarque, atuou como atriz no teatro, foi mais receptiva `as manifestações políticas...

-Sim Claudiomiro; a Emilinha era mais ligada aos fãs.

-Ela era um ícone dos homossexuais. Os aniversários da Emilinha Borba deixavam os “gays” em festa.

Falava, enquanto me vinham à mente outras cantoras que apaixonaram os homossexuais, o que Fellini retratou no seu filme E la nave va, como Maria Callas. E também a Barbra Streisand.

-Bem lembrado, Carlinhos.

Depois dessas palavras, Luca se referiu aos programas da Rádio Nacional, onde as duas cantoras rivais atuavam. Isso proporcionou que se cantasse o jingle do Programa César de Alencar que é obrigatoriamente ritmado por batidas das palmas das mãos.

O autor desse jingle do César de Alencar é o Chico Anísio. - disse meu irmão.

Soube-se, mais tarde, que se enganou; o autor é Haroldo Barbosa, parceiro de humorismo do Max Nunes.

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