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segunda-feira, 12 de março de 2012

2110 - pau puro

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3910 Data: 03 de março de 2012

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CARTAS DOS LEITORES

“Li, com atenção, o Biscoito Molhado que citou as primeiras frases das grandes obras literárias. Parece-me que o poema em prosa que abre o romance Iracema de José de Alencar virou samba?” Moacir

BM: Sim; o compositor Braguinha compôs, em 1958, a canção “Verdes mares bravios da minha terra natal”. Na mesma, mesclou trechos do citado romance com versos da sua lavra e fez a música. Jorge Goulart, que tinha uma boca cujo tamanho lembrava a do ator Joe E. Brown (segundo minha traiçoeira memória) gravou.

“... Estão ameaçando um filme com a Claudia Cardinale, não preciso cantá-la em prosa e verso caso tenha visto “O Leopardo”. Fez um filme no Brasil nos anos 60, vi-o em Bruxelas e mostrava uma briga num pé-sujo. Quem entrava portando um estandarte? Ele mesmo, o Gentileza. Acho que o nome (do filme) era “Uma Rosa com amor”. (...) ou era “Uma Rosa para todos”? Sei não. Rosa Grieco.

BM: Como esquecer Claudia Cardinale, que foi personificada como a musa na obra-prima Fellini 8 ½?...

O filme, uma produção ítalo-brasileira, de 1965, foi baseado na peça teatral de Gláucio Gil, “Procura-se uma Rosa”, e se chamou “Una Rosa per tutti” (Uma Rosa para todos).

Eis a sinopse da história numa só frase:

Um médico não entende porque uma garota carioca é feliz distribuindo amor a todos os amigos que precisam de ajuda.

O filme foi dirigido por Franco Rossi e contou com os seguintes artistas:

Claudia Cardinale – Rosa

Nino Manfredi – o doutor

E mais: Lando Buzanca, Akim Tamiroff, Mílton Rodrigues, Grande Otelo, Célia Biar, José Lewgoy e Oswaldo Loureiro, entre outros.

Não assisti ao filme, por falta de oportunidade, mas ele ficou na minha memória como explicarei a seguir.

-Eu tinha 17 anos de idade e, por diversas vezes, vi programas de uma emissora de televisão ainda incipiente, com atuações de improviso. Era a TV Globo. Um desses programas a que eu assistia era “Show da Noite”, um “talk show” que, muitos anos depois, seria imitado por Jô Soares e outros. Quem apresentava o “Show da Noite” era o Gláucio Gil, com seu porte de galã, já famoso pela peça que escrevera “Toda donzela tem um pai que é uma fera”.

Para promover o lançamento do filme “Uma Rosa para todos”, Claudia Cardinale veio ao Brasil e, como era óbvio, se apresentou no “Show da Noite”. O autor entrevistou a protagonista. Em dado momento, Gláucio Gil perguntou à Claudia Cardinale quem era o homem mais bonito do mundo e ela o desconcertou:

-Você.

-Não diga uma coisa dessas que eu caio para trás. - reagiu.

Por ironia da sorte, uma semana depois, Gláucio Gil caiu fulminado por um enfarte. Li, perturbado, no jornal do dia seguinte que ele quase morreu em frente às câmeras de televisão. Tinha 33 anos de idade, viveu de 1932 a 1965.

Na época, ele era sócio de Hélio Bloch na administração do Teatro Santa Rosa (já repararam como Gláucio Gil estava ligado à Rosa?), localizado na Rua Visconde de Pirajá. Em homenagem póstuma, o teatro recebeu o seu nome.

Voltando à carta da Rosa Grieco, não é mesmo para esquecer um filme, visto em Bruxelas, em que há uma cena de porrada num pé-sujo em que o Gentileza aparece com seu estandarte.

-Na edição do Biscoito Molhado que cita as grandes lutas do século XX, para culminar com a que foi travada entre o árbitro de futebol Mário Vianna, então membro da Polícia Especial e o capoeirista Madame Satã, fiquei curioso com os combates entre Joe Louis e Max Schmeling. Éder

BM: Ficou curioso, porque as duas lutas entre o negro americano e o alemão ocorreram no clima que antecedeu a Segunda Grande Guerra Mundial, e o confronto dos dois rompeu a barreira do esporte e entrou no campo político.

Em 6 de junho de 1936, Max Schmeling venceu o promissor boxeador Joe Louis no Yankee Stadium. A propaganda nazista repercutiu ao máximo essa vitória, enfatizando a supremacia da raça ariana sobre as demais.

Joe Louis se levantou e prosseguiu na carreira até enfrentar , em 22 de junho de 1937, Jim Braddock, e derrotá-lo por nocaute no 8º assalto, tornando-se campeão mundial dos pesos-pesados.

No dia 22 de junho de 1936, foi agendada a revanche com Max Schmeling, o único lutador que o derrotara nos ringues. O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels acionou de novo seus funcionários, enquanto o presidente Franklin Delano Roosevelt, sabedor de que aquele combate era uma preliminar da guerra, convocou Joe Louis à Casa Branca. O New York Times publicou as palavras do chefe da nação ao boxeador que representaria as forças aliadas.

-”Joe, we need muscles like yours to beat Germany.” (Joe, nós precisamos de músculos como os seus para derrotar a Alemanha).

Na biografia que redigiu 40 anos depois, 1976, Joe Louis escreveu o trecho que se segue:

-”I knew I had to get Schmeling good. I had my own reasons and now the whole damn country was depending on me. (Eu sabia que tinha de me sair bem com o Schmeling. Eu tinha minhas próprias razões e agora toda a maldita nação estava dependendo de mim).

Os desinformados podem se chocar com as palavras do boxeador, mas ele estava revoltado com a perseguição insidiosa e perversa que sofreu do fisco dos Estados Unidos até poucos anos antes da sua morte. Lutas de exibição que Joe Louis realizou, cuja renda reverteu para a campanha militar dos Estados Unidos, foi tributada e chegou até ele, anos depois, multiplicada pelos juros. A parca herança que a mãe lhe deixou, foi abocanhada pela receita com a alegação de que amortizaria a sua dívida.

Mas voltemos à revanche contra Max Schmeling.

Encontravam-se no Yankee Stadium 70.043 pagantes, naquela noite úmida, segundo os jornais. Milhões ouviam pelo rádio a transmissão da luta em quatro idiomas: inglês, alemão, espanhol e português.

Com um Joe Louis furioso, sobre o tablado, o combate durou 124 segundos, exatamente. Max Schmeling que, com o correr dos anos, provou sobejamente que nada tinha a ver com Hitler, era um excelente caráter e se tornou amigo do “Demolidor de Detroit”. Disse o alemão que mesmo passados 30 anos dessa luta, sentia dor no pescoço quando o tempo esfriava.

O filme, dirigido por Uwe Boll, que narra a vida exemplar de Max Schmeling, com as contrariedades que sofreu por não querer ser usado pelas autoridades sanguinárias da Alemanha, merece ser visto.

-Rosa Grieco corrigiu um texto do Carlos Heitor Cony que escreveu que o mito da Fênix é grego, afirmou ela que é egípcio. Luca.

BM: Ela está correta. O mito da Fênix remonta ao velho Egito, sendo depois transmitido aos gregos. Está associado ao Deus-Sol chamado Ra. Ao morrer, este pássaro era devorado pelas chamas, ressurgindo delas uma nova Fênix, a qual juntava as cinzas de seu progenitor e compassivamente as conduzia ao altar do deus solar, localizado em Heliópolis, cidade egípcia.

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