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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

2499 - o dia do Poeta

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4299                                   Data: 23 de outubro de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA DE 20 DE OUTUBRO

-Hoje é o Dia do Poeta. - informou o Sérgio Fortes após o “muitíssimo bom-dia” do titular do programa.
Parece-nos que a gravação ocorreu dois dias antes, ou seja, no Dia do Médico e, coincidência ou não, o Doutor Fernando Borer lá estava, como convidado, com o seu refinado gosto musical.
Coube ao doutor a primeira escolha e ele não decepcionou, pediu o choro  “Já lhe Digo”, cuja primeira gravação ocorreu em 1919.
-Trata-se de uma resposta dada por Pixinguinha a Sinhô numa polêmica em que ele se envolveu com o seu irmão China. - esclareceu.
Os músicos Zé da Velha e Silvério Pontes, com seus respectivos instrumentos e talentos, mostraram que essa composição do Pixinguinha, quase centenária, não envelhecerá.
Na vez do Sérgio Fortes, ele recorreu a um recente musical da Broadway:
-Recente porque é de 1992. - comentou jocosamente.
Como não tem, compreensivelmente, com os musicais da Broadway o mesmo traquejo que possui com o mundo da ópera, mostrou-se titubeante.
-Conhece, Jonas, o musical “Five Guys Named Moe”?... A canção,que vamos ouvir, foi composta por Alex Kramer e Joan Whitney,  é  “Ain't  nobody here but us chickens.”
Bem o Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado consultou o Google, o pai dos burros virtuais e se deparou com uma confusão dos diabos. A canção é de 1946, mas o musical, com o nome “Five Guys Named Moe” é baseada numa peça de 1943, Ela estreou em 1990, no Reino Unido, com letra e música de Louis Jordan e, depois de passar pelo West End, apareceu na Broadway em 1992, como assinalara o Sérgio Fortes.
E chegou a vez do Jonas Vieira, que mostrou, como dizia o Nélson Rodrigues, uma fúria de Zola contra as injustiças cometidas contra o Capitão Dreyfus. No caso, o injustiçado era Francisco Alves, o Rei da Voz. Jonas não se conformava com o esquecimento a que ele foi relegado.
-Francisco Alves é de uma importância fundamental para a música popular brasileira. E cito quatro razões; primeira: pelo seu repertório; segunda, foi ele que lançou Orlando Silva, que foi desacreditado como cantor, sendo até gongado pelo Renato Murce; terceira; aproximou Noel Rosa dos sambistas do Estácio, promovendo Ismael Silva, entre outros; quarta: juntou-se ao Orestes Barbosa e divulgou as serestas por todo o Brasil.
E arrematou:
-Fosse o Brasil um país sério e teríamos minisséries sobre esse personagem tão rico pessoal e artisticamente.
Como Zola, Jonas Vieira estava inteiramente certo.
A gravação que ouvimos foi “Nervos de Aço”, de Lupicínio Rodrigues.
Mas não há nervos, por mais temperado que esteja o aço, que aguentem a atual situação do Brasil, e o Jonas Vieira investia, agora, contra a proliferação da mediocridade. Temos a acrescentar que uns 30 anos atrás, Nélson Rodrigues, com a sua cintilante inteligência, previu a Revolução dos Idiotas, declarando que eles, vendo que são bem mais numerosos, não se limitariam a babar na gravata e tomariam o poder. E tomaram.
O Fernando Borer desanuviou o ambiente solicitando uma gravação em que homenageou postumamente dois artistas recém-falecidos, Norma Benguel e Oscar Castro Neves.
-”Você”, composta por Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, com Dick Farney e Norma Bengell, arranjo de Lindolfo Gaia e violão de Oscar Castro Neves.
Enquanto Fernando Borer recebia congratulações dos presentes e dos ouvintes ausentes, Sérgio Fortes elogiava a afinação da cantora. Bem, Norma Bengell era filha única de um alemão afinador de pianos, não podia decepcionar nesse quesito.
Depois das referências a um LP esquecido em que ela canta composições francesas, Jonas Vieira passou a bola para o Sérgio Fortes.
-Vou trazer de novo o conjunto instrumental “Rabo de Lagartixa”, com destaques para o contrabaixista Alexandre Garcia e para o solo de saxofone da Daniela Spielmann.  A música é “Diabinho Maluco”, do Jacob do Bandolim.
-Maravilha! - vibrou o Jonas Vieira que, em seguida, recomendou dois livros: o do diálogo do Papa Francisco com o rabino Abraham Skorka e o do Olavo de Carvalho, “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”.  E nós, do Biscoito Molhado, recomendamos um terceiro livro: “Humor Eclético”, de Sérgio Schechter.
E voltou a reverenciar Francisco Alves, agora, com uma gravação de 1937, “Misterioso Amor”.
Após o desfrute, Sérgio Fortes enalteceu os instrumentistas e o cantor.
-Nos anos 40, Francisco Alves empostou a voz, nos anos 30, não.
-A voz dele esta pura. - acrescentou o Fernando Borer suas considerações às do Jonas Vieira.
Veio a Pausa para Meditação, do Fernando Milfond, seguida pela Pausa para a Espinafração do titular do programa, Nessa pausa, argumentou que a causa dessa cizânia das biografias se deve ao vírus da censura que está impregnado na história do Brasil: Império, República Velha, ditadura do Getúlio Vargas, ditadura Militar. O censurado ontem é o censor hoje.
-A biografia autorizada não seria mais do que um lance promocional. - comentou o doutor Fernando Borer com muita felicidade.
E era a sua vez de indicar o que seria tocado, e ele escolheu uma gravação que me faz parar com tudo, até mesmo de escrever O Biscoito Molhado, para ouvir: “So in love”, de Cole Porter. E Sérgio Fortes fez a pergunta que não queria calar:
“Quem canta?”
Fernando Borer disse que ninguém, que se tratava apenas de uma orquestra, a Brazilian Tropical Orchestra, que seria comparada pelo Jonas Vieira às americanas.
Certo, mas letra e música de “So in love” estão de tal maneira imbricadas, ao nosso ver, que não podem ser separadas. A canção é pura emoção, e como dizia Orson Welles: “A voz é um elemento comovente.”
A canção pertence à peça musical, de 1948, “Kiss me, Kate”, baseada na peça de Shakespeare “A Megera Domada”, que, com mais de mil reapresentações, na Broadway,  desmentiu os que previram o fim da inspiração do  Cole Porter depois do acidente com um cavalo.
-Sérgio Fortes, para manter o nível de refinamento, recorreu a George Gershwin e a seu irmão Ira, indicando como a próxima canção “They can't take that way  from me”, canção gravada em 1937, por Fred Astaire, mas que seria ouvida, no Rádio Memória, por  Frank Sinatra e Natalie Cole.
Coube a Fernando Borer encerrar musicalmente o programa. E ele anunciou uma plêiade da música popular brasileira: Noel Rosa, Jacob do Bandolim, Elizeth Cardoso, Época de Ouro, Horondino José da Silva, o Dino Sete Cordas. Com essa constelação de artistas, ouviríamos, anunciou, “Três Apitos”, de Noel Rosa, pinçado de um memorável show, no João Caetano, em 2 de fevereiro de 1968.
Para começar bem o domingo, o Rádio Memória cumpriu a contento a sua missão.

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