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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

2486 - as árias do Ariel



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4286                          Data:  04  de  outubro de 2013
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MARCOS ARIEL NO RÁDIO MEMÓRIA
                     
Assim que o Jonas Vieira saudou com seus costumeiros bons dias os “queridíssimos ouvintes”, Sérgio Fortes interveio para dizer que se tratava de um dia especial: o aniversário da Bete. Ele, que semanas antes, afirmou que não admitia protestos em casa, mostrava-se agora submisso, como um marido que levou um puxão de orelhas. Seu parceiro de programa, não perdeu a oportunidade:
-É um domingo especial por dois motivos: pelo aniversário da Bete e pelo fato de ela o aturar por tantos anos.
E deu “início aos trabalhos”, como gostava de falar o Sérgio Fortes no seu programa de dez anos atrás, na Rádio MEC, “Clube da Ópera”.
-Trago hoje uma pessoa queridíssima: Simon Khouri.
-Vocês brigam há 50 anos. - abismou-se o Sérgio Fortes.
Simon Khouri, por sua vez, num círculo virtuoso, trouxe Marcos Ariel.
-Compositor, arranjador, pianista, flautista...
-Como é que você diz, Sérgio? - interrompeu-o no princípio do currículo do seu convidado.
-Talento multifacetado, poliédrico. - respondeu a chamada.
-Marcos Ariel é mais ouvido lá fora do que aqui. Gravou quinze CDs, é premiado.
Simon Khouri interveio para reportar-se a um compositor dos anos 1700, que alcançou na época mais fama do que Bach, Haendel, ao compor óperas, cantatas, missas, etc, Telleman. E relaciona o grande compositor alemão com o criador da música que ouviríamos, que era Pixinguinha, e a música, “Ele e Eu”, com Marcos Ariel na flauta.
Vale lembrar que Pixinguinha, o grande mestre  do fraseado musical da música popular brasileiro, foi ligado a Bach pelo cravista Marcelo Fagerlande e o flautista Mario Sève, flautista, que gravaram o CD Bach & Pixinguinha.
-Maravilha! - foram todos unânimes em exclamar do lado de lá e do lado de cá do Estúdio Jonas Vieira.
-”Eu e Ele”, na flauta, Marcos Ariel, - disse o Jonas Vieira.
Marcos Ariel informou, em seguida, que fora preservado o contraponto original do Pixinguinha nessa sua gravação. E, prosseguindo, reportou-se  a um CD seu, de choro, apenas, “Marcos Ariel e Tigres da Lapa”, esclarecendo que o “Tigres da Lapa” era uma homenagem ao Luís Americano, que compôs um choro com esse nome em 1939.
Os apresentadores do Rádio Memória insistiram nos elogios ao virtuosismo do convidado, como flautista, e ele explicou que a flauta é um instrumento muito difícil por causa da embocadura livre e reportou-se ao fato de o virtuoso nesse instrumento, Pixinguinha, ter passado para o saxofone tenor. Ele alegou que perdera a embocadura, mas muitos pensam que ele fez essa troca para dar espaço ao seu parceiro Benedito Lacerda.
-Benedito Lacerda também foi um músico extraordinário. - enalteceu-o o titular do programa.
-Vamos mostrar o outro lado do Marcos Ariel. - interveio o Simon Khoury com a sua voz ainda mais rouca.
Diferentemente da lua, que não exibe o seu outro lado, veio às nossas vistas, ou aos nossos ouvidos, acariciante, como diria o poeta, uma música instrumental em que se destacava o piano. E o Marcos Ariel, evidentemente, foi incensado como pianista.
  Ele informou que se tratava de um trabalho chamado “Quatro Amigos”, nos Estados Unidos, “Four Friends”.
-Essa composição se ajusta ao  formato chamado  de “Smooth jazz”.
Para os leitores que, como eu, não sabiam, até então, o significado de “smooth jazz”, também denominado “nova música contemporânea para adultos”, trata-se de um gênero executado com instrumentos jazzísticos, com improvisações e influências estilizadas do Rhythm and Blues. Marco Ariel disse que aqui, no Brasil, é confundido com música de elevador.
-Ah, se os elevadores tocassem músicas como a sua. - suspiraram.
Ao falar em música de elevador, reportei-me à canção composta por John Lennon, no paroxismo da sua briga com Paul McCartney, “How do you sleep?”, em que ele diz que as criações do seu desafeto são: “musak for my ears” e “musak” foi entendido como música de elevador”.
Simon Khouri falou em música ambiente, e Marco Ariel aludiu ao metrô que, nos seus primeiros anos, tocava a Rádio JB FM.
É verdade; depois, veio a música clássica e, transcorrido um pouco tempo, só se ouviam trechos da Primeira Sinfonia de Mahler, o que me fez suspeitar que ladrões furtaram toda a discoteca do Metrô, deixando apenas esse CD – fato a que já aludimos num Biscoito Molhado pretérito.
E o Rádio Memória que, nesse domingo, começara com o tom familiar – o aniversário da Beth – voltou a ele com a referência do compositor ao seu filho Lucas, que está com 32, 33 anos, que inspirou musicalmente o pai.
E, em seguida, foi ao ar “O Frevo do Lucas”.
Depois de três minutos preenchidos com alegres e refinadas notas musicais, ouviu-se a voz do Jonas Vieira:
-Vocês ouviram um frevo da maior qualidade, composto por Marcos Ariel, executado por músicos americanos.
Jonas Vieira é americanófilo assumido, tudo bem, mas exagerou e o inspirado compositor teve de corrigir:
-Na orquestra que executou “O Frevo do Lucas”, havia, além dos americanos, um colombiano, um jamaicano, um colombiano...
-Era uma Assembleia da ONU. - pilheriou o Sérgio Fortes.
E se fez ouvir a voz rouca, não das ruas, conforme dissera o presidente Fernando Henrique Cardoso, quando pretendia a reeleição e sim a do Simon Khouri:
-Marcos Ariel tem um CD em que Tom Jobim homenageia outro compositor extraordinário...
Depois de um curto suspense, ele declinou o nome do compositor extraordinário: “Mestre Nazareth”.
Sérgio Fortes e Jonas Vieira exultaram, e a palavra retornou ao convidado trazido pelo Simon Khouri:
-Há um disco elaborado apenas com músicas de Ernesto Nazareth pela Eudóxia de Barros no piano, Pedro Amorim no Bandolim e outros instrumentistas, que virou raridade.
Pobre país em que obras artísticas refinadas se tornam raridades. - lamentei. 
Agora era o Jonas Vieira que falava:
-Para mim, depois de Villa Lobos, Ernesto Nazareth é o maior compositor brasileiro. Tento convencer o Sérgio Fortes a fazer com que a Orquestra Sinfônica Brasileira se apresente num concerto apenas com criações do Ernesto Nazareth.
As palavras não foram bem essas, mas o seu sentido laudatório aqui está registrado. Quanto ao Sérgio Fortes, ficou com a incumbência de conseguir que a OSB, nos 150 anos de Ernesto Nazareth, participasse de maneira mais efetiva dessa efeméride.






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