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terça-feira, 15 de outubro de 2013

2489 - padarias, padeiros; cinemas, cinéfilos e antes de tudo, Sua Majestade, o cliente-leitor.



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4289                           Data:  09  de  outubro de 2013
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CARTAS CINEMATOGRÁFICAS DOS LEITORES

-”Bairro tem que ter cinema, clube e padaria. Isso pode parecer óbvio, mas Santa Teresa, quando teve padaria, não tinha cinema e hoje tem cinema, mas não tem padaria.” Branca Euler
BM: Branca, Santa Teresa foi chamada pelo governador Sérgio Cabral de Montmartre brasileira e olhe que ele entende do assunto, pois vive em Paris, enquanto o vice Pezão governa o estado.
Eu não digo que Santa Teresa merecesse um Moulin Rouge (*), mas um cinema, sim. E há dez anos, precisamente em 2003, inauguraram o Cine Santa Teresa.  Ótimo. Quando os encantadores cinemas de todos os bairros do Rio de Janeiro, mesmo os poeiras, fechavam as portas com o advento das insossas salas de projeção de filmes dos Shopping Centers, Santa Teresa abria um cinema como os de outrora.  No entanto, ficou sem padaria, o que todos os bairros que eu conheço mantiveram.
Abriu o cinema e fechou uma padaria... parece uma paródia sem graça de uma frase da “Noviça Rebelde”: “Quando Deus abre fecha uma porta, ele pode estar abrindo uma janela.”
Atenção senhores comerciantes: vamos abrir padarias em Santa Teresa: demanda não falta. (**)

-”Grande Jussara, na Rua Jardim Botânico , ao lado da ABBR e do Carioca Esporte Clube, pelos anos 1970, 1971... Não controlava a idade dos frequentadores nos filmes com censura de 18 anos. Bussunda também citava o Cine Jussara em algumas entrevistas.” Carlos Alberto Torres
BM: Grande capitão da Copa de 70, o Cinema Cachambi também não controlava a idade dos frequentadores, com uma exceção: “E Deus criou a mulher”. Para mim, foi uma frustração juvenil terrível, pois na semana anterior, eu vi o trailer da fita em que a Brigitte Bardot aparecia nua e  também saindo do banho envolta numa toalha que ela abriu para receber o seu homem. Não preciso dizer que a plateia do Cachambi ululou de desejo. Cismei que tinha de assistir a todas aquelas cenas eróticas, apesar dos meus 13, 14 anos, mas o “Secreta”, o encarregado da entrada, cismou que não, e sofri uma frustração de merecer análise freudiana. Agora, “E Deus criou a mulher” surge a todo momento nas telas de televisão, mas perdeu o encantamento, murchou  como a própria Brigitte Bardot.

-”Boa sessão nostalgia. Tenho uma história do Ricamar. Fui ali ver a primeira exibição de O Enigma de Kasper Hause (Jeder für sich und Gott gegen alle) com som original alemão. No circuito comercial, passara na versão dublada francesa (Chacun pour soi et Dieu contre tous) não sei por quê.
Naqueles dias, havia sido lançado o filme Raoni, sobre o chefe indígena. Uma dessas apologias não muito racionais ao “bom selvagem”. Saguão e sala de exibição cheia de penas (?). Cocar, dizem todos os políticos, dá azar. Não é bom prognóstico para o Papa François Ier. O próprio Herzog estava lá e falou sobre a exibição, respondendo também a perguntas da plateia. Uma coisa ele disse, porém, que não esqueci. Que não entendia por quê, de todos os países, justo no Brasil a distribuição não foi com a tradução literal do título. Porque, explicou, havia tomado a frase de um filme brasileiro – Macunaíma – e que ela – a frase – lhe tinha causado uma epifania, uma revelação súbita. Contou ainda que a frase era inconcebível nos países de 1º Mundo e causava estupor. Logo a nossa “cada um por si e Deus contra”, que que qualquer criança já ouviu!Note que a forma original tem acrescido o mérito da concisão: não é preciso dizer “contra todos”, porque isso se depreende naturalmente. Abraço. Álvaro.”
BM: Apesar dos elogios à minha retentiva, eu não posso garantir se foi no início dos anos 80, se eu estiver enganado, foi no fim dos anos 70, quando me desloquei para Copacabana com o objetivo de assistir a “O Enigma de Kasper Hause”. Não me informei antes e, por isso, quando mal terminou a sessão, surpreendi-me com os aplausos ardorosos da numerosa plateia a um homem que se dirigiu para um local entre a tela e nós e se pôs a falar: era o Herzog.
Era tarde, eu morava (ainda moro) longe e dependia da boa vontade das companhias de ônibus para retornar ao Cachambi, por isso, não pude permanecer no Ricamar por muito tempo. Mas ainda ouvi as recomendações que Herzog deu àqueles que pretendiam se tornar cineastas: “consigam uma câmera do jeito que for”.
Na sessão dos índios, eu não estava, como o cinéfilo Álvaro; fui  ao Ricamar no dia em que a pena era a minha por ter de sair no meio da festa.

“Dos cinemas “poeiras” que conheci, o melhor, o inolvidável, era o Polytheama, no Largo do Machado, onde hoje existe mais um desses supermercados Extra da vida.
Além de poeira, o Poly (para os íntimos) era pulguento, muitas vezes fedorento e, para arrematar, tinha um jirau, em estrutura de ferro, com colunas de sustentação que atrapalhavam a visão da tela, para os que sentavam em poltronas (aquilo, em madeira ordinária, não era poltrona...) laterais.
Ah, vi ali Sarita Montiel, com suas Violeteras, vi Marcelino, Pão e Vinho, vi bang-bang de montão, era muito ruim, horrendo e barato com muita barata.
Que Jussara, que nada!
Polytheama, o cinema que não te ama. Abraço. Elio.”
BM: No Cinema Cachambi, perdi meu medo de histórias de terror que começou com a televisão, “Câmera Um”, na apresentação do Jacy Campos, `a meia-noite. Assisti ao “Vampiro da Noite”, e me escondi detrás da cortina, pedindo ao meu pai, ao meu irmão Claudio e ao Fernando, um vizinho espanhol, que me avisassem que nenhum sangue estava sendo sorvido para eu voltar para o meu lugar diante da televisão.
Foi no Cinema Cachambi, alguns anos depois, que superei essa fobia, e isso aconteceu na fita “Noivas do Vampiro”. As gozações que saíam dos espectadores me fizeram sentir participante de um outro filme, de uma comédia, que tirava do que surgia da tela motivos para mil piadas.  Depois disso, não consigo mais assistir a uma fita de horror sem imaginar algo hilariante.
E mais outras mil histórias eu teria de contar do poeira do nosso bairro, mas o tempo é curto.

-”Quanto a fitas com Charlton Heston ou qualquer outro (Robert Redford, Brad Pitt e Johnny Deep) não têm utilidade para quem só usa uma TV de 14”, com o som desligado para não incomodar os vizinhos.
Gostei muito do final do “Planeta dos macacos”, a cena do fim é um achado, ele vê o que sucedeu antes de nós e na cena em puxam os andrajos dele o meu relógio parou e nunca mais andou. Mas ele estava abracadabrante no “Senhor da Guerra” com o cabelo cortado numa cuia de queijo, “ Rosa Grieco
BM: Não conte o final do “Planeta dos macacos”, Rosa; eu não vi ainda o filme.

(*) Companheiro de preferências do Sergio Cabral, o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO aproveita a deixa e esclarece que o Moulin Rouge fica técnica e geograficamente nas fraldas de Montmartre – o Google considera o Boulevard de Clichy parte de Montmartre – mas esse bulevar equivale à Rua do Riachuelo, que é o limite da Lapa, este sim o Moulin Rouge carioca.
A colina é toda uma concentração boêmia, excetuando-se a Basílica do Sacre Coeur, certamente – mas os grandes shows ficam no citado bulevar, na cota zero.

(**) Há controvérsias. As padarias ficam em grandes conglomerados humanos, cheios de prédios, com centenas de pessoas. Os empresários das padarias preferem essas locações e não se interessam por distribuições menos concentradas. O que é bom, porque esses mesmos empresários produzem um pão de baixa qualidade, que é igual na cidade toda, pois o fabricante (fabricante mesmo, não é padeiro que faz) é um só para aumentar o lucro. Em contrapartida, alguns padeiros artesanais trabalham em Santa Teresa e, conhecendo o lugar, pode-se degustar excelentes pães.
Experimente o leitor deste periódico colocar, lado a lado, um pão francês da padaria mais próxima e um pão artesanal e verifique quando as formigas atacarão o pão francês. Leve cadeira e relógio de horas.

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