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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

2076 - eternamente bons

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3876 Data: 4 de janeiro de 2011

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MAL MORRERAM E JÁ FORAM ESQUECIDOS

Lamentável que as grandes publicações, como exceção do Biscoito Molhado, como se verá, tenham esquecido, nos seus obituários de 2011, de personalidades marcantes.

Um dos esquecidos, pelo que constatei depois da leitura do retrospecto do ano 2011, da revista VEJA, foi o José Vasconcelos.

Recordo-me de ver, em casa, no começo dos anos 60, o José Vasconcelos fazendo toda a minha família rir, pela TV Excelsior, num show intitulado “Eu sou o Espetáculo”. Gravado em disco, vendeu 500 mil cópias. Era um mundo novo para nós, pois, até então, o humorismo nos chegava do intercâmbio de piadas entre comediantes e, geralmente, dos programas das Rádios Nacional e Mayrink Veiga. José Vasconcelos conseguiu sozinho, durante horas (soube depois que foram 55 minutos exatos), levar a comicidade sem perder o ritmo.

Meu pai, que era de perder o humor ao ouvir o nome Flamengo, ria gostosamente com a imitação que o José Vasconcelos fazia do Ari Barroso como locutor de futebol.

Jogam Flamengo e Fluminense, e Ari Barroso transmite o jogo: “Bola com Altair, que passa para Clóvis que entrega a Telê. Avança Telê. Olha: jogando completamente à vontade... Ninguém marca... Passa por Mílton Copolilo e entrega a Valdo. Eu não quero nem olhar...”

Bem as palavras não eram exatamente estas, mas a graça estava na maneira do humorista transmiti-las à sua plateia. E ele não dizia um palavrão, jamais apelava para a vulgaridade, mesmo que fosse comercial. Passou a ser imitado por comediantes talentosos, mas que ultrapassavam o limite que ele se impôs para fazer rir. Anos depois, quando José Vasconcelos já estava ultrapassado, assisti, na televisão, ao consagrado comediante Agildo Ribeiro contando que lhe sugeriu recorrer aos palavrões para agradar o público.

-“Agildo, eu não consigo me sentir engraçado falando palavrão.“

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Também se esqueceram de colocar no obituário do ano 2011 o Rodolfo Bottino. Lamentável... Ele tinha um programa na TV Educativa, no extinto Canal 2, “Gema Brasil”, que ia ao ar no exato momento em que eu ligava a televisão depois do jantar. Assisti, por isso, diversas vezes, ao Rodolfo Bottino preparando pratos, enquanto entrevistava celebridades, especialistas, etc, que, no final da entrevista, se tornariam comensais.

Cozinhar já é difícil e, quase impossível, ouvindo e fazendo perguntas e comentários inteligentes... Confesso que o admirava. Certa vez, recebeu o Nélson Motta.

-Trabalhando muito?... - perguntou.

-Bottino, tenho trabalhado como um paulista.

-Carioca também trabalha muito. - contestou, sem alterar o tom da voz.

Nélson Motta caiu em si e reconsiderou a sua infeliz observação. Na época, a Argentina atravessava grave crise econômica e alguns estudiosos argentinos lamentavam a tendência dos seus compatriotas à preguiça. Faltava – diziam alguns hermanos- o sangue do negro, na formação da raça, como ocorre no Brasil.

Bem, quando os brasileiros foram convocados para colocar de pé, em três anos, uma capital da República, cumpriram a sua missão. Se a cidade se tornou, depois, um descalabro, é outra história.

Enfim, Rodolfo Bottino não deixou que se cometesse uma injustiça com o povo que enche os trens do Rio de Janeiro antes de o sol nascer.

Nessa época, Rodolfo Bottino anunciou que encenaria um monólogo de uns 45 minutos, aproximadamente, “Risotto”, no mezanino do restaurante Mister Ôpi, da Rua da Quitanda. O espectador, comprando um ingresso, teria direito a um prato de Risoto, ou melhor, comeria, enquanto via a sua atuação. Como eu almoçava uma vez ou outra no Mister Ôpi da Rua da Alfândega, troquei os endereços, mas não de restaurante.

A peça... bem, quase nada tenho a falar sobre ela. Como o prato é italiano, ouvia-se trechos de óperas cantados pelo Pavarotti e, em alguns momentos, a voz do ator, atrás da cortina, agoniado com uma peripécia do enredo.

Depois dos aplausos finais, o dublê de Chef de Cuisine e ator se dirigia a quase todas as mesas dos espectadores. Depois de apertar-me a mão, perguntou:

-Gostou?

Por que eu responderia que não?... O crédito dele comigo era enorme.

-Gostei; e o risoto estava também muito gostoso. - respondi, embora a minha fome não estivesse saciada.

Muitos anos depois, quando eu espiava, esporadicamente, na TV a cabo, a série “Mandrake”, baseada em dois livros do Rubem Fonseca, deparei-me com um outro Rodolfo Bottino. Ele atuava no papel de Enzo Fortuna, um Chef de Cuisine (sempre Chef de Cuisine) do bilionário e bon-vivant Julinho Pedrosa, vivido por Cecil Thiré. Cabia ao seu personagem chefiar uma equipe de cozinheiros que prepararia os comes e bebes de mais uma festa.

Gritando palavrões e cheirando cocaína, Rodolfo Bottino esteve o tempo todo acima do tom, ou seja, sobreatuou da primeira à última cena em que apareceu. Isso, no entanto, tornou o seu desempenho engraçadíssimo. Para mim, tornou-se um “cult.”

Hoje, quando me deparo com as reprises do Mandrake, fico atento para saber se é o episódio do personagem Enzo Fortuna, se não for, mudo logo de canal.

Soube, tempos depois do “Gema Brasil”, que Rodolfo Bottino sobrevivia a uma AIDS contraída nos anos 80; em seguida, superou um câncer no pulmão, até que poucos meses atrás se foi. Uma pena.

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Chita morreu no finalzinho do ano. Chamou-me a atenção a carta de um leitor para um jornal ou revista, não me recordo bem, que dizia: “A morte da Chita estragou o meu Natal”.

Eu não chegaria a esse desespero, mas senti a sua morte. Quantos amigos eu não deixei desconcertados, no meu tempo de moleque, quando me perguntavam a que filme eu ia assistir:

-”Tarzan e a sua mãe macaca.” - eu respondia.

É verdade que a Chita não era a mãe do Tarzan, era a sua dileta companhia, já que os dois cultivavam uma espécie de amizade colorida. Chita marcava ainda mais a ligação do filho das selvas com a macacada.

Como o papagaio do Churchill, Chita viveu bastante, foi longeva. Porque o papagaio xingava Hitler de todos os palavrões da língua inglesa, não houve dúvidas de que pertencera ao primeiro-ministro britânico. No que diz respeito à Chita, alguns especialistas lançaram dúvidas sobre a sua identidade. Depois que tomei conhecimento que a Chita era, na verdade, menino, e não menina, tive certeza que o defunto trabalhara com Johnny Weissmuller e Maureen O' Hara. Isso explica porque a amiga/amigo do Tarzan se tornou alcoólatra. É para esvaziar mesmo copos e mais copos de birita quando se é celebridade como fêmea, sendo macho. Ou seja, Tarzan não esteve, nas telas de cinema, com a macaca, e sim, com o macaco.

Bem, chega de injustiça com os mortos por hoje.

(*) para quem não conheceu o José Vasconcellos e a fama do Ari Barroso. Este foi locutor de futebol e era torcedor fanático do Flamengo. Dá para entender pelo texto, mas o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO achou melhor esclarecer.

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