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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2069 - transações em trânsito

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3869 Data: 26 de dezembro de 2012

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SABADOIDO DE NATAL

-Você sabe se o Luca vem hoje aqui?

-Bem, Claudio, ele me telefonou, nesta semana e me comunicou que viria para o Sabadoido de Natal. Falamos do aniversário dele, dia 21, do Julinho, dia 18 e de uma garrafa de Dimpus, que ele ganhou, mas parece que sua irmã a bebeu toda.

-Já sei: ele falou do Chico Buarque.

-Luca sempre fala do Chico e da Rosa, quando me telefona.

-Carlinhos, esse último disco do Chico não é bom.

-Escuto, às vezes, faixas desse disco no carro do Luca. Mas prefiro quando ele coloca para tocar o “Tango de Nanci”. O próprio Luca reconhece que o Edu Lobo é um músico de maiores recursos.

-O Tom Jobim o considerou seu sucessor. - lembrou meu irmão, que, na verdade, o considerava insubstituível.

-Cláudio, você lembra que o Chico Buarque se afastou do PT quando houve o escândalo do mensalão?

-Ele sempre foi petista.

-Foi, Cláudio, mas o Chico Buarque não se manifestava mais com entusiasmo sobre a política do PT, depois que o mensalão chegou às páginas de jornal.

-Isso é verdade. - reconheceu.

-Veio, então, os 100 anos da Dona Memélia, a mãe do Chico, que nem foi comemorado em Copacabana e sim no apartamento do filho compositor, no Leblon, que era mais espaçoso do que o da aniversariante.

-E o Lula, com a candidata a presidente, Dilma, compareceram. - interrompeu-me.

-Você pensa, Cláudio, que o Lula foi até lá, levando a candidata dele, só para cantar “parabéns pra você, Dona Memélia”?

-Claro que não.

-Lula foi negociar. Desde que se tornou metalúrgico, Lula não fez outra coisa que não fosse negociação. Meteu-se até na crise do Oriente Médio...

-Ele é, de fato, mais negociador do que trabalhador. - concordou.

-No aniversário da Dona Memélia, Lula foi negociar com uma das maiores lideranças do mundo artístico, se não, a maior, o Chico Buarque de Holanda.

-Pouco tempo depois dessa festa de aniversário, houve uma reunião de artistas no Teatro Casa Grande, em outubro de 2010, onde o Chico Buarque discursou em favor da eleição da Dilma Rousseff como presidente da República.

-Em troca, a Dilma Rousseff nomeou a irmã dele, Ana de Holanda, que não possui o menor tino administrativo, Ministra da Educação. - concluí.

-E ele ganhou o Prêmio Burity, sem que o seu livro fosse premiado, e ainda conseguiu que o pai, que nada teve a ver com o petróleo e a Marinha Mercante, desse o nome a um petroleiro. - acrescentou.

-Bem, não sei se isso fazia parte da negociação do aniversário, quanto ao ministério da inexperiente Ana de Holanda, não resta dúvida.

-É por isso que prefiro o Caetano Veloso ao Chico.

-Eles são muito unidos; uma das primeiras medidas da Ana de Holanda era entregar 1,35 milhão de reais em incentivos do Ministério da Cultura à irmã do Caetano Veloso para ela recitar Fernando Pessoa num blog. Se não fosse a gritaria dos contribuintes, a conta bancária da Maria Betânia aumentaria.

-E o Luca, que coloca o Chico Buarque nas alturas?

-O Luca venera o Chico, mas é inteligente; ele votou na Marina Silva, que era a única candidata que apresentava ideias novas para se debater. Eu votei no José Serra, mas me envergonho desse voto, pois ele foi fisiológico: Serra escondia o Fernando Henrique Cardoso e elogiava o Lula, porque este era mais popular, recorrendo, assim, a um pragmatismo de marketing nojento. Precisou a própria Dilma, já presidente, fazer o que o Serra não fez: justiça ao Fernando Henrique Cardoso.

-Você pensa que o Lula precisava dessa negociação?

-A esquerda intelectualizada, com pruridos de honestidade, se bandeava para a Marina Silva. Ela teve 20 milhões de votos e levou a eleição para o terceiro turno.

Nesse instante, chegou o meu sobrinho à cozinha.

-Ainda bem que você não trabalha neste sábado. No sabadoido passado, o Luca trouxe a neta, mas você estava nos Correios.

-Eu soube.

-Ela ficou até meio jururu. Eu disse: “Kiara, em cinco minutos, eu saio do computador.” E a reação dela: “Pode ficar, Carlinhos”. Bem diferente daquela Kiara que não aguentou esperar um minuto, e me despejou: “Carlinhos, o Sabadoido tem um esquema: os mais velhos conversam, e as crianças brincam no computador.”

-A Kiarinha se garantiu no Daniel. - declarou a Gina, que apareceu logo depois do filho.

-Eu uso o computador do Daniel para as mensagens eletrônicas mais complexas que recebo, aquelas que não posso abrir no trabalho, porque estão bloqueadas, e em casa, porque o sinal da internet é precário.

-O computador daqui anda também péssimo. - criticou a Gina.

-Não tenho queixas. Eu estava louco para assistir ao vídeo do Jean Manzon sobre o transporte no Rio de Janeiro no tempo dos bondes, dos lotações e dos trens tomados por pingentes, e só consegui ver no computador do Daniel. Olhe que são dez minutos de filme...

-Eu tenho tido problemas. - insistiu a Gina.

-Eu não me recordava do caos que os lotações provocavam. Nesse documentário, os lotações são chamados, na voz do Luís Jatobá, de parasitas do trânsito.

-Eu me lembro quando o trem pegou o lotação Méier-Penha, na estação de Del Castilho. - interveio o Cláudio.

-Creio que foi em 1962. Nós descemos a Rua São Gabriel e fomos ver os corpos na linha férrea. Graças a Deus que estavam cobertos, alguns por jornais. - falei.

-Se, naquele tempo, você tinha medo de filmes de vampiro, imagino as noites que você ficaria falando dormindo se visse mortos de verdade.

-Eu fui até a tragédia por um impulso de garoto.

-Aquela cancela era uma chatice. Paravam todos os ônibus e lotações para esperar o trem passar. O motorista do Meier-Penha caiu naquele velho engodo: calculou que dava...

-O governador Carlos Lacerda inaugurou o viaduto de Del Castilho e deu um fim àquele perigo. - assinalei.

-Quanto ao meu computador, ele está meio pesado. Eu tenho instalado dois antivírus, e não sei qual deles eu vou tirar.

-Fique com o Avira.

-Também acho o melhor. - corroborei a sugestão da Gina.

-Tiro o outro, então.

-No sábado passado, houve um momento que a Kiara lançou o alarme: tudo se apagara. Disseram, até, que eu preparara uma armadilha quando saí do computador.

-Ela mesma apertou um botão errado; ela se esquecera das instruções do Daniel para o joguinho em que ela brincava.

-Você vai ver seus e-mails? - voltou-se para mim.

-Vou, é pouca coisa, Daniel.

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