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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

2063 - plágios de eu mesmo

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3863 Data: 12 de dezembro de 2011

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DEVANEIOS NO SABADOIDO

-Cláudio, eu sempre me deitei para dormir com o rádio sintonizado na MEC.

-É melhor assim do que dormir com o rádio do vizinho nos nossos ouvidos. - observou.

-Como escuto algumas coisas no estágio entre o sono e a vigília, o devaneio, acordo com dúvidas.

-Sim. - resmungou.

-No programa das 10 horas da noite, de quinta-feira, “Kinoscope”, ouvi do Fabiano Canosa, o apresentador, que a música do “Poderoso Chefão” era plágio e que, por isso, não ganhou o Oscar de 1973 e o produtor Dino Di Laurentiis colocou a boca no trombone.

Meu irmão que, até então, me ouvia com pachorra, interessou-se pelo assunto.

-Não soube disso; Nino Rota foi um compositor de primeira categoria, criou todas as músicas dos filmes de Fellini.

-Nino Rota compôs uma boa opereta a que assisti “O Chapéu de Palha” e concertos para piano e orquestra, principalmente. Eram composições mais elaboradas; as melódicas, que caíam logo no gosto do público, ele dedicou às trilhas sonoras de filmes.

-Mas ele plagiou ou não? - pediu-me mais objetividade o meu irmão.

-Pelo programa da Rádio MEC, eu não posso responder porque dormi, mas, no dia seguinte, pesquisei. Nino Rota foi acusado de reaproveitar a música que escreveu para um filme de 1958, com Julietta Massina, mas que não era do Fellini, “Fortunella”. Consegui ouvir a música desse filme no youtube.

-E é plágio?

-Cláudio, tudo começa com um ritmo bem agitado...

-Uma tarantella?

-Não é tão frenética quanto uma tarantela. Depois, tudo se suaviza, e entra o melódico lá lá lá lá de “O Poderoso Chefão”. Nino Rota ficou indignado com a acusação de se autoplagiar e, em 1974, ou 1975, quando ganhou o Oscar pelo “Poderoso Chefão 2”, não compareceu `a cerimônia de entrega.

-A Academia de Hollywood ficou irada quando soube que o Charles Chaplin usou o Oscar que recebeu, em 1929, do lado da porta para que ela não batesse. Imagino a raiva que eles tiveram do Nino Rota.

-Eu gravei, Cláudio, a suíte de “O Poderoso Chefão”, uns 20 minutos de música e coloquei no meu computador para ouvir de vez em quando.

-E o produtor Dino Di Laurentiis, que colocou a boca no trombone?

-Este, Cláudio, eu não sei se estava contra ou a favor, preciso pesquisar mais.

-O Luca não vem neste sábado. Ele vai a Vassouras com a Glória. - informou a Gina.

-Se o Vagner não vier também, o cavalo trabalhará muito hoje, substituindo dois. - lamentou meu irmão.

-Você deveria ter uma mula, ou um burro, que é mais resistente do que o cavalo e era o animal que o Amador Aguiar mais admirava.

Com a chegada do meu sobrinho, o assunto passou para o futebol.

-Quem ganha hoje, Daniel, Barcelona ou Real Madrid? - indaguei.

-Eis uma boa partida para se assistir. - limitou-se a responder.

-O canal ESPN levou ontem, para falar desse jogo, o Evaristo. - falei.

-O Evaristo foi um grande jogador de futebol.- assinalou o Cláudio.

-Ele jogou no Real Madrid, do Di Stefano e no Barcelona, do Kubala. - registrou o Daniel, que também se interessa pelo futebol do passado.

-A ESPN mostrou o gol de peixinho que o Evaristo fez pelo Barcelona contra o Real Madrid, cujo retrato é destaque do museu do Barcelona. Esse gol quebrou a sequência de títulos seguidos dos madrilenhos e colocou o Barcelona para disputar a final com o Benfica. Mas a partir dessa derrota, o Real Madrid teve uma sucessão de 15 vitórias que só foi igualada agora; se o Barcelona perder hoje, eles batem o recorde.

-O que o Evaristo disse? - mostrou o Cláudio curiosidade.

-Ele disse, reportando-se ao tempo dele de jogador, que o pessoal de Madrid é mais elitista, daí, o Real, enquanto os habitantes de Barcelona são mais povão.

-E sobre a rivalidade? - perguntou o Cláudio.

-Ele, como jogador, ainda pegou as feridas não cicatrizadas da Guerra Civil da Espanha, quando os comunistas estavam com a Catalunha, incluindo Barcelona, e os franquistas com Madrid. Bem, Cláudio, a coisa foi mais complexa do que disse o Evaristo, porque os comunistas se entranharam em Madrid e, dentro da capital da Espanha, nos estertores, houve uma guerra civil dentro da guerra civil. Os rancores, em Catalunha, passaram de pai para filho, de avô para neto e chegaram ao futebol. Mas Evaristo acredita que hoje a inimizade arrefeceu.

-Vou à faculdade. - anunciou o Daniel.

-Vai fazer um curso de pós-graduação? - indaguei.

-É outra coisa. - foi enigmático.

-A ESPN exibiu filmes dos arquivos em que nós vemos o time de garotos de 14, 15 anos de idade do Barcelona. Lá estão o Messi, o Piquê, o Fabregas... O Fabregas jogou, depois, na Inglaterra e retornou ao Barcelona e é um dos artilheiros. O que o Lionel Messi faz com a bola hoje, ele fazia na adolescência. Parece que ficaram cinco anos sem perder.

-O Barcelona treina exaustivamente o passe.

-O Cruyff, que foi técnico do Barcelona, trouxe os ensinamentos do Rinus Michels, do carrossel holandês, para lá. O atual técnico, o Guardiola, foi jogador do Cruyff e captou os ensinamentos. O Barcelona leva as defesas adversárias à loucura com as trocas constantes de posição dos seus atacantes.

-E o Evaristo?

-O Evaristo, falando agora do futebol brasileiro, referiu-se ao comportamento das torcidas. No passado, quando o time perdia, o torcedor ficava triste, aborrecido, hoje, fica raivoso, violento.

-Você sabe, Carlinhos, que os jogadores da seleção do Uruguai, que venceram o Brasil, na Copa de 50, saíram para espairecer à noite, no Rio de Janeiro, naquele fatídico 16 de julho.

-Sei, Cláudio; ouvi vários jogadores que confessaram o seu constrangimento de ver tantos brasileiros chorando.

-Não houve um só jogador uruguaio que fosse hostilizado nessa noite. - frisou meu irmão.

-Se eles fossem sair hoje às ruas, depois de tirar uma Copa do Mundo do Brasil, seriam pendurados em ganchos de açougue como os alemães que participaram do complô contra Hitler.

E o tema voltou a ser a música;

-Ontem, Cláudio, no programa do Sérvio Túlio, da Rádio MEC, o compositor homenageado foi Jerome Kern.

-Esse está entre os 10 maiores compositores do mundo. - entusiasmou-se.

-Até o pessoal com conhecimento limitado de música cantarola o “Smoke gets in your eyes”.

-Ele só viveu 60 anos, mas compôs muito. - falou.

-O Sérvio Túlio estava falando da adaptação do musical “Show Boat” do Jerome Kern para o cinema quando eu dormi. Mas ouvi ainda uma gravação rara da Ava Gardner como cantora. Os estúdios de cinema colocavam a Annete Warren para cantar, enquanto a bela atriz fazia mímica, pois a sua voz era tenebrosa, mas conseguiram, no entanto, essa raridade. Puseram, então, a gravação para tocar.

-E como é a voz da Ava Gardner?

-Cláudio, no Brasil, há vozes piores.

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