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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

2065 - Os favoritos do Biscoito

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3865 Data: 17 de dezembro de 2011

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MANIFESTAÇÕES INTERNÉTICAS

Os leitores que não leem as edições do Biscoito Molhado distribuídas pelo Dieckmann desconhecem os seus asteriscos, que são comentários sobre algum trecho do mencionado periódico. Nunca houve problemas entre os leitores e não-leitores desses asteriscos, com uma única exceção: ao saber que o nosso distribuidor manifestara desdém pelos não lidam com a informática, Rosa Grieco reagiu com alguma agressividade confundindo, porém, o Dieckmann com o Fischberg. Serenados os ânimos, tudo acabou bem, e o cachimbo da paz, o único que não faz mal a saúde, foi fumado por todos.

Mas não é sempre que o nosso amigo de descendência nórdica insere asteriscos neste periódico; mais de dez edições seguidas já se passaram sem que ele digitasse uma só vírgula. Quando isso acontece, eu publico um Biscoito Molhado sobre o tempo em que o Dieckmann era chefe no Departamento de Marinha Mercante.

-Carlos, ele vai encher o Biscoito de Molhado de asteriscos. - previa, então, o Elio Fischberg quando o jornalzinho passava pela revisão.

Quando eu aludi à reunião em que o Dieckmann ensinou os seus funcionários a respirar pelo diafragma, antecipando-se às cenas do Filme “O Discurso do Rei”, choveram asteriscos.

Nos últimos meses parece que os dito cujos passavam por um período de entressafra, mas aumentaram com a mudança do nosso amigo para o Caju, onde foi supervisionar, pela Petrobras, um estaleiro.

Não sei se a carga de trabalho diminuiu, ou se a proximidade de mortos criativos o inspirou, mas Dieckmann me surpreendeu com um inspirado asterisco sobre um tema inesperado: a barriga das pipas. Onde os leitores poderiam ver com malícia a frase que escrevi, ele viu com os olhos da ciência.

Vale a transcrição para aqueles que recebem diretamente este jornalzinho.

Biscoito Molhado:

Cordonnet, apesar de mais resistente, aumentava a barriga na proporção que a pipa subia”.

Asterisco do Dieckmann:

“O nome correto para barriga de linha é catenária.

Em matemática, a catenária (negrito dele) descreve uma família de curvas planas semelhante às que seriam geradas por uma corda suspensa pelas suas extremidades e sujeitas à ação da gravidade. A equação da forma catenária é dada pela função hiperbólica e a sua função equivalente exponencial.”

Em seguida, Dieckmann envereda pela história da barriga da pipa... digo, da catenária.

“O problema de descrever matematicamente a forma da curva formada por um fio suspenso entre dois pontos e sob a ação exclusiva da gravidade foi proposto por Galileu Galilei, que propôs a conjectura de que a curva fosse uma parábola. Aos 17 anos de idade, Huygens mostrou, em 1646, que a conjectura era falsa. Em 1690, Johann Bernoulli relançou o problema à comunidade científica. A resolução do problema foi publicada independentemente, em 1691, por John Bernoulli, Leibniz e Huygens.”

Para finalizar o asterisco, Dieckmann fala da aplicação prática da catenária:

“Uma força aplicada em um ponto qualquer da curva a divide igualmente por todo material. Por isso, é usada para a fabricação de materiais como o fundo das latas de refrigerante, iglus e túneis.”

E eu que pensava que o ato de empinar pipa só foi útil para a ciência quando Benjamin Franklin amarrou uma chave numa linha de metal, num dia de nuvens carregadas...

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Sensibilizado com a extraordinária figura humana que foi Anton Tchekhov, que recentemente me visitou, Elio Fischberg me pediu para publicar dados sobre o sucesso das encenações desse grande autor, no Teatro Tablado e no Oficina, nas décadas de 60 e 70. Se ele pudesse recorrer aos asteriscos, poderia se incumbir melhor dessa tarefa, pois assistiu a esses eventos.

Sei, por leitura de jornal, que Ivan Albuquerque, em 1968, explorando as novas perspectivas no caminho da investigação da linguagem, com O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov, recebeu o Prêmio Molière de melhor ator.

Quanto ao grande dramaturgo russo, mexeu nos princípios da tragédia instituídos por Aristóteles. O grande filósofo grego estabeleceu que personagens “elevados” - reis, príncipes, deuses, heróis – encontrariam a morte ao desafiar o destino, mas Tchekhov criou personagens comuns, em contraponto aos “elevados”, cujas misérias são retratadas de forma “antidramática”, assim é mostrado mais o universo interior das suas personagens do que suas ações.

Em 2010, o mundo teatral festejou os 150 anos de nascimento do inspirado autor. No Brasil, artistas que se envolveram com obras suas, num prazo recente, palestraram sobre as mesmas. Diogo Vilela tratou de Tio Vânia; Enrique Diaz, de A Gaivota; Renato Borghi, de O Jardim das Cerejeiras; e Eduardo Coutinho, de As Três Irmãs.

Vi As Três Irmãs, sob forma de filme, com Laurence Olivier que, na época, já passara dos 70 anos. O próprio Eduardo Coutinho fala desse drama como filme. Assistira ao espetáculo, no teatro, quando jovem e jamais o esqueceu. Décadas depois, montou o filme.

Dessas obras, eu gostaria de ver Tio Vânia. O homem na fase outonal que percebe o quanto desperdiçou da sua vida no momento em que se apaixona por Helena, a mulher do seu ex-cunhado. Este é um falso intelectual, como muitos, por quem se sacrificou ao sustentar sua carreira. Sendo um homem de qualidade, Vânia poderia progredir e ganhar o mundo, mas desperdiçou juventude, ambições intelectuais e pessoais, trabalhando em vão. Embora se dê conta do que perdeu, não consegue alterar os rumos do destino. Ao saber que o ex-cunhado pretende despejá-lo das suas terras, vendendo-as, Tio Vânia tenta matá-lo, mas erra o alvo.

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Nos últimos anos, tenho ouvido muito o Rafael Rabelo, o que não é pouca coisa, pelo contrário, é muita, além de ser um privilégio. Sua irmã, Luciana Rabelo, apesar de não alcançar o mesmo patamar artístico, eu vejo de vez em quando, inclusive num Festival de Choro que aconteceu na Sala Cecília Meireles. O diabo é que o grande instrumentista partiu muito cedo.

Semana passada, enviaram-me um vídeo, pela internet, com a participação dele no programa do Jô Soares. Barbudo, sem deixar de ser jovem; de pouco risos, sem deixar de ser simpático.

Falou que o violão se desenvolveu à margem da elite, que não é um instrumento para solos e sim para acompanhamento, daí, a grande dificuldade em se executar uma peça musical com ele apenas. Alia-se a isso o fato de ser relativamente novo, disse ele.

Perguntado pelo Jô Soares sobre os mestres com quem conviveu, o jovem Rafael Rabelo citou o decano Radamés Gnatalli, autor de quatro belos concertos para violão solo e orquestra.

Rafael Rabelo sofrera, poucos meses antes dessa entrevista, uma fratura no braço, provocada por um taxista, que requereu nove parafusos. O médico previu um ano de recuperação, mas ele voltou ao instrumento em quatro meses, afinal, seu violão era um presente do Paulinho da Viola, um Ramirez, o mais talentoso construtor de violões flamencos do século XX.

Para brindar a plateia, tocou uma composição de Tom Jobim.

Guardei o vídeo no arquivo “meus favoritos”.

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