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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

2035 - publique-se a lenda

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3865 Data: 17 de outubro de 2011

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O SABADOIDO DO DIA DO PROFESSOR

Quando cheguei à sessão do Sabadoido, o assunto era história.

-O grito do Ipiranga não existiu.

-Ensinam na escola, mas não existiu. - concordou o Daniel com o Luca.

-E não havia cavalos... Eles não aguentariam galopar por tanto tempo, morreriam no caminho. Dom Pedro, com os que o acompanhavam, no riacho do Ipiranga, estava montado numa mula. - prosseguiu o Luca.

-Muitas coisas eles não dizem na escola. - interveio o Daniel.

-Pedro Américo propagou o “Grito do Ipiranga” através de uma pintura que é quase um plágio de um quadro sobre uma vitória de Napoleão. - intrometi-me.

-Isso mesmo; eu li o “1822”, e é dito isto, praticamente. - falou o Luca.

-Eu não li o Laurentino...

-Laurentino Gomes. - acrescentou meu irmão ao notar que a minha memória rateava.

-Mas acompanhei duas entrevistas dele na televisão. Laurentino Gomes é jornalista, não é historiador. Fez muitas pesquisas na Torre do Tombo, em Lisboa...

-Pesquisou muito nos livros do pai do Chico Buarque.- interrompeu-me o Luca.

-Dele, eu pretendia ler primeiramente o “1808”. - declarou meu irmão.

Luca continuou:

-Dom Pedro tomou gosto pelo Brasil, não andava com toda aquela vestimenta europeia, era asseado...

-Dom João VI, porque teve de tomar banho devido a um furúnculo, um local do Caju ficou conhecido como “Casa de Banho”.- disse, ao lembrar-me dos terminais portuários das proximidades, que visito a serviço.

-Dona Amélia, a segunda esposa de Dom Pedro I, o afastou dos amigos estroinas. Dona Leopoldina tinha morrido com 30 anos. - retomou a palavra o Luca.

-Dona Leopoldina era uma Habsburgo, irmã da Maria Luiza, que Napoleão Bonaparte tomou como esposa porque queria um herdeiro.

-Eu tinha feito confusão com Maria Antonieta nessa história. - penitenciou-se o Cláudio.

-Maria Antonieta era também uma Habsburgo, tia da Princesa Leopoldina e da Imperatriz Maria Luiza.

Depois de dizer isto, voltei-me para o Luca.

-O Laurentino Gomes escreve que Dom Pedro I desferiu um pontapé na Princesa Leopoldina, grávida?

-Ele fala que ela gostava muito dele, que os amores do Imperador com a Domitila trouxe muitos dissabores.

-A Princesa Leopoldina era extremamente inteligente, ele mantinha uma conversação de alto nível com José Bonifácio,

-Napoleão, atacando Portugal, apressou a independência do Brasil.- aparteou-me meu irmão.

-Sim, Claudiomiro, de cada dez brasileiros apenas um sabia ler. - disse o Luca.

-Enquanto a corte fugia para o Brasil, José Bonifácio ficou em Portugal, na luta contra os invasores. - insisti com o Patriarca do Brasil.

-José Bonifácio era um dos grandes intelectuais da época, amigo de Humboldt.

-Sim, Carlinhos. - meneou o Luca a cabeça.

-Ele foi um visionário que pugnava por uma capital no planalto central com o nome de Brasília. Nada, porém, parecido com o descalabro do Juscelino...

-Meu irmão me atropelou para desancar ainda mais o Presidente Juscelino Kubitscheck; em seguida, afirmou que os mísseis chegam nas capitais localizadas no interior.

-Eu sei, Claudiomiro, mas não se pode negar a visão do José Bonifácio.- contemporizou o Luca.

Lembrei-me que o autor do “1822” se referiu ao Patriarca da Independência como um homem feliz, que usava rabo de cavalo e dançava o lundu sobre as mesas, enquanto o Daniel se retirava para o interior da casa.

-Dom Pedro I gostava imensamente de música. - retornou o Luca ao primeiro imperador do Brasil sob o olhar atento do Vagner.

-Beethoven não compôs alguma coisa sobre o Brasil?...- titubeou.

-Luca, que eu saiba, não. Ele dedicou uma sinfonia a Napoleão, depois retirou a dedicatória...

-A Heroica não é de Beethoven?

-Sim- entusiasmei-me – foi essa sinfonia que ele dedicou a Napoleão e riscou a dedicatória quando Napoleão se tornou imperador.

-É isso mesmo! Era dela que eu queria me lembrar.

Só mais tarde, lendo uma das missivas da Rosa Grieco, que trata dessa composição, entendi a vibração do Luca.

-Vocês sabiam que Napoleão não era francês?- perguntou.

-Ele nasceu na Córsega, que era meio italiana.

-Isso mesmo. - confirmou.

-Hitler não era alemão, era austríaco; e Stalin não era russo.

-De onde era Stalin?- perguntou-me meu sobrinho, que retornava.

-Ele nasceu na Geórgia.

-Carmem Miranda não era brasileira, era portuguesa.

-Carlos Gardel não era argentino... - entrei no jogo do Luca.

-Poxa, daqui pouco vão dizer que Deus não é brasileiro! - pilheriou o Cláudio.

Daniel e Luca passaram a falar sobre o pingue-pongue virtual que os dois praticam, enquanto o Vagner ria com os gestos histriônicos do meu sobrinho. Eu e Cláudio conversamos, paralelamente, sobre o programa de música ligeira do Sérvio Túlio na rádio MEC.

-Ontem, levou “O Homem de La Mancha”, com Placido Domingo no papel de Dom Quixote, Cláudio.

-Aqui, no Brasil, entrou em cartaz com o Paulo Autran e a Bibi Ferreira.

-Eu sei, Cláudio.

-O Chico Buarque escreveu a letra “O Sonho Impossível”. - acrescentou.

-Eu estava endiabrado! - sacudiu-se o Daniel.

-Dois filhos do Placido Domingo cantam também, nessa versão.

-A máquina não viu a bolinha comigo. - continuou o Daniel.

-Pena que eu dormi logo, Cláudio.

-Daniel, a máquina está programada para perder ou para ganhar, dependendo... - contemporizou o Luca.

-Às vezes, eu fico no sufoco. - admitiu meu sobrinho.

-A abertura d' “O homem de La Mancha” é muito bonita. - afirmou o Cláudio.

-Eu escutei a “Ouverture”, “I, Don Quixote”, “Food, Wine, Aldonza”, “Sweet Lady”, “Dulcinea”, e dormi.

-Mas quando estou endiabrado, não perco. - frisou meu sobrinho.

-E como o Fred comemora os gols que faz?- voltei-me para ele.

E o Daniel dançou como o atacante do Fluminense.

-É isso aí, Daniel. - aprovou o Vagner.

Com um ouvido de morcego, Cláudio ouviu a chegada da Gina das compras.

-Tenho de pegar as sacolas do supermercado. - informou.

-A Gina está chegando?- indagou o Vagner.

-Está.

E voltando-se para o filho, pediu que ele ajudasse também no transporte das sacolas.

-É pra já.

-Eu também ajudo. - prontificou-se o Luca.

-Não é preciso. - decidiu o Cláudio.

Em poucos minutos, as compras eram carregadas para dentro de casa e a Gina aparecia saudando a todos.

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