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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3865 Data: 17 de outubro de 2011
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O SABADOIDO DO DIA DO PROFESSOR
Quando cheguei à sessão do Sabadoido, o assunto era história.
-O grito do Ipiranga não existiu.
-Ensinam na escola, mas não existiu. - concordou o Daniel com o Luca.
-E não havia cavalos... Eles não aguentariam galopar por tanto tempo, morreriam no caminho. Dom Pedro, com os que o acompanhavam, no riacho do Ipiranga, estava montado numa mula. - prosseguiu o Luca.
-Muitas coisas eles não dizem na escola. - interveio o Daniel.
-Pedro Américo propagou o “Grito do Ipiranga” através de uma pintura que é quase um plágio de um quadro sobre uma vitória de Napoleão. - intrometi-me.
-Isso mesmo; eu li o “
-Eu não li o Laurentino...
-Laurentino Gomes. - acrescentou meu irmão ao notar que a minha memória rateava.
-Mas acompanhei duas entrevistas dele na televisão. Laurentino Gomes é jornalista, não é historiador. Fez muitas pesquisas na Torre do Tombo, em Lisboa...
-Pesquisou muito nos livros do pai do Chico Buarque.- interrompeu-me o Luca.
-Dele, eu pretendia ler primeiramente o “
Luca continuou:
-Dom Pedro tomou gosto pelo Brasil, não andava com toda aquela vestimenta europeia, era asseado...
-Dom João VI, porque teve de tomar banho devido a um furúnculo, um local do Caju ficou conhecido como “Casa de Banho”.- disse, ao lembrar-me dos terminais portuários das proximidades, que visito a serviço.
-Dona Amélia, a segunda esposa de Dom Pedro I, o afastou dos amigos estroinas. Dona Leopoldina tinha morrido com 30 anos. - retomou a palavra o Luca.
-Dona Leopoldina era uma Habsburgo, irmã da Maria Luiza, que Napoleão Bonaparte tomou como esposa porque queria um herdeiro.
-Eu tinha feito confusão com Maria Antonieta nessa história. - penitenciou-se o Cláudio.
-Maria Antonieta era também uma Habsburgo, tia da Princesa Leopoldina e da Imperatriz Maria Luiza.
Depois de dizer isto, voltei-me para o Luca.
-O Laurentino Gomes escreve que Dom Pedro I desferiu um pontapé na Princesa Leopoldina, grávida?
-Ele fala que ela gostava muito dele, que os amores do Imperador com a Domitila trouxe muitos dissabores.
-A Princesa Leopoldina era extremamente inteligente, ele mantinha uma conversação de alto nível com José Bonifácio,
-Napoleão, atacando Portugal, apressou a independência do Brasil.- aparteou-me meu irmão.
-Sim, Claudiomiro, de cada dez brasileiros apenas um sabia ler. - disse o Luca.
-Enquanto a corte fugia para o Brasil, José Bonifácio ficou em Portugal, na luta contra os invasores. - insisti com o Patriarca do Brasil.
-José Bonifácio era um dos grandes intelectuais da época, amigo de Humboldt.
-Sim, Carlinhos. - meneou o Luca a cabeça.
-Ele foi um visionário que pugnava por uma capital no planalto central com o nome de Brasília. Nada, porém, parecido com o descalabro do Juscelino...
-Meu irmão me atropelou para desancar ainda mais o Presidente Juscelino Kubitscheck; em seguida, afirmou que os mísseis chegam nas capitais localizadas no interior.
-Eu sei, Claudiomiro, mas não se pode negar a visão do José Bonifácio.- contemporizou o Luca.
Lembrei-me que o autor do “
-Dom Pedro I gostava imensamente de música. - retornou o Luca ao primeiro imperador do Brasil sob o olhar atento do Vagner.
-Beethoven não compôs alguma coisa sobre o Brasil?...- titubeou.
-Luca, que eu saiba, não. Ele dedicou uma sinfonia a Napoleão, depois retirou a dedicatória...
-A Heroica não é de Beethoven?
-Sim- entusiasmei-me – foi essa sinfonia que ele dedicou a Napoleão e riscou a dedicatória quando Napoleão se tornou imperador.
-É isso mesmo! Era dela que eu queria me lembrar.
Só mais tarde, lendo uma das missivas da Rosa Grieco, que trata dessa composição, entendi a vibração do Luca.
-Vocês sabiam que Napoleão não era francês?- perguntou.
-Ele nasceu na Córsega, que era meio italiana.
-Isso mesmo. - confirmou.
-Hitler não era alemão, era austríaco; e Stalin não era russo.
-De onde era Stalin?- perguntou-me meu sobrinho, que retornava.
-Ele nasceu na Geórgia.
-Carmem Miranda não era brasileira, era portuguesa.
-Carlos Gardel não era argentino... - entrei no jogo do Luca.
-Poxa, daqui pouco vão dizer que Deus não é brasileiro! - pilheriou o Cláudio.
Daniel e Luca passaram a falar sobre o pingue-pongue virtual que os dois praticam, enquanto o Vagner ria com os gestos histriônicos do meu sobrinho. Eu e Cláudio conversamos, paralelamente, sobre o programa de música ligeira do Sérvio Túlio na rádio MEC.
-Ontem, levou “O Homem de
-Aqui, no Brasil, entrou em cartaz com o Paulo Autran e a Bibi Ferreira.
-Eu sei, Cláudio.
-O Chico Buarque escreveu a letra “O Sonho Impossível”. - acrescentou.
-Eu estava endiabrado! - sacudiu-se o Daniel.
-Dois filhos do Placido Domingo cantam também, nessa versão.
-A máquina não viu a bolinha comigo. - continuou o Daniel.
-Pena que eu dormi logo, Cláudio.
-Daniel, a máquina está programada para perder ou para ganhar, dependendo... - contemporizou o Luca.
-Às vezes, eu fico no sufoco. - admitiu meu sobrinho.
-A abertura d' “O homem de
-Eu escutei a “Ouverture”, “I, Don Quixote”, “Food, Wine, Aldonza”, “Sweet Lady”, “Dulcinea”, e dormi.
-Mas quando estou endiabrado, não perco. - frisou meu sobrinho.
-E como o Fred comemora os gols que faz?- voltei-me para ele.
E o Daniel dançou como o atacante do Fluminense.
-É isso aí, Daniel. - aprovou o Vagner.
Com um ouvido de morcego, Cláudio ouviu a chegada da Gina das compras.
-Tenho de pegar as sacolas do supermercado. - informou.
-A Gina está chegando?- indagou o Vagner.
-Está.
E voltando-se para o filho, pediu que ele ajudasse também no transporte das sacolas.
-É pra já.
-Eu também ajudo. - prontificou-se o Luca.
-Não é preciso. - decidiu o Cláudio.
Em poucos minutos, as compras eram carregadas para dentro de casa e a Gina aparecia saudando a todos.
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