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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3856 Data: 30 de setembro de 2011
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SABADOIDO: DEPOIS DO ZÉ PERI, O BERLUSCONI
-De repente, o delírio da Rosa Grieco se realizou: o primeiro-ministro da Itália, Sílvio Berlusconi, apareceu no Sabadoido.
-Berlusconi, o que você pensa da Angela Merkel?- provocou meu irmão.
-É bunduda, mas não é comível.
-O senhor não fala isso porque tem inveja da riqueza da Alemanha?- retrucou a Gina, que chegava das compras.
-Ora, eu sou dono do Milan; tenho dinheiro para promover festas com dez prostitutas para cada homem, embora eu só consiga satisfazer oito por noite...
-E a Itália?- foi a vez de o Luca provocar.
-É um país de merda. - respondeu.
-Desde o Luís Xalulu que não aparece uma figura tão bizarra no Sabadoido. - cochichei no ouvido do Vagner.
-Chame o Daniel para conhecer o Silvio Berlusconi. - pediu o Cláudio à Gina.
-Não, porque daqui a pouco, ele estará me imitando. - reagiu o primeiro-ministro da Itália.
-A fama do Daniel de imitador já chegou à Itália? - expressei a minha perplexidade.
-Sim, muitos jogadores brasileiros levam as novidades daqui para lá.
-Você acha que o Pato, namorando a sua filha, não pensa em dar o golpe do baú?- maldou a Gina.
-O Pato faz sucesso internacional, mesmo com aquele cantor brasileiro que não tem voz, o João Gilberto. - pilheriou o iminente sogro do atacante brasileiro.
-O senhor gosta do Brasil?- perguntou o Luca.
-Bem, se eu assassinar umas quatro pessoas na Itália, é claro que fugirei para o Brasil.
E tudo se desfez; a imaginação delirante da Rosa Grieco, que se transmudara na minha, se foi com o Silvio Berlusconi.
-O Reinaldo ficou encantado com o Biscoito Molhado do Carlos Alberto, mas eu lhe disse que o Carlinhos inventa. - quebrou Luca o silêncio.
Antes de prosseguirmos, um esclarecimento para aqueles que recebem este periódico do Dieckmann: Carlos Alberto é o Carlos Átila da edição dos “Três Momentos do Carlos Átila”.
Ao ouvir as palavras do Luca, retruquei:
-Alto lá: o Cláudio está aqui para confirmar o esporro que ele deu no Cabrita, por ter colocado o bibico sobre o ombro e os outros dois casos podem ser confirmados por moradores da Rua Estêvão Silva.
-Esse Carlos Alberto era do CPOR e andou atrás de mim. - revelou a Gina.
Meu irmão fingiu um ciúme requentado:
-Como você ousou?!...
-E muita gente viu o Pantera enfurecido porque o Carlos Alberto o ameaçou com a prisão.- enfatizei.
-Pantera não era de nada.
-Gina, comparado com aquele oficialzinho do CPOR, ele era fortíssimo.
-Eu, ao contrário de muitos, gosto do cinema brasileiro e vou assistir ao filme sobre a Rádio Nacional. - mudou o Luca de assunto.
Vagner e Cláudio se limitaram a balançar a cabeça, enquanto a Gina se retirava para cozinha, e o Luca prosseguia:
-O Peri Ribeiro, que vivia na Rádio Nacional, por causa dos pais dele, afirma que nunca viu o Roberto Carlos lá e, no entanto, o colocaram como uma das personalidades da Rádio.
-Se eu não me engano, Roberto Carlos foi lançado pelo Chacrinha. - manifestei-me.
-Qual é mesmo o prefixo da Rádio Nacional?
-1130. - dirimiu o Cláudio a dúvida do Luca.
-Durante muito tempo, a Rádio Nacional foi o maior veículo de divulgação do Brasil.
-Da América Latina.
-E não foram anos e sim, décadas, dos anos 40 até 1965, mais ou menos. Sim, Carlinhos, da América Latina. O Boni, da TV Globo, aprendeu muito lá. - entusiasmou-se o Luca com as lembranças da era radiofônica.
-Alguém se lembra das estações de rádio? - indagou.
E os nomes brotavam da nossa memória:
-Rádios Vera Cruz, Guanabara, Tamoio, Metropolitana, Continental, Mauá, Mayrink Veiga, Mundial, Rio de Janeiro, Imprensa, Globo, Roquette Pinto, Ministério da Educação, Jornal do Brasil, Nacional...
Resumindo: só esquecemos a Rádio Relógio.
-Alguém pode citar três programas da Rádio Mayrink Veiga?
-”Vai da Valsa”. -eu disse de batepronto.
Notei que o Luca não esperava por essa resposta, mas meu pai tinha preferência pela programação humorística, depois de um dia de trabalho, e, por isso, ele não perdia o programa citado além de “A Cidade se diverte”, da emissora mencionada.
-”Peça bis pelo telefone.”- citou meu irmão.
-Claudiomiro, todo o mundo ouvia, não é? Um programa do Jair de Taumaturgo.
-E Isaac Zeltman.
-Muito bem lembrado, Carlinhos. Eis um nome que está no esquecimento, mas que, na época, era faladíssimo.
-Ele apresentava o “Peça bis pelo telefone”. - acrescentou meu irmão.
-Havia um programa vespertino na Rádio Tamoio em que o Johnny Matthis sempre tirava o primeiro lugar. - lancei a dúvida.
-”Músicas na Passarela”. - disse o Cláudio.
-O Carlinhos se lembrou da Rádio Metropolitana. - interveio o Vagner.
-Lembrei-me por causa das “Melodias da Broadway” das quartas-feiras.
-Quem era aquele apresentador que fazia muitas versões, Claudiomiro?
-José Messias. Versões eram com José Messias e Rossini Pinto.
-Isso, Claudiomiro.
-Citei, então, algumas das grandes vozes de locutores juntamente com o Luca e o Cláudio.
-Para mim, Majestade, da Rádio Jornal do Brasil estava acima de todos.
-Prefiro Luís Jatobá.
Notei que a preferência do meu irmão era motivada pela sua queda pela polêmica, se eu citasse o Luís Jatobá, ele preferiria o Majestade. Na verdade, a maioria considera o apresentador do programa “Pergunte ao João”, Majestade, da Jornal do Brasil, como o primeiro, entre os locutores, por causa da sua voz possante e aveludada, além da sua dicção exemplar.
-O cinema está muito caro. - foi a vez de o Cláudio mudar de assunto intempestivamente.
E prosseguiu:
-Nos tempos passados, o cinema era bem mais barato.
-Também, eu lhe dava uma boa mesada. - reportei-me ao maluco do Zé Peri, que me julgara o pai do meu irmão quando cheguei.
-Era mais barato, sim. - concordou o Vagner.
-Nós não éramos endinheirados, quando garotos, pelo contrário, mas sempre assistíamos aos dois filmes por semana que levava no Cine Cachambi.
-E quando havia festival de filmes, um por dia, nós víamos todos. - reforcei as observações do meu irmão.
-A minha memória é péssima para cinema. - lamentou o Luca.
-A minha é horrível para fisionomia e lugares. - consolei-o.
-O último filme que vi, com a minha mãe, foi “Marcelino, pão e vinho”. - falou o Luca como se esta fosse a sua única reminiscência cinematográfica.
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