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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

2025 - Robin Hood vai à luta

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3855 Data: 28 de setembro de 2011

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CARTAS DE LEITORES

- Li, algures, em edição do Biscoito Molhado, que o Padre Perereca integrou o grupo de redatores do “Revérbero” e que Frei Caneca também foi articulista. Os senhores poderiam se inspirar no jornalista Alberto Dines e escrever um texto que nos lembre o “Observatório da Imprensa”? – Carlos.

BM: Será difícil, xará, pois quando pisamos o chão de um órgão informativo, em 1977, no caso o “Jornal do Brasil”, Alberto Dines era considerado o gênio do jornalismo a ser reverenciado. Mas, vamos lá.

Com o fim da censura prévia no Brasil, em 1821, reflexo da Revolução Liberal do Porto, um ano antes, cresceu o número de publicações no Brasil. Houve, na verdade, um verdadeiro surto de pequenos jornais, consequência do clima político que exacerbou a militância das elites e de alguns setores da classe média urbana.

Nos meses que antecederam a independência do Brasil, além de periódicos, proliferaram vários tipos de impressos: panfletos, manifestos, proclamações, etc. No início, discutia-se sobre a posição do imperador diante das exigências dos liberais portugueses. O interesse maior, para nós, era reforçar o papel do Brasil no reino português. Com a posição dos portugueses se tornando cada vez mais extremada, o tom se elevou e os debates se tornaram acirrados. O tema da independência se tornou mais manifesto e a imprensa cumpriu atuação de suma importância.

No contexto da independência do Brasil, deve ser destacado “O Espelho”, jornal fundado em outubro de 1821 por Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, o mesmo que participara da redação da “Gazeta do Rio de Janeiro”, de 1812 a 1821, e de “O Patriota”, de 1813. Como esses jornais, “O Espelho” defendia abertamente os interesses do Imperador que, oculto por pseudônimos, escreveu muitas vezes artigos em que sobressaía a linguagem grosseira, com palavrões e termos de baixo calão.

Chegamos, agora, ao “Revérbero”, do Padre Perereca. Era “Revérbero”, o periódico emblemático dessa época, por assumir posições contrárias às dos jornais do Visconde de Cairu, a “O Espelho” e a “O Patriota”. O “Revérbero” surgiu em 15 de setembro de 1821 e teve como redatores Joaquim Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa e, é claro, o Padre Perereca. Extinguiu-se no exemplar de número 48, logo após a declaração de independência, em 8 de outubro de 1822, quando seus redatores se viram forçados a abandonar o país. Perereca ficou.

Mesmo com o Brasil independente, o jornalismo era uma profissão perigosa. Os irmãos Andrada fundaram “O Tamoio”, em 1823. O nome era uma homenagem aos índios que se aliaram a Villegaignon contra os portugueses. Fazia oposição ao Imperador Dom Pedro I e, por isso, com o fechamento da Assembleia Constituinte, foi extinto. Os irmãos Andrada foram presos.

“A Malagueta” foi outro jornal liberal importante. Seu redator e diretor, o português Luiz Augusto May, por publicar artigos panfletários de oposição, sofreu vários atentados e, em um deles, ficou aleijado da mão esquerda.

Chegamos agora a Frei Caneca. Ele fundou um órgão de muita evidência na imprensa, “O Tífis Pernambucano”, em 15 de janeiro de 1823. Frei Caneca lutou pela independência, pela abolição da escravatura e por uma Constituição liberal. Participou da Revolução Pernambucana, em 1817, e ficou por quatro anos preso. Por ter sido um dos principais líderes da Confederação do Equador, foi condenado à forca e, como todos os carrascos se recusaram a enforcá-lo, foi fuzilado em 15 de janeiro de 1825.

- Sobre a edição do Biscoito Molhado, sobre os apelidos, gostaria de saber se os membros desta equipe são dados a apelidar as pessoas. - Jair Marinho.

BM: Bem, o nosso distribuidor apelidou o redator de “Biscoito”, e apenas ele o chama assim, além de o próprio apelidado, quando se identifica para o mesmo autor da gracinha. O nosso revisor apelidou a si mesmo (*) de “Causídico Verborrágico”, porque tem consciência de sua ojeriza pela concisão. Ele, sem pestanejar, troca uma imagem por mil palavras. Apesar disso, o apelido não grudou, mas é lembrado de vez em quando.

Quanto ao redator, ele revela, com uma ponta de orgulho, que obteve sucesso nessa prática, quando, no início da década de oitenta, colocou a alcunha de “Chichisbéu” em pretenso conquistador de corações femininos do Departamento Nacional de Marinha Mercante, aqui no Rio.

Ele, digo, eu estava lendo a biografia de Balzac, de Stefan Zweig, traduzida para o Português de Portugal, quando me deparei com a seguinte frase: “Balzac gastava como um chichisbéu”. Consultado o Caldas Aulete, descobri que chichisbéu significa galanteador inoportuno. Ora, ninguém era mais galanteador inoportuno do que o tal conquistador, que sobrevoava colegas de trabalho como moscas fazem com doces de padaria. Pela sonoridade cômica da palavra, o apelido pegou.

O que é Tífis? - Pergunta presumível de um leitor

BM: Tífis, que se grafava Typhis, no Português de antigamente, é um personagem da mitologia grega. Discípulo da deusa Atená (“Palas Atena”), foi piloto do navio construído por Argos, participando, portanto, da perigosa saga dos argonautas, em busca do Velocino de Ouro. Frei Caneca, com esse nome em seu jornal, quis chamar a ousadia dos argonautas para Pernambuco do início do século passado.

- Lampião foi apenas um rifle que nunca se apagava nos confrontos com os “macacos” (soldados e policiais, inimigos dos cangaceiros), como deduzi de uma leitura do Biscoito Molhado? - João Carlos.

BM: Ele foi mais que isso. Lampião organizou um bando de cerca de cinquenta pessoas, formado por homens e mulheres e percorreu sete estados da região nordestina. Como tinha sido almocreve, possuía razoável conhecimento dos caminhos ínvios.

Lampião e seu bando de cangaceiros invadiam cidades, lugarejos e fazendas e, se contrariado, revidava com estupros, matanças de pessoas e animais, além de atos de piromania, como incêndio em lavouras. Para muitos, ele nem precisava ser contrariado para cometer tais crimes.

Como Lampião se tornou uma lenda, havia também aqueles que romantizavam suas vilanias, garantindo que ele organizava festas nos lugares invadidos e ainda dava esmolas, chamando-o de “Robin Hood dos pobres”. (**)

Há indícios de que o governo de Artur Bernardes negociou com Lampião, em 1926, para que ele lutasse contra os tenentes revoltosos da Coluna Prestes, oferecendo-lhe armas e outros recursos bélicos. Uma versão, que complementa esta, conta que Lampião foi convidado, através da intermediação do Padre Cícero, a colaborar com o governo, na época da marcha da Coluna Prestes, recebendo, em troca, a oferta da patente de capitão.

- Mas logo meu padim Padre Cícero!... - diria Zeca Diabo.

- Jânio Quadros não disse apenas aquela frase sobre a intimidade, citada pelo Biscoito Molhado, dia desses. Além de frasista, ele era bom polemista. - Edmilson.

BM: É verdade, Edmilson. Certa vez, em um debate, alguém disse para o Jânio que ele poderia falar à vontade, pois entraria por um ouvido e sairia pelo outro. E Jânio retrucou:

“- É mentira, pois o som não se propaga no vácuo...”

(*) Não é fato. O grupo webboteco de batepapo via e-mail, formado por ex-alunos do Colégio Militar dos anos 61-67 (escamoteia-se o século por conveniência) foi quem alcunhou o Elio. Ele chegou a um webboteco já em andamento e logo chocou os habituais frequentadores com mensagens de 380 linhas, em série, como se fosse um serial e-mailer.

A alcunha Causídico Verborrágico foi imediata, pois com a periculosidade inerente à figura, a sociedade buscava identificação chula para se proteger, como foi feito com o Cara-de-Cavalo, com o Mineirinho e com o Ricardo Teixeira.

Sabemos que Ricardo Teixeira é também nome de batismo, mas virou vocativo de malfeitores.

(**) para o distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não existe Robin Hood dos ricos e nem o dos remediados.

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