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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

2034 - masculino, feminino, predicado e sujeito

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3864 Data: 17 de outubro de 2011

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MEUS PROFESSORES INESQUECÍVEIS

Com o Dia do Professor, no dia 15 deste mês, apareceram em alguns jornais e rádios cidadãos aludindo ao seu professor inesquecível; eu tive vários e tentarei falar deles, em ordem cronológica.

Considerarei inesquecível até professores cujos nomes se apagaram da minha memória (são poucos), mas, que pelos seus atos e palavras serão lembrados sob pseudônimo.

Maria Teresa era a professora da Turma 1, a pior da Escola 9-10 Manuel Bomfim, em 1955. Comecei na Turma 3, mas como a minha nota foi 15, na primeira prova, e 17, na segunda, rebaixaram-me para a Turma 1. (*)

Minha mãe me colocou, então, diante dos jornais que meu pai trazia do serviço e me ensinou a ler as manchetes. Depois, ela mesma repetia os ditados do trabalho de casa da professora e me recomendava não ajudar ninguém que não soubesse. Dito e feito, pediram-me cola e eu disse um rotundo não. Tornei-me um aluno exemplar e a minha nota final foi a melhor da turma, 85.

Coitada da professora Maria Teresa!... Ela chorou de soluçar, segundo a minha mãe, porque apenas três alunos seus passaram de ano. Ficou-me o orgulho de provar, com a minha nota, que a culpa do mau desempenho daquele grupo não era dela. (**)

Com o meu primeiro lugar, adquiri o direito de estudar, no horário da manhã, numa das melhores turmas do segundo ano. Surge, então, um problema que se reflete em mim: uma professora, que tinha um filho no São Bento, precisava de uma vaga para ele de manhã, no Manuel Bomfim, para cuidar do seu rebento. Minha mãe, por motivos pessoais, me queria na escola de tarde, aceitou a troca; voltei para o horário vespertino e a participar de uma turma mais fraca. Senti uma forte frustração, que eu não soube expressá-la em palavras nos meus oito anos de idade. O fato é que minha eficácia escolar caiu acentuadamente e eu só passava raspando. Alie-se a isso o fato de eu sofrer com a falta de professoras, sendo remanejado muitas vezes para outras turmas, embora houvesse a opção de retorno à casa.

Faltei até prova, como uma, em 1958, para ouvir um jogo do Brasil, na Copa do Mundo, o que demonstra que eu já não era o mesmo estudioso da Turma 1. Tive um alento pelos livros escolares na Admissão, quando a professora era a Dona Dulce Silveira Consuelo Lopes, filha da dona do Colégio Piratininga, da Rua Hermínia. Ela possuía os gens da didática, contudo, diante de um programa escolar fraco, de alunos impregnados de falhas no ensino nos anos anteriores, não conseguia fazer milagres.

Passei com uma nota razoável, 64 e parti para fazer a prova de 1960 do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Sujeito, predicado, aumentativo de incêndio, eu nunca vira isso no tempo em que cursei a Escola 9-10 Manuel Bomfim. Reclamam da truculência dos militares, mas eles tiveram a gentileza de só declararem as notas daqueles que obtiveram êxito no concurso. (***)

Para ser melhor preparado, fui estudar com o Professor Alcir. Tratava-se de um mestre em Matemática do Pedro II, que era assessorado pela Olinda, uma normalista da Escola Carmela Dutra. Ela, na verdade, ficava encarregada de ensinar história, geografia e, principalmente, português. A crítica que me ocorre foi a pouca atenção ao ensino de geografia e de história (o professor ensinou que D. Pedro II reinou durante 50 anos sobre o Brasil, mas corrigiu, a tempo, para 49).

Dos colégios públicos de nome, na época, a abrir concurso, o Colégio Estadual Visconde de Cairu foi o primeiro. Amadurecido, parti para os exames. Só a prova de português, a primeira, eliminava, mas a minha nota 7,5 foi boa. Tirei 5 em matemática, o que se constituiu num feito e tanto, haja vista o número assustador de zero. Não obtive desempenho bom em geografia e história, mas a minha atenuante foi a pouca atenção dada pelos meus professores à matéria, como já registrei.

O meu êxito inicial satisfez à minha mãe e, assim, não tentei pela segunda vez o Colégio Militar. Talvez a minha mãe fosse avisada por um arcanjo que eu poderia ser coleguinha do Dieckmann, do Fischberg, do Sérgio Nei, do Reinaldo do Jipe, do Bráulio Goffman, do Nei Abóbora, do Grande Manitou, que o Dieckmann chama de Mahatma (4*), etc, etc.

No Visconde de Cairu, todos os meus professores de Educação Física foram inesquecíveis: Jobim, Adir, Admildo Chirol. Entrávamos em formação, marchávamos, descansávamos, sempre como soldados. Adquiri gosto pela atividade física e nunca a perdi, mesmo nos anos em que a ginástica não era moda.

No primeiro ano ginasial, tive um professor de Moral e Cívica, que chamarei de Cícero (esqueci-me do seu nome), que usava perna mecânica. A mesma descrevia meio círculo a cada degrau da escada que ele subia ou descia, e os alunos apressados, como eu, tinham que se conter para não o atropelar.

Ele nunca iniciava uma aula sem contar seus feitos heroicos. Certa vez – contou ele – enfrentou os playboys da Turma do Imperator, brandindo a sua bengala.

No segundo ano ginasial, fui aluno de matemática do Henrique, um tabagista compulsivo. Certa vez, dei-lhe um dos meus cigarros da marca Continental e recebi o apelido de “Maconha” dos colegas invejosos. Com ele, aprofundei-me mais no estudo da álgebra. No terceiro ano, quando fui aluno do Charada – o professor das provas de três questões de álgebra e geometria que colocava dois terços das meninas para chorar (5*) – as minhas notas ficavam entre 5,5 e 6,5, o que significava primeiro ou segundo lugar.

Há o caso do Humberto (esqueci-me do seu nome de pia batismal), professor de Geografia no 2º ano ginasial. Ele permitia que se abrisse o livro, o atlas e o caderno durante as provas, pois afirmava que o importante era o uso do raciocínio. Não sei o que houve comigo, pois eu não me adaptava ao seu método de ensino e, por consequência, o meu desempenho era fraco. Perdi a confiança em mim e fiquei bloqueado a ponto de trocar, numa prova, a ordem crescente pela decrescente.

Um dia, o professor me pediu, no meio de uma aula, que dissesse todas as matérias que eu estudava (umas nove) com as minhas respectivas notas. Quando terminei, ele disse:

-Mas só na minha matéria você se sai mal?!...

Houve, então, duas provas mensais de geografia que foram pura memorização, sem consultas, é claro, a livros e cadernos. Não deixei a oportunidade passar e obtive média para passar de ano com tranquilidade.

Dona Cacilda era professora de francês, morava em Niterói e nunca faltava a uma aula. Quando ocorreu uma greve das barcas, houve aluno do Visconde de Cairu que apostou na presença dela na escola:

-Ela atravessará a baía a nado para não faltar.

Nos anos que antecederam a queda do governo João Goulart, o martírio da Dona Cacilda foi terrível, pois as greves nos transportes em todo o Brasil eram uma constante.

Também fui aluno de francês do Pierre Vincent (vai esse nome, Pierre Vançã, professor da minha cunhada, que também foi do Visconde de Cairu, três anos depois de mim). O Pierre Vincent não se conformava com o fato de exército, em francês, ser uma palavra feminina: l' armée. Era o cúmulo, para ele, pois a França, com seu formidável exército, foi dirigida por Napoleão Bonaparte.

Será que Pierre Vincent sabia que vagina, na língua de Voltaire, é uma palavra masculina: le vagina?

No 4º ano, tive um excelente professor de português, que chegou a ser diretor do CEFET, José Vinícius Frias Ruas. A deficiência daquele que, talvez, foi o mais destacado colégio estadual, era o ensino de português. O diretor Enéias, que seria afastado pelo governador Carlos Lacerda por improbidade, escrevia livros sobre a matéria e os impingia aos alunos. O José Vinícius bem que tentou desfazer a grande lacuna que encontrou, mas só teve poucos meses para isso.

Bem, estudei, em seguida, com outros mestres inesquecíveis, como o Silva Jardim (sobrinho do republicano que caiu no Vesúvio), Carlos Haroldo Porto Carreiro, Silvando, Luís Rocha, Luís Fernando Pinto Furtado, Fiani, Zé Maria, Ruy Santacruz, Tia Carla e outros, mas fica para outra oportunidade.

(*) Na opinião do distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, geralmente menosprezada, quem tira 17 na escola 9-10 é gênio. O redator deve ter sido transferido para melhorar o nível, desta certeza não nos afastamos um milímetro de insegurança.

(**) O Distribuidor vai distribuir asteriscos hoje porque já viu o próprio nome espalhado nesta edição. No seu entender, mais uma vez há um pensamento equivocado em relação à estimada professora. Ora, o fato de haver um CDF que estudava em casa e que se recuperou dos fracassos iniciais não garante a excelência da professora e sim do aluno. Ou dos 3 alunos.

(***) Acredita-se que o Redator foi reprovado, raspando, como era seu hábito. Uma revisão de prova poderia ter mudado o curso da História.

(4*) O Castro Neves adotou o Mahatma, sem consultar ninguém. O Bráulio corrigiu para Caghatma – por razões não esclarecidas, porém imagináveis. O Caghatma chama o Distribuidor de Odin e assim por diante.

(5*) Se a turma tinha 32 alunos e dois terços das meninas choravam 5 g de choro por dia, quantos lenços de cambraia quadriculada seriam necessários para enxugara face das mesmas alunas no funeral do Getúlio?

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