Total de visualizações de página

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

2031 - Manitou e Flecha Ligeira

---------------------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 3861 Data: 10 de outubro de 2011

----------------------------------------------------------------------------

A CARTA DA LEITORA

“Prendado bebê de outubro:

Desejo-lhe um aniversário abiscoitado. Já havia separado o anexo livro (1) para bombardeá-lo ao ler o BM 3849 (2), coincidência ou premonição? Bebi os 6 volumes (3) ensopados em chá, bebida que odeio e já sabia, desde criancinha, que os amigos são a família que você escolhe. Mesmo assim, louvo o Deresiewicz (4), perpetrou um louvável trabalho para o nosso deleite.

Sua mamãe deve ter visto “Orgulho e Preconceito”, com Laurence Olivier e Greer Garson.(5) Lady Catherine de Bourgh era a Edna May Oliver, indispensável para ser encaixada em todas as velhotas de boca molenga.

Peço vênia para alcandorar seu portentoso vocabulário; usa “garrulice” e “destampatório” (6) enriquecendo os biscoitos-molhadistas leitores.

Ouso sugerir que o BM 3845 embananou a Guerra dos 30 anos com a Guerra das Duas Rosas (7) (tô fora) entre York e Lancaster, tô exorbitando? E no BM 3844, final observação: é “maná” ou “ambrosia”? (8)

Peço vênia para comentar que o Paulo Nogueira Batista Júnior foi pessoa de minha convivência quando ainda era estudante; chamava-o de “lixo atômico” porque o pai era o Grande Manitou (9) da CNEN. Bom menino.

Aproveito as ensanchas oportunosas para questionar se viu “As Grandes Manobras” do René Clair. Aportou à minha bruxuleante memória (não sou eu a “senhora” de 80 anos, citada no BM 3848, tenho apenas 4 vezes 20, e o resto é silêncio (10), reputo-o um dos melhores filmes que vi em longos anos de cinemeira. Inesquecível (11).

Ósculos da gárrula.

R.”

BM: O escritor James Joyce afirmou que Hitler invadiu a Polônia, em 1º de setembro de 1939, porque pretendia desviar a atenção do mundo para o lançamento do seu livro Finnegans Wake. Algo parecido aconteceu comigo: Steve Jobs pediu aos médicos para desligarem os aparelhos justamente na véspera do meu aniversário. Os grandes amigos, no entanto, não esqueceram este dia, como o Dieckmann, que me enviou dois torpedos; o Luca, que ganhou no bicho, mesclando o ano em que nasci com os que vivo; esta carta da Rosa Grieco, que agora transcrevo; e outras manifestações que agradeço genuflexo (como diria a missivista).

Para se responder a Rosa Grieco, tem de ser por parte. Como não consegui enquadrar a sua carta num gráfico cartesiano de ordenada e abscissa, para melhor localizar os assuntos a serem comentados, recorri à velha numeração. Vamos lá.

(1) Rosa Grieco se refere ao presente que me dá, o livro “Aprendi com Jane Austen”.

(2) O Biscoito Molhado 3849 tem como protagonista a ínclita escritora inglesa.

(3) Leitora voraz, a remetente desta carta não deixaria, evidentemente, de ler todos os romances escritos pela Jane Austen, que foram: “A Abadia de Northanger”, “Persuasão”, “Emma”, “Mansfield Park”, “Razão e Sensibilidade”e “Orgulho e Preconceito”.

(4) Trata-se do escritor americano William Deresiewicz, autor do mencionado “Aprendi com Jane Austen”. Ele conta que, aos 26 anos de idade, preparava-se para fazer o doutorado em literatura e, para preencher a lacuna da sua educação literária, lia, Chaucer, Shakespeare, Melville e Milton. O que ele queria, naquela época, era estudar o modernismo: “Joyce, Conrad, Faulkner, Nabokov: obras complexas, difíceis, sofisticadas”. Agora, eu reproduzo uma parte da orelha do livro, e recomendo o corpo inteiro:

“... Mas quando Emma foi escolhida como leitura obrigatória para uma aula que ele cursava, algo de extraordinário aconteceu. Com sofisticadas descrições do dia a dia burguês, em que vidas comuns passam a ter grande valor graças à maneira como as concebia, Jane Austen provocou uma mudança sem precedentes em William Deresiewicz – algo que jamais poderia imaginar. À medida que passou a ver o mundo pelos olhos generosos de Austen, o futuro professor de literatura começou a descobrir que as pessoas que o cercavam eram profundas e complexas como os personagens de um romance. Sua verdadeira educação havia finalmente começado.”

(5) Conta minha mãe que, quando menina, chamada para ir ao cinema, estabelecia as seguintes condições: “Só se for filme do “Calito” ou do “Zé Mujica.” Mocinha, tornou-se fã do Laurence Olivier.

Sobre o filme de 1940, “Orgulho e Preconceito”, dizem que até aqueles que não diferenciam as vestimentas dos períodos georgiano, eduardiano e vitoriano, repararam no figurino equivocado desse filme. Logo, descobririam que houve o reaproveitamento dos trajes de “E o vento levou...”, lançado um ano antes do “Orgulho e Preconceito”. “Economia, economia, Horácio...” - diria Laurence Olivier no papel de Hamlet. O ator que atuou no papel de Darcy, não teve nada a ver com essa batatada histórica, ele não era o figurinista.

Ah, sim, minha mãe viu “Orgulho e Preconceito”, mas o seu filme preferido com Laurence Olivier é “O Morro dos Ventos Uivantes”.

(6) Por que não dizer, uma vez ou outra, gárrulo em vez de tagarela, e destampatório, em vez de esporro?

(7) O fato de “A Guerra das Duas Rosas” ter durado trinta anos não é desculpa para eu perpetrar tamanho erro. “A Guerra dos 30 anos envolveu grande parte da Europa e mexeu com religiosidade e com a rivalidade na família Habsburgo, enquanto “A Guerra das Duas Rosas” foi uma guerra civil inglesa entre a dinastia Lancaster e York, que pretendiam o trono da Inglaterra. A Casa Lancaster tinha como símbolo uma rosa vermelha, e a Casa York uma rosa branca.

E logo eu, que vi Ricardo III de Shakespeare, no cinema com Laurence Olivier, o rei cuja derrota na batalha em que ele trocaria o seu reino por um cavalo, sacramentou o fim dessa Guerra Civil?... Ainda bem que temos uma Rosa que é neutra (nem York, nem Lancaster), para apontar esses equívocos. Obrigado.

(8) Ambrosia é a bebida dos deuses e seria, grosso modo, a palavra exata, mas no contexto do BM 3844, quando são os políticos de Brasília que se manifestam, a palavra maná se aplica melhor, pois, além de sinônimo de ambrosia, no dicionário do Caldas Aulete, também é, no sentido figurado, qualquer coisa vantajosa ou proveitosa obtida sem esforço.

(9) Acredito que desde os 10 anos, quando eu lia os gibis do “Flecha Ligeira” e do “Zorro e Tonto”, que não ouço falar do “Grande Manitou”. Ótimo, pesquisei e soube que “manitu” é uma palavra alconquina que significa espírito.

Não só os alconquinos reverenciavam o “Grande Espírito”, existem referências a essa entidade também entre os Cheyenne e os Sioux.

(10) “... O resto é silêncio”. - frase dita por Hamlet de Shakespeare, ao morrer.

(11) Dos clássicos do cinema francês, eu assisti “A Grande Ilusão” e “A Regra do Jogo” do filho do grande pintor impressionista, Jean Renoir. Sei que “As Grandes Manobras” de René Clair se encontram entre os maiores filmes do cinema – é mais recente, 1955, enquanto os dois citados são do fim da década de 30 – mas, infelizmente, não vi. Espero tapar essa lacuna na primeira oportunidade.

É só.

Nenhum comentário:

Postar um comentário