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terça-feira, 11 de outubro de 2011

2028 - escândalo na família

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3858 Data: 01 de outubro de 2011

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O TAXÍMETRO ESTÁ RODANDO

-Embora seja cedo (quase 4 horas da tarde), o meu trabalho já voltou ao normal. - disse, enquanto entrava no táxi do 014.

Ele sorriu e me esperou fechar a porta para partir.

-Olha este caminhão parado na esquina, tira toda a visão. - reportei-me à época em que dirigia e reclamava dessa irregularidade no trânsito.

-Eles fazem o que querem... - expressou o 014 o seu conformismo.

-Quanto estive na autoescola, aprendi que um carro de passeio deve estacionar a mais de cinco quilômetros... desculpe-me, metros das esquinas e os veículos pesados tem de guardar, no mínimo, quinze metros.

-É bom saber isso. - reagiu desanimadamente.

-Para a prova teórica, na obtenção da carteira de motorista, eu consegui decorar praticamente todo o livrinho. Havia aquelas questões de apitos... eles chamavam de silvos, dos guardas de trânsito.

-Sei...

Tagarela, prossegui:

-Tantos silvos longos e tantos silvos breves representavam siga, outros tantos longos e breves representavam para... E por aí a coisa seguia silvando. Acontece que nem os próprios guardas sabem disso.

-Não sabem mesmo não. - concordou.

-Eu fui para a prova prática conhecendo tudo isso, sabendo que para entrar à esquerda, numa curva, você tem de abrir para entrar na sua pista, o que quase ninguém faz, quando dirige.

-A gente, ao dobrar uma esquina à esquerda, fica mais atento para não bater no carro que vem em direção contrária. - animou-se o 014 com o assunto.

-Nessa tal prova teórica, um senhor bonachão do DETRAN, que colocaram como vigilante, resolveu dar cola para os alunos. Ele lia a questão e a resposta que dava era errada.

Como o taxista ria muito, fiz uma ressalva:

-Ele não estava sendo ardiloso, respondia errado por falta de conhecimento, mesmo. Posso afirmar isso porque, repetindo, eu decorei as questões todas, praticamente.

-Então, você saiu com a carteira dirigindo que era uma beleza?

-Não é piada, falo com toda sinceridade: à proporção que eu esquecia a parte prática, eu melhorava na parte teórica.

-Modigliani. – avisou, depois de dobrar na Rua Sisley e parar no segundo poste.

No dia subsequente, a corrida se deu no táxi do Botafoguense. Como ele começou uma jeremiada, advinda de uma derrota sofrida pelo Botafogo, mudei de assunto antes da primeira curva.

-Soube que o Machado retornou...

-Graças a Deus.

-A mulher pagou?... - mostrei curiosidade.

-Não sei. Ela começou com uns empecilhos, mas parece que o seguro pagou, ainda assim, o prejuízo do Machado foi grande.

-Eu soube que ele estava parado, a mulher bateu com o carro no dele, chegando o táxi do Machado a capotar.

-Capotou.

-Um carro novo, um colega seu até pedia para o Machado não colocar penduricalhos no táxi, como fazia com o antigo.

-E não é isso... O Machado, como nordestino, não aparenta a idade que tem, ele passa dos 70 anos, não pode passar por essas emoções.

-Ele é pernambucano.

-Pernambucano?!... Eu julgava que ele fosse da Paraíba. - surpreendeu-se.

-Bem, um colega meu, de muitos anos, viajou do lado do Machado, na ambulância do Procardil, até Araruama e os dois conversaram bastante. Machado lhe revelou, então, que nasceu em Pernambuco.

-O Machado gosta de falar!- observou o Botafoguense com um sorriso.

-Se colocarem no papel o que ele fala do Cachambi a Araruama, dá um livro. - afirmei pensando nas muitas crônicas que ele me inspirara.

-Machado gosta mesmo é de jogar no bicho. - disse o Botafoguense.

-E esse meu amigo, que foi com ele, na ambulância, para a remoção de uma amiga e parente que sofrera um desastre de carro, também gosta.

-Então, ele e o Machado jogaram no milhar da placa do carro acidentado. - concluiu o Botafoguense já na Rua Modigliani.

-Voltou ao horário normal?- era o Dedão do Arqueiro Inglês, o 017, quando me viu no seu táxi depois das quatro e meia da tarde.

-Aqueles retornos com os trens do metrô com menos pessoas acabaram, embora eu sempre viajasse na ida como sardinha em lata.

-Eu ia lhe perguntar, justamente, como está o metrô?

-O pico de descaso com as pessoas ocorreu na transição do metrô Estácio-Pavuna, sem aquela maldita baldeação na estação do Estácio.

-Tenho notado que meus passageiros têm reclamado menos.

-Vale o sacrifício pelo tempo, de Del Castilho a Carioca são uns vinte minutos no relógio, e pelas conversas dos passageiros que me chegam aos ouvidos...

-Não tem como não escutar. - disse ele.

-Com todo mundo grudado, parece que na hora do rush viajam nove passageiros por metro quadrado, não há como fugir. Escuto muitas besteiras, mas as piores são aquelas ditas no celular.

-Quem fala no celular é mais burro?- indagou inocentemente.

-É mais irritante, porque expõe a sua privacidade, geralmente, falando alto. - expliquei.

-Ontem mesmo, fui obrigado a ouvir uma dessas musiquinhas de ritmo bate-estaca porque o imbecil do aparelhinho esqueceu o fone de ouvido.

-Nada se aproveita do metrô. - deduziu o dedão do Arqueiro Inglês.

-Às vezes se aproveita... falei, enquanto titubeava: conto ou não conto o que presenciei na semana passada. Como ele pisava com suavidade o acelerador, resolvi contar.

-Uns cinco dias atrás, tive que ficar mais espremido no trem do metrô porque entraram dois estudantes uniformizados na estação de Maria da Graça. Com uma cara que não passava dos dezesseis anos, ela usava a bainha da saia acima do joelho, nada que fosse escandaloso. Com mais idade e cuidando-se, será uma mulher atraente, mas já era bonita. Conversavam os dois sobre o comportamento de amigos comuns. Ouvi alguma coisa e, depois, tentei me abstrair do lugar onde eu estava. De repente, uma frase da mocinha despertou a minha atenção. Disse ela exatamente isto: “Mulher é sinônimo de dinheiro: relaxe e prepare-se para gastar”.

-Como elas estão?!...- reagiu o Dedão do Arqueiro Inglês com perplexidade.

Não lhe disse que anotara tal frase logo que me vi com liberdade para pegar na minha mochila papel e esferográfica na plataforma da estação da Carioca.

-Eles eram namorados?

-Grande parte da viagem até São Cristóvão, onde saltaram, ela colocou o braço no ombro dele, mas eu acredito que o gesto era de amizade e não de namoro. Eu imagino que ele tenha dito a ela que pretendia namorar alguém, e recebeu, então, esse conselho.

-Vai ter de gastar... - riu o taxista.

Como já estávamos na Modigliani, deixei para outra oportunidade o que vira recentemente no metrô: duas passageiras amando-se apaixonadamente no meio de um vagão superlotado.


Shame And Scandal
Peter Tosh

Who is real?
Shame and scandal in the family
Who is real?
Shame and scandal in the family

In Trinidad there was a family
with much confusion as you will see
it was a momma and a papa and a boy who was grown
wanted to marry a wife of his own
found a young girl suited him nice
went to his papa to ask his advice
his papa said: "Son, I have to say no,
that girl is your sister, but your momma don't know"

Who is real?
Shame and scandal in the family
Who is real?
Shame and scandal in the family

A week went by and the summer came down
soon the best cook in the island he found
he went to his papa to make a day
his papa shook his head and to him he did say
"Can't marry that girl I have to say no
that girl is your sister, but your momma don't know"

Who is real?
Shame and scandal in the family
Who is real?
Shame and scandal in the family

Went to his momma and covered his head
and told his momma what his papa had said
his momma she laughed, she says: "Go man, go
your daddy ain`t your daddy, but your daddy don't know

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