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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

2033 - Darwin e as Malvinas

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3863 Data: 15 de outubro de 2011

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COMENTANDO AS MENSAGENS ELETRÔNICAS

Lá estava na minha caixa de correspondência eletrônica: “Margareth Thatcher não estava errada”. O remetente... Bem, deixa pra lá: o remetente quer, às vezes, ficar oculto.

Margareth Thatcher teve razão quando reagiu à agressão da ditadura militar nas Ilhas Falklands. A Argentina passava por um mau momento na sua economia e os donos do poder, de um modo solerte, desviaram a ira do povo para a Inglaterra. Como a maioria dos argentinos não é politicamente madura (a maioria dos brasileiros também não), preparou-se a nação para a guerra. Resultado: os ingleses vieram da Europa e restabeleceram a ordem internacional, contribuindo para a queda do regime militar no país vizinho.

Lida a primeira frase do e-mail, constatei que o assunto era um pouco diferente. Tratava-se de uma citação de Adrian Rogers feita em 1931:

“É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. Quando metade da população entende a ideia de que não deve trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.”

Margareth Thatcher, que recebeu o cognome de “A Dama de Ferro”, assumiu o cargo de primeiro-ministro da Inglaterra numa conjuntura de penúria provocada pela intromissão exagerada do Estado, que sustentava malandros, lutou contra isso e restabeleceu o orgulho inglês. Paradoxalmente, um século antes, despontava na política europeia Bismarck, conhecido como o “Chanceler de Ferro”. A alcunha era mais do que merecida: ele reorganizou o exército prussiano, declarou guerra à Áustria, subjugou os estados menores e criou a Alemanha. Poucos anos depois, infligia à França de Napoleão III uma derrota acachapante. Esses fatos podem ser lidos com riqueza de detalhes na biografia de Bismarck, do historiador Jonathan Steinberg, lançada no Brasil, recentemente.

No entanto, os críticos que, de uma maneira geral, elogiam o livro mencionado, lamentam que o biógrafo tenha dedicado apenas duas páginas ao pioneiro do Welfare State, o estado-babá da rede de proteção social. Sim, o autoritário Bismarck, um dos ídolos de Hitler, foi quem primeiro olhou pelos velhinhos que deixavam de trabalhar em pleno capitalismo selvagem.

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Em outra mensagem eletrônica, alguém, cujo nome não me ocorre agora, escreve sobre os cinco filmes fundamentais de Charles Chaplin. Na introdução, ele faz alguns comentários sobre o lendário artista e cita uma apreciação do ator Marlon Brando: não conheceu ninguém mais sádico do que Charles Chaplin. Bem, pela vida do Marlon Brando, pelo que aprontou nas filmagens do “Último Tango em Paris”, segundo a sua parceira Maria Schneider, não é para ser levado a sério em assuntos contra o sadismo, talento de ator à parte. Se a acusação de sádico a Chaplin partisse da atriz Virginia Cherrill, de “Luzes da Cidade”, que teve de filmar uma cena mais de 300 vezes – reza a lenda – e que chegou a ser despedida por ele, porque não se enquadrava na sua idealização artística, mereceria muito mais crédito.

Na verdade, a técnica de filmar do gênio da arte cinematográfica, com muita improvisação e a busca pelo perfeccionismo, provocava bastante estresse. Já foi narrado no BM 2010 o esporro que a atriz Madeleine Ozeray recebeu do diretor teatral Jouvert, indignando seus amigos brasileiros que pensaram em espancá-lo. Ao saber disso, a atriz francesa caiu na gargalhada, pois as reprimendas aos berros são normais no mundo do espetáculo.

Para nós, que enriquecemos o nosso espírito vendo e revendo filmes do Carlito (*), importa o artista que vemos na tela, o Charles Chaplin a quem Carlos Drummond de Andrade dedicou dois poemas; e de um deles, “Canto ao Homem do Povo”, transcreveremos alguns versos:

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“Era preciso que um antigo rapaz de vinte anos,

preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo,

viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse

para dizer-te algumas coisas, sobcolor do poema.

Para dizer-te como os brasileiros te amam

e que nisso, como em tudo o mais, nossa gente se parece

com qualquer gente do mundo – inclusive os pequenos judeus

de bengalinha e chapéu-coco,sapatos compridos,olhos melancólicos,

vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem

nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro,Polícia,

e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor

como um segredo dito no ouvido deum homem do povo caído na rua

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Ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode

caminham numa estrada de pó e de esperança.”

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Dieckmann me encaminha o e-mail de uma amiga sua, Cecília Rodrigues, que, depois de ler o Biscoito Molhado nº 2027, que trata do “Framboesa de Ouro”, que premia os piores atores, e do “Ig Nobel”, uma sátira ao Nobel, pergunta se eu conheço o Darwin Awards (Prêmios Darwin). Depois dessa mensagem, procurei saber alguma coisa. Trata-se de uma seleção de erros tão absurdos que, ao cometerem, os autores põem fim à própria vida ou provocam a própria esterilização. Os prêmios se fundamentam no pressuposto de que esses indivíduos, ao se autodestruírem, eliminam os maus gens de que são portadores.

Wendy Nothcutt, o maior divulgador do Darwin Awards, autor de livros sobre o assunto, estabeleceu cinco condições fundamentais para a obtenção do prêmio:

-Incapacidade de gerar descendência – através da própria morte ou esterilização;

-Excelência – forma sensacional e estúpida com que se comete o erro, incrível desuso da lógica e da razão;

-Autosseleção – causa desastre por si mesmo, com mérito incondicionalmente individual;

-Maturidade – o indivíduo deve estar em total uso das suas capacidades físicas e mentais. Deve possuir capacidade de raciocínio e julgamento.

-Veracidade – o evento tem de ser verificável; excluem-se as lendas urbanas.

Nesse mesmo e-mail do Dieckmann, ele cita o caso de um universitário que, para tornar mais convincente a sua fantasia de vampiro, prendeu uma estaca na camisa e acabou morrendo com ela cravada no coração.

Eu mesmo vi, num filmezinho da internet, um indiano, em cima de um trem, parado na estação, que segura um fio para saber se era de alta tensão, era; depois de uma pequena explosão, ele estrebucha e morre.

Não precisamos ir muito longe e voltar no tempo, quem acendeu a luz do restaurante “Filé Carioca” da Praça Tiradentes, onde escapava gás desde o dia anterior, nessa última quinta-feira, provocando tão pavorosa explosão, merecia o Prêmio Darwin. (**)

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO conhece e admira a obra do Carlitos, sempre no plural. Entretanto, o poema em pauta o retrata no singular, que foi mantido, por obra e graça da coerência.

(**) O mesmo Distribuidor discorda da opinião do Senhor Redator. O desastre em pauta não se encaixa nos quesitos AUTOSSELEÇÃO (quem acendeu a luz, ou acendeu um fósforo, pode não ter nada a ver com quem permitiu o vazamento de gás) e MATURIDADE, pois quem faz fogo em ambiente com cheiro de gás não tem capacidade de raciocínio e julgamento.

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