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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

2925 - tornei-me um ébrio


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5175                                    Data:  25 de agosto de 2015

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O DIA 23 DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA

 

-O que aconteceu hoje, Sérgio?

-Vamos começar o calendário um pouco tarde; em 1939, Jonas... Olhe os personagens envolvidos, dois anjinhos: Adolf Hitler e Josef Stalin.

-Puxa vida! - exclamou o Jonas Vieira.

-Eles assinaram sabe o quê?... Um pacto de não agressão. Imagina que bicho deu um pacto de não agressão envolvendo esses dois.

-Não demorou muito...

Sérgio retomou as palavras do Jonas e concluiu:

-Não demorou muito para que houvesse uma agressão.

-No ano seguinte, 1940, aconteceu o primeiro bombardeio a Londres. Uma história da têmpera do povo inglês.

-Da genialidade do povo inglês. - acrescentou o Jonas.

-Genialidade, coragem, determinação.

-Eu tenho uma grande admiração pelo povo inglês. - afirmou o titular do programa Rádio Memória.

-Em 1969, entra no ar o Jornal Nacional, o primeiro programa transmitido em cadeia nacional.

-Perfeito.

-Jonas, o Jornal Nacional já foi melhor... Quando o Jornal Nacional ocupa dez minutos do tempo com temas absolutamente...

Deixou os substantivos bagatela, mixaria, insignificância e outros sinônimos nas reticências.

Jonas Vieira retomou a palavra:

-A morte daquele cantor caipira... É a negação do Jornalismo.

-Quando vi aquilo, lamentei não ter cronometrado o tempo que o Jornal Nacional dedicou à notícia da morte do Frank Sinatra.

-Frank Sinatra perdeu longe para esse cantor.

-Todo o mundo perdeu longe. Nós é que perdemos, enfim.

Depois dessa amarga constatação, o Homem-Calendário prosseguiu no seu ofício.

-Em 1979, ocorre a deserção de Alexander Godunov, estrela do Balé Bolshoi. O povo quer saber, Jonas: por que ninguém, numa excursão de uma companhia americana, foge? Alguém de uma companhia finlandesa, por que não foge? Quando se trata de excursões, eventos envolvendo atletas, artistas cubanos, russos, foge todo mundo. Por que será?... O povo quer saber.

-A resposta é muito simples: porque eles vivem no paraíso, as pessoas estão fugindo do paraíso, que nem Adão. - entrou o Jonas Vieira no clima de ironia.

-Deve ser isso.

-É evidente.

-Nesses últimos Jogos Pan Americanos fugiu a metade da população cubana. O Fidel só não fugiu, Jonas, porque está com dificuldades de locomoção.

-Pois é; e o Chico Buarque de Holanda não foi lá ajudar.

Estava em Paris sofrendo com a pobreza do povo brasileiro.

Jonas Vieira, agora, se mostrava mais indignado:

 -Os nossos intelectuais... Como é que pode?... As pessoas cristalizam a verdade e não se afastam dela nem que a vaca tussa.

O mundo muda, o comunismo fracassa, mas eles permanecem empacados com a sua verdade.

-Em 1990, é anunciada a união da Alemanha Ocidental, que era a República Federal da Alemanha, com a Alemanha Oriental, que era a República Democrática Alemã (aquela que estava sob o domínio soviético).

-E ninguém se lembra mais da República Democrática Alemã.

-Foi atropelada pelos acontecimentos. - seguiram-se as palavras do Sérgio Fortes às do Jonas Vieira.

A Alemanha Ocidental, de regime capitalista, bancou, sob a liderança do primeiro-ministro Helmut Kohl, a Alemanha Oriental, economicamente bem atrasada e a fez prosperar. Vale ressaltar que falou alto, para o êxito, a índole do povo alemão. Como curiosidade, vale lembrar que os pais da atual primeira-ministra Angela Merkel eram da Alemanha Oriental.

Após os eventos históricos, o homem-Calendário seguiu com os nascimentos.

-Em 23 de agosto de 1910, nascia Giuseppe Meazza, futebolista italiano. Esse cara foi um cracaço.

-É verdade. - concordou o Jonas Vieira.

-Ele foi muito importante naquelas duas primeiras copas do mundo que a Itália ganhou.

-Em 1912... Este, Jonas, se você disser que não se lembra, eu pego o meu chapéu e vou embora: Gene Kelly.

-Oh! - encantou-se com a lembrança. Ele foi genial, um gênio.

-Ele não dançava mal.- brincou o seu parceiro.

O deslumbramento do Jonas Vieira não arrefecia.                                                                                                         

-Eu tenho muitos amores na minha vida, como jornalista, evidentemente. Entrevistei grandes nomes, grandes figuras e uma delas foi Gene Kelly, no Copacabana Palace, quando ele, com mais dois artistas de que não me lembro agora. Eu estava, assim, na frente do Gene Kelly, ele sentado olhando para mim e eu olhando para ele.

-Você perplexo.

-Eu perdi a voz, rapaz.

-Que artista!

-Sensacional!

Lembro aqui que o falecimento do Gene Kelly, em 1996, nem foi citado no Jornal Nacional.

Sérgio Fortes seguiu adiante com o calendário.

-Em 1912, nascia outro talento: Nélson Rodrigues.

-Grande Nélson! Eu trabalhei com o Nélson. - orgulhou-se o Jonas Vieira.

-Um frasista, uma figura incrível.

-Em 1922, Tônia Carrero.

-Grande Tônia Carrero. Está viva ainda.

Caso o Simon Khoury estivesse presente, apartearia o Jonas Vieira para falar da sua grande amiga.

-Em 1925, Marcelo Alencar. Ele não é meu autor preferido, mas...

Jonas Vieira foi mais incisivo:

-Ele fez um belo governo.

-Ele fez um bom governo e foi muito carinhoso comigo, quando o meu pai faleceu. Marcelo Alencar estava no cemitério São João Batista e me abraçou.

-O Marcelo era muito leal, Sérgio.

-Era uma pessoa boa.

-Sérgio, eu convivi muito com o Marcelo porque ele foi do tempo do Jango e eu cobria a Presidência da República para o jornal Última Horas. O Marcelo estava sempre lá e ficamos muito amigos.

-Que legal!

-Muito amigos.

-Outra peculiaridade, Jonas: ele jogou basquete no Botafogo com o meu pai. A amizade dos dois é muito antiga.

O Homem-Calendário passou para outra data natalícia:

-Em 1929, Czibor, futebolista; pertenceu ao escrete húngaro do Armando Nogueira. Jogava pra burro.

A expressão “escrete húngaro do Armando Nogueira” foi criada pelo Nélson Rodrigues, que considerava exageradíssima a exaltação que o jornalista Armando Nogueira fazia da seleção húngara de 1954. Era uma ficção do jornalista, segundo o irônico Nélson Rodrigues.

-Em 1957, nascia um grande artista brasileiro: o violoncelista Antônio Meneses.

-Certamente.

-Em 1963, nascia a nossa atriz brasileira Glória Pires. Está fazendo sucesso aí com uma novela. Dizem que já matou de 30 a 35 pessoas.

-Um morticínio. Ela está ganhando do Morro do Alemão. - pilheriou o Jonas Vieira.

Em seguida, Sérgio Fortes passou para os falecimentos em 23 de agosto.

-1891, Deodoro da Fonseca morria pouco depois de deixar a presidência.

-Em 1926, Rodolfo Valentino, o quindim da mulherada.

-Em 1968, Vicente Celestino.

-Um grande cantor.- ressaltou o Jonas.

-Era isso, Jonas: “A Voz Orgulho do Brasil”?

-Era o slogan dele, “A Voz Orgulho do Brasil”. Também foi compositor.

-Uma curiosidade, Jonas: quando pensamos em Vicente Celestino, vem aquela voz impostada, de ópera e tudo o mais... A pesquisar diante dos problemas do meu computador: eu acho que Vicente Celestino jamais, ou muito pouco, pisou o palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

-Que eu saiba, Sérgio, não cantou.

-Eu tenho de pesquisar. Vou fazer um paralelo depois... 

-Vicente Celestino era um cantor popular. – foi peremptório o Jonas Vieira.

-Exatamente; aquele vozeirão, aquela coisa toda... Eu acho que ele não cantou lá.

A persistência da dúvida do Sérgio deu ensejo que saísse da memória do Jonas Vieira uma história com o cantor.

-É uma delícia essa história. Quando surgiu a Bossa Nova, com aquela voz baixinha, você sabe como é, não?... O nosso Vicente Celestino se apresentou num programa da Rádio Nacional cantando os sucessos do momento. Sabe o que ele cantou?... “O Pato”.

Risadas.

-Dizem que a história é verdadeira.

-Eu queria ver o Vicente Celestino cantando “O Pato”.

E quem não queria, Sérgio?

-Isso é verdadeiro. - ratificou o Jonas Vieira.

Sabe-se, porque ficou registrado, que João Gilberto colocou toda a plateia, maciçamente de americanos, no Carnegie Hall, para cantar “O Pato” naquele lendário concerto de 1962.

-Ele (o Vicente Celestino) deve ter despertado a ira dos caçadores. - imaginou o Sérgio Fortes.

Jonas Vieira se animou a cantar até o quén-quén, o que nos fez lembrar os dubladores do Pato Donald.

Quanto ao Vicente Celestino, no longo recitativo da melodramática canção “O Ébrio”, que era do filme do mesmo nome, ele diz que cantou a “Tosca” e “A Força do Destino”, daí a confusão, acreditamos. Quem cantou as óperas foi o personagem da canção e do filme, não ele. Vicente Celestino cantou operetas como “Juriti”, de Chiquinha Gonzaga.

O calendário chegava, agora, ao fim. Sérgio Fortes informou que nesse 23 de agosto  se comemora o Dia do Aviador Naval e o Dia do Internauta. Como muitos lidam com computadores, afirmou que era o dia de todo o mundo.

Citando os santos do dia, deteve-se em São Lupo, que julga protetor das meias e das cuecas, e deu como cumprida a sua missão de Homem-Calendário. 

 

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