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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

2917 - Não era Porfirio, mas um Rubirosa de caráter


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5167                                  Data:  11 de agosto de 2015

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O DIA 9 DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA

3ª PARTE

 

-Maravilha! - vibrou o Jonas Vieira com “Maria Bonita” na voz do Gregorio Barrios.

Recuperado da emoção, disse:

-Canção dedicada à Maria Felix, uma mulher lindíssima.

-Dizem que era a mulher mais bonita da época. - acentuou o Sérgio Fortes.

-Ela foi amante e casada com Agustin Lara.

-E ele era famoso pela feiura, Jonas.

-Agustin Lara tinha um corte no rosto de uma navalhada que levou numa briga. Um cara navalhou o rosto dele, e a marca ficou pelo resto da vida. Ele já era feio...

-Com a navalhada, piorou. - Sérgio Fortes completou.

-Casado com aquela mulher lindíssima... - expressou o Jonas a sua inveja retrospectiva.

-Agustin Lara namorou duzentas mulheres bonitas. Ele era um ás do volante.

Nesse instante, nós, do Biscoito Molhado, nos recordamos do Tinoco, amigo do Dieckmann, cujo maior ídolo é o playboy Porfírio Rubirosa pelas suas façanhas sexuais.

-Segundo as más línguas, ele era mais feio do que desastre de trem, no entanto, meu filho... - mexericou o Jonas.

-Não obstante, Jonas...

-Quem vê cara, não vê coração.

E outras coisas. - acrescentamos nós.

Bem, fofocaram com a feiura do Marechal Dutra, do Agustin Lara, mas, agora, era o momento musical.

-Voltamos ao Mário Reis, cantando o grande Ary Barroso, que deu para ele gravar “Vamos Deixar de Intimidade”.

E prosseguiu o Jonas Vieira depois de soarem as notas musicais.

-O arranjo é de Lindolfo Gaya, grande maestro, grande arranjador, com quem joguei xadrez.

-Ganhou ou perdeu, Jonas?

-Não me lembro.

-Esse negócio de xadrez, Jonas, tem uma coisa interessante: há um razoável número de músicos sinfônicos que jogam xadrez.

-Mas o xadrez é um jogo cerebral que desenvolve demais o raciocínio. Para quem trabalha com música, então, é uma beleza.

-E defende a minha tese que música tem uma implicação matemática.

-Sim, matemática, Sérgio. O xadrez não é um jogo de sorte; a única sorte do xadrez é o opositor passar mal. Só.

-Vou lhe dar um exemplo, Jonas: Michel Bessler, spalla da OSB é fascinado por xadrez.

-Eu, modéstia à parte, já fui um bom jogador de xadrez. O jogo desenvolve as imagens, o raciocínio.

Vide Machado de Assis, um enxadrista, para ficarmos com um exemplo da nossa literatura.

-O jogo de xadrez tinha de ser ensinado em todas as escolas. O meu neto já está jogando, porque é importantíssimo ver um neto, um filho praticando.

Depois, o Jonas Vieira fez a comparação com o jogo de carta em que entra o fator sorte, apesar de alguns jogos, como o Bridge, requerer muita mais do que os lances fortuitos do acaso, e também o pôquer.

-Eu e o Marco Ribas ainda não nos aventuramos pelo xadrez, Jonas, por enquanto, nós nos matriculamos num curso para ensinar Jogo da Velha. Eu estou com dificuldades, Marco Ribas está todo embananado.

-E agora, Sérgio?

-Agora, Jonas, com Paulo Fortes, um cantor que eu conheci bem, muito bem, que cantava direitinho, vamos ouvir “Quase Que Eu Disse”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa.

Era uma homenagem discreta, sem nada mencionar, que o Sérgio Fortes fazia no Dia dos Pais, e nós, ouvintes, desfrutamos essa homenagem.

Depois de ouvirmos os versos em redondilhas do Orestes Barbosa musicados pelo Sílvio Caldas, vieram os comentários.

-Isto é do tempo em que se contava uma história.

-Tem começo, meio e fim, Sérgio.

-Bons tempos.

Entram os reclames da Rádio Roquette Pinto com o destaque do evento “De Bach às Bachianas”, na Sala Cecília Meireles, com textos de Mário de Andrade, anunciado pela grande cravista Rozana Lanzelotti, que ocorrerá no dia 20 de agosto.

De novo, o titular do Rádio Memória.

-Agora, com a dupla genial Bide e Marçal que compôs maravilhas... Como dois sambistas, com pouca escolaridade, conseguem fazer coisas geniais como a que vamos escutar. Eles são autores de “Pela Primeira Vez”... desculpem-me, “A Primeira Vez”. Entre outras coisas maravilhosas que estavam no meu show chamado “Rio, Cidade da Alegria”, que esteve em cartaz no Teatro da FIRJAN... Quem perdeu não pode imaginar. Foi sensacional; não porque eu fiz o roteiro, e sim porque os cantores são muito bons, os músicos são muito bons, o repertório, então, é excelente. Entre outras coisas, tivemos lá “A Primeira Vez”.

Entusiasmado com o sucesso da sua empreitada, prosseguiu:

-Olha: pretendemos fazer esse show em outros lugares, etc e tal. Se você tiver oportunidade, não perca, não por mim, mas porque o repertório musical é da maior categoria, mostrando que o Rio de Janeiro é o centro do Brasil. Aqui começou praticamente tudo.

-Tudo. - ratificou o seu parceiro.

-Indústria, comércio, literatura, teatro, artes... A música, então... Pois muito bem, nós vamos aqui com a dupla Bide e Marçal na genial “Agora é Cinzas”, com Mário Reis.

Depois de o Marco Ribas ter acionado as carrapetas, Jonas Vieira foi mais minucioso:

-Gravação original de 1934. O nosso querido Mário Reis regravou em 61, 62 com arranjo do Lindolfo Gaya.

-Jonas, agora uma trilha sonora de “O Poderoso Chefão”, parte III, composta por Nino Rota, que é um valor novo que promete muito. Nós vamos ouvir uma valsa, “The Godfather Waltz”. É uma beleza!

Após a sua ótima escolha, confessou que perdeu o ânimo para assistir aos filmes de hoje.

-Baixou o nível de uma maneira geral. - diagnosticou o Jonas Vieira.

-Também. - concordou.

-O brasileiro ou é herói ou é bandido, não existe meio termo.

Ou é Sérgio Moro ou é José Dirceu.

-Bem, ouvintes, o Newton Bastos também pertenceu ao grupo que fundou a primeira escola de samba do Rio de Janeiro com Ismael Silva, Bide e outros. Newton Bastos nos deixou cedo, lamentavelmente.

E anunciou o Jonas Vieira a próxima gravação:

-”O Destino é Deus Quem Dá”, só do Newton Bastos. 

Depois, vieram mais detalhes:

-Voz de Mário Reis com arranjo precioso do grande Lindolfo Gaya. Eu tive o orgulho de ter privado da sua amizade. Lindolfo Gaya era uma pessoa inteligentíssima. Um grande músico!

-O que mais falamos aqui é: “bons tempos”. - observou o Sérgio Fortes.

E continuou:

-Vamos, agora, com muito boa música, esta, bem atual, afinal, o autor é o imenso Astor Piazzolla. Daniel Barenboim, o genial pianista, nasceu na Argentina, daí essa raiz tangueira, depois, virou o fantástico pianista de música clássica. Ele passou três dias na Argentina gravando um CD que é precioso. Ele formou um trio com Rodolfo Mederos, no bandoneon, e Hector Console, no baixo. Vamos ouvir “El Dia Que Me Quieras”.

?

Há um capítulo do “Memória Póstumas de Brás Cuba” que consiste apenas de uma linha tracejada abaixo do título “De como não fui ministro d'Estado”, nós, aqui, ficamos apenas com um ponto de interrogação numa só linha após as palavras do nosso amigo Sérgio.

Depois da música, voltou o Sérgio Fortes envergonhadíssimo, embora a beleza da sua escolha o absolvesse.

-Jonas, que mico eu paguei! “El Dia Que Me Quieras”, não é de Astor Piazzolla. Se eu disser isto num restaurante da Recoleta em Buenos Aires...

-Você é trucidado. - previu o seu parceiro.

-Eu sou um homem morto. “El Dia Que Me Quieras” é do francês Carlos Gardel e do paulista, santista, se não me engano, Alfredo Le Pera.

-Ele era santista.- foi incisivo o Jonas Vieira.

Em seguinte, fez a seguinte proposta:

-Ouvintes, fica a experiência: você pega essa música para ser ouvida por uma planta; vai ver o que acontece. Você vai sentir a vibração dessa planta. Depois, você pega uma dessas músicas que tocam por aí para a mesma planta ouvir: ela morre na hora.

-É de derrubar coqueiros.

-Tem mais, Sérgio: a mente humana é que controla o corpo, então, se você pega a mesma música (“El Dia Que Me Quieras”) e coloca para uma pessoa enferma ouvir, ela fica boazinha; se puser uma dessas músicas que tocam por aí, ela morre.

Depois dos risos, continuou:

-Com esta aqui, você não morre porque é do Noel Rosa. Vamos ouvir “Quando o Samba Acabou” com o Mário Reis.

A próxima escolha estava a cargo do Sérgio Fortes.

-Jonas, eu fiquei tão envergonhado, que resolvi colocar alguma coisa do Piazzolla para tentar me redimir antes que o Luzer me telefone com aquele seu jeito (voz em surdina): “Sérgio, houve um pequeno engano... Não me leve a mal...”

E voltou com a sua voz tonitruante em comparação com a do Luzer:

-Uma música maravilhosa com o mesmo trio liderado por Daniel Barenboim: “Adios Nonino”.

-Dedicado ao pai.

-Dedicado ao dai dele. Piazzolla recebeu a notícia da morte do pai e compôs essa encantadora música.

Música que homenageava os pais falecidos, que todos os filhos de gosto refinado gostariam de compor.

Era o fecho da parte musical daquele Rádio Memória do Dias dos Pais.

O programa se encerrou com duras, mais merecidas críticas às cacofonias propagadas pela mídia, ao número exagerado de programas culinários na televisão. Mas não terminou sem o Jonas Vieira renovar a sua proposta de se matar as plantas com a mesma eficiência de uma motosserra.

 

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