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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

2913 - prepotência e insanidade


 

 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5163                     Data:  04 de agosto de 2015

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SABADOIDO

2ª PARTE

 

Depois de pegar mais uma latinha de graxa, Claudio retornou à sua faina; eu e o Daniel voltamos a ser os únicos na cozinha do Sabadoido.

-Então, Daniel, você não dormiu muito tarde porque os filmes da televisão eram ruins?

-Um documentário sobre o afundamento do Titanic foi interessante e eu assisti a ele.

 -Falando nisso, Daniel, o humorista Zé Simão disse que, com a crise econômica, um prostíbulo desses por aí passou a se chamar “Putanic”.

-Essa piada nem precisa da claque composta pelo Ricardo Boechat e pela Tatiana Vasconcelos.

-E pelo José Simon, porque ele faz claque de si mesmo. - acrescentou.

-Voltando ao Titanic...

-Não dá mais para voltar, ele afundou. Você não soube, Carlão?

-Sem brincadeiras, Daniel.

-Esse documentário a que me refiro, fala da embarcação que estava mais próxima do Titanic: o SS Californian, um navio a vapor britânico.

-Bem, Daniel, eu assisti a dois filmes sobre essa catástrofe: “Somente Deus Por Testemunha” e “Titanic”.

-Desses dois, eu vi “Titanic”. Estávamos até juntos num cinema do Nova América. “Somente Deus Por Testemunha” como é?...

-Eu me recordo que vi no Cine Cachambi, lá por 1960. Do filme, propriamente dito, só lembro que ele afunda no final.

-Não era, então, uma versão dos Estúdios da Disney, pois eles fizeram que o Corcunda de Notre Dame não morresse no fim da história. - aproveitou a piada.

-Bem, mesmo que os Estúdios da Disney fizessem um desenho sobre a viagem do “Titanic”, seria impossível que a história não terminasse com o naufrágio.

-Impossível, nada, Carlão: bastaria uma comunicação com o SS Californian que a tragédia seria evitada.

-Lembrei-me de mais uma cena de “Somente Deus Por Testemunha”.

-Qual?

-Enquanto os milionários almoçavam ou jantavam, um deles colocou um lápis em pé sobre uma das mesas e disse: “Este navio é tão seguro, que o lápis não cai.”

-Cairia depois.

-Como eu dizia, Daniel, assisti a dois filmes, mas, se a memória não me trai, não há referência alguma ao SS Californian.

-O “Californian” era um navio a vapor britânico, como eu disse, que transportava algodão, mas podia, também, levar 47 passageiros e 55 tripulantes.

-Era a embarcação mais próxima do Titanic? - interrompi.

-Era; ele saiu de Londres para Boston, no dia 5 de abril de 1912, sem passageiros, sob as ordens do Capitão Stanley.

-Daniel, como você guardou tudo isso na cabeça? Até parece “Funes, o Memorioso”, personagem do Jorge Luís Borges.

-Carlão, eu já disse uma coisa, com esta cozinha repleta, e repito agora: eu tenho a melhor memória da família.

Quanto à memória RAM, eu nem discuto. Mas no que diz respeito à memória HD, o buraco é mais embaixo.

-Buraco você vai ver se me deixar prosseguir.

-Prossiga, Daniel, o memorioso.

-Um dia antes do naufrágio, ou seja, 14 de abril, um domingo, o operador do telégrafo do “Californian” relatou três grandes icebergs que distavam 24 quilômetros ao norte do curso e era para lá que o “Titanic” se dirigia. O operador recebeu o aviso e, perto das 10 horas e meia da noite, deu conhecimento ao capitão.

-Como era mesmo o nome dele, Daniel?

-Capitão Stanley.

-Ele mandou parar o navio?

-Por enquanto, não. Mas quando estavam ao sul do Grand Banks de Newfoundland, encontraram um grande campo de gelo. A sorte é que o capitão percebeu. Não havia como sair dali, eram icebergs por todos os lados, o Capitão Stanley, mandou, então, que se parasse o navio e se aguardasse a manhã para tentar sair daquela cilada.

-Ou seja, Daniel, ele já estava prevenido, por isso o navio vinha devagar e houve tempo para evitar a tragédia. Qual era a velocidade do “Titanic”?

-Em nós, eu não sei, em quilômetros, 40.

-40 quilômetros é alta velocidade, Daniel.

-Com o navio parado, o Capitão Stanley foi à cabine do operador do telégrafo e perguntou se havia algum navio nas proximidades.

-O “Titanic”. - antecipei-me.

-Ele pediu ao telegrafista que comunicassem ao “Titanic” que eles haviam parado por causa do campo de gelo.

-Não conseguiu?

-Carlão, calma que eu vou chegar lá.

-Chegue, memorioso.

-Quem era o operador de telégrafo do “Titanic”? Jack Phillips. Quando o telegrafista do “Californian” enviou a mensagem para o Jack Phillips, este estava ocupado com uma estação de rádio em Newfoundland.

-Que coisa! - exclamei.

Assim, as vozes chegaram aos ouvidos de Jack Phillips misturadas que, irritado com a confusão, gritou: “Cala a boca que eu estou ocupado”.

-Você não disse o nome do operador de telégrafo do Titanic?

-Evans.

-O que fez o Evans depois desse passa-fora?

-Evans desligou o telégrafo e foi dormir. Eram onze e meia da noite.

-Minutos depois, o “Titanic”, que vinha velocíssimo, para um transatlântico, bateu num iceberg. - disse-lhe isso e emendei uma pergunta:

-E depois, Daniel?

-Carlão, o “Titanic” sinalizou, logo depois da batida e da meia-noite, pedindo socorro, e nada.

-No “SS Californian”, todo o mundo dormia?

-Por volta das 2 horas da manhã, o capitão do “Californian”...

Fez as reticências para me testar:

-Como é o nome dele?

-O bom de memória RAM, aqui, é você.

Ainda assim, arrisquei:

-Stan Laurel.

-Stanley.

Ah, sim; Stan Laurel é o magro da dupla “O Gordo e o Magro”. Eu sou o Hortelino Troca-Nomes.

-O Capitão Stanley, por volta das 2 horas da manhã, foi informado que foguetes brancos foram vistos. Ele perguntou qual era a cor, responderam que era branca e ele ficou sossegado.

-Por que?

-Porque a cor do foguete que representa pedido de socorro é vermelha. Acontece que não havia foguetes de cor vermelha no “Titanic”.

-Poxa, o maior e mais luxuoso transatlântico do mundo não levava foguetes vermelhos. Houve muita prepotência mesmo. - comentei.

-20 minutos depois, ou seja, duas horas e vinte minutos da manhã, o “Titanic” naufragou.

-Puxa!

-O Capitão se levantou às 4 e meia da manhã, acordou o telegrafista para saber o porquê dos tais foguetes. Quando o rádio foi ligado, souberam da tragédia. Ele ordenou que o “Californian” rumasse para lá. Na frente, ia o navio de resgate Carpathia. Depois de pegar o último bote de sobreviventes, o Carpathia partiu e deixou a área para o “Californian” prosseguir no resgate.

-Sim, Daniel.

-Quando o “SS Californian” chegou só encontrou destroços e botes vazios.

-Daria um filme só sobre o “SS Californian”; pelo menos, deu um documentário.

Daniel continuou:

-Em 1915, o “SS Californian” foi afundado por um submarino alemão, no Mediterrâneo, na Primeira Guerra Mundial.

-Então, daria um bom filme, Daniel.

-Com Leonardo DiCaprio no papel do telegrafista dorminhoco.- arrematou.

 

 

 

 

 

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