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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

2916 - Um dia comum


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5166                                  Data:  10 de agosto de 2015

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O DIA 9 DE AGOSTO NO RÁDIO MEMÓRIA

2ª PARTE

 

-Eu pretendia fazer três homenagens hoje, 9 de agosto; grandes nomes que faleceram neste mês, mas vai ficar para outra ocasião. Uma foi Carmen Miranda, que morreu no dia 5; para mim, é a maior cantora do Brasil.

Às palavras do Jonas Vieira, seguiram-se as do Sérgio Fortes:

-Eu não vi registro algum, como sói acontecer.

Aqui, um adendo deste periodicista: João Carlos Santana, no programa Sala de Música, às 16h 10min, da Rádio CBN, que tem uma boa audiência, tratou dos 60 anos da morte da Carmem Miranda, inclusive com a reprodução do Repórter Esso, na locução do Heron Domingues, que deu a infausta notícia para os brasileiros da sua morte. O mesmo programa, aliás, que dedicou mais de dez minutos ao centenário do Orlando Silva, em que foi citada a biografia dele elaborada pelo Jonas Vieira.

Prosseguindo com o decano dos radialistas:

-Não aconteceu nada no Brasil. No dia 2 de agosto, morreu Luiz Gonzaga; Orlando Silva, no dia 7; Jacob do Bandolim, no dia 13. Isso para citar quatro grandes nomes. Passaram (as datas dos falecimentos) em brancas nuvens no Brasil.

Depois, justificou-se de não ter sido uma exceção:

-Eu fiquei tão ocupado, que acabei esquecendo. Então, senhores ouvintes, ao invés de fazer essa homenagem, nós vamos para outro roteiro, não é isso, Sérgio Fortes?

-Vamos prestar uma homenagem a nós mesmos, merecida...

-Nós sofredores.

Jonas não falou no Dia dos Pais, mas que, na realidade, seriam homenageados, com louvor, nesse segundo domingo de agosto.

-Começamos com música?

-Vamos lá. - incentivou-o o titular do programa.

-Jonas, é o seguinte: há um registro no calendário que, no dia 9 de agosto de 1919, faleceu Ruggero Leoncavallo, grande compositor de óperas italiano. Eu separei como amostra da obra de Leoncavallo a canção “Mattinata”, interpretada por Luciano Pavarotti. O primeiro grande sucesso da discografia foi a “Mattinata”, gravada com a voz do Caruso e o Leoncavallo no piano, em 8 de abril de 1904.

-Ele era Leoncavallo apenas no nome. - brincou o Jonas Vieira.

-Isso vendeu... Foi uma venda de discos enorme, louca. E o Luciano Pavarotti, o grande tenor, falecido recentemente, dá uma interpretação... posso usar supimpa?

-Supimpa. - disse o Jonas Vieira por ele.

-Então – prosseguiu o Sérgio Fortes – vamos ouvir.

Entrou “L'aurora do bianco vestita/ gia l'uscio dischiude al gran sol”..., etc,etc.

Jonas Vieira se extasiou com o que ouviu.

-Que coisa! Isto é música! Compara o que você acabou de ouvir com a porcariada que há por aí.

-O trivial variado a que estamos submetidos, Jonas.

-Exaltada (a porcariada) na televisão e no rádio. É uma tristeza! Não é sem razão que as coisas estão como estão.

-Nélson Rodrigues diria: “Choremos lágrimas de esguicho”.

-Bota esguicho nisso, Sérgio.

Jonas Vieira não disse “bota água nesse esguicho”, provavelmente, porque estamos, há muito tempo, no volume morto.

Voltou-se, em seguida, para o ser parceiro de apresentação do Rádio Memória.

-O que mais aconteceu no dia 9 de agosto?

Era a hora do calendário de que este periódico já reproduziu no número anterior. Depois, retornou o Jonas Vieira com a seleção musical do dia.

-Enquanto isso, ouvintes, nós vamos ouvir Mário Reis.

-Grande Mário Reis! Morador do Copacabana Palace, torcedor do América, cheio de qualidades. - animou-se o Sérgio Fortes.

-Um aristocrata, - aditou o Jonas Vieira, que prosseguiu:

-Mário nasceu no Rio de Janeiro em 1907. Ele gravou verdadeiras pérolas, todas elas nos anos 30. Já nos anos 50, gravou um outro disco presenteando os amigos, mas, aí, foram regravações, entre elas, de Sinhô “Amar a Uma Só Mulher”.

Depois da gravação, continuou:

-Esta música tem uma explicação: o Sinhô dedicou ao casal Moreyra, os pais do meu amigo Sandro Moreyra; ele, escritor, ela também. Eles levaram o amor de um pelo outro a vida toda.

-Um amor duradouro.

-Ela já fumava charuto naquela época.

-Olha só!- abismou-se o Sérgio Fortes.

-Era uma mulher muita avançada e o Sinhô frequentava a casa dos dois.

-Os pais do Sandro Moreyra. - repetiu o Sérgio Fortes.

-O meu querido e saudoso amigo com que trabalhei...

-Na Última Hora? - antecipou-se o Sérgio Fortes.

-Na Última Hora; depois, ele foi para o Jornal do Brasil. Sandro foi uma das figuras mais inteligentes que conheci na minha vida. Ele era uma pessoa engraçadíssima, gozava muito o João Saldanha. O João inventava umas coisas duvidosas. Sandro contava que o João havia revelado para ele que tinha estado na revolução chinesa.

-Participou da Grande Marcha do Mao Tse Tung.

Jonas prosseguiu depois dessa intervenção do seu parceiro.

-João Saldanha vinha logo atrás do Mao Tse Tung e, lá pelas tantas, tropeçou nele. O Mao se virou e disse: “Pô, João”.

Depois de muitas risadas, Jonas voltou ao samba “Amar a Uma Só Mulher”:

-Essa música foi dedicada... os nomes me fugiram agora.

-Cartas para a redação. Vamos pedir ao Carlos Nascimento para esclarecer esse ponto.

Depois de o Sérgio Fortes ter pedido, gentilmente, a nossa intervenção, ficamos com a obrigação de atendê-lo.

Jonas Vieira se referia ao Álvaro Moreyra (1888/1964) e Eugênia Álvaro Moreyra (1898/1948). Ele, consagrado poeta, cronista e jornalista, ela, jornalista, atriz e diretora de teatro, que tinha uma personalidade fora das convenções, foi pioneira do feminismo e líder da campanha sufragista no Brasil.

Com a palavra, Jonas Vieira:

-Então, tem uma coisa: por que Mário Reis cantava dessa maneira? Por causa do Sinhô. Segundo me contou o grande Nássara: “Jonas, o nosso amigo Mário Reis foi tomar uma aula de piano com o Sinhô e o Sinhô, nessa época, já estava tuberculoso. Então, ele cantava baixinho.

-E o Mário Reis captou. - deduziu o Sérgio Fortes.

-Sim, ele captou a maneira do Sinhô cantar.

-Bons tempos.

-E aí? - pediu o Jonas Vieira ao Sérgio Fortes a próxima atração musical.

-Agora, Gregorio Barrios. Você o conheceu bem, Jonas?

-Quer que eu conte a história dele?

Sem esperar a resposta, antevendo a curiosidade de todo o mundo, foi em frente.

-O César de Alencar me contou que todo sábado, o nosso Gregório Barrios aparecia no programa do Cabeça Chata... Lembra-se do Cabeça Chata?

-O Manezinho Araújo?

O próprio.

-Famosíssimo, Gregório Barrios enchia a cara e, depois, ia ao programa dele na Rádio Nacional cantar. Gregório Barrios chegava tão bêbado que era colocado em frente do microfone por dois ajudantes. Cantava e era retirado. Bem, vamos à gravação.

-Com Gregório Barrios, “Maria Bonita” de Agustin Lara.

 

 

 

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