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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

2910 - o memorioso esquecido


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5160                        Data:  31 de julho de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

-Passando a vista por um desses Sabodoidos, vi que o periodista engasgou com um gole d'água por causa de uma piada inesperada dita pelo seu sobrinho. Ora, isso não era nem para ser registrado, haja vista que há uma diferença de muitos graus entre líquido e sólido. Como disse o presidente Jânio Quadros, entusiasta das mesóclises (não se trata de marca de cachaça) : “Bebo porque é líquido, se fosse sólido, comê-lo-ia.” Eu queria saber como reagiria o redator deste periódico se o engasgo fosse com um pedaço de carne, por exemplo. Caiana

BM: É verdade, a coisa ficaria preta se fosse com algo sólido, e o piadista, no caso meu sobrinho, por ser o mais forte participante do Sabadoido, teria de agir.

A propósito, lendo a narrativa do presidente Bill Clinton sobre as gestões de paz no Oriente Médio, quando ele juntou o líder judeu Ehud Barak e o líder dos palestinos, Yasser Arafat, deparou-se com o que poderia ser um acidente fatal. Conta Bill Clinton que Barak comia e trabalhava ao mesmo tempo, quando engasgou com uma castanha e ficou 40 segundos sem respirar. Foi salvo pelo membro mais jovem da sua delegação, Gid Gernstein, que lhe aplicou a manobra de Heimlich. O que é a manobra de Heimlich? A mesma que a minha sobrinha aplicou no seu sogro que havia engasgado com um pedaço de carne de churrasco em Saquarema. Consiste em pé, atrás do engasgado, envolvê-lo com os braços e, rápida e fortemente, pressionar-lhe o diafragma com as mãos cruzadas para que ele consiga expelir o objeto que o sufoca. Por via das dúvidas, vou ensinar a manobra de Heimlich ao meu sobrinho.

Quanto ao Ehud Barak, segundo o presidente Bill Clinton, depois disso, ele continuou a trabalhar como se nada tivesse acontecido.

 

-Lendo uma dessas resenhas do Rádio Memória, detive-me no trecho em que o Homem-Calendário, Sérgio Fortes falou do Padre Antônio Vieira, orador fabuloso e mestre do idioma português, personalidade tão meritória que o Jonas Vieira afirmou que é parente dele.

Quando eu estava no curso primário, uma das minhas professoras falou em “estalo de Vieira”, não me recordo de mais nada. O que vem a ser isso. Maurunda.

BM: Reza a lenda, Maurunda, que o Padre Antônio Vieira era burrinho e uma das razões da sua burrice era a devoção cega, quase fanatismo, que embotava a clareza da sua mente para entender o mundo ao redor. Então, rezando à Virgem Maria, rogou-lhe que ficasse mais inteligente, menos obtuso, que obtivesse mais saber. Nesse momento, ouviu-se um estalo tão forte que ele quase perdeu os sentidos como a epifania de Paulo de Tarso na estrada de Damasco. Segundo um dos biógrafos do Padre Antônio Vieira, André de Barros, depois do estalo, ele adquiriu “clareza de entendimento, agudeza de engenho e sagacidade de memória.”

Os “Sermões”, de uma riqueza ímpar, para os estudiosos, comprovam a sua genialidade.

Mal comparando, muitos petistas receberam o estalo de Vieira, largaram o seu fanatismo e ficaram bem mais lúcidos.

 

   -Li o Biscoito Molhado sobre a guerra das correntes, contínua versus alternada, Edison versus Westinghouse, para levar luz às lâmpadas. Também li o asterisco do Dieckmann em que ele diz que o grande nome da corrente alternada, o inventor Nikolai Tesla, só não morreu torrado na experiência a que se submeteu para provar que poderíamos conviver com a corrente alternada, porque não colocou cada pé em fios de alta tensão; ele fez como os pássaros: tratou de pôr os dois num fio só. Mas não é isso que me interessa agora. Eu gostaria de saber como se deu a iluminação elétrica no Brasil. Zorro

BM: Caro leitor, o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, puxou à mãe, Maria Leopoldina, que era estudiosa e possuía a mente aberta para as criações científicas. Assim, ele se empolgou pelos daguerreótipos (primeiras máquinas fotográficas), o telefone e, também, a lâmpada elétrica. (*)

Em 1876, na Exposição da Filadélfia, primeira feira internacional dos Estados Unidos, Dom Pedro II se encantou com a energia elétrica e autorizou Thomas Edison a transportar para o Brasil os aparelhos que inventara.

Três anos depois, houve a primeira demonstração pública da lâmpada elétrica aqui. Deu-se na Estrada de Ferro Central do Brasil, com a presença do imperador, quando seis lâmpadas substituíram 46 bicos de gás que, até então, iluminavam o local. Esta primeira instalação elétrica no Brasil perdurou por sete anos.

Em 1881, a diretoria do Departamento dos Correios e Telégrafos instalou 16 lâmpadas no Campo da Aclamação atual Praça da República.

Em 1883, Dom Pedro II inaugurou o primeiro serviço de iluminação pública municipal da América do Sul, que contava com energia elétrica, em Campos.  Como Campos contava com uma usina termoelétrica, foi a primeira cidade a ter luz elétrica nas ruas.  Rio Claro, cidade de são Paulo, que também contava com uma usina termoelétrica, foi a segunda.

O serviço da luz elétrica foi implementado, no Rio de Janeiro, em 1904, e, em São Paulo, em 1905.

Tudo ficou muito claro para que melhor se enxergasse a conta da luz.

 

 -O meu amigo recebeu em casa Jorge Luís Borges e não se referiu a “Funes, o Memorioso.”?... Caso haja uma segunda visita, espero que o faça. Bigode.

BM: Certamente a Rosa Grieco, que leu toda a “Biblioteca de Babel”, deve estar bem desolada com isso.

Foi de uma evidência palmar, na nossa entrevista, que a abstinência de biblioteca do grande escritor argentino fez com que ficasse poucas horas em minha casa e partisse; muitas das grandes obras da sua lavra, assim, não foram mencionadas; “Funes, o Memorioso” foi uma delas. Trata-se de um conto de menos de dez páginas, inserido no livro “Ficciones”, editado em 1944. Ireneo Funes é um personagem que não se esquece de nada, que guarda todos os detalhes, por isso está inteiramente preso ao passado sem o distanciamento do presente. 

Esse conto, de tão engenhoso, suscitou inúmeros estudos. Um deles diz que, para pensar, tem-se de esquecer coisas supérfluas, abstrair-se, o que Irineo Funes não conseguia. Ele não pensava, Ireneo Funes só se lembrava.

Nós nos deparamos, nas nossas pesquisas, até com abordagens semióticas do personagem de Jorge Luís Borges com gráficos e o diabo. Não tivemos paciência de ler, e olhe, Bigode, que nós temos saco até para ler os artigos do Luís Fernando Veríssimo sobre economia e política.

 

(*) O daguerreótipo (em francês: daguerréotype) foi o primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado ao grande público. Foi divulgado em 1839, tendo sido substituído por processos mais práticos e baratos apenas no início da década de 1860. Consiste numa imagem fixada sobre uma placa de cobre, ou outro metal de custo reduzido, com um banho de prata (casquinha), formando uma superfície espelhada. A imagem é ao mesmo tempo positiva e negativa, dependendo do ângulo em que é observada. Trata-se de imagens únicas, fixadas diretamente sobre a placa final, sem o uso de negativo. Os daguerreótipos são extremamente frágeis. A superfície é facilmente riscada e estão sujeitos à oxidação, por isso precisam ser encapsulados e conservados com cuidado.

 

    

  

 

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