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segunda-feira, 29 de junho de 2015

2883 - peladeiros e rivais


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5133                          Data:  24 de junho de 2015

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203 ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

 

Embora gagueje muito, o 009 é um ótimo interlocutor para assuntos de esporte em geral. Seu irmão, o 202, me disse, cera vez, que ele foi muito bom de bola, mas o pai, que também é taxista, podou o seu talento. Disse-me, também, que ele é vascaíno doente. Fui eu que puxei conversa.

-Tempos atrás, as câmeras do metrô davam notícias com semanas de atrás, agora, não, as notícias são frescas.

-Que bom.

-Eu vi, na viagem para cá, a informação do Eurico Miranda, presidente do Vasco, que o Léo Moura telefonou para o Romário porque queria jogar no Vasco.

-E foi isso mesmo. O Léo Moura sofreu ameaças da torcida do Flamengo, ficou com medo e desistiu. - disse o Gaguinho com a sua língua travando só no momento em que pronunciou Flamengo.

-Ele é profissional, não tem de dar satisfações a torcedores fanáticos.

E Prossegui:

-Morreu o Carlinhos, grande jogador do meio de campo do Flamengo, aposto que 90% desses torcedores não sabem quem é; eles só vivem do presente.

-O Carlinhos jogou com o Gérson, não foi?

Depois de confirmar, disse-lhe que os rubro-negros reverenciam apenas o Zico. Ele me contestou:

-Nem ele. Recorda-se quando o Zico foi assessor do Zagalo na Copa do Mundo de 1998 e o Romário, que jogava no Flamengo, não foi convocado? Os flamenguistas rasgaram os cartazes com a figura do Zico. - gaguejou mais, dessa vez, porque foi tomado pela exaltação dos polemistas.

-Outra notícia que vi na câmera do metrô foi a que dizia que o Eurico Miranda pedia a torcida vascaína para não comparecer à partida contra o Fluminense, e, em seguida, duvidava de a torcida tricolor lotar o estádio.

-O Eurico Miranda é dado a essas provocações, mas é porque o Fluminense está fazendo ruído nas negociações do Vasco com o Ronaldinho Gaúcho.

-O problema dele é acirrar os ânimos sem medir as consequências. Muitos bandidos, de um tempo para cá, passaram a participar de torcidas organizadas, e o Eurico Miranda, já nos anos 90, provocava os flamenguistas. Quando chegou à presidência, acirrou os ânimos entre as torcidas rivais e, não há dúvidas, que ele tem sua parcela de culpa nas mortes que ocorreram nessas brigas entre torcedores do Vasco e do Flamengo.

-Eu também acho. - concordou.

-Roberto Dinamite pode não ter sido um bom presidente do Vasco, mas quando substituiu no cargo tomou um gesto digno de aplausos: confraternizou-se com os dirigentes do Flamengo num almoço.

-Mas os torcedores não fumaram o cachimbo da paz, não. - manifestou-se, enquanto me deixava na Rua Modigliani.

 

No táxi do 151, aquele que me chama de “Meu Nobre”, quem me deu o pontapé inicial na conversação foi ele.

-Tenho sérias dúvidas de que esta cidade fique pronta para as olimpíadas.

-Quando foi anunciado o Rio de Janeiro como sede das olimpíadas de 2016, em 2009, eu almoçava com uns amigos no Jirau, um restaurante do início da Rua São José, e parecia que o Brasil tinha feito um gol na decisão da Copa do Mundo.

-Uma euforia louca. - imaginou.

-Apenas na minha mesa, onde estávamos eu, dois amigos e uma amiga, não houve vibração. Essa amiga até comentou que todos ali pensariam que éramos espanhóis, pois Madri era uma das favoritas.

-Tóquio era uma das concorrentes, tenho certeza. - assegurou.

-Chicago também concorreu, e o presidente Barack Obama até foi lá, se não me engano, na Dinamarca, no dia da votação do Comitê Olímpico. A cidade não tinha chances, mas era seu reduto político, a capital do estado em que ele foi senador. Ele não podia se descuidar, pois viria a eleição de 2012. - comentei.

-Sediar uma olimpíada é muito mais complexo do que uma Copa do Mundo; virão países de quase todo o mundo e os atletas não ficarão espalhados pelo Brasil. Todo o mundo vai ficar no Rio de Janeiro, que parece uma cidade bombardeada na Segunda Guerra Mundial. Logo agora, que tudo que é esporte passou ser olímpico até o rugby. - manifestou-se.

-Li muitos anos atrás uma crônica do João Saldanha em que ele escreveu que o nosso futebol surgiu do rugby.

-Mas o futebol tem mais de dois mil anos. - retrucou.

-Sim; mas o futebol era jogado de qualquer maneira, valia tudo, até usar o crânio do inimigo como bola. O futebol com regras, que se tornaria o esporte mais popular do planeta, nasceu na Inglaterra. No rugby, todos podem segurar com as mãos a bola, no futebol, só dois, e dentro de um espaço demarcado, a grande área. Enfim, nessa crônica do João Saldanha, ele mostra as modificações que levaram os ingleses a criarem o nosso futebol.

-Aquele esporte truculento, o futebol americano, eu sei que foi inspirado no rugby. Eu nunca consegui entender as regras.

-Eu consegui entender alguma coisa lendo as memórias do Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos.

-Aquele da estagiária que fez boquete? - interrompeu-me.

-Ele foi muito mais do que isso. Mas voltando ao que eu dizia, aprendi alguma coisa sobre futebol americano com ele. Escrevendo sobre um confronto entre um time do Arkansas e outro do Texas, ele explica que cada um tem quatro tentativas para avançar na defesa adversária, se conseguir, ganha mais quatro tentativas, se não, a bola passa para o adversário. Se o tradutor não errou, nessas quatro chances tem-se ganhar, pelo menos, 10 jardas do terreno inimigo.

-Chegamos, meu nobre.

Ele já tinha percorrido todas as jardas até a minha casa.

 

Quando entrei no táxi do 017, resolvi poupar a garganta como os protagonistas de uma ópera em dia de récita, mas ele quebrou o silêncio com uma pergunta:

-Você está assistindo aos jogos da Copa América?

-Só vi os do Brasil e da Argentina que começaram antes das 18h 30min.

-Então, você não viu o jogo Brasil e Colômbia?

-Não vale as minhas horas de sono.

-Não perdeu nada. O Neymar todo nervosinho... mas isso é culpa da mídia que endeusa esses caras.

-Um amigo meu ficou indignado porque um intelectual comparou da Academia Brasileira de Letras comparou os pés do Neymar com as mãos do pianista brasileiro de maior projeção internacional que, com 3 anos de idade, já tocava piano. “O que o Neymar fazia com os pés aos 3 anos de idade?” - bradava esse meu amigo no telefone.

Ele ficou quieto, e eu continuei:

-Quebrava a cristaleira da casa em que morava dando pontapé em bola de borracha.

-E o Messi?... O que você tem achado dele nessa Copa América?

-Sonolento. - respondi.

-Mas quando ele acorda... - colocou a ênfase nas reticências.

-No time do Barcelona, ele está em vigília quase sempre, mas não o vejo tão motivado na seleção. Mas prefiro o Messi ao Neymar, porque não debocha dos adversários, quando derrotados e não sofre de crises de chilique.

O silêncio retornou até a chegada do táxi na minha rua.

 

 

 

 

 

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