Total de visualizações de página

segunda-feira, 15 de junho de 2015

2873 - sobre sargentos e generais


----------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5123                               Data:  09 de junho de 2015

-------------------------------------------------------

 

SABADOIDO DOS MILITARES À FIFA

 

-Claudio, o Barão de Itararé dizia “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”, mas apareceu uma exceção que confirma a regra.

-Foi?... - não demonstrou muito interesse.

-Com a morte do General Leônidas Pires Gonçalves, eu esperava ler obituários de meia página, nos jornais e só vi poucas frases. A própria “Veja” publicou um com quase o mesmo número de palavras do obituário de uma tal de Katherine Chappel, que foi a editora de efeitos especiais da série “Game of Thrones.”

-Carlinhos, as pessoas estão esquecendo que a “Veja” fez oposição dura à ditadura militar.

-A revista se opôs ao governo ditatorial, ao governo Collor, contribuindo com a sua derrubada e ao lulopetismo, enfim, a tudo que não prestava e contribuía para o atraso do Brasil. Mas o General Leônidas Pires Gonçalves foi escolhido pelo Tancredo Neves para ser Ministro do Exército, a missão dele era de uma importância fundamental: ajustar os militares à democracia.

-Nesse ministro do Tancredo Neves, o José Sarney não mexeu, quando fez a reforma ministerial.

-O José Sarney é tudo, menos burro; ele sabia que o Tancredo Neves era o mestre das costuras políticas mais delicadas, então, qualquer interferência sua seria uma lambança.

-Mas por que você citou, então, o Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”?

-Porque foi o “Canal Câmara” que colocou no ar uma entrevista de quase 40 minutos do General Leônidas Pires Gonçalves tão logo foi anunciado o seu falecimento.

-O que você achou?

-Eu achei que o Tancredo Neves sabia o que estava fazendo quando o nomeou Ministro do Exército, pois ele era muito preparado, um castelista.

-Castelista?- estranhou.

-Um seguidor do Castelo Branco, como diziam os militares, como o Coronel, um investidor, principalmente das ações do Banco do Brasil, que eu conheci na Corretora Caravello na Rua Uruguaiana. O Coronel me dizia que o Castelo Branco, mais de uma vez, lhe pediu, como um sorriso maroto, que contasse a sua briga com o Jarbas Passarinho, com quem dividia um alojamento no quartel. Brigaram por causa de um discurso polêmico do Jânio Quadros sobre a Petrobras.

-Se reprisarem, eu vejo essa entrevista. - garantiu meu irmão.

-O General Leônidas disse que, quando conheceu o Castelo Branco, na década de 30, os militares sussurravam o seu nome cheios de admiração, porque ele tinha uma auréola e era apenas major. Na Força Expedicionária Brasileira, Castelo Branco, apesar de ser tenente-coronel, foi o cérebro, aquele que planejou e implementou manobras militares na guerra na Itália.

-Mas a ditadura começou com ele. - manifestou-se meu irmão.

-Ele garantiu, peremptoriamente, que o Marechal Castelo era legalista, que só participou do golpe porque os militares não admitem quebra de hierarquia, marinheiros carregando almirantes, no caso o Aragão, nos ombros, e quejandos. Eu vi o Almino Affonso, que foi ministro do João Goulart, no programa “Roda Viva”, dizer que o militar considera a quebra de hierarquia pior do que o comunismo.

-O Castelo Branco foi eleito pelo Congresso. - lembrou.

-Ele só admitia o poder assim, segundo o entrevistado. O Costa e Silva, dizendo que era o mais antigo, esquecendo o Cordeiro de Farias, queria o poder, mas a Turma da Sorbonne, aqueles que cursaram a Escola Superior de Guerra – Castelo Branco, Geisel, Golbery, Ademar Queirós- manobraram nos bastidores e o Castelo Branco chegou ao poder.

-Os entrevistadores do Canal Câmara só ouviram, não contestaram o general em momento algum? - quis saber.

-Houve um momento em que eles falaram na repressão do governo militar e o General Leônidas disse que tudo corria bem, as medidas usadas, até então - retirada dos direitos políticos e cassação - eram milenares, civilizatórias, elas representavam o ostracismo da Antiga Grécia e o banimento de Roma. Ele acusou, em seguida, os subversivos de causarem a dura repressão, como o atentado do Aeroporto de Guararapes, que matou dezenas de pessoas. Os entrevistadores revidaram com o atentado do Riocentro e, pela primeira vez, na entrevista, o General se encrespou e discutiu com eles. 

-Até o General Newton Cruz vira uma fera quando alguém insinua que ele deu ordens para a missão daqueles dois malucos que trabalhavam para a linha dura. - interveio o Claudio.

-O General garante, com convicção, que o presidente Castelo Branco pretendia entregar o governo a um civil. E lembrou a frase dele quando saiu do governo: “Encontrei impasses e deixei opções”.

-Boa frase.

-Claudio, para mim, nos últimos 65 anos, o Brasil teve três estadistas: Getúlio Vargas, do segundo governo, Castelo Branco e Fernando Henrique Cardoso.

-Há controvérsias. - disse.

-Os entrevistadores do Canal Câmara cometeram uma falha imperdoável: não perguntaram ao Leônidas Pires Gonçalves sobre a morte do Castelo Branco. Essa, sim, foi uma morte suspeita, haja vista que a linha dura da ditadura o via com péssimos olhos. O General garantiu que Castelo errou ao cumprir o mandato do João Goulart e sair, ele deveria ficar seis anos, consolidar a revolução e passar o governo para um civil.

-Ele se enganou, deveria ter dito os 5 anos do mandato de presidente, pois o do João Goulart acabou em 1965. - acrescentei.

-Carlão, e o escândalo da FIFA? - era meu sobrinho irrompendo pela cozinha a dentro.

-Daniel, o João Havelange levou a técnica da corrupção brasileira, que é a mais avançada do mundo, para a FIFA.

-João Havelange não é nada disso. - gritou a Gina, ainda fora do nosso campo visual.

Já na cozinha, completou com o seu coração tricolor:

-João Havelange foi um grande nadador do Fluminense.

-Arrancaram até o nome dele do estádio Engenhão quando ficaram comprovadas as propinas na sua gestão de presidente da FIFA. - repliquei.

-O Botafogo quer colocar o nome do Nílton Santos no estádio, mas ainda é João Havelange.

-Continua, oficialmente, João Havelange. - seguiram-se as palavras do Cláudio às do Daniel.

-Eu sei, o prefeito disse que, no papel, o nome é João Havelange, mas que não havia problema de o Botafogo usar o nome Nílton Santos. - comentei.

-O nome do Marin já foi retirado do prédio da CBF. - disse o Daniel.

-O Ronaldo Caiado, em discurso no Senado, disse que o Blatter renunciou por causa de 500 milhões de dólares, que é uma mixaria comparados com os 88 bilhões da Petrobras, para não citar o BNDES, que vai ser ainda apurado.

-E pediu a renúncia da Dilma. - concluiu o Claudio cortando-me a fala.

-Acontece que a Dilma não está sendo investigada pelo FBI. - manifestou-se a Gina.

-Falando nisso, o Ricardo Teixeira já voou rapidinho de Miami para o Rio de Janeiro; está lá na cidade do Pezão. - informou o Claudio indicando o jornal que estava sobre a mesa.

-Eu recebi um vídeo, por e-mail do Dieckmann, em que um artista americano faz piada com a FIFA antes de o escândalo estourar. Para ilustrar a comicidade, filmes são mostrados, como o Blatter dizendo que a FIFA é uma entidade não lucrativa, que a reserva é de um bilhão de dólares. Na verdade, como diria o José Simão, tudo piada pronta. É um vídeo de 13 minutos.

-Carlão, eu só vejo vídeos até 4 minutos de duração.

-Antes de vocês chegarem, eu e Claudio falávamos do presidente Castelo Branco. Certa vez, ao saber que o irmão ganhara um Aero Willis de presente em agradecimento da classe da Receita Federal, por ter participado da elaboração de uma lei que organizava a carreira, obrigou-o a devolver o carro e ainda o ameaçou com a prisão.

-Carlão, vamos lá dentro assistir a esse tal vídeo do Dieckmann. - propôs meu sobrinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário