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O BISCOITO
MOLHADO
Edição 4136 Data: 20 de
fevereiro de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
-“Em tempos de fantasias de
Carnaval – tem umas coisas que o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO não
perdoa no redator. Ele esteve cara a cara com o falecido e nem reproduziu a
hora anterior à morte do mesmo. Coisa que iríamos saborear e ninguém poderia
negar. Por sorte, este Distribuidor recebeu, em sonho, a informação, com o
sussurro do falecido, que já tinha lido esta edição:
-“Bota isso no asterisco, que
o teu redator não teve peito!”
E toca a relatar:
“... esperei, espremido entre
o muro da capela da Colônia, no maior frio, o primeiro bonde da manhã. Só tinha
o Taquara-Cascadura, o que me servia bastante, pois minha filha Eulina residia
em Cascadura. Cheguei à porta da casa dela antes das seis da manhã e meu estado
físico certamente a assustou bastante. Sabendo que os médicos já não tinham me
dado maiores esperanças, e nem menores, encaminhou-me a uma mãe-de-santo que
providenciou o despacho, no literal e no espiritual, ao entardecer daquele
mesmo dia.
Subimos a encosta da Rua São
Fernando, no Morro do Fubá – eu, literalmente arrastado morro acima pelas
pedras molhadas pela água que escorria – tudo isso para encontrar a situação
propícia para a minha cura. Infelizmente, não deu certo, talvez porque tivesse
desabado uma tempestade na noite do dia 3 de fevereiro de 1934. A tormenta era
tanta, que me abandonaram na clareira do despacho, com 7 velas que se apagaram
quando o vento bateu. De novo com frio, só que molhado, não resisti e me lembro
da cascata iluminada pelos raios como derradeira visão – foi pra lá que fui. O
resto vocês conhecem.” - Dieckmann
BM: O nosso leitor, distribuidor e, às vezes,
revisor (mais jurídico do que jornalístico) se reporta à sua visita à minha casa registrada no BM
2316.
Sobre a morte do grande
compositor, consultamos, agora, o Jblog do Jornal do Brasil que diz o seguinte,
como título:
“1934 – O alívio do Maestro
Nazareth.”
Vem, então o texto:
“E finalmente, a fuga e o
suicídio. A morte que ele procurou, ainda talvez com uns requintes de beleza,
nas águas tumultuosas de uma cascata... Águas tumultuosas como a sua inspiração
de artista que sonhou a vida boa como a música, mas que teve que se vir despedaçar
entre as pedras de uma realidade triste que o encheu de humilhações,e que só
lhe deu a evasão da loucura e o alívio final da morte...”
“Desaparecido desde o dia 1º
de fevereiro, após fugir da colônia psiquiátrica Juliano Moreira em
Jacarepaguá, aonde (sic) estava internado em estado de insanidade mental, o
Maestro Ernesto Nazareth, 70 anos, foi encontrado morto boiando na represa de
um rio nas proximidades da colônia. Devido ao avançado estado de putrefação de
seu corpo, o laudo de óbito do médico Armando Campos não precisou a data de sua
morte, mas a sugeriu no dia 3 de fevereiro.”
No mencionado blog, foi
estampado o fac-símile da edição do Jornal do Brasil, de 7 de fevereiro de
1934, quarta-feira, em que se lê:
“A NOTA
O MAESTRO ERNESTO NAZARETH
Eu pensava que o maestro
Ernesto Nazareh tinha morrido há muito tempo. A notícia de sua morte trágica,
depois de sua fuga da Colônia de Psicopatas
de Jacarepaguá, veio mostrar que Ernesto Nazareth era um desses
mortos-vivos que passam anos e anos no esquecimento, depois de uma celebridade
efêmera.”
Este é o primeiro parágrafo
de uma coisa chamada de nota, que prossegue na sua ignorância, mas que não foi
abrangida neste fac-símile. Pouparam-nos.
Entende-se que o compositor
pelo que se leu, diferentemente do Pestana de “O homem célebre” de Machado de
Assis, Ernesto Nazareth morreu também de
mal com os outros (o público).
Felizmente, a posteridade
soube dar valor a Ernesto Nazareh, embora ele merecesse muito mais.
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-“Andei muito nesses mármores
do Cinema São Luiz, subi e desci muito esses degraus aí da foto, enganei muitos
bilheteiros sobre minha idade, para assistir a filmes proibidos para menores de
14 até 18 anos, entrei muito no recinto, andando de costas, para não pagar
ingresso e para ultrapassar o limite de idade da censura do filme, em meio ao
público que saía da sessão acabada, fui a muita matinê de domingo, também, ver
muitas bombas, mas ver também bons
filmes.” Elio
BM: As reminiscências do nosso amigo Elio
Fischberg afloraram depois que ele viu uma fotografia do Cinema São Luiz, que
foi enviada pela Branca Euler.
Elio, ficamos sabendo agora,
teve, na sua adolescência, semelhanças com o personagem do clássico
autobiográfico de François Truffault, “Os Incomprendidos”. O garoto de 15 anos,
Antoine Doinel, interpretado por Jean- Pierre Léaud, utilizava de mil artimanhas para entrar nos
cinemas, porque não tinha dinheiro.
Elio não deixa claro se as
suas espertezas eram inspiradas pela falta de l'argent. Como dizem os
franceses: point d'argent, point de
suisse. Como a Rosa Grieco não é a única pessoa a ler este periódico, aqui
vai a tradução: “sem dinheiro nada se alcança.”
Elio viveu seus momentos de
Truffault menino, mas, diferentemente do francês, não se tornou cineasta, preferiu a carreira
jurídica.
-Será que perdemos um grande
diretor de cinema?...
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-Sobre a conversa imaginária
entre o Biscoito e um taxista, em recente BM sobre o latim, tenho a declarar
que eu tive dificuldades com esse
idioma, como o teve Winston Churchill, conforme revelação sua no livro “Minha Mocidade.” Bob Dieckmann.
BM: Sempre modesto, Dieckmann se
compara a Winston Churchill. Tudo
bem, o boxeador Cassius Clay dizia que bem que tentava ser modesto, mas logo
ficava sem argumentos.
O Departamento de Pesquisas
do Biscoito Molhado arregaçou as mangas e encontrou páginas bolorentas de
caderno sobre a língua latina e um instigante texto da Natalia Cristine. Quem é
ela? Bem, não é fotografada pelos repórteres
de revistas de artistas, nem é procurada pelas câmeras de filmagem nos desfiles
de escolas de samba; o que só depõe a seu favor. Mas sigamos adiante.
Ela escreveu que o latim teve
seu período clássico entre os anos 81 a.C e 17 d.C, época dos principais
escritores latinos: Cícero, Júlio César, Virgílio, Horácio, Ovídio, Tito Lívio,
Sêneca, entre outros.
Voltaire manuscreveu uma
carta a uma amiga em que a aconselhava a aprender latim para ler Virgílio,
ressaltando que nada superava a poesia do poeta que influenciou Dante, Camões e
outros tantos, mesmo transcorridos bem
mais de mil anos da sua morte.
O português foi resultado da
mistura do latim com o galego, principal língua falada na região do Condado
Portucalense, que hoje corresponde à região de Portugal. Foi uma das línguas
derivadas que mais demorou a se formar, sendo provavelmente este o motivo de
ser o português tão semelhante ao idioma de Cícero.
Olavo Bilac retratou
poeticamente esse fato histórico num soneto, cuja primeira quadra aqui
reproduzimos:
Última flor do Lácio,
inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor
e sepultura.
Ouro nativo, que na garapa
impura,
A bruta mina entre entre
os cascalhos vela.
Lácio, como todos sabem, região fundada no século V a.C. , com o
desenrolar da história, se tornou o Latium Novum, berço do idioma latino.
Reportando-nos à conversa
imaginária no táxi, citada na carta, quando foi dito que as declinações latinas
estão na estrutura do nosso idioma, aqui vão dois exemplos:
O objeto direto está relacionado
com a declinação acusativo e o objeto indireto com s declinação dativo.
Quem conhece bem o latim não
confunde verbo transitivo direto com verbo transitivo indireto. Mas quem
conhece?
Winston Churchill e Dieckmann
(*), que deveriam dar o exemplo, foram, como confessaram, um fiasco no
aprendizado da língua latina.
(*) A língua inglesa tem menos problemas de afinação
do que a portuguesa e não se sabe que Churchill tenha tido problemas no domínio
do Inglês. Analogamente, seu companheiro de infortúnio, o ex-aluno do CMRJ
Dieckmann, pelo que este Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO já leu, também
não tem problemas no trato com o Português, a língua.
Donde se conclui que Latim tem utilidade para poucos.
Falássemos todos Latim e como os bailes funk apareceriam?
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