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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4131 Data: 14 de
fevereiro de 2013
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SABADOIDO DA SEMANA DE CARNAVAL
2ª PARTE
-O gordo me esquartejou. - dramatizou o
Luca.
Ele já me contara o caso pelo telefone,
por isso, folheei um dos alentados livros da Rosa, enquanto o Claudio
expressava curiosidade.
-Claudiomiro, antes de eu viajar para
Foz de Iguaçu, o pessoal me apresentou um desafiante para umas partidas de
pingue-pongue.
Todos têm um pouco de técnico de futebol
e de empresário. - pensei com os meus botões sem largar as páginas sobre
Fernando Pessoa.
-Em dez partidas de 15, o gordo me
ganhou de 8 a
2. Eu sacava, e ele respondia à altura. Cortou-me em postas.
-Não
houve outras partidas?
-Houve, Claudiomiro; ele arrasou comigo
de novo: 18 a
12.
-O placar foi bem mais apertado dessa
vez. - confortou-o meu irmão.
-Mas ele tem 170 quilos.
-Mas é baixo?- interferi.
-Tem mais de 1,85 m de altura. Ele me
disse que perdeu 40 quilos.
-Nem dá para imaginar como ele era
antes. - acrescentei.
-O gordo é faixa preta de aikidô, foi se
graduando sem participar de competições. Disse-me que gosta mesmo é de disputar
partidas de pingue-pongue.
-Ótimo, Luca; você tem agora um
competidor que vai exigir de você.
-Sim, Carlinhos. Como dizem os judeus:
prefiro perder para quem sabe do que ganhar de quem não sabe.
-E lá em Foz do Iguaçu? - quis saber o
Claudio.
-Era o aniversário da Glória, levei a
Kiara e a Carolina (sua filha) também foi. No lado argentino, procurei comprar
uns equipamentos para partidas de pingue-pongue, mas não encontrei nada que
prestasse. A espuma que reveste as minhas raquetes já estão ressecadas.
-A Foz do Iguaçu é uma beleza. - afirmou
meu irmão que a conhece, como eu, apenas por filmes e por fotografias.
-É uma obra que traz orgulho aos
brasileiros; ainda não está concluída... (*)
-Espera lá; ela foi realizada pelo
governo militar em 1973. - protestou meu irmão.
-A maior obra dos militares foi Itaipu e
a pior, a Transamazônica. - emendei.
-Mas a obra prossegue; o Lula esteve lá,
quando governava, e todos os presidentes que lá vão tem de plantar uma árvore.
Antes que meu irmão interviesse, ele se
antecipou ao seu comentário ferino.
-Lula pretendia plantar cana, mas foi obrigado
a plantar um ipê.
-Um ipê de cana. - fez meu irmão o
trocadilho, que o Luca alterou um pouco.
-Um ipé
de cana. -
Nesse instante, mostrei uma sacola de
plástico azul aos dois.
-Recebi isto no meu trabalho com este
papelzinho grampeado em que está escrito “Ao ilustre militante”. Abro, e me
deparo com um Sedex 10. Dentro dele, está essa publicação que traz na capa as
letras PT em formato de foice e martelo. Folheando a dita cuja, encontrei as
manifestações mais absurdas dos xiitas do partido.
-E quem lhe enviou?
-Claudio, pensei primeiramente no
Reinaldo.
-Reinaldo não faria isso.- defendeu o cunhado.
-Não pensei nisso mais do que um minuto,
pois imagino que o Reinaldo está desiludido, como muitos petistas de caráter
que conheço. Então, a suspeita recaiu sobre um colega de trabalho que, há
poucos dias, reclamou do radicalismo dos amigos que tem no PT, mas, como é
gozador acima de tudo, e sabendo da minha simpatia pelo FHC, que neste material
é chamado de príncipe dos sociólogos que virou príncipe das trevas, e da minha
oposição declarada ao Lula e asseclas ...
-Certamente foi ele. - concluiu o
Claudio.
-Bem, eu vou jogar isto fora.
-Não, Carlinhos, é uma agenda, apesar de
tudo.
Enquanto eu estendia o braço para
entregar-lhe aquela remessa, o Luca se deteve no cartapácio sobre o Fernando
Pessoa que, há pouco, eu folheara.
-A Rosa espinafrou com o livro.
-Houve um cronista que esculhambou com o
Fernando Pessoa . - puxou meu irmão pela memória.
Eu via o Arnaldo Jabor na minha frente,
mas o seu nome não me chegava à mente.
-Aquele que tem um parentesco com a Rosa
Grieco?...
-O Arnaldo Jabor, Carlinhos?
Claudio uniu minhas palavras às do Luca
e completou seu pensamento:
-Foi o Arnaldo Jabor que, escrevendo
sobre os 100 anos do Rubem Braga, disse que o cronista não gostava, também, do
Fernando Pessoa.
-O que é lastimável. - concluiu o Luca.
-O Arnaldo Jabor tem essa mania de
comparações excludentes: comparou, por ocasião da morte do João Cabral de Mello
Neto, ele com o poeta português, para apequenar o autor de Tabacaria.
Falava e me vinha à mente o hábito do
Mário Henrique Simonsen, como crítico de música, de comparar, por exemplo,
Mozart com Beethoven, a Missa Solene de Beethoven com a Missa em Si Menor de Bach, a voz do Pavarotti com a do Placido Domingo,
mas com uma diferença fundamental: eram comparações enaltecedoras.
-Uma vez, Arnaldo Jabor criticou Machado
de Assis para elevar o Eça de Queirós.
-Qual é o problema de gostar dos dois? -
perguntei.
Luca se referia, agora, a excitação intelectual
a que a Rosa Grieco foi submetida com a descoberta da ossada do rei Ricardo III
num estacionamento para funcionários públicos em Leicester.
-Leitora voraz das peças de Shakespeare
e da história nas monarquias europeias, eu imagino como está fervilhando o
cérebro dela com esse retorno do Ricardo III. - manifestei-me.
Luca, enquanto isso, sacou da maçaroca
de papéis, que trouxe, uma fotografia que a Rosa me destinava. Era ela, em
1968, na cidade de Bruxelas. “Bem que valia uma missa”, pensei enquanto a
mirava aquele instantâneo.
Em seguida, Luca me entregou uma
fotografia, esta em preto e branco e em dimensões maiores da sua mãe, Dona
Isaura, sentada, bordando, e de seu pai, Agripino Grieco, numa cadeira de
balanço, lendo.
-Assim era a vida dos dois, o pai lendo
e a mãe bordando. -comentou o Luca.
Depois de o Luca reproduzir os seus
costumeiros desentendimentos com a erudita e idiossincrática Rosa, entregou-me
cartas delas. Gosto muito de lê-las, embora haja citações em francês, inglês,
italiano e latim; ainda assim, não é um aranhol intricado, pelo contrário, é de
uma clareza meridiana.
Claudio passou a falar de carnaval.
-Parece-me, Claudio, que as melodias das
escolas de samba são as mesmas, muda apenas a letra. - intervim.
Luca concordou imediatamente comigo, e
eu aproveitei para assinalar que boas melodias de samba enredo houve no
passado, principalmente com Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola.
-Houve muitos compositores de
samba-enredo. - assinalou meu irmão.
E pôs-se a cantar “Lapa em três tempos”,
da Portela de 1970, com o Luca o acompanhando no gogó, na falta de pandeiro,
reco-reco e tamborim.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO solicita paciência ao leitor. Todos
sabemos que Foz do Iguaçu não é uma obra do governo e que já estava lá bem
antes do Lula nascer. O sentido aparecerá em 3 linhas, a obra do governo a que
se refere é Itaipu.
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