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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

2339 - Radio Memória, logo de quem, 1

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4139                                Data: 26 de fevereiro de 2013
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DIECKMANN NA ROQUETTE PINTO

No Sabadoido, avisei meu irmão que o Dieckmann iria falar amanhã, às 8 horas, na rádio Roquette Pinto. Ele quis saber sobre o quê ele trataria, respondi: a história do rádio.
-Mas o Dieckmann não fala sobre carros antigos?... - reagiu o Claudio.
-Rádio. - enfatizei.
Imaginei que ele acionaria os seus alfarrábios, reportando-se a Marconi e ao padre brasileiro Roberto Landell de Moura.
Sérgio Fortes também participaria do programa como anfitrião juntamente com Jonas Vieira, personalidade com muita vivência nas transmissões radiofônicas.
Sérgio Fortes me traz logo à lembrança a sua convidada que comentou a ópera de Verdi, A Força do Destino, antes de a mesma ser ouvida, na íntegra, na Rádio MEC. Referindo-se à viagem do compositor à Rússia para a estreia da sua obra, ela citou os acompanhantes: a esposa dele, Giuseppina Strepponi e a filharada. Filharada?... E a filharada fazendo algazarra no trem.
Dieckmann, certamente, estaria tão bem preparado quanto um aluno que se xinga se tira menos de 10 numa prova.
Depois que a voz alegre do Sérgio Fortes substituiu a não tão alegre do Jonas Vieira, comecei a perceber qual seria a tônica do programa.
 Sérgio Fortes fez as apresentações para o ouvinte: tratava-se de um amigo de muitos e muitos anos, tão maluco quanto ele, pois colecionava carros antigos, com uma agravante: ingleses; pai do Fred, Gagau, Carolina e Bernardo. Funcionário da Petrobras, não sei se isso era para ser dito...(*)
Vibrou, então, no éter, a voz de “locutor da BBC” (segundo o Faustão) do Roberto Dieckmann.
Dieckmann, depois das saudações de praxe, reportou-se à sua infância e não fez por menos, citou também esse período da vida de Shakespeare. Começaria a falar da sua vida de ouvinte de rádio desde os sete anos de idade, quando havia um relacionamento muito grande entre as crianças e as criadas da casa. Sérgio Fortes, assustado, interveio:
-Eu não sabia que o Dieckmann iria enveredar por esse lado... Não sabia dessa precocidade... (**)
Com os meus botões, eu dizia que o Dieckmann foi mais precoce do que o Elio Fischberg, que se iniciou com as costureiras da Rua Conde Lages com quatorze anos.
Veio-me, então à mente, uma frase do Professor Freud aos seus pares que se mostraram surpreendidos com as suas revelações: o que digo, todas as babás já sabem.
Ainda abismado, Sérgio Fortes prosseguiu:
-Com sete anos, eu ainda brincava de carrinho.
Um brinquedo do século XIX, provavelmente, pois a sua vocação de colecionador o acompanha desde o berço. - imaginei.
 Dieckmann entrou no assunto, dizendo que lhe desagradavam as músicas passionais, carregadas de desespero e citou “risque meu nome do seu caderno, já não suporto o inferno do nosso amor fracassado” do Ary Barroso. Para ele, o surgimento da Bossa Nova foi como o nascer do sol depois de uma noite tenebrosa (***) no cancioneiro nacional. E falou dos beijinhos e abraços, dos peixinhos e barquinhos, mas se esqueceu do pato. Tudo bem, a Bossa Nova é muito variada para que tudo seja lembrado.
Deteve-se no “Barquinho” de Menescal e Bôscoli, esclarecendo que a letra fala em manhã de sol, do azul do mar; música inteiramente luminosa, embora tenha sido inspirada por um instante de terror: falhou o motor do barco que, por momentos, ficou perdido, ao sabor das ondas.
Também ouvi o depoimento do Roberto Menescal sobre esse caso, que disse que procurou retratar na música o som do motor da embarcação que rateava.
Finalmente, Dieckmann solicitou que tocassem a sua primeira música: “Chega de Saudade”.
Jonas Vieira e Sérgio Fortes aprovaram e Dieckmann, inteiramente à vontade, aliás, já estava assim desde que comparou a sua infância com a de Shakespeare, acrescentou.
-Quero ouvir “Chega de Saudade” com a orquestra apenas, pois aprecio muito a música instrumental.
Uma beleza. Acertou em cheio; o arranjo era ótimo e qualquer voz, por mais bonita que fosse, atrapalharia. Acredito que a grande maioria das composições do Tom Jobim dispensa letras.
Dieckmann, depois de tocada a composição que deflagrou a Bossa Nova como gênero musical, identificou os músicos e prosseguiu com a sua admiração por esse período da música popular brasileira.
-“Wave” é a mais bela música da Bossa Nova. - afirmou com convicção.
E as inspiradas notas musicais da lavra de Tom Jobim atraíram inteiramente a nossa atenção.
Dieckmann não citou João Gilberto (ainda bem), mas não esqueceu Nara Leão.  Louvou a importância da cantora na música popular brasileira e, logo depois, a sua delicada voz chegava aos nossos ouvidos.
Até agora, o Dieckmann está acertando. - disse comigo mesmo. (****)

(*) Não era, pois sou contratado para prestar serviços e não sou empregado da Petrobras. Há uma diferença, mas no coloquial não há como se evitar.

(**) Eram só beliscões maliciosos; já as costureiras...

(***) Disse apenas que aquele palavrório era pouco assimilável por um garoto de 8-10 anos e que as letras da Bossa Nova foram muito mais compatíveis com o universo desse mesmo garoto. Fui contestado pelo Jonas Vieira, que aprecia muito o gênero, mas ele entendeu com as explicações o teor das minhas alegações.

(****) Deus do Céu, parece haver uma continuação.

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