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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4114 Data: 15 de janeiro
de 2013
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SABADOIDO ONDE CANTA O SABIÁ
PARTE II
Luca trouxe a música popular brasileira
à baila.
-Eu assisti a um programa com os grandes
conhecedores da nossa música: Albino Pinheiro, Hermínio Belo de Carvalho,
Sérgio Cabral... não o safado do filho, mas o pai.
-Sim. - expressou interesse o Claudio.
-Eles falaram uma coisa que o Carlinhos
já tinha dito aqui: O Pixinguinha formatou a música popular brasileira.
-Pixinguinha como arranjador... -
interrompi o Luca que, por sua vez, me interrompeu.
-Ele teve grandes problemas com o
Radamés Gnattali, que tinha mania de cordas.
-Pixinguinha usa mais os instrumentos de
sopro, que tinha mais a ver com as manifestações populares através das bandas,
retretas. E, no conjunto formado por ele, Os Oito Batutas, só tinha craques.
-Nessa época, ele tocava flauta?
-Sim, Claudiomiro.
Falaram do choro que ele compôs “1x0”,
que é prenhe de virtuosismo.
Eu pretendia dizer que, com essa
composição, Pixinguinha homenageou o primeiro título do Brasil no Campeonato
Sul-Americano de 1919, vencendo o Uruguai com gol de Friedenreich e que esse
choro reproduz os dribles, as firulas, a malemolência dos jogadores, quando o
Luca chamou a atenção para um barulho que vinha do portão.
-É o Daniel voltando da caminhada dele. -
informou meu irmão.
Prevendo um estrondoso pontapé na porta
de folha de flandres, o que meu sobrinho já fizera duas vezes, com o objetivo
de deixar todos sobressaltados, Luca se colocou, de pé, para surpreendê-lo.
-Esperava o pontapé, hein?... - gozou-o
o Daniel quando o viu atocaiado.
-Rapaz... - reprendeu-o o Luca no clima
de alegria.
-Eu estava endiabrado, endiabrado... -
imitou o Daniel o Luca, quando este fala das suas partidas de ping-pong.
-Caminhou bem? - perguntei ao ver o suor
escorrendo pelo seu pescoço apesar do frio daquele sábado.
-Mais ou menos.
-Quantos minutos?- eu não olho o
relógio, Carlão.
Gina retornou à sessão do Sabadoido,
enquanto o Daniel saiu para tomar banho.
-A Kiara, agora, vai ter de usar calça
comprida na escola; ainda é uma menina. - lamentou o Luca.
-Colégio religioso tem dessas coisas. -
comentou a Gina.
-Kiara gosta muito de piscina, no nosso
condomínio há uma onde ela se esbalda.
-E você, Luca, não dá uns mergulhos? -
perguntou o Claudio enquanto bebericava.
-Nunca entrei nela. - foi incisivo.
-Com as praias superlotadas, a piscina é
uma boa opção. - observei.
-Eu prefiro a praia. - declarou minha
cunhada.
-Kiara não sai da piscina; dia desses,
ela puxava na água três garotos com aquele negócio comprido...
-Espaguete. - ajudou-o a Gina.
-Isso, espaguete. Ela rebocou três com o
espaguete. Ela entra na água e é uma dificuldade para sair. Antes de ela descer
para a piscina, a Glória passa protetor solar...
-Porque não passa junto à piscina? -
indagou o Claudio.
-Não sei se dá problemas...
-Não dá problema algum, Luca; o que mela
a água da piscina é o óleo bronzeador, o protetor solar, não. - garantiu a
Gina.
Com a saída da minha cunhada, a matéria
do Sabadoido enveredou para a política.
-Essa turma do PT, que tanta oposição
fez, se acumpliciou com Collor, Sarney, Maluf, Renan Calheiros, Jáder
Barbalho...
-Certo, Claudiomiro, mas a imprensa
daqui ataca, a VEJA mete o pau até o fim e, depois, dizem que há falcatruas do
PT que só são publicadas nos jornais de
Portugal.
Veio-me à mente o meu tempo do Jornal do
Brasil, quando esse matutino, por atacar a política estatizante do governo
Ernesto Geisel, não recebia, por revide, as publicidades dos órgãos
governamentais, além de depender do papel.
-Luca, a imprensa pensa duas vezes antes
de atacar o governo até não mais poder, pois perderão verbas de publicidade de
valor elevado. - contrapus.
Inflamado, o meu irmão interveio com uma
indignação que já mostrara em outros sabadoidos.
-Eu não entendo por que o Itamar Franco
está esquecido.
-Claudio, um petista do meu trabalho
pretendeu defender o seu partido com aquele surrado argumento que todos os
governos cometeram deslizes e eu o interrompi, dizendo que o presidente Itamar
Franco não admitiu corrupção e que, quando o ministro Henrique Hargreaves ficou
sob suspeita, ele o tirou do cargo e só depois, que o ministro provou sua
inocência, Itamar Franco o recebeu de volta.
Não satisfeito, Claudio esbravejou:
-Não falam que o Plano Real é do Itamar
Franco.
-Isso, não! - protestei.
Luca ainda foi mais impetuoso do que eu:
-Fernando Henrique é o pai do Plano
Real, como o Darcy Ribeiro é o pai dos CIEPs, não o Brizola.
-O Plano Real surgiu no governo do
Itamar. - contrapôs meu irmão.
-Claudio, o FHC foi o quarto ministro da
Fazenda do governo dele, por que o Plano Real não surgiu antes?
Não respondeu a minha pergunta, mas
partiu para outro caminho de ataque.
-O Fernando Henrique deu um golpe com a
reeleição e até compras de votos houve.
-Sim, houve compras de votos. -
concordou o Luca.
-Claudio, a reeleição beneficiava mais
de 20 governadores e mais de 5000 prefeitos, você não pode imputar ao
presidente essa compra, se houve. - rebati.
Embora o nome do deputado Ronivon, o
principal suspeito, me ocorresse, achei melhor não entrar em detalhes para que
não houvesse desperdício de energia.
Fui urinar e, quando voltei, falava-se de
banco.
-O Banco Real foi comprado pelo
Santander...
-O Santander adquiriu o Banespa. - falei
com uma ênfase exagerada.
-Eu sei que o Real foi comprado pelo Santander.
- disse Luca e meu irmão prontamente concordou.
Pedi para esperarem, e fui ao
computador, mas o Daniel o usava.
-Veja Santander e Banespa. - pedi.
Minutos depois, eu voltava à sessão do
Sabadoido em companhia do meu sobrinho.
-Daniel, quem comprou o Banespa?
-O Santander. - respondeu.
-Mas o Santander comprou também o Banco
Real. - repetiram os dois.
De tato, compraram, mas eu estava fixado
no Banespa, cujas ações eu vendi por um preço vil, perdendo a oportunidade de
ganhar muito dinheiro.
-O Fernando Henrique deixou o BANERJ
quebrar, e imaginei que fizesse o mesmo com o Banespa, o que transformaria em
pó o preço das suas ações. No entanto, como era muito amigo do governador Mário
Covas, enfiou dinheiro no banco que o Orestes Quércia quebrou, para eleger o
Fleury e o saneou para privatizar. Depois, no leilão com propostas ocultas em
envelopes, o Santander comprou, por um valor muito além do preço mínimo, o
Santander. - tagarelei.
Com o Sabadoido chegando ao fim, não
houve mais tempo para tagarelice, nem para ouvir os discos que meu irmão sempre
insiste em pôr na vitrola na hora de irmos embora.
Sérgio cabral Filho não é safado, é o governador do Rio de Janeiro e é um ótimo governador.
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