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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

2317 - C' Était un Rendez-vous


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4117                             Data: 21  de janeiro  de 2013
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SABADOIDO SEM SISO E SEM JUIZO

-Imaginava que você estivesse lendo o jornal e que o Daniel viria abrir a porta para mim.
-Daniel está concentrado para extrair o siso. - informou-me meu irmão, sem largar o Globo.
-Esse Sérgio Cabral... - deixou ele nas reticências a sua desaprovação com o governo dele.
-Não adianta reclamar, pois ele está muito longe  para ouvir as nossas queixas, está em Paris.
Mais adiante, na cozinha, falei que o campeonato carioca começou com o Botafogo e o Fluminense tendo as maiores possibilidades de vitórias.
-Não nessa ordem. - protestou o Daniel.
-Você leu o Globo “Há 50 anos”? - dirigi-me ao meu irmão.
-Fala do jogo, em Pernambuco, entre o Santos e o Esporte Clube Recife? - intentou adivinhar.
-Foi 1 a 1 e o Tomires caçou o Pelé em campo; reproduziram até um trecho de uma crônica do Nélson Rodrigues sobre essa caça. O Tomires, jogando pelo Flamengo, quebrou o Alarcon na decisão do campeonato carioca de 1955 contra o América.
-No segundo jogo, em São Paulo, o Santos enfiou 4 a 0 no Esporte Clube Recife. Coutinho marcou os quatro gols. - disse ele.
-Todos vigiavam o Pelé e o Coutinho tinha mais liberdade para fazer os gols. - comentei.
-Mas o Coutinho era muito bom, Carlinhos. - elogiou.
-E você, Daniel? - convoquei-o a participar da conversa.
-Preparo-me para ficar sem os sisos.
-A Luciana (sua prima) arrancou os sisos na semana passada, esteve lá em casa, na última terça-feira, falando com alguma dificuldade.
-Não assuste o Daniel.
-Eu não me assusto, mãe, já estou assustado.- pilheriou meu sobrinho.
Mudei de assunto:
-Sexta-feira passada, a Rádio CBN entrevistou o João Carlos Martins e ontem, nesta rádio, o José Roberto Guimarães.
-E o que ele disse, Carlão?
-Disse, entre tantas coisas,  que, quando dois jogadores se desentendem, não saem juntos para se divertir, mas quando são duas jogadoras, a coisa é mais complicada.
-Ele tem experiência disso, pois foi técnico da seleção masculina e feminina. - interveio meu irmão.
-José Roberto Guimarães confessou, quando lhe perguntaram por um erro seu, que devia ter saído do Brasil em 2004 para o exterior e treinar as adversárias do Brasil, conhecê-las bem; essa lacuna foi fatal em jogos importantes da seleção brasileira.
-Depois, ele treinou várias equipes estrangeiras.- manifestou-se o Daniel.
-Ele considera a Kim, da Coreia, a maior jogadora de vôlei do mundo.
-E a Coreia venceu o Brasil, na Olimpíadas de Londres, antes da fase de mata-mata. - lembrou o Claudio.
Daniel se levantou e saiu, depois voltou para avisar que o seu computador estava à minha disposição.
No seu quarto, transformado no meu cybercafé, pus-me a acessar a minha caixa de mensagens eletrônicas.
Como o Dieckmann é mais prolífico do que o Woody  Allen, que faz três filmes por ano, enquanto o cineasta de Santa Tereza cria  um por semana, pretendia assistir a mais um filme seu, mas,antes, cliquei no vídeo do Hélio Bicudo. Com mais de 25 minutos de duração, não era só uma entrevista com o petista arrependido, era um documentário sobre a política recente do Brasil, em que são inseridos vários trechos de outros filmes. Ali estava exposto o óbvio ululante, só não o vê (reportando a Eça de Queirós) por má-fé cínica ou obtusidade córnea.
Não houve tempo para mais nada, as vozes do Vagner e do Claudio já chegavam a mim. A sessão do Sabadoido já iniciara.
Minutos antes, meu sobrinho anunciou sua ida ao dentista, enquanto sua mãe o acompanhava.
-Claudio e Vagner falavam de aparelhos de som. Meu irmão comentava o DVD automotivo 7 em 1 de um amigo nosso, o Sousinha.
Eu o desconhecia, e revelei minha ignorância.
-Termina um disco, entra outro... - explicou o Claudio sem muita didática.
-Lembra-me as vitrolas do tempo do disco de vinil; os discos ficavam empilhados num pino central; caía um no prato, e ia automaticamente o braço  para o início da trilha, no fim do disco, o braço voltava, esperava a queda de outro no prato, e recomeçava. - tagarelei.
-Carlinhos, nem sempre a agulha no braço do toca-disco ia para o início da trilha.
Vagner concordou com o Claudio e acrescentou.
-Muitas vezes pegava uma música pelo meio, mas era um avanço. Os LPs tinham seis músicas, seis em cada lado.
Já nem me recordava mais das doze faixas.- pensei sem me manifestar, pois o Vagner continuava.
-Eu gosto do disco de vinil e não sei se esses CDs são assim tão bons.
-O som do disco de vinil é mais verdadeiro. - enfatizou o Claudio.
-Nas gravações em CDs, há uma parafernália de canais que aumenta um som aqui,  decresce outro ali, some com uma nota desafinada.  É como o fotoshop na fotografia de hoje.
-A filha do Nat King Cole não gravou com o pai, que morreu há muitos anos?...
-Com a gravação em disco vinil isso não aconteceria. - concordou o Vagner com as palavras do Claudio sobre o artificialismo dos registros fonográficos modernos.
-Eu compro muitas mídias de DVD para gravar e, às vezes, me arrependo.
Imaginei que os dois não me entendiam e resolvi explicar:
-Esses discos virgens para DVD... De dez que eu compro, três estão com falhas. Não fazem controle de qualidade.
-Mas não é caro, já vi essas mídias  por 66 centavos.
-Sim, Claudio, mas eu perco muito tempo. Vou ver  um filme  duas horas  depois, e a gravação não se deu por falha na mídia de DVD.
-Um disco vinil, se bem tratado, dura 100 anos.
-Sim, Claudio; com a tecnologia de ponta de hoje os arquivos se perdem em pouco tempo. Quem tinha dados em disquete, perdeu tudo. Minhas centenas de fitas em VHS se foram, porque o videocassete saiu de linha.
-E as fitas ficam ruins também, perdem a cor, ganham  fungo. - seguiram-se as palavras do Vagner após as minhas.
Umberto Eco escreveu sobre a duração dos suportes comparando os livros que foram impressos há 500 anos e perduram  com  os arquivos da alta tecnologia de hoje que logo se perdem.
Claudio saiu para trazer o seu copo de uísque,e o tema mudou para os carros de colecionadores.
-Se eu não me engano, Vagner, o Dieckmann tem um Jaguar XK 120 de 1950. E o do seu pai?
-O do meu pai era de 1951. Como é bonito o Jaguar! O painel era todo de madeira.
-O Dieckmann trata o felino dele a pão de ló.
-Esses carros bebem vorazmente.- interferiu o Claudio.
-Eu sei, Claudio, que, na estrada, o Jaguar desenvolve muita velocidade.- frisou o Vagner.
-Enquanto a gasolina era barata, os fabricantes não se importavam em lançar esses carros, depois que os árabes aumentaram o barril do petróleo, vieram os carros econômicos e os japoneses tomaram conta. - disse o Claudio.
-Sim; os Estados Unidos sentiram muito esse fato.
-Detroit virou uma cidade fantasma. - exagerou meu irmão.
-Flint eu sei que virou, por causa do documentário do Michael Moore. - lembrei.
Vagner se referiu ao filme Bullitt, frisando que Steve McQueen era piloto profissional e que a cena da perseguição automobilística foi filmada doze vezes.
Dieckmann me disse, anos atrás, que o painel do Mustang aparece alterado nove vezes. (*)
E, falando de cinema, mais uma sessão do Sabadoido chegou ao fim.

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO quase leva uma sapatada do Dieckmann, que jura não ter dito tal coisa. O que todo mundo sabe e viu foram as inúmeras calotas que se soltaram dos carros, que totalizavam muito mais que as 8 possíveis.

Mais interessante, informa o Dieckmann, foi aparecer finalmente o carro em que Claude Lelouch filmou “C’était un rendez-vous”, que pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch?v=79GVlnam0WE
Quem quiser ver o filme original de 1976 poderá procurar com paciência no youtube.


 

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