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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4117
Data: 21 de janeiro de 2013
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SABADOIDO SEM SISO E SEM JUIZO
-Imaginava que você estivesse lendo o
jornal e que o Daniel viria abrir a porta para mim.
-Daniel está concentrado para extrair o
siso. - informou-me meu irmão, sem largar o Globo.
-Esse Sérgio Cabral... - deixou ele nas
reticências a sua desaprovação com o governo dele.
-Não adianta reclamar, pois ele está
muito longe para ouvir as nossas
queixas, está em Paris.
Mais adiante, na cozinha, falei que o
campeonato carioca começou com o Botafogo e o Fluminense tendo as maiores
possibilidades de vitórias.
-Não nessa ordem. - protestou o Daniel.
-Você leu o Globo “Há 50 anos”? -
dirigi-me ao meu irmão.
-Fala do jogo, em Pernambuco, entre o
Santos e o Esporte Clube Recife? - intentou adivinhar.
-Foi 1 a 1 e o Tomires caçou o Pelé em
campo; reproduziram até um trecho de uma crônica do Nélson Rodrigues sobre essa
caça. O Tomires, jogando pelo Flamengo, quebrou o Alarcon na decisão do
campeonato carioca de 1955 contra o América.
-No segundo jogo, em São Paulo, o
Santos enfiou 4 a 0 no Esporte Clube Recife. Coutinho marcou os quatro gols. -
disse ele.
-Todos vigiavam o Pelé e o Coutinho
tinha mais liberdade para fazer os gols. - comentei.
-Mas o Coutinho era muito bom,
Carlinhos. - elogiou.
-E você, Daniel? - convoquei-o a
participar da conversa.
-Preparo-me para ficar sem os sisos.
-A Luciana (sua prima) arrancou os
sisos na semana passada, esteve lá em casa, na última terça-feira, falando com
alguma dificuldade.
-Não assuste o Daniel.
-Eu não me assusto, mãe, já estou
assustado.- pilheriou meu sobrinho.
Mudei de assunto:
-Sexta-feira passada, a Rádio CBN
entrevistou o João Carlos Martins e ontem, nesta rádio, o José Roberto
Guimarães.
-E o que ele disse, Carlão?
-Disse, entre tantas coisas, que, quando dois jogadores se
desentendem, não saem juntos para se divertir, mas quando são duas jogadoras, a
coisa é mais complicada.
-Ele tem experiência disso, pois foi
técnico da seleção masculina e feminina. - interveio meu irmão.
-José Roberto Guimarães confessou,
quando lhe perguntaram por um erro seu, que devia ter saído do Brasil em 2004
para o exterior e treinar as adversárias do Brasil, conhecê-las bem; essa
lacuna foi fatal em jogos importantes da seleção brasileira.
-Depois, ele treinou várias equipes
estrangeiras.- manifestou-se o Daniel.
-Ele considera a Kim, da Coreia, a
maior jogadora de vôlei do mundo.
-E a Coreia venceu o Brasil, na
Olimpíadas de Londres, antes da fase de mata-mata. - lembrou o Claudio.
Daniel se levantou e saiu, depois
voltou para avisar que o seu computador estava à minha disposição.
No seu quarto, transformado no meu
cybercafé, pus-me a acessar a minha caixa de mensagens eletrônicas.
Como o Dieckmann é mais prolífico do
que o Woody Allen, que faz três
filmes por ano, enquanto o cineasta de Santa Tereza cria um por semana, pretendia assistir a mais um filme seu, mas,antes, cliquei no vídeo do Hélio Bicudo. Com mais de 25
minutos de duração, não era só uma entrevista com o petista arrependido, era um
documentário sobre a política recente do Brasil, em que são inseridos vários
trechos de outros filmes. Ali estava exposto o óbvio ululante, só não o vê
(reportando a Eça de Queirós) por má-fé cínica ou obtusidade córnea.
Não houve tempo para mais nada, as
vozes do Vagner e do Claudio já chegavam a mim. A sessão do Sabadoido já
iniciara.
Minutos antes, meu sobrinho anunciou
sua ida ao dentista, enquanto sua mãe o acompanhava.
-Claudio e Vagner falavam de aparelhos
de som. Meu irmão comentava o DVD automotivo 7 em 1 de um amigo nosso, o
Sousinha.
Eu o desconhecia, e revelei minha
ignorância.
-Termina um disco, entra outro... -
explicou o Claudio sem muita didática.
-Lembra-me as vitrolas do tempo do
disco de vinil; os discos ficavam empilhados num pino central; caía um no
prato, e ia automaticamente o braço
para o início da trilha, no fim do disco, o braço voltava, esperava a
queda de outro no prato, e recomeçava. - tagarelei.
-Carlinhos, nem sempre a agulha no
braço do toca-disco ia para o início da trilha.
Vagner concordou com o Claudio e
acrescentou.
-Muitas vezes pegava uma música pelo meio,
mas era um avanço. Os LPs tinham seis músicas, seis em cada lado.
Já nem me recordava mais das doze
faixas.- pensei sem me manifestar, pois o Vagner continuava.
-Eu gosto do disco de vinil e não sei
se esses CDs são assim tão bons.
-O som do disco de vinil é mais
verdadeiro. - enfatizou o Claudio.
-Nas gravações em CDs, há uma
parafernália de canais que aumenta um som aqui, decresce outro ali, some com uma nota desafinada. É como o fotoshop na fotografia de hoje.
-A filha do Nat King Cole não gravou com
o pai, que morreu há muitos anos?...
-Com a gravação em disco vinil isso não
aconteceria. - concordou o Vagner com as palavras do Claudio sobre o
artificialismo dos registros fonográficos modernos.
-Eu compro muitas mídias de DVD para
gravar e, às vezes, me arrependo.
Imaginei que os dois não me entendiam e
resolvi explicar:
-Esses discos virgens para DVD... De
dez que eu compro, três estão com falhas. Não fazem controle de qualidade.
-Mas não é caro, já vi essas
mídias por 66 centavos.
-Sim, Claudio, mas eu perco muito
tempo. Vou ver um filme duas horas depois, e a gravação não se deu por falha na mídia de DVD.
-Um disco vinil, se bem tratado, dura
100 anos.
-Sim, Claudio; com a tecnologia de
ponta de hoje os arquivos se perdem em pouco tempo. Quem tinha dados em
disquete, perdeu tudo. Minhas centenas de fitas em VHS se foram, porque o
videocassete saiu de linha.
-E as fitas ficam ruins também, perdem
a cor, ganham fungo. - seguiram-se
as palavras do Vagner após as minhas.
Umberto Eco escreveu sobre a duração
dos suportes comparando os livros que foram impressos há 500 anos e
perduram com os arquivos da alta tecnologia de hoje
que logo se perdem.
Claudio saiu para trazer o seu copo de
uísque,e o tema mudou para os carros de colecionadores.
-Se eu não me engano, Vagner, o
Dieckmann tem um Jaguar XK 120 de 1950. E o do seu pai?
-O do meu pai era de 1951. Como é
bonito o Jaguar! O painel era todo de madeira.
-O Dieckmann trata o felino dele a pão
de ló.
-Esses carros bebem vorazmente.-
interferiu o Claudio.
-Eu sei, Claudio, que, na estrada, o
Jaguar desenvolve muita velocidade.- frisou o Vagner.
-Enquanto a gasolina era barata, os
fabricantes não se importavam em lançar esses carros, depois que os árabes
aumentaram o barril do petróleo, vieram os carros econômicos e os japoneses
tomaram conta. - disse o Claudio.
-Sim; os Estados Unidos sentiram muito
esse fato.
-Detroit virou uma cidade fantasma. -
exagerou meu irmão.
-Flint eu sei que virou, por causa do
documentário do Michael Moore. - lembrei.
Vagner se referiu ao filme Bullitt,
frisando que Steve McQueen era piloto profissional e que a cena da perseguição
automobilística foi filmada doze vezes.
Dieckmann me disse, anos atrás, que o
painel do Mustang aparece alterado nove vezes. (*)
E, falando de cinema, mais uma sessão
do Sabadoido chegou ao fim.
(*) O Distribuidor
do seu O BISCOITO MOLHADO quase leva uma sapatada do Dieckmann, que jura não
ter dito tal coisa. O que todo mundo sabe e viu foram as inúmeras calotas que
se soltaram dos carros, que totalizavam muito mais que as 8 possíveis.
Mais
interessante, informa o Dieckmann, foi aparecer finalmente o carro em que
Claude Lelouch filmou “C’était un rendez-vous”, que pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch?v=79GVlnam0WE
Quem quiser
ver o filme original de 1976 poderá procurar com paciência no youtube.
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