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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4120 Data: 27 de janeiro
de 2013
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SABADOIDO DOS OSSOS AVARIADOS
Na televisão, a bielorrussa Azarenka e a
chinesa Na Li decidiam o Aberto da Austrália, o que não impediu que o Claudio
visse o jogo, lesse o jornal e falasse comigo.
-Você já leu a parte em que o Palácio
Piratini correu o risco de ser pulverizado no livro que a Rosa me deu?
-Já estou muitas páginas na frente,
Carlinhos.
Logo, a sua atenção se dirigiu para a
televisão:
-A chinesa é irregular, venceu o
primeiro set, mas agora erra bolas fáceis. - comentou.
-Disse o Dieckmann (*) que aqueles
aviões F8 não tinham esse poder de destruição, que não pulverizariam o Palácio
Piratini.
-Eram 16 aviões, bombas de 240 libras ... Viu esse
petardo que a Azarenka deu e a chinesa devolveu? - emendou os dois assuntos
diversos.
-Segundo o Dieckmann, os britânicos
construíram o F8, chamado Gloster Meteor e os preservaram do confronto
com os Messerschmitt alemães. No fim da guerra, colocaram-nos à venda e os
países da América do Sul se interessaram logo. Pelo que escreveu ele o som do
motor desses aviões é maravilhoso como uma sinfonia de Beethoven.
Nesse instante, uma cena na televisão
atraiu todas as atenções: a chinesa Na Li despencou no chão.
-Parece que ela bateu com o crânio na
quadra. - preocupei-me.
-Vamos ver o replay. - disse ele.
Quando o lance da queda foi repetido,
vimos que a tenista pisou o chão com o pé entortado o que a fez cair e bater
com a cabeça.
-O osso do tornozelo... - alarmou-se o
locutor.
-Ela bateu com a nuca como a mamãe
semana passada. - comparei.
-Se a quadra fosse de saibro, amenizaria
a pancada. - observou.
-Existe aquela lei de Newton que diz que
a toda ação corresponde uma reação em sentido contrário de igual intensidade.
Ela caiu primeiro, de bunda no chão, depois sim, seu crânio se chocou com a
quadra, mas o impacto maior foi na bunda. - disse meu sobrinho que adentrara a
cozinha minutos antes e vira o acidente.
Com o tornozelo, não houve nada, a
preocupação da médica que a socorria era com seus reflexos. A tenista reagia
com um sorriso que lhe iluminava todo o rosto. Quando a partida recomeçou, eu,
que torcia pela bielorrussa, passei para o lado da chinesa.
-Carlão anda dizendo que estou me
tornando um tricolor fanático. - queixou-se o Daniel ao pai com o seu jeito
travesso.
-Só porque o Daniel assiste até hoje aos
gols do Fluminense no campeonato brasileiro?... Você precisa ver a Renata, que
acompanha o Fluminense até no Paraná. - disse o Cláudio.
-Quem é Renata?
-É uma professora, colega da Roberta
(sua prima). - respondeu-me o Daniel.
Subitamente, Daniel voltou de onde saíra
e eu julguei que apressava alguma coisa no computador para liberá-lo para mim.
-Parece que a Na Li superou o acidente. -
afirmei depois de me deter por poucos minutos na televisão.
Por outro lado, meu irmão, que olhava
mais atentamente o jornal, manifestou-se.
-A Dilma Rousseff já está em campanha. A turma do
PT não larga mais o poder e a culpa é do Fernando Henrique Cardoso, que deu o
golpe da reeleição.
-Claudio, você não pensa que a culpa
maior foi dos constituintes de 88, que estabeleceram o mandato de quatro
anos?... É muito pouco; deveria ser cinco anos. Não se pode imitar os
americanos só pela metade e a reeleição foi inevitável.
Meu irmão ainda insistia na culpa do
Fernando Henrique Cardoso, quando Daniel me deu o sinal verde para o
computador.
-Depois, Claudio, você me informa quem
venceu a partida.
-A chinesa continua irregular. - disse
ele.
Diante do monitor de vídeo, acessei mais
um filme do Dieckmann imaginando, minutos antes, que era sobre carros ou
comida. Era sobre carros. Colecionadores de automóveis clássicos e calhambeques
se reuniram na Praça XV para mais uma confraternização. Dieckmann, talvez
usando o vídeo monitor do Jerry Lewis, dirigia e atuava. A filmagem não foi
além de quatro minutos, e metade dela foi dedicada ao fato de um dos
colecionadores ter perdido o freio do seu carro. Entrevistando-o, o cineasta de
Santa Teresa riu muito e falou até em recorrer ao Departamento de Achados e
Perdidos.
Nesse instante, tocou o telefone e meu
irmão, que o atendeu, pediu ao Vagner para esperar mais quinze minutos.
Acessei, em seguida, um vídeo sobre os
bondes circulando na cidade do Rio de Janeiro. Tratava-se de um longa metragem,
mais de dezesseis minutos. Assisti aos primeiros cinco minutos, pensando nas
minhas idas ao Colégio Visconde de Cairu, no bonde Cachambi e nas minhas idas
ao consultório dentário do Tio Vivinho, na Rua do Ouvidor, no bonde Piedade.
Não só os bondes e passageiros me interessavam que apareciam na tela, como a
música de Villa Lobos. Interrompi o vídeo, para assistir depois à continuação e
parti para as mensagens eletrônicas.
Passou o tempo estabelecido pelo
Claudio, e a voz do Vagner se fez ouvir no portão. Voltei, então, para a
cozinha com o objetivo de ler uma e outra notícia do Globo, poupando tempo na
minha leitura da tarde.
Daniel surgiu carregado de sacolas de compra,
sinal de que a Gina chegara do supermercado. Continuei lendo, enquanto escutava
a Gina e o Vagner conversando animadamente. Quando ela pisou, finalmente, o
chão da cozinha, informei-lhe que trouxera o medidor de glicose.
-Carlinhos, você está ficando neurótico
com isso.
-Perdi três tirinhas hoje, quando tentei
tirar de manhã, em jejum. Só
quero aprender nos mínimos detalhes a manejar essa geringonça. Quero me
certificar que a minha glicose permanece normal depois de eu aumentar a
quantidade, no meu prato, dos alimentos da dieta.
Gina me ouviu, sentada no sofá de
alvenaria e passou a falar esmiuçadamente de um programa televisivo a que
assistira sobre pacientes de obesidade mórbida, nos Estados Unidos, antes e
depois da cirurgia. Quando o Luca anunciou costumeiramente, pelo telefonema,
que já estava com o carro na calçada, ele tirou a minha taxa de glicose.
-102.. Ótimo; agora que aprendi, tirarei
em jejum, no sábado que vem, e, depois, só eventualmente.
Quando me fiz participante de mais uma
sessão do Sabadoido, deparei com o Luca portando uma joelheira em cada perna.
-O que foi isso?
-Os ossos, Carlinhos.
(*) A
tecnologia dos aviões da Segunda Guerra Mundial nem de longe se aproxima dos
laser de hoje. Um ataque com caças-bombardeiros desperdiçaria, no mínimo,
metade das bombas e a metade do que sobrasse cairia no jardim do palácio.
Portanto, apenas um quarto das bombas lançadas atingiria o Palácio. Esta
questão foi apresentada no exame de admissão do Colégio Militar. Obviamente,
sobre Aritmética.
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