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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

2321 - os milhões


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4121                             Data: 29 de janeiro  de 2013
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SABADOIDO DOS OSSOS AVARIADOS
PARTE II

-Os ossos da minha perna, Carlinhos. O médico ainda me repreendeu porque eu não parei com os exercícios, como ele mandou.
-Luca, eu sei que você voltou a caminhar.
-Eu não estava só caminhando, eu levantava peso com as pernas, naqueles aparelhos do Jardim do Méier, mais de 30 vezes. Os parafusos da minha operação saíram do lugar... - estreitou com uma das mãos a perna operada.
-A outra também sentiu o esforço.
-Devia caminhar apenas, que já é bom para a cabeça. - sugeri.
Depois, o assunto mudou para a lambança que fizeram no parto do filho do Diogo Mainardi, em Veneza..
-A indenização que ele recebeu do hospital pela paralisia cerebral do filho foi além dos 3 milhões de euro. Se fosse aqui, no Brasil, ficava por isso mesmo. - manifestou-se o Claudio.
-Ele podia ficar sem trabalhar.
-Mas ele trabalha, Luca; participa do Manhattan Connection, recebe direitos autorais de cinco livros.
-Claudiomiro, eu sei que ele trabalha. - acentuou o Luca o sentido das palavras que dissera.
-Diogo Mainardi disse que o filho não precisaria ter mais preocupações com dinheiro.
Enquanto eu pensava na tiragem espetacular do livro em que narra a luta para melhorar a vida do filho, “A Queda – As Memórias de um Pai em 424 Passos” - Claudio saía para pegar a bebida, e o Luca se referia às críticas da Rosa a esse livro.
Vagner voltou-se, então, para mim com uma pergunta incompleta:
-Aquele escritor que ganhou muito dinheiro com a filha que tinha dois dentes para fora...
Vagner colocou dois dedos curvados na boca para que visualizássemos o que pretendia dizer.
-Escritor?... - perguntei.
-Sim, a filha era dentuça.
-Vagner, você não está falando do Maurício de Sousa? - interferiu o Luca.
-Isso; a Mônica. - lembrou-se da personagem das história em quadrinhos inspirada na filha do autor.
Em seguida, fez-me outra pergunta:
-Por que ele vai ter de pagar 3 milhões?
-Não sei, Vagner, só sei que não fará muita falta a ele.
Luca riu com a minha resposta, e o Claudio retornou com dois copos de bebida e gelo. O assunto passou para as premiações em dinheiro.
-O Prêmio Camões dá um bom dinheiro. O Fernando Henrique ganhou um milhão de dólares pelo prêmio oferecido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
Interrompi a fala do meu irmão para dizer que o Imposto de Renda abocanhou uma boa parte desse milhão.
-Vinte e sete por cento. - precisou o Luca.
-Eu só conheço uma personalidade que recusou prêmio em dinheiro: Carlos Drummond de Andrade. - declarei.
-Grande Drummond! - exclamou o Luca.
Fiz logo a ressalva:
-Esquecia-me do Jean Paul Sartre, que recusou o Prêmio Nobel, qe concede uma fortuna.
-Esse é o que dá mais dinheiro. - concordaram todos.
Exatamente 1,3 milhão de dólares.
Reportei-me, então, a uma crônica do Nélson Rodrigues em que, escrevendo sobre uma recusa de um prêmio pecuniário do poeta Carlos Drummond de Andrade, o dramaturgo chegou à dinheirama que Sartre rechaçou quando lhe concederam o Nobel de Literatura de 1964 e concluiu:
-Nélson Rodrigues disse que qualquer autor brasileiro que recebesse esse prêmio iria até a nado para a Europa.
-Luca, o que você achou do Lula ter ganho as “Algemas de Ouro”?
-Claudiomiro...
Antes de ele responder, meu irmão prosseguiu:
-Eu acho que o Sérgio Cabral merecia o prêmio.
-O Sérgio Cabral foi o segundo colocado.
Claudio e Luca me corrigiram com a voz em uníssono:
-Demóstenes Torres foi o segundo.
E completaram:
-O Sérgio Cabral ficou em terceiro.
-Com Fernando Cavendish, Construtora Delta, Sérgio Cabral era um forte candidato. - disse o Luca.
A chegada da Gina e do Daniel convergiu todas as atenções.
-Luca, como no ano passado... A vistoria do carro do Daniel...
-Vamos ver isso. Vocês estão com os dados?
-Todos estão em mãos. - afirmou o Daniel com o seu jeito travesso.
Luca ligou para o DETRAN deixando o celular no viva voz. Ouvíamos uma mulher que solicitava dados que a Gina prontamente indicava para o Luca nos papéis que trouxe.
-Número do RENAVAM?
-Onde?- agitou-se o Luca.
-Aqui. - apressou-se a Gina.
-Eu quero a vistoria no Detran da Haddock Lobo.
-Para o posto da Haddock Lobo, nós temos para a próxima quarta-feira e quinta.
Logo os dias em que estarei viajando!- desesperou-se, tapando o celular para ela não ouvir.
-Para terça-feira? - regateou o Luca.
-Só no posto de Santa Luzia.
Descartando a proposta, pediu os dias de fevereiro com vagas, e a moça informou.
Depois de agradecer e desligar o celular, comentou:
-Que azar! No dia em que vou levar a Glória e a Kiara para Foz de Iguaçu, porque a Glória não gosta de festejar o aniversário aqui.
-Fica para depois. - conformou-se a Gina.
-O importante, Daniel, é que eu disse o número do seu RENAVAM e ela prosseguiu com as perguntas, se houvesse alguma coisa com o carro, ela parava na hora.
Depois que mãe e filho saíram, Claudio e Luca passaram a falar da Lei Seca.
-Ela pega todo o mundo, já pegou general, político, artistas da TV Globo.
-Futuro candidato a presidente da República. - acrescentei à lista do Luca.
-Tudo bem, Luca, mas sargento com poder de polícia...
Nas reticências do meu irmão, ele enfatizava a sua temeridade.
-Eu sei, Claudiomiro, às vezes eles extrapolam.
E passou o Luca a narrar o caso de um diretor do Unibanco que se viu arrolado por um delegado.
-Ele tentava escapar, mas o delegado não deixava brecha. O que fez ele? Telefonou para o Sérgio Cabral e o delegado foi transferido.
E arrematou:
-O Carlinhos disse, aqui, que o Unibanco é quem mais contribui para as campanhas eleitorais entre os bancos.
E chegamos ao final de mais um Sabadoido com a Bíblia.
-O católico não lê a Bíblia, mas os evangélicos a leem de cabo a rabo.
-Sempre que vejo um passageiro no metrô, com a Bíblia na mão, sei que é evangélico. - interrompi o Luca.
-Esses pastores, com programa na televisão, conhecem cada página da Bíblia.
E encerrou meu irmão.
-Vocês viram, no jornal, o patrimônio dos pastores evangélicos?



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