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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4115 Data: 18 de janeiro
de 2013
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FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS VIII
Sêneca, celebrado pensador, tinha 4
anos de idade , quando se deu o nascimento de Cristo e morreu, em Roma, no ano
45. Filósofo, entre outras aptidões, pregou o estoicismo, o que não o impediu
de namorar Júlia Lívia, a sobrinha do imperador romano Cláudio que, por isso, o
desterrou.
Sêneca é o autor da frase que se segue:
Apressa-te a viver bem e pensa que
cada dia é, por si só, uma vida.
E como há gente que perde diariamente a
vida! Nos dias de hoje, de febre da internet, troca-se a vida real pela virtual.
Vale transcrever um trecho da entrevista da neurocientista inglesa, Susan
Greenfield, concedida à revista VEJA:
“Passar cinco horas seguidas jogando
videogame ou no Facebook pode ser bem estimulante, mas são cinco horas a menos
para abraçar alguém, caminhar pela praia, conversar cara a cara com um amigo em
um bar ou restaurante. O cérebro de um bebê é um recipiente passivo de
sensações, que gradualmente começam a se organizar, o que permite a
interpretação por associação das informações que ele recebe. A partir daí, o
cérebro formula conceitos com base nas memórias e no conhecimento. É assim que
cada um forma a própria identidade. A diversidade e a frequência dessas
interações corriqueiras são essenciais para a construção da individualidade não
apenas na primeira infância, mas durante toda a vida. As crianças se formam
subindo em árvores, sentindo o calor da luz solar no rosto, correndo atrás dos
amigos em um parque. O perigo é satisfazer-se com um simulacro digital das
sensações reais.”
Depreende-se das palavras da neurocientista que são
saudáveis para o cérebro reuniões como o Sabadoido, que participamos, ou as do
Clube do Bondinho, capitaneadas pelo Dieckmann, às segundas-feiras na sua casa em Santa Teresa. Não
sei se estamos vivendo bem, mas que não estamos desperdiçando a vida nessas
ocasiões, temos certeza que não.
Não sei em que contexto da sua vida, o
antropólogo e político Darcy Ribeiro escreveu o que se segue:
Das lutas que eu fiz, a maioria eu
perdi, mas nunca, em momento algum da minha vida, eu queria estar do lado
daqueles que ganharam.
Bela frase, o diabo é que agora, com os
escândalos de corrupção do PT espocando por todos os lados, comprovando que os
opositores do presidente Lula e seus seguidores estavam corretos, há quem
invoque o santo nome do educador em vão, recorrendo a essa frase. Ora, Darcy
Ribeiro, na sua trajetória de dezenas de anos na vida pública, nunca cometeu um
deslize, jamais foi conivente com as práticas duvidosas, não deve, portanto,
ter seus pensamentos utilizados por aqueles que querem defender aqueles que
cometeram delitos.
Petistas de caráter, como Frei Beto, Hélio Bicudo,
Carlos Lessa, Marina Silva, Chico Alencar e outros, logo que sentiram o mau
cheiro que exalava do governo, se afastaram .
Falamos das pessoas que desvirtuaram o
pensamento do Darcy Ribeiro para chegarmos a uma das personalidades mais
influentes do mundo, desde o século XIX; aquele que, vendo suas ideias tão
deformadas, disse:
O que há de certo é que eu próprio
não sou marxista.
Pretendendo fazer o resumo da resenha
das ideias de Marx sobre o fim do capitalismo, diremos que ele tinha como tese
a superprodução crescente do capitalismo; como antítese, os baixos salários, o
subconsumo, a miséria dos trabalhadores; e a síntese seriam as crises que deveriam
ganhar em amplitude com o tempo até dar fim à estrutura política. Assim, para
Marx, o sistema capitalista carrega em si os germens da sua própria destruição.
Dentro da sua concepção, que o
comunismo era o estágio sócio-econômico mais avançado, concluiu que a
Inglaterra, o país mais capitalista da época, seria o primeiro a se tornar
comunista.
Na época em que viveu, já reagiu contra aqueles que,
pretendendo ser, como diz o velho truísmo, mais realista do que o rei,
distorceram seu pensamento. O que diria Marx se vivesse mais algumas décadas e
se deparasse com um país atrasado, praticamente feudal, como a Rússia,
tornar-se comunista?(tão atrasado que, segundo o ensaísta político Isaiah
Berlin, lá, as revoltas de 1848 na Europa, chegaram em 1905). Na Rússia não
havia, portanto, superprodução alguma para desencadear o desfecho que ele
previu para a adoção do comunismo. Enquanto o capitalismo, como se constatou na
Inglaterra e nos demais países, amoldou-se às exigências dos trabalhadores em
variados graus pelo mundo. Como disseram muito bem, o capitalismo é um
processo, enquanto o comunismo é um projeto que, os fatos demonstram à
exaustão, fracassou. Quanto a Marx, dedicou todo o seu estudo a desconstruir o
regime capitalista e não a construir o regime comunista.
Edvard Grieg, compositor norueguês cujo
concerto para piano e orquestra se mantém no repertório de todos os eminentes
pianistas até hoje, e também é o celebrado autor da suíte Peer Gynt. Ele
proferiu uma frase que lembraremos aqui.
A morte de Mozart aos 35 anos foi
talvez a maior perda no mundo da
música.
Muitos melômanos se desesperam quando
imaginam as obras-primas que ouviriam se Mozart vivesse 60, 70 ou mesmo 80 anos
de idade.
Eu penso, às vezes, que as pessoas
possuem uma espécie de relógio interno que lhe indica o tempo em que passarão
pela experiência terrena. Mozart, por exemplo, compôs febrilmente, desde
menino, como se soubesse que não atingiria os 50 anos de idade; e deixou um
portentoso legado. Podemos também citar Shakespeare, que viveu apenas 51 anos,
mas escreveu mais de 20 peças teatrais e superou os cem sonetos, a grande
maioria de um valor literário inestimável.
Por outro lado, temos Giuseppe Verdi,
que esteve nesta vida de 1813
a 1901, ou seja, durante 88 anos. No início da sua
carreira, viu-se obrigado, pelos editores, a redigir óperas sob a pressão do
tempo. Depois, com a situação financeira estabelecida, impôs o seu ritmo de
trabalho, que estava longe de ser alucinante como o de Mozart. Assim, teve um
ano para compor o 'Rigoletto” e deslumbrou o mundo musical com uma majestosa
ópera. E vieram as suas óperas, que nunca saem de cartaz, como “O Trovador”,
“Traviata”, “Aída” e outras, em que o mestre trabalhou sem açodamentos.
O caso mais significativo ocorreu com a
ópera “Otello”. Arrigo Boito, que também era compositor, redigiu o excelente
libreto e o entregou a Verdi para musicar. Passaram os anos e nada de a ópera
surgir. Arrigo Boito se desesperou e deu
uma entrevista em que disse que ele mesmo deveria compor a música do seu
libreto. Verdi ameaçou largar seu trabalho pela metade, mas foi convencido a
continuar. Quando o “Otello” foi encenado, constatou-se que ali estava uma das
maiores óperas jamais compostas.
Verdi ainda viveu para compor mais uma
obra-prima lírica, “Falstaff”, o libretista foi Arrigo Boito.
Parecia que Verdi sempre soube que
chegaria perto dos 90 anos e, por isso, tinha tempo suficiente para deslumbrar o
mundo da música.
Quanto à frade de Edvar Grieg, eu
tiraria o “talvez”: a morte de Mozart
aos 35 anos foi a maior perda no mundo da música.
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